Serra garante que irá para o segundo turno
Serra garante que irá para o segundo turno
Candidato pede uma "ventania eleitoral" para que possa chegar bem à fase decisiva da campanha
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, propôs ontem uma "ventania eleitoral" na última semana da campanha para que possa chegar ao segundo turno. "Conclamo a todos para que ajudem a fazer uma ventania eleitoral. A ventania que empurra o barco da campanha para a vitória. O sopro de cada um representa muito na multiplicação do voto", disse para cerca de 200 pessoas no hangar do Aeroclube de Presidente Prudente, no interior de São Paulo.
Com duas horas de atraso na agenda, Serra chegou ao aeroporto onde era esperado por correligionários e cabos eleitorais desde o meio dia. Procedente de Palmas, Tocantins, desembarcou em Presidente Prudente às 6h e foi para um hotel dormir.
Cerca de meia hora foi o tempo que permaneceu no aeroporto após o comício, seguindo para Marília. "Estamos em segundo lugar nas pesquisas, estamos no segundo turno. Esta última semana de campanha, vamos trabalhar para chegar bem no segundo turno, inclusive para ganhar a eleição. Agora é hora da reta final e da mobilização", afirmou.
"Durante os 20 dias da campanha no segundo turno", prometeu, "nós vamos estudar uma proposta a cada dia e para 20 problemas, teremos 20 soluções". Tem candidato "que mente bastante, que mostra problemas e faz marketing, mas não sabe resolver nada", disse na rápida coletiva que concedeu após o comício.
Para Serra, a reta final da campanha é momento de trabalhar com a reflexão e a razão. "Não basta a emoção. Essa, nós deixamos para os outros. Nós trabalhamos sério e minha cara é uma só. Não existe outro Serra: o de Presidente Prudente e o da TV. Sou assim, com o meu jeito de ser. Tenho o meu passado como apoio e sei que vou ser presidente".
Quando lhe perguntaram, se sabia de informações publicadas no jornal argentino Clarín, sobre comentário que Fernando Henrique Cardoso teria feito com o presidente Duhalde, de que o Lula ganharia no primeiro turno, o candidato tucano disse: "Já não bastasse as fofocas produzidas no Brasil, agora não se pode dar crédito a um jornal argentino que, inclusive teve muita hostilidade com o governo brasileiro".
Planalto nega ter previsto decisão já
A assessoria de imprensa da Presidência da República negou ontem que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha afirmado que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, estaria com a vitória praticamente assegurada nas próximas eleições, e que o candidato do PSDB sofreria de falta de carisma. As afirmações, segundo o jornal argentino Clarín, teriam sido feitas pelo presidente ao presidente Eduardo Duhalde, na semana passada, em Brasília.
"O Palácio do Planalto nega que tenha havido essa conversa", disse um assessor da Presidência. O coordenador político da campanha do PSDB, deputado Pimenta da Veiga, afirmou que "o presidente não teria dito isso". Segundo Pimenta, "Duhalde pode ter entendido assim, mas o presidente sabe que vamos para o segundo turno e vamos ganhar as eleições".
Presidente, enfim, sobe no palanque
O presidente Fernando Henrique Cardoso desembarca amanhã em Minas Gerais para deflagrar uma ação política em três frentes: assegurar uma transição tranqüila de poder para o candidato do PSDB ao governo do Estado, deputado Aécio Neves, recompor suas relações com o governador Itamar Franco, que nos últimos anos vem sendo um dos mais ácidos críticos do governo federal, e reassumir seu apoio ao candidato do governo à Presidência da República, José Serra, num último esforço para levá-lo ao segundo turno.
Pela manhã, num encontro inédito com Itamar no Palácio da Liberdade, sede do executivo estadual, Fernando Henrique vai anunciar a edição de uma medida provisória que irá promover um encontro de contas entre a União e o governo do Estado. Restituirá a Minas parte dos recursos gastos pelo tesouro estadual em obras que seriam da responsabilidade de Brasília.
À tarde, em Contagem, município da região metropolitana de Belo Horizonte, o presidente participa de um ato público em favor de José Serra.
Será a estréia do presidente no palanque do tucano, faltando apenas uma semana para as eleições. Considerado o maior cabo-eleitoral de Serra, Fernando Henrique teve até agora, participação discreta na campanha. Só fez uma aparição pública em defesa do candidato, no dia 20 de agosto, quando deu um depoimento favorável a Serra no primeiro programa do horário eleitoral da TV.
