Campanha de Serra joga tudo para garantir 2° turno
Campanha de Serra joga tudo para garantir 2° turno
Tucano diz que manterá Arminio no BC e que alta do dólar é fruto de 'avaliação equivocada'
Menos poder aos marqueteiros e mais espaço para os políticos na reta final da campanha do tucano José Serra à Presidência, anunciou ontem o coordenador político do PSDB, deputado Pimenta da Veiga (MG). O roteiro dos programas da TV será discutido dia a dia.
- Teremos mais participação dos políticos e da militância. Mais presença visual e material de campanha. Sou solidário com os marqueteiros, mas o programa eleitoral será propositivo - disse Pimenta.
Faltando apenas 11 dias para a eleição, Pimenta admitiu a volta do presidente Fernando Henrique Cardoso à campanha. O presidente apareceu uma só vez no programa eleitoral. Descartou o interesse da coligação (PSDB e PMDB) em participar de um eventual governo do PT.
- Essa proposta de Lula de participação dos tucanos na equipe econômica é inexeqüível. Quem vai compor a equipe de governo é Serra. Aguardamos surpresas agradáveis de apoios - adiantou.
A possibilidade de o PMDB se distanciar de Serra foi descartada. A queda no Ibope foi considerada insuficiente para garantir vitória de Lula no primeiro turno.
O alto comando da campanha de Serra afirma que a adesão do senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) a Lula foi considerada isolada, apesar de PT e PMDB já estarem juntos no Piauí, no Maranhão, no Amapá e em São Paulo (apoio de Orestes Quercia), e Minas Gerais (governador Itamar Franco).
- Apoios de última hora a Lula são desespero e oportunismo. Os que estão ameaçados de perder a eleição querem culpar Serra - disse Pimenta da Veiga.
A queda do tucano em um ponto no Ibope (19% para 18%), segundo diz o comando de sua campanha, foi compensada pelo crescimento em dois pontos na pesquisa da Vox Populi (17% para 19%). Este resultado teria ajudado no clima de mobilização.
- Serra vai ao segundo turno com 23% a 25% para disputar contra Lula - garantiu Pimenta.
Ele disse, ainda, que não teme o crescimento de Anthony Garotinho, do PSB, consiga desbancar Serra do segundo lugar. Nos Estados, somente no Rio, Garotinho ocupa a liderança. Já Serra é o segundo colocado na maioria dos demais.
- Garotinho é nosso aliado para garantir o segundo turno - ironizou Pimenta, ao tratar do crescimento do candidato do PSB.
Segundo seu estado-maior, Serra teria possibilidade de crescer em seis Estados: Minas, São Paulo, Pará, Rio Grande do Sul, Goiás e Pernambuco. A a tentativa de reação começa hoje, em Belo Horizonte, com o lançamento do programa Compromisso com Minas, para o qual se prevê a presença de 150 prefeitos, empresários e políticos.
Em entrevista ontem na sede do jornal Estado de S. Paulo, Serra reafirmou que, caso eleito, manterá Armínio Fraga na presidência do Banco Central. Segundo ele, o nome de Fraga e sua política econômica seriam suficientes para reverter as expectativas do mercado e baixar o dólar, que nos últimos dias atingiu sua mais alta cotação desde o Plano Real. E disse que sua política se baseará num tripé macroeconômico: manutenção do câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e cumprimento de metas inflacionárias.
Serra negou, ainda, que tivesse afirmado que o dólar subira nos últimos dias devido ao avanço da candidatura Lula. Ele também negou ter dito que a vitória do petista transformaria o Brasil numa Argentina. E explicou a alta do dólar como resultado de uma combinação de circunstâncias da economia internacional e uma análise equivocada dos países em desenvolvimento.
- Ainda tem gente que acha que a capital do Brasil é Buenos Aires.
