CACÁ DIEGUES SUGERE CRIAÇÃO DE AGÊNCIA NACIONAL PARA O CINEMA



O diretor e produtor de cinema Cacá Diegues defendeu, durante reunião da Subcomissão do Cinema Brasileiro, a criação de uma Agência Nacional para o Audiovisual, ligada diretamente à Presidência da República. De acordo com a proposta, o setor passaria a dispor de uma agência nos mesmos moldes em que foram criadas as agências de petróleo e energia elétrica, entre outras. A proposta foi apresentada na última quinta-feira (dia 8), durante a sétima audiência pública realizada pela subcomissão, que é ligada à Comissão de Educação.O autor de Bye Bye Brasil e Chica da Silva afirmou que, apesar de o cinema brasileiro já ter mais de 100 anos e de sua história ser uma sucessão de ciclos e crises, o momento justificaria uma mobilização, tendo o Estado como mediador. "Algumas medidas devem ser tomadas, o cinema precisa do apoio dos poderes político e econômico para evitar que nos tornemos um mistério arqueológico vivo", disse o cineasta. Diante da ocupação do circuito nacional de exibição pela produção norte-americana, Diegues recomendou a adoção de medidas para que o cinema brasileiro se torne uma atividade permanente, inspirada nas tendências de mercado. "Mas sem a hipocrisia da ausência do Estado a qualquer preço", sugeriu. "Atualmente, os filmes brasileiros estão condenados a um número de espectadores pelo menos 10 vezes inferior a seu potencial e a apenas 25% do seu potencial de renda", observou Diegues. Ele lembrou, no entanto, que em 1978, por exemplo, o espaço ocupado pelo cinema local alcançou 45% do mercado.Na avaliação do cineasta, uma das falhas da atual política para o setor é a parcialidade da legislação, que ignora o processo de distribuição dos filmes, o qual, juntamente com a produção e a exibição, forma a estrutura básica do setor. Apesar de ter proporcionado a retomada da produção de longa-metragem, criticou, a Lei do Áudiovisual, que viabiliza a captação de recursos junto às empresas, só cuida da produção. "Se este problema não for resolvido, a Lei do Audiovisual poderá, na melhor das hipóteses, estar apenas fundando a maior indústria de filmes inéditos do mundo", alertou.As dificuldades para a indústria do audiovisual se agravam ainda mais no Brasil, acrescentou o cineasta, porque a televisão, que poderia ser a grande aliada do setor, prefere veicular o que chamou de "a sucata internacional", que sai muito mais barata. Ele argumentou que, além dos Estados Unidos, nenhum outro país tem mercado interno de salas suficiente para manter uma indústria cinematográfica. Apesar disso, segundo Diegues, enquanto nos EUA e na Europa as TVs locais são mercados de primeira para os produtos locais, no Brasil "nosso audiovisual não passa de brechó para nossa televisão". Para Diegues, a população brasileira vive o paradoxo de contar com "uma das melhores TVs do mundo e o arcaísmo institucional que torna as emissoras de televisão engenhos de açúcar, propriedade de famílias que decidem na varanda da Casa Grande". Considerando o universo de dificuldades que faz parte do dia-a-dia dos que querem fazer audiovisual, o diretor concluiu que aparentemente não dá para fazer cinema no Brasil. - Mas deve-se, fazer cinema no Brasil? É desejável que exista um cinema brasileiro? - questionou Diegues. "A resposta deve ser um sonoro sim!", respondeu ele mesmo em seguida.Como parte da estratégia para superar os obstáculos que freiam o êxito do audiovisual no Brasil, ele lembrou que a solução nos países sem mercado interno são os chamados mercados ancilares (que compreendem a produção audiovisual fora do cinema), responsável por 75% do total da renda, e a intervenção do Estado através de financiamento, cotas e premiações.- Em nome das idéias superiores do Renascimento, o genocídio pós-colombiano; em nome da grandeza americana, o genocídio cultural de Hollywood; e, se continuarmos dessa maneira, nós mesmos nos tornaremos um mistério arqueológico vivo, para nós mesmos" - concluiu.

09/06/2000

Agência Senado


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