Garotinho diz que segundo lugar é dele
O candidato Anthony Garotinho insistiu ontem que está em segundo lugar nas pesquisas e, portanto, no segundo turno. As pesquisas a que ele se refere são para uso interno do PSB.
"Minhas pesquisas mostram Garotinho e Lula no segundo turno", disse o candidato, acrescentando que ninguém deve "desconfiar" destas pesquisas. "Quando eu dizia que a bolha do Ciro tinha furado, as pesquisas que eram publicadas não mostravam isso, mas depois tiveram que mostrar".
As declarações foram feitas por Garotinho ao desembarcar em Macapá às 14h45 para participar de um comício, às margens do Rio Amazonas em apoio às candidaturas de Cláudio Pinho a governador – ele está em terceiro lugar nas pesquisas – e de João Alberto Capiberibe, que ocupa o segundo lugar na disputa do Senado.
eleição, virá a negociação
Presidente eleito, seja quem for, precisará cooptar adversários de hoje para que consiga governar
O próximo presidente da República, seja quem for, precisará negociar apoio com partidos que hoje se opõem à sua candidatura. Sem isso não terá maioria no Congresso e encontrará enormes dificuldades para governar.
É o que demonstram as pesquisas eleitorais. De acordo com elas, o perfil do novo Congresso reproduzirá de forma quase exata o atual. As diferenças serão mínimas. E os três maiores partidos, PFL, PMDB e PSDB continuarão, sozinhos, a controlar dois terços das cadeiras tanto da Câmara quanto do Senado.
A base parlamentar do presidente Fernando Henrique Cardoso somava originalmente cinco partidos (PSDB, PFL, PMDB, PPB e PTB), com algumas dissidências. Conseguia assim somar entre 330 e 350 votos na Câmara, o suficiente para aprovar emendas constitucionais, que exigem três quintos de cada casa do Congresso. No Senado a maioria era ainda mais ampla, de 65 cadeiras.
Para o futuro presidente, o desafio será conseguir maioria simples, de 257 deputados e 41 senadores. Não é impossível, claro, dado o poder da máquina governamental. Até Fernando Collor, com uma base mínima, chegou a manter maioria por algum tempo. Em qualquer dos casos, porém, será preciso cooptar adversários.
Os partidos que apóiam Lula deverão fazer apenas seis das 54 cadeiras de senador que estão em jogo. Terão assim dez cadeiras em um total de 81. Mesmo se somarem aliados tradicionais como o PSB, o PPS e o PDT, chegarão a 21, vinte aquém da maioria.
Na Câmara, o PT de Lula também deve ter crescimento pequeno. Caso some ao PL e ao PC do B antigos aliados como PPS, PDT e PSB, a soma iria a 136 na pior das hipóteses e a 174, na melhor. Faltariam mais de 100 deputados para compor maioria.
PFL pode ser essencial
Alianças com partidos pequenos não bastam para chegar à maioria, tornando indispensável recorrer ao PSDB, ao PMDB e até ao PFL.
Mesmo apoiado por dois dos três maiores partidos do Congresso, o candidato José Serra precisaria negociar apoios. Em especial do PFL, que hoje reúne alguns de seus principais adversários, como Antonio Carlos Magalhães e Jorge Bornhausen.
PSDB e PMDB, somados, deverão ficar com 34 senadores. As alianças mais simples, com micropartidos ou com o PTB, seriam insuficientes para atingir a maioria. Seria necessário cooptar pefelistas. Tradicionalmente isso não é difícil, mas o azedume entre o comando do partido e Serra complica um pouco a negociação.
Na Câmara o jogo é o mesmo. Os partidos de Serra, diz um instituto especializado, o Inesc, terá no mínimo 148 deputados e no máximo 162. Nem o PPB – aliás, nem mesmo o PT, que deve ficar com a quarta bancada – bastaria para garantir maioria simples. Volta-se a bater às portas do PFL.
A margem de ação de Serra ficaria, portanto, muito abaixo da obtida por Fernando Henrique Cardoso, antes do rompimento com o PFL. Terá dificuldades enormes para aprovar emendas constitucionais.
As posições de Ciro Gomes e de Anthony Garotinho, de bases partidárias mais estreitas, seriam teoricamente as mais frágeis. Ambos precisariam cooptar ao menos dois dos grandes partidos.