O tucano desvinculou também os recentes sobressaltos no mercado de câmbio do presidente Fernando Henrique Cardoso. Para ele, as oscilações do mercado têm relação mais estreita com a corrida eleitoral.
- O governo tem uma política fiscal eficiente e fez uma boa negociação com o FMI. É natural que o mercado fique tenso, querendo saber o que pensam os candidatos que têm chances de ganhar.
Serra negou, ainda, que tenha proposto um aumento de apenas R$ 11 para o salário-mínimo no ano que vem. Segundo ele, isso é mentira divulgada por adversários. Mas não quis se comprometer com um valor determinado. E acusou o candidato Anthony Garotinho (PSB) de divulgar a ''falsa proposta'' em inserções no horário eleitoral gratuito.
- Se não me engano, são cerca de 11 inserções por dia no rádio e na TV divulgando a informação, que é falsa. Estamos tentando que a Justiça tire as peças publicitárias do ar.
Serra acusou também Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de mudar de discurso segundo a platéia.
- Tem o PT que quer tranqüilizar o mercado, tem o PT que quer agradar ao MST, aos sindicatos, e aí o discurso vai variando.
ACM: Ciro não deve ir ao 2° turno
Desgastado, Mangabeira Unger some da campanha
SALVADOR e BRASÍLIA - Pela primeira vez o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) admitiu ontem que dificilmente Ciro Gomes (PPS) ''dificilmente'' chegará ao segundo turno.
- Ciro só vai para o segundo turno se houver um fato de grande repercussão.
O ex-senador disse também que ''tem dúvidas'' sobre o segundo turno.
- Pelo que as pesquisas estão demonstrando, Lula tem amplas possibilidades de liquidar o jogo no primeiro tempo.
Antonio Carlos não quis apontar erros que teriam levado Ciro a cair nas pesquisas. Mas reafirmou que vai pedir votos para ele até o fim da campanha.
- Ciro sabe que sou fiel - disse, reafirmando, porém, que votaria em Lula num segundo turno que exclua Ciro.
Os problemas na Frente Trabalhista são de tal monta que o programa de governo de Ciro será lançado amanhã, em São Paulo, sem a presença do seu principal idealizador, o economista Mangabeira Unger. O guru de Ciro desapareceu ontem sem dar notícias. Integrantes da Frente dizem que ele voltou para os EUA, onde mora com a família. O marqueteiro e cunhado de Ciro, Einhart Jácome da Paz, disse ao candidato que ainda espera a presença de Mangabeira Unger.
O mal-estar de Mangabeira com a campanha começou há mais de duas semanas. Ele responsabiliza a ''turma do Ceará'' pela queda de Ciro, referindo-se ao irmão e coordenador da campanha Lúcio Gomes e a Einhart.
Membros da Frente comentam que Mangabeira trata a candidatura de Ciro como projeto pessoal. Quando o candidato começou a cair, não disfarçou a frustração.
- É um projeto de dez anos que se perde por erros na campanha. A melhor idéia vai perder por erros políticos. O que vocês fizeram com o meu projeto, com o meu menino? - chegou a desabafar Mangabeira.
A gota d'água na tensão entre os dois foi a idéia de um pedido conjunto de renúncia de Ciro e do candidato Anthony Garotinho, do PSB, para garantir a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT no primeiro turno. O líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), disse que o economista chegou a pedir para os presidentes do PDT, Leonel Brizola, e do PTB, José Carlos Martinez, que escrevessem uma carta defendendo a união das oposições.
- Até que a idéia era boa, mas politicamente enterra Ciro de cabeça para baixo. Faltou sensibilidade política ao Mangabeira - disse Jefferson
Para Antônio Carlos Magalhães, Ciro tem todos os motivos para romper com seu guru. Segundo ele, ninguém pode se sentir no direito de falar pelo candidato. O ex-senador afirma que a decisão de abandonar a candidatura deve ser exclusiva de Ciro e o papel da Frente Trabalhista é acompanhá-lo até o fim.
- Qualquer pessoa que propõe a renúncia de Ciro está imediatamente fora da equipe e recebe o título de traidor - resumiu o líder do PPS na Câmara, deputado João Herrmann (SP).
Lula atrai parte do PMDB
Parcela do partido no Rio resolve deixar Serra e apoiar petista
RIO e SÃO PAULO - O PMDB do Rio rachou em relação à eleição presidencial. Parcela importante do partido está abandonando a candidatura de José Serra para apoiar o petista Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, cerca de 120 líderes peemedebistas no Estado, encabeçadas pelo secretário-geral do partido, o deputado Jorge Picciani, decidiram ontem declarar apoio à candidatura do petista. O apoio a Lula será oficializado amanhã, às 8h da manhã, no Hotel Glória, zona sul do Rio.
Segundo Picciani, parte do PMDB aderiu à candidatura de Lula por ver nele o único candidato capaz de construir um ''pacto social, político e nacional''.
- As faculdades despejam 40 mil economistas todos os anos no mercado. Mas grandes líderes, só surgem de 50 anos em 50 anos. E Lula é um grande líder - afirmou Picciani, que deixou claro que o apoio não será estendido à candidata do PT ao governo do Rio, Benedita da Silva. O PMDB do Rio permanecerá unido no apoio à candidatura de Solange Amaral, do PFL.
Ontem à tarde, em São Paulo, Lula lançou o caderno temático Combate à corrupção, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O documento faz parte do programa de governo da coligação Lula Presidente e registra o compromisso do candidato com a ética. No caderno, há propostas para aumentar a transparência e a participação da sociedade na confecção e na fiscalização do Orçamento da União, bem como para se ter maior controle sobre as licitações federais, fortalecer a regulação e a fiscalização dos fluxos financeiros, aparelhar o Fisco para o combate à sonegação e reconstruir os mecanismos de controle interno e externo da corrupção. Há também propostas para erradicar a prática do nepotismo e incrementar a colaboração com outros países para combater ramificações internacionais da corrupção.
Na ocasião, o presidente nacional da OAB, Rubens Approbato Machado, chamou o petista de ''presidente'' e de ''Vossa Excelência'' e afirmou que até novembro ele será o novo presidente da República.
- Até novembro, Vossa Excelência já estará eleito - disse, arrancando aplausos da platéia.
Approbato também se referiu ao PT como ''o maior partido do Brasil'' e destacou a importância de que ''uma pessoa que vem de baixo, das classes humildes'' tenha chance de dirigir o país.
O presidente da OAB-SP, Carlos Miguel Haidar, previu a eleição de Lula já no primeiro turno. Ele chegou a errar o nome do candidato, chamando-o de Luiz Antônio. Em seguida, corrigiu-se e afirmou que ''o importante é votar no número'' do candidato petista.
Cuidadoso, Lula evitou comemorar a vitória antecipadamente.
- Ninguém ganhou nada ainda. Tenho alertado os militantes do PT de que o jogo ainda não acabou. É preciso tranqüilidade, maturidade e humildade para que não prevaleça a idéia de que já ganhamos alguma coisa. A situação é a melhor que eu já vivi em todas as disputas. Mas faltam 11 dias para as eleições e ainda temos o segundo turno - afirmou.
''O PT arrasou o Estado''
Rosinha critica a gestão de Benedita e conclama eleitorado a ajudá-la a vencer no 1º turno
Líder nas pesquisas de intenção de votos, a candidata do PSB ao governo do Rio, Rosinha Garotinho, pediu ontem à população para que a eleição no Estado seja decidida no primeiro turno. Ela afirmou que se vencer já no dia 6 de outubro vai poder se dedicar à candidatura do marido, o presidenciável Anthony Garotinho (PSB), cujos índices são crescentes de acordo com as últimas pesquisas.