A aliança que apóia Ciro fará, provavelmente, nove senadores. Na Câmara, terá o mínimo de 45 deputados e o máximo de 64. Caso se somem os segmentos do PFL, do PMDB e do PSDB que já o respaldam, pode chegar a algo entre 130 e 160.
Apesar disso, no Congresso considera-se Ciro Gomes como o candidato que mais facilmente conseguiria montar uma bancada majoritária. Seu ponto de partida foi o PSDB, onde mantém fortes vínculos – e não apenas no Ceará. O PFL e parte do PMDB têm com ele aproximação maior do que com qualquer dos demais candidatos. Os flertes mantidos nas épocas de vacas gordas, antes do fuzilamento empreendido na fase televisiva da campanha, comprovaram isso.
Seja como for, com uma hoje improvável vitória de Ciro ou com a de qualquer dos demais candidatos, a aliança só viria mediante concessões substantivas – ou seja, cargos, ajuda a estados ou municípios e assim por diante – que implicarão partilha de poder.
O mesmo vale para Garotinho, que tem a menor base de todos. A bancada do PSB deverá crescer, mas não terá mais do que 28 deputados e quatro senadores.
Congresso terá a mesma cara
A composição do novo Congresso será quase igual à atual. É o que mostram tanto as pesquisas de intenção de voto do Ibope quanto o levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos, Inesc, um órgão privado que costuma trabalhar para a Câmara dos Deputados e que vem mostrando alto índice de acerto a cada eleição.
As intenções de voto para presidente têm relações remotas com os resultados previstos para o Congresso. Apesar da ampla margem de Lula sobre os concorrentes, o PT deverá manter a mesma bancada no Senado: só quatro candidatos do partido estão à frente nas pesquisas, justamente o mesmo número de cadeiras que tem em jogo. Dificilmente os petistas elegerão mais do que seis senadores.
Da mesma forma, na Câmara o crescimento da bancada será pequeno. O partido elegeu 60 deputados em 1998, está hoje com 58 e o Inesc prevê o máximo de 70 na próxima legislatura.
Os partidos aliados do PT também apresentarão crescimento pequeno. O PC do B, que tem dez deputados, irá no máximo a 14, mas pode cair a oito. O PL, com 23, não fará mais de 30.
Dos três grandes partidos, apenas o PSDB deverá ter um recuo. Apesar de ser o partido do governo e de ter o candidato em segundo lugar nas pesquisas, sua bancada deve recuar tanto na Câmara quanto no Senado. A perda será maior na Câmara, com a bancada caindo do terceiro para o segundo lugar, abaixo do PMDB (ver quadro).
O PMDB deve manter o número de senadores e perder algumas cadeiras na Câmara. A diferença, porém, deve ser pequena, sempre de acordo com os cálculos do Inesc. O mesmo acontece com o PFL, embora possa ter ligeiro crescimento na Câmara.
É evidente que essas projeções ainda são fluidas, mesmo no caso do Senado, onde há grande número de vagas indefinidas. Em estados como Rio Grande do Sul ou São Paulo nenhuma cadeira tem dono certo, mostra o Ibope. Em outros, como Piauí, Pernambuco, Rio de Janeiro, Pará e Santa Catarina a segunda vaga está sendo disputava voto a voto.
Os partidos menores também devem ficar mais ou menos como estão. O Inesc calcula que PPS e PDT ficarão com bancadas semelhantes às atuais, na Câmara como no Senado. O PPB diminuirá um pouco na Câmara e prosseguirá seu encolhimento no Senado. Também o PTB deve cair. O único a ter crescimento quase certo é o PSB de Garotinho, mesmo assim em pequena escala.
Lula mais perto do Planalto
Pesquisa Datafolha traz petista com mais um ponto nas intenções de voto, quase o mesmo que a soma dos rivais
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, subiu um ponto percentual na pesquisa Datafolha, publicada na edição de hoje do jornal Folha de S. Paulo. Lula subiu de 44% para 45% do total de votos e está mais perto da vitória no primeiro turno. Ele soma 49% dos votos nominais – dados a candidatos. Para vencer a disputa, o candidato precisa chegar a 50% dos votos nominais no dia 6, data da eleição. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
Lula foi o único candidato que cresceu na pesquisa. José Serra, da aliança PSDB-PMDB, e Anthony Garotinho (PSB) permaneceram estáveis, com 19% e 15% das intenções de voto, respectivamente. Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, perdeu dois pontos, caindo de 13% para 11%. José Maria de Almeida, do PSTU, continua com 1%. Rui Pimenta (PCO) manteve 0%.