- Peço para que as pessoas me ajudem a vencer no primeiro turno, pois no segundo turno estarei ajudando Garotinho a se eleger presidente - disse Rosinha, em entrevista na sede do jornal O Globo.
Após fazer a defesa do governo de Garotinho no Rio, Rosinha acusou a governadora Benedita da Silva, adversária na disputa estadual, de provocar déficit nas finanças públicas.
- Não poderíamos adivinhar que eles iriam arrasar o Estado. Eles desmantelaram a fiscalização de grande porte na Secretaria de Fazenda e levaram para a inspetoria comum.
Sobre as dívidas atribuídas ao marido pelo PT, Rosinha disse que ''essa história de rombo que o PT quer mostrar é para tumultuar''.
Ainda sobre a gestão de Garotinho, a candidata afirmou que não pretende mudar a política de segurança pública adotada por ele. E defendeu a escuta em telefones celulares de presos do complexo penitenciário de Bangu, permitida por Garotinho, como estratégia de combate ao crime organizado.
- Foi por conta disso (da escuta telefônica) que a gente avançou na questão de segurança pública. Em cada período se escolhe um método de repressão ao crime organizado. Não combatê-lo é que expõe a população ao risco - declarou a candidata.
Embora reconheça o mérito do governo petista na prisão do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, Rosinha criticou a administração da adversária na área da segurança pública e disse que a escolha do secretário Roberto Aguiar para a pasta foi um erro.
Rosinha afirmou que, caso seja eleita, vai dar continuidade à política de desenvolvimento adotada por Garotinho no governo do Rio:
- Quero deixar claro que vou dar continuidade ao processo iniciado pelo governador Garotinho de desenvolvimento econômico do Estado.
E ressaltou que os programas sociais implantados pelo marido serão não só mantidos como ampliados. Rosinha prometeu, se eleita, criar duas clínicas de dependentes químicos, cheque cidadão para pescadores, centro dia para idosos e farmácia popular.
Ainda sobre o marido, Rosinha disse que, caso seja eleita, Garotinho poderá compor sua equipe de governo.
- Da mesma forma como participei do governo dele, ele pode ser o que quiser no meu governo. Em caso de derrota dele, nem sei se ele virá para o governo do estado ou se dedicará a outro processo de construção do partido - afirmou a candidata.
Criticada desde o início da campanha por adotar o discurso religioso como estratégia eleitoral, expediente também utilizado por seu marido, Rosinha afirmou não ter favorecido o grupo evangélico, do qual faz parte.
- Estão querendo fazer uma guerra santa que não existe. As pessoas estão muito preocupadas com os evangélicos. Tem gente que aparece ao lado da imagem de Iemanjá, tomando banho de pipoca ou do lado de uma freira e ninguém diz nada.
Faltam só 11 dias
Na medida em que os eleitores se aproximam das urnas, no caso de eleições majoritárias, alterações de porte começam a ocorrer acendendo a esperança de alguns, apagando a de outros. Uma questão, no fundo, de atmosfera que as pesquisas traduzem em números e os veículos de comunicação registram nas páginas e nas telas com o destaque merecido. Na realidade, sentimos isso, é mais um processo de confirmação do que de revelação. As campanhas esquentam e definem o rumo e o destino de cada candidato. Antigamente, as pesquisas não tinham a importância de hoje. O meu saudoso amigo Paulo Montenegro, quase fundador do Ibope, suava a camisa para que os prognósticos do instituto saíssem nos jornais. A consolidação das pesquisas políticas deve muito a ele. Mas isso pertence ao passado.
Falava em mudanças quando o ritmo dos embates torna-se mais veloz. São Paulo e Rio Grande do Sul, agora, são exemplos marcantes. Alckmin cresceu muito, assumiu a liderança, Maluf praticamente desabou e Genoino avança. No Rio Grande do Sul, Antônio Britto despencou 10 pontos em uma semana. Tarso Genro lidera. No caso dos candidatos do PT, a explicação, claro, está no efeito Lula. O caso Maluf é uma incógnita. Que terá havido? Mas no caso de Antônio Britto é o efeito Ciro. Os dois efeitos, sem dúvida, vão se refletir com intensidade da semana que vem por aí à reta de chegada. Quem absorverá mais os votos de Ciro?
O ex-governador do Ceará não está bem na campanha, foi abalado por si mesmo. Perdeu dois pontos preciosos e sintomáticos no Ibope publicado ontem. Brizola afastou-se da campanha para lutar sozinho pelo Senado, no Rio. Os prefeitos Zito, de Caxias, e Henry Charles, de São Gonçalo, cidades de densidade eleitoral, que estavam com ele, partiram para o horizonte do PT. No Paraná, o candidato ao governo estadual, Álvaro Dias, foi outro afastamento. O professor Mangabeira Unger, teórico do início da jornada, agora lança a tese da frente popular com Lula, recorrendo à imagem da resistência francesa ao nazismo. Ciro foi ficando isolado exatamente quando mais precisava do calor das ruas. Qualidades técnicas para presidir o país não lhe faltam. Mas em matéria de sensibilidade política e de comunicação pública foi um desastre.
Num quadro assim, Anthony Garotinho aparece - para minha surpresa, confesso e cresce na reta final. Não é impossível, embora não seja fácil, que ultrapasse Serra, usando o argumento de que, como Lula, é um candidato de oposição ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Soma votos. Todos se lembram do debate coordenado por Bóris Casoy na TV Record. Naquela noite, três candidatos esforçavam-se para preencher o espaço da oposição. E um empenhava-se para não ser caracterizado como do governo. Por tudo isso, acho que são duas as perguntas que se fazem em torno do desfecho de 6 de outubro: haverá segundo turno? Se houver, será entre Lula e Serra ou entre Lula e Garotinho? Para definir o claro enigma, 11 dias nos contemplam.
Aécio passa dos 50%
Candidato do PSDB comemora o resultado da última pesquisa Ibope em Minas
Confirmado pelo Ibope como franco favorito para vencer as eleições para o governo de Minas Gerais, no primeiro turno, o candidato do PSDB, Aécio Neves, garantiu que o apoio do Estado será fundamental para o futuro presidente.
- Minas Gerais, qualquer que seja o próximo presidente da República, terá uma posição absolutamente decisiva para a governabilidade - afirmou.
Aécio Neves tem 52% das intenções de voto no Estado, segundo a pesquisa pesquisa do instituto Ibope, divulgada ontem, confirmando o crescimento de sua candidatura na última semana. Na pesquisa anterior, realizada entre os dias 14 a 16 de setembro, ele obteve 49%.
Segundo o Ibope, Aécio atingiu uma frente de 28 pontos percentuais sobre seus adversários na disputa eleitoral. Nilmário Miranda (PT) obteve 14% e Newton Cardoso (PMDB) 10%. Ambos estariam estacionados. Na pesquisa anterior, tiveram 13% e 11%, respectivamente. A margem de erro é de 2,5% para mais ou para menos.
Para o almoço, ontem, Aécio recebeu o apresentador de TV e seu amigo pessoal Carlos Massa, o Ratinho, para um almoço, em Belo Horizonte. Os dois caminharam juntos até o Café Nice, no centro da cidade, - tradicional ponto de encontro de políticos em Belo Horizonte -, quando Aécio voltou a afirmar que o próximo presidente da República precisará contar com Minas Gerais para garantir a governabilidade do País. Ele afirmou que, uma vez eleito governador, pretende promover ampla articulação nacional, a partir do Estado.
- A grande vantagem é que eu consigo manter canais de interlocuções com todos os candidatos. Eu sou de uma escola política que ensina que quem briga são as idéias, não as pessoas. Minas Gerais, qualquer que seja o próximo presidente da República, terá uma posição absolutamente decisiva para a governabilidade. Essa é a questão relevante. Isso será benéfico, inclusive para que nós enfrentemos e solucionemos os nossos problemas - garantiu o candidato.