A quantidade de brancos e nulos também se manteve estável, somando 3%. Os indecisos ficaram em 5%. O Datafolha ouviu 6.040 pessoas, em 337 municípios de todos os Estados nas últimas quinta e sexta-feiras.
Pelo critério de votos nominais, Serra tem 21% das intenções. Garotinho tem 16%, e Ciro, 12%. O número de eleitores com voto decidido subiu de 69% para 73%.
No Datafolha anterior, divulgada no domingo passado, Lula havia subido quatro pontos, atingindo 44% das intenções de votos e 48% dos votos válidos. Todos os outros adversários somados tinham 52%, com Serra caindo de 21% para 19%. Hoje, estão pouco acima de 50%
Indecisos podem decidir eleição
Para ganhar a eleição no primeiro turno, Lula precisa tirar 1% dos votos dos adversários e conquistar, na mesma proporção, o voto dos 8% que se consideram indecisos, pensam em votar branco ou anular o voto. É que, para não haver segundo turno, um dos candidatos precisa obter mais de 50% dos votos nominais, ou seja, dado a um dos postulantes. Os votos nulos ou brancos não entram nessa conta.
Lula não chegou mais perto da vitória apenas por ganhar um ponto percentual nas intenções de voto. Ele também lucrou com a perda de votos de Ciro Gomes, que fez cair a soma dos demais candidatos.
Nos próximos dias, portanto, Serra, Ciro e Garotinho precisarão lutar não apenas para evitar perda de votos como para conquistar mais votos de indecisos do que Lula. Só assim poderão forçar um segundo turno.
Serra tem maior rejeição
O candidato José Serra (PSDB) continua com a maior taxa de rejeição (35%) entre os principais postulantes à Presidência, segundo a pesquisa Datafolha. O tucano oscilou um ponto a mais em relação à pesquisa Datafolha anterior, feita entre os dias 19 e 20 de setembro.
Em seguida, aparece o candidato Ciro Gomes (PPS), que manteve os 33% apresentados no levantamento anterior. Luiz Inácio Lula da Silva, que começara a campanha como o mais rejeitado tem atualmente 27%, uma oscilação de dois pontos para baixo. Neste quesito, Anthony Garotinho está empatado com Lula, já que manteve os 27% do levantamento anterior.
Lula venceria todos os seus adversários em um eventual 2º turno das eleições. Se o adversário fosse José Serra, Lula obteria 57%, contra 35% do tucano.
O petista ganharia de Garotinho por 57% a 35%. Contra Ciro Gomes, o resultado, segundo o Datafolha, seria 58% a 32%. As eleições de segundo turno estão previstas para ocorrer no último domingo do outubro, dia 27.
26% admitem mudar o voto
A pesquisa Datafolha reve la que 26% dos eleitores brasileiros que já escolheram um candidato admitem que podem mudar sua decisão nesta reta final de campanha. Essa parcela da população, que diz que ainda pode trocar de candidato, poderá ser fundamental para definir a eleição, já que Luiz Inácio Lula da Silva está perto de vencer o pleito no primeiro turno.
O Datafolha constatou que, a uma semana da eleição, apenas 73% dos eleitores que já escolheram um candidato dizem que não há nenhuma possibilidade de a decisão ser alterada na última hora. O percentual daqueles que estão convictos vem crescendo gradualmente. Há um mês, apenas 62% estavam certos do voto. Na semana passada, o índice era de 69%.
Lula melhorou seu desempenho em todas as regiões do País. Na região Sudeste, o maior colégio eleitoral do país, com 50 milhões de eleitores (43,98%), a candidatura de Lula subiu um ponto percentual, passando de 43% para 44% das intenções de voto.
Comício reúne 50 mil na Esplanada
O atraso de duas horas não desanimou as cerca de 50 mil pessoas que, segundo a Polícia Militar, compareceram à Esplanada dos Ministérios para o último comício do Partido dos Trabalhadores com a presença do candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
O clima de expectativa começou por volta das 14h, quando ônibus vindos de todas as cidades do Distrito Federal começaram a chegar lotados à Rodoviária do Plano Piloto. Pelo gramado da Esplanada, militantes se misturavam a ambulantes e candidatos, que usaram o espaço para montar barraquinhas e distribuir material de campanha.