Diante do quadro de intrigas apresentado por candidatos a presidente, no horário eleitoral gratuito, Aécio voltou a defender a necessidade da disputa eleitoral se manter em alto nível. Segundo ele, o tom de sua campanha será o mesmo até o último dia permitido pela lei eleitoral, na quinta-feira da próxima semana.
- Minha campanha será sempre das propostas, do debate político. Portanto, até o último dia, no último programa nosso, estaremos apresentando propostas para que Minas Gerais supera as suas dificuldades. Mostrar eventuais contradições de outros candidatos é legítimo, o que não se pode fazer é atacar pessoalmente a honra, a moral de um candidato apenas porque ele é seu adversário - afirmou.
O cronograma de pagamentos do Estado, em risco devido a aos atrasos nos repasses do governo federal são preocupantes para o candidato. Recentes declarações do governador Itamar Franco, de que começa a perder as esperanças na vinda de recursos da União para Minas, segundo Aécio, podem ajudar a acelerar o acerto de contas, necessário para o Estado efetuar o pagamento do 13º salário dos servidores.
Artigos
Opção preferencial
José Carlos Azevedo
É cômodo atribuir o subdesenvolvimento brasileiro ao imperialismo, ao FMI, à Trilateral e ao Consenso de Washington, mas isso nada resolve nem explica por que o Canadá e os Estados Unidos são ricos e a América Latina é pobre. Essas lucubrações servem para engrossar teses acadêmicas, conferem aos seus autores a aura de sábios e garantem promoções universitárias e o aplauso da ''burrutzia'' internacional, ávida por elogios recíprocos.
L.E. Harrison, em seu livro, de 1985 (Underdevelopment is a State of Mind - the Latin American Case, Harvard University Press), reeditado em 2001, analisa essa questão, diz que o subdesenvolvimento é um estado de espírito e que a educação determina as disparidades entre as nações ao Norte e ao Sul do Rio Grande. À festejada teoria da dependência, fruto do determinismo econômico e de outros bolodórios, ele contrapõe o que chama determinismo cultural, segundo o qual a miséria da América Latina decorre da cultura hispânica, da mentalidade antidemocrática, anti-social, antiempresarial e contrária ao trabalho, e relembra que até o século 18 a América Latina era incomparavelmente mais rica, mais poderosa e mais credenciada ao desenvolvimento do que as colônias norte-americanas.
A América do Norte não é rica porque a do Sul é pobre, ou vice-versa; a economia dos EUA é auto-suficiente e suas importações e exportações representam pouco em seu PIB; Springfield, pequena cidade de Massachusetts, diz ele, é um mercado mais importante do que cinco países da América Central somados; além disso, o investimento norte-americano na América Latina (cito a edição de 1985) representa 20% do que é feito no exterior e menos de 1% do investimento total, interno e externo.
Nos últimos oito anos, o PIB do Brasil diminuiu cerca de 1% ao ano e deve cair abaixo dos 500 bilhões de dólares em 2002, como em 1994, mas o que emperra o desenvolvimento e compromete o futuro desta nação é o sistema educacional falido. Passa de 12 anos a escolaridade dos canadenses e norte-americanos, mas a dos brasileiros mal chega a quatro anos e meio. A qualidade do nosso ensino pode ser medida pelo desempenho de estudantes em exames promovidos por instituições internacionais; em compreensão de textos e de matemática, os brasileiros ficaram atrás de países africanos e é um vexame que os alunos do ensino fundamental de Cuba (New York Times, 15/12/01) sejam mais capazes que os do Brasil.
Há quatro anos o Bank Boston completou o levantamento ''MIT: The Impact of Innovation'', iniciado em 1990, sobre o impacto dessa universidade norte americana, o Massachusetts Institute of Technology, na economia dos EUA; a síntese é a seguinte: se os alunos e professores do MIT constituíssem uma nação, ela teria a 24ª economia do mundo; as 4.000 empresas a eles relacionadas faturaram US$ 232 bilhões em 1996 e empregaram 1,1 milhão de pessoas; elas estavam presentes em 50 Estados dos EUA e empregavam 3 53.000 pessoas em outros países. Cerca de 150 novas empresas estavam sendo criadas anualmente e, naquele ano, 17 companhias empregavam 732.000 pessoas e faturavam US$ 159 bilhões anuais. É razoável admitir que hoje elas faturam o correspondente a mais da metade do PIB brasileiro, uma vergonha que serve para lembrar que não há como desenvolver a nação e criar empregos sem educar o povo.
Em seu primoroso livro Da Moral em Economia (UniverCidade Editora, 2002), o preclaro embaixador J.O. Meira Penna diz que há quatro tipos principais de nações: a Inglaterra, onde tudo se permite, salvo o que for proibido; a Suíça, onde tudo é proibido, exceto o permitido; Cuba e a antiga RDA, onde tudo é proibido, incluindo o que é permitido. E o Brasil anárquico, carnavalesco e antinômico, onde tudo é permitido, incluindo o que é proibido.
A educação é o calcanhar de Aquiles desta nação e as universidades onde tudo é permitido, incluindo terem feito a opção preferencial pela mediocridade, dividem com o MEC a responsabilidade pelo subdesenvolvimento do Brasil.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Serra à moda do tuareg
Premido pela necessidade de garantir a passagem para o segundo turno mas, ao mesmo tempo, limitado pelo risco de que movimentos bruscos lhe tirem a vaga na disputa final, José Serra não tem muito o que fazer hoje além de dedicar-se ao exercício da paciência e da administração da imobilidade.
Lembra o tuareg do folclore árabe que passava o dia imóvel, protegido do sol tórrido entre as rochas do deserto, sem nem piscar os olhos, a fim de acumular energia suficiente para retomar todas as noites a travessia. Se se aventurasse às areias sob o calor, não chegaria ao fim do caminho.
Da mesma forma, o candidato do PSDB sabe que daqui até o dia 6 de outubro não pode errar na escolha da hora para sair da defensiva e ir ao embate com Luiz Inácio Lula da Silva.
Dados das pesquisas internas da campanha mostram que a migração de votos implica mais riscos do que parece à primeira vista. A projeção dos números demonstra que, de cada dez votos que Lula perderia, oito tenderiam a integrar o contingente de votantes em Anthony Garotinho.
Só para ficar bem claro: seria de apenas 20% o patrimônio agregado ao tucano.
Uma conta perigosamente apertada. Significa que se não houver uma calibragem perfeita na ofensiva ao PT, o candidato do PSB pode vir a ser o beneficiário dela e passar ao segundo turno sem que tenha feito nada para isso.
Serra precisa se mexer, mas não dispõe de espaço para excessos. Lula, ao contrário: tem energia para gastar e, ao menos no que tange ao primeiro turno, conta com o curto tempo a seu favor. Por mais que caia, não o fará jamais em velocidade de risco máximo.
Em 1989, Fernando Collor de Mello perdeu mais de 20 pontos percentuais semanas antes do primeiro turno mas, ainda assim, como havia chegado a cerca de 50% nas pesquisas, foi para a etapa final em situação de vantagem.
Serra diz considerar ''altamente provável'' não apenas a realização, como sua participação no segundo turno. Mas os que os números exibem a ele é uma situação de corda bamba. Nela, necessita qualificar-se sem menosprezar o adversário para não se antipatizar com o eleitor.
Já Lula pode se dar agora a alguns luxos. Por exemplo, recusar-se ao confronto direto sob o argumento de que ''Serra é meu amigo, não falo dele'', ou apresentar um programa no horário eleitoral exclusivamente dedicado a despertar a memória emotiva das pessoas relembrando a sua primeira campanha para presidente.