Quem quis pegar um lugar perto do palco chegou ainda mais cedo. A copeira Maria da Conceição Lucas de Macedo, de 43 anos, chegou do Recanto das Emas às 14h e ficou rente à cerca. Valeu o sacrifício. Ela, além de ganhar um beijo do senador Eduardo Suplicy, conseguiu entregar uma carta a Lula. "Demonstrei a ele todo o meu apoio".
Enquanto Lula não chegava, o público se distraía com a presença de vários candidatos às Câmaras Federal e Legislativa. Maninha, Paulo Tadeu e Wasny de Roure foram os mais aplaudidos. Também estiveram presentes a prefeita Marta Suplicy e o candidato à vice-presidente, José Alencar.
O tom dos discursos foi de ataque ao governador Joaquim Roriz. O candidato do PT ao governo, Geraldo Magela, insistiu em abordar temas como a grilagem de terras, citando matérias publicadas na imprensa.
Quem apostar no dólar vai perder, diz Armínio
Para presidente do Banco Central, as atuais cotações são irreais e vão cair depois do período eleitoral
O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, fez ontem um alerta para quem está especulando com a alta do dólar. "No mercado há pessoas ganhando com a alta do dólar no curto prazo, mas tenho muita confiança em dizer que quem está apostando na alta do dólar a esse nível, está correndo um risco significativo", afirmou Fraga antes de participar de palestra promovida pelo Institute Of International Finance (IIF) que ocorre em paralelo à reunião anual conjunta do Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, em Washington.
"Não acredito que o próximo presidente do Brasil, quem quer que seja, vá confirmar as expectativas negativas que estão embutidas na taxa de câmbio atual.
Pelo seu raciocínio, quem está ganhando com a alta do dólar pode não ganhar amanhã. É bom tomar cuidado", acrescentou o presidente do BC. Segundo ele, a situação real do Brasil é totalmente diferente desta que enxergamos agora, nos spreads (prêmio de risco) e taxa de câmbio. Fraga alertou que é preciso tomar cuidado para que as expectativas negativas deste momento não predominem sobre o real.
Fraga também acha que as pessoas não devem concentrar tanta atenção para o fato de que o valor do real hoje estar menor do que o valor do peso argentino.
"Não é adequado fazer uma comparação entre moedas, quanto elas valem. Não é a comparação numérica que importa, é preciso ver qual é a taxa de inflação de cada país", afirmou Fraga, lembrando que no México, um país que tem atravessado as crises nos mercados emergentes, com menor grau de turbulência, a taxa de câmbio é de cerca de 10 pessoas para um dólar.
Fraga se disse confiante de que o próximo governo fará as escolhas certas em relação à política econômica, dando continuidade às medidas macroeconômicas saudáveis. Indagado se é preciso um aumento da meta de superávit fiscal primária, de 3 75% do PIB para esse ano e 2003, em razão da forte depreciação do câmbio, o presidente do BC disse que a taxa de câmbio e o esforço fiscal não são variáveis que possam ser analisadas na mesma unidade de tempo. "Não se pode dar uma resposta fiscal que tenha a ver com decisões estruturais de médio prazo, levando em conta a taxa de câmbio do dia", afirmou.
Para ele, a taxa de câmbio em termos reais está excessivamente depreciada. "Se nós trabalharmos com segurança e bom senso, a taxa de câmbio vai voltar a se apreciar", afirmou Fraga.
Ford anuncia recall para dois modelos
A Ford Motor Company Brasil anunciou, ontem, um recall (convocação para troca) para a substituição gratuita dos terminais de direção da picape F-250 e do caminhão F-350. A convocação atinge os modelos fabricados entre 5 de outubro de 1998 e 22 de setembro de 2002.
Segundo a montadora, a convocação tem caráter preventivo. A Ford explica que em "severas condições de uso" os terminais de direção podem sofrer desgaste prematuro e, "em caso extremo", pode haver separação do terminal que liga o braço da caixa à barra de direção. Os veículos sujeitos ao recall têm chassis de 9BFFF25G6WD000134 a 9BFFF25L33B081887 (F-250) e de 9BFJF37G3WD000038 a 9BFJF37G53B081762 (F-350).