Caso haja nova eleição em 27 de outubro, porém, certas licenças poéticas poderão significar a diferença entre seguir para o Planalto ou morrer na praia.
Relógio biológico
Na série de entrevistas que os candidatos a presidente concedem esta semana ao Estado de S. Paulo, José Serra ontem disse que pode ter ''às vezes, uma cara mau-humorada'' mas que, pelo menos, não tem ''duas caras''.
Prudente seria que o candidato se dedicasse com mais atenção ao espelho. Em matéria de disposição para se relacionar com a humanidade, existem, de fato, duas personalidades na mesma pessoa.
Uma, antes do meio-dia, e outra na virada da manhã. Das 10h até pouco depois das 11h, sorumbático, Serra foi o retrato da irritação e da descortesia.
À medida que o tempo passava ia adquirindo semblante mais ameno, alongando-se detalhada e pacientemente nas explicações e produzindo momentos de fino humor.
Como quando alegou considerar ''altamente científico'' o ato de bater na madeira para afastar o azar, ao ser cobrado pela contradição entre o gesto que acabara de fazer e sua tendência à racionalidade.
Foi aplaudido, num misto de aprovação e alívio por uma platéia que, mais um pouco, se arrependeria por ter saído cedo de casa.
Política externa
A explanação de José Serra sobre comércio exterior, com ênfase no Mercosul, mostrou que, se eleito presidente da República, haveria uma mudança radical no tom da sempre amena política externa brasileira.
Foi duro na crítica à postura no campo comercial, que considera, em última análise, entreguista por ineficaz. Na área das relaões políticas, resumiu em duas palavras sua opinião sobre a posição norte-americana em relação à guerra contra o Iraque: ''Sou contra''.
E mais não falou. Mudou rapidamente de assunto e, como havia sido seco e definitivo ao manifestar sua opinião, deu a nítida impressão de que evitou deliberadamente entrar em detalhes porque, se o fizesse, poderia se expor ao risco de um conflito de posições com Fernando Henrique . E, por consequência, com o Itamaraty.
Editorial
A GUERRA DO CANUDO
O enorme índice de reprovação de formandos no exame da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil acende de novo o sinal vermelho para a questão educacional no país. Só 19% dos formandos de 200 faculdades de direito receberam autorização para advogar.
Ano após ano esta situação se repete, e ela não é exclusiva dos advogados, porque as fábricas de diplomas do ensino superior produzem também médicos que não entendem de medicina, engenheiros que ignoram a engenharia, jornalistas fracos em comunicação e assim por diante. No entanto, um país sem boa educação não vai para frente, especialmente agora, diante dos desafios da globalização.
Sob este aspecto, o Brasil é um país curioso. Gasta em educação, por ano, R$ 35 bilhões - dinheiro suficiente para corrigir muitas das distorções que andam por aí. Mas um relatório do Banco Mundial, há alguns anos, mostrou que de cada dólar encaminhado para a educação no Nordeste apenas 20 centavos chegavam à sala de aula. Outro estudo, da Câmara Americana de Comércio, na mesma época, constatou que nas universidades públicas brasileiras há um funcionário para cada 4,7 estudantes, enquanto que nos EUA são 19 estudantes por funcionário.
No Brasil, abria-se uma portinha logo chamada de faculdade. Ainda nos anos 70 era possível obter diploma universitário sem ter lido um único livro. O vestibular unificado foi nos últimos quatro decênios o termômetro do desajuste entre as aspirações de educação e a realidade circundante.
O caso da medicina é especial, por se tratar de profissão que lida diretamente com vidas humanas. Faculdades eram criadas aleatoriamente, sem critério ou planejamento, em velocidade superior à capacidade de preparar bons professores. As especialidades ganharam espaço demasiado e as pessoas acabaram perdendo a noção do todo.
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09/26/2002
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