Na nota divulgada pela montadora não há o total de veículos envolvidos no recall nem o prazo para os consumidores efetuarem o serviço. Os clientes podem obter mais informações pelo telefone 0800-703-3673, ou no site www.ford.com.br.
A Ford solicita aos proprietários que agendem a substituição nas concessionárias da marca. No mês passado, a montadora convocou os proprietários do sedã Mondeo, ano e modelo 2002 equipados com câmbio automático, para uma inspeção e a fixação adicional do cabo da bateria.
Rebelião deixa 11 mortos em S. Paulo
Antes de fugir presos atearam fogo nos colchões na delegacia de Embu, que estava com superlotação
Onze presos morreram ontem durante uma rebelião no Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), em Embu, na Grande São Paulo. Outros 11 ficaram feridos e foram atendidos em um pronto-socorro da cidade.
Por volta das 11h30, cerca de 60 detentos fugiram. Os cinco policiais que estavam de plantão conseguiram impedir a fuga dos outros presos, mas eles começaram o motim. A delegacia tinha 163 detentos.
Os presos atearam fogo nos colchões da cela onde estavam nove presos do "seguro" e todos morreram. Outros dois foram assassinados no pátio da cadeia, por objetos de ferro pontiagudos fabricados pelos próprios detentos. A última revista entre os presos, de acordo com informações da polícia, foi feita na sexta-feira.
De acordo com as famílias dos detentos, um menor e um deficiente mental sobreviveram e permanecem encarcerados na área de maior segurança da delegacia. A fuga e a rebelião começaram depois da faxina da manhã. Foram mantidos como reféns dois investigadores da polícia.
Um fugiu e o outro, André Francisco Bingdon, permaneceu nas mãos dos presos até as 14h15, quando foi libertado com uma fratura no nariz. Com a libertação dele terminou a rebelião.
Até as 17h de ontem haviam sido recapturados 22 fugitivos, que foram encaminhados à Delegacia de Taboão da Serra. De acordo com o diretor do Demacro, Antônio Martins Fontes, a cadeia, que mantinha 163 detentos, comportava apenas 2 4.
As famílias dos detentos permaneceram na porta da delegacia até as 17h de ontem, quando foram divulgados os nomes dos mortos.
Segundo Fontes, foi encontrada com os presos uma pistola Beretta 663, que não foi usada porque estava danificada.
Artigos
Bem-vindos a 1984
Paulo Pestana
O big brother chegou não na forma de um olho que tudo vê e tudo sabe, mas diluído em toda a sociedade. Agora invadiu a política e, de repente, estamos todos achando que é muito normal uma pessoa gravar uma conversa às escondidas e usá-la como instrumento de chantagem. A partir de agora estamos todos expostos, como thirsos e manoelas sem lençol e sem saber que estamos sendo filmados. Nem aquele bonequinho sorridente avisando da filmagem nos permitem mais. Há uma nova ética no ar? Uma ética que permite que sejamos todos fiscais do próximo? E que nos obrigue todos a sermos vigiados?
A ética não permite desvios e tergiversações. Muito menos conveniências. Mas a filmagem de intimidades, que pode parecer uma arma poderosa contra os corruptos e criminosos em geral esconde um mal ainda maior: a perda das liberdades individuais. A partir de agora todos os cidadãos são suspeitos e obrigados a provar sua inocência a cada ato, todos somos passíveis de punição por qualquer pecado, como se alguns de nós tivessem sido transformados em deuses que tudo vêem e que a tudo punem. Estamos todos nus.
Mas se a ética não permite desvios, como ficam os pais que filmam empregadas surrando bebês? Estão mais certos do que jornalistas que usam a câmara escondida para arrancar declarações e propostas de corruptos? Estão mais corretos do que empresários que gravam conversas com parlamentares dispostos a fazer negociatas?
Com o festival de fitas a imprensa está diante de uma tentação, como se viu recentemente no caso do deputado flagrado em conversa com um empresário acusado de parcelamento irregular de terras. Emissoras de tevê exibiram à farta uma fita evidentemente editada, que só mostrava o que uma das partes queria mostrar, que sequer conta uma história inteira. Jornais reproduziram a fita, até mesmo aquele que diz prezar um código de ética que veta o uso de gravações ilegais para a confecção de reportagens. É a ética de conveniência, que qualifica qualquer um que possa ser usado para um determinado fim. A desculpa para "legalizar" o ato arruma-se depois.
O pior, no entanto, vem depois. No direito de resposta concedido ao deputado, por exemplo, o juiz eleitoral afirma que a fita gravada foi montada, não serve como prova nem num eventual - e ainda não existente - processo. Mas isto os jornais e as emissoras de televisão não publicaram. Não interessa, desmonta a reportagem de impacto mostrada antes. Ou seja: algumas verdades não interessam para os defensores desta nova ética, que prega o império dos vigilantes e, conseqüentemente, uma sociedade do medo. Estamos em 1984.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Serra administra conflitos
José Serra passou quase toda a semana exercendo uma função que não é exatamente o seu forte: a de administrar conflitos humanos. De um lado, precisou serenar os ânimos entre Nizan Guanaes e líderes parlamentares, em função de divergências na linha dos programas do horário eleitoral. De outro, procurando limpar sua barra com FhC, cuja defesa tem sido negligenciada. Em relação a Nizan, parece ter tido sucesso – ele não se demitiu. Em relação a FhC, as informações são, digamos, contraditórias.
Se correr, o bicho pega
Depois de vários sustos nas asas da TAM, Lula resolveu mudar. Neste final de semana ele passou a viajar nos jatinhos da Líder Táxi Aéreo. Aquela em cujo avião Paulo Maluf recentemente passou maus bocados.
Transcendência ampliada
FhC aguarda apenas o Supremo Tribunal Federal decidir se é constitucional o princípio da "transcendência" no Tribunal Superior do Trabalho (permitindo ao TST selecionar processos para julgar), e estender a medida ao STF e ao STJ. A medida é inspirada na "argüição de relevância" do regime militar, em que os tribunais cuidavam só de temas de sua exclusiva competência.
Lula x Argentina
Preocupado com a gafe diplomática que cometeu, ao classificar a Argentina de "republiqueta", Lula escreveu um artigo para o jornal Clarín, tentando reverter a péssima repercussão de suas declarações. A decisão foi tomada pela cúpula do PT. No artigo, Lula afirma que o Mercosul será sua "prioridade número um em política externa", caso vença a eleição.
Engano, vírgula
Lula enviou carta ao senador argentino Rodolfo Terragno (UCR), presidente da Comissão de Assuntos Internacionais do Senado, para tentar desfazer o que insiste em dizer ter sido "má interpretação" de suas declarações.
Mangabeira no exílio
Mangabeira Unger, guru de Ciro, retornou aos EUA e só reaparece no Brasil após as eleições. Foi o trato que fez com Ciro, após penosa negociação. Ele insistia em renúncia, que garantisse vitória de Lula no primeiro turno e "espaço de influência" para Ciro no futuro governo. Usuário sistemático de Lexotan, ele preferiu sair de cena. Para alívio geral da galera do PPS.
Nova moeda
Antes mesmo de vencer as eleições, Lula já inaugurou uma nova moeda: o real-diet - aquela que ficou abaixo do peso.
Como inimigo
Quem mandou ser oposição? Fernando Henrique mata na unha o senador José Sarney, concedendo-lhe tratamento que nem petista recebeu, no seu governo. O presidente não autorizou a liberação de um só tostão das emendas que o pai de Roseana encaixou no Orçamento de 2002.
Prato servido frio
Os tucanos mineiros não se comoveram com as queixas contra o candidato a governador Aécio Neves, de fazer corpo mole na campanha presidencial. É que eles não esquecem: em 1998, FhC e sua turma deixaram Eduardo Azeredo e o PSDB pendurados na brocha, na disputa com Itamar Franco.
Lei de Murphy
Um analista do mercado financeiro explica que as bolsas e o câmbio se agitam muito porque há "maus boatos" e "bons boatos", e não se pode saber a diferença. Mas é simples: bom boato é aquele que parece ser só boato; mau boato é aquele que tem cara de verdade.
Na onda petista
Manifesto do vice-almirante reformado Geraldo Souza Vieira abriu seu voto em Lula, "desta vez por convicção". Critica os governos anteriores e quer que o povo resolva o assunto logo no primeiro turno. "Os militares não se conformam com vícios arraigados. Anseiam por novas idéias, por novos tempos, como qualquer cidadão".
Eles querem é poder
Um laboratório suíço lança em 2003 um Viagra que dura até 36h. Grande coisa. O afrodisíaco Planalto demora pelo menos quatro anos!
Gaveta providencial
Procuradores federais do Rio Grande do Norte e de Pernambuco estão inconformados. Eles se esfolaram de tanto trabalhar na investigação desvio de recursos do Finor (Sudene) na Metasa, empresa do ex-ministro Fernando Bezerra, mas, até agora, o procurador-geral Geraldo Brindeiro mantém o caso guardado a sete chaves, em sua generosa gaveta.
Retratos do Rio
A cem metros da zona de guerra do Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, leitora paga R$ 734 de IPTU por um apartamento de fundos, de pouco mais de 100m². Quando os traficantes não fecham as lojas no local, descem o morro exibindo suas "máquinas" de madrugada. Na Av. Atlântica, apartamento do estilo paga R$ 440, com direito só a camelôs e travestis.
Raposas no cio
Diante dos que cobram patriotismo e bom senso dos especuladores, é bom lembrar: pedir ao especulador para não especular é o mesmo que pedir a um terrorista para não jogar bomba.
Reta de chegada
Nos próximos dias saem as pesquisas finais sobre as eleições e o debate final dos candidatos a presidente, na Globo. Assessores do líder Lu la juram que não estão em clima de "já ganhou", mas garantem: nesta pista só tem um Schumacher. Os outros três são todos Barrichellos.
Poder sem pudor
Sobras de campanha
Nos anos 60, Egídio Michaelson (PTB) disputou com Ildo Meneghetti a sucessão de Leonel Brizola no governo do Rio Grande do Sul. "Mika", como era conhecido, perdeu por pouco. Terminada a eleição, enviou um telegrama à cúpula do partido: "Sobrou dinheiro de campanha. O que devo fazer? Ass. Mika". Recebeu uma resposta lacônica:
– Gaste tudo.
Editorial
ÚLTIMA SEMANA
A campanha eleitoral entra em sua semana final. Com a polarização entre dois candidatos apontada por todas as pesquisas de intenção de votos, no Distrito Federal, aumenta o risco de que as agressões entre militantes e até mesmo no horário eleitoral do rádio e da televisão escapem do controle. É compreensível que a temperatura aumente, que candidatos e cabos eleitorais experimentem uma fase que os atletas chamam de sprint, o esforço final de chegada. Mas é preciso observar regras para que o ímpeto não se transforme em baderna.
O Tribunal Regional Eleitoral tem buscado controlar a gana dos candidatos que ocupam os programas, principalmente na TV. Tem concedido direitos de resposta quando julga que alguém foi ofendido com uma agilidade que poderia inspirar outras instâncias da Justiça. Pode-se até acusar o TRE de ser zeloso demais, mas nunca de omissão. Pode-se até questionar algumas decisões tomadas pelos juízes, mas é clara a intenção de aperfeiçoamento que eles buscam a cada sentença firmada. Nos últimos dias o trabalho foi ainda maior, uma vez que os candidatos passaram a exercitar uma espécie de desconstrução dos adversários. Por este raciocínio, vale muito mais o que o outro não é do que o que o candidato é. Parece que a política é mostrar do que o outro não é capaz ao invés de apresentar-se como capaz.
O eleitor, desta maneira, não é apresentado aos candidatos; ele passa a conhecer os defeitos de cada um muito mais do que as eventuais virtudes. O festival de chega e de basta é vasto, faz parte da campanha, mas não pode ser o único ponto a ser debatido e mostrado a quem tem a obrigação de eleger um ou mais representantes. É preciso alterar, mostrar projetos diferentes e possíveis, criar alternativas, oferecer novas visões à sociedade. Mas boas idéias não estão sobrando. Ao contrário, os programas de governo de todos os candidatos principais são muito parecidos na intenção. O programa eleitoral serviu mais para mostrar que todos têm consciência dos problemas da cidade, embora a maioria não tenha dito como fará para gerir essas carências. Neste período de desconstrução, o eleitor ficou pouco exposto a boas idéias, perdendo o tempo com acusações que, de tão velhas, já correm na Justiça há tempos.
Ainda há tempo. Os candidatos devem aproveitar o tempo que ainda têm no rádio e na televisão não para falar mal dos outros, mas para falar bem de si mesmos, para mostrar suas capacidades, suas credenciais para resolver os problemas que apontam. É isto o que o eleitor espera dos chamados homens públicos. A luta de vale-tudo fica para os canais a cabo, de madrugada.
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09/29/2002
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