Ciro diz que, provocado, até Cristo reagiria
Ciro diz que, provocado, até Cristo reagiria
Candidato defende-se das acusações e reafirma que Armínio Fraga não fica no BC se ele vencer
PORTO ALEGRE – Dizendo-se vítima de manipulação nas críticas que recebe, o presidenciável do PPS, Ciro Gomes, afirmou ontem que até Jesus Cristo seria chamado de “destemperado” e “pavio curto”, caso fosse alvo do mesmo tipo de ataque. “Se esse tipo de comportamento fosse olhado sobre Jesus quando ele expulsou os vendilhões do templo, essa gente teria coragem provavelmente de chamar Jesus de destemperado, de pavio curto”, disse, ao visitar a Expointer, exposição agropecuária em Esteio, na Grande Porto Alegre.
Em queda nas pesquisas, o candidato acusou o tucano José Serra de agir ilegalmente na campanha, seja veiculando propaganda no horário eleitoral sem assinatura, seja pagando pessoas para provocá-lo ou patrocinando grampos telefônicos. Ao fazer a comparação com Jesus Cristo, Ciro ressalvou que não estava citando o santo nome em vão.
“Para que não haja amanhã manipulação do que eu estou dizendo: eu não tenho o direito de lavar nem o chão onde ele passou dois milênios atrás”, disse. “Volto a dizer: eu não tenho altura para lamber o chão onde Jesus pisou 2 mil anos atrás. Mas tiro dele essa lição: quando você manipula, você agride, qualquer pessoa que é indignada com a miséria, com a corrupção e tem vida, eu não caí de pára-quedas não, você tem de ficar indignado, é justo e humano que você fique indignado.”
Uma das “manipulações” atribuídas a Serra foi a veiculação, no horário eleitoral, da gravação em que o candidato do PPS chama um ouvinte de uma rádio baiana de burro. Ciro disse que foi “bobo” e acusou o ouvinte de estar a serviço de Serra.
Ciro chegou à Expointer acompanhado da mulher, Patrícia Pillar, do ex-governador e candidato ao Senado pelo Rio, Leonel Brizola (PDT), e do candidato do PPS ao governo do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PPS). Ele negou que o comando da campanha esteja excluindo setores da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT).
Fraga – Ciro criticou a proposta de que o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, permaneça no cargo nos primeiros meses do próximo governo, seja quem for o eleito. “Acho que esses senhores deveriam desencarnar. O povo brasileiro está se reunindo para escolher o próximo presidente e estes senhores agora a ditar quem fica, qual é a política que deve ser feita.”
Quanto ao acordo com o Fundo Monetário Internacional, reafirmou seu compromisso com a meta de superávit primário de 3,75% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2003, a estabilidade da moeda, a manutenção dos contratos e a austeridade fiscal. Lembrou ainda que espera os documentos oficiais para se pronunciar. “Eu não tenho compromisso nenhum com o FMI.”
Ciro se explica a Irma, líder de mulheres
Candidato garante a ex-deputada que falou de Patrícia sem o sentido de "uso sexual"
Na manhã de ontem, em São Paulo, o candidato da Frente Trabalhista Ciro Gomes enfrentou um debate que, certamente, não esperava. Diante dele, na Assembléia Legislativa, onde compareceu à cerimônia fúnebre para o antigo militante comunista Salomão Malina, o candidato foi abordado discretamente pela ex-deputada Irma Passoni (PT), antiga militante de movimentos de defesa dos direitos da mulher.
Irma aproximou-se e indagou do candidato se havia falado "mais de uma vez" que Patrícia Pillar é a mulher que dorme com ele. "Você disse uma ou três vezes seguidas essa expressão?", perguntou a ex-deputada, integrante do Centro de Gestão de Estudos Estratégicos, organização social não governamental.
"Uma vez", respondeu Ciro. "A declaração foi pinçada de um contexto?", insistiu Irma. Ele devolveu: "Sim."
A ex-deputada disse que se a TV mostrou Ciro repetindo três vezes a mesma declaração é porque pode ter havido manipulação. "Isso é ruim." Irma condenou a "expressão discriminatória". Para ela, Ciro "foi muito infeliz, ele não podia fazer isso".
Segundo Irma, Ciro explicou: "Usei a frase apenas uma vez, no contexto de que durmo com Patrícia, mas me referindo à figura da mulher importante para a família, que faz os filhos dormirem, que põe as crianças na cama, um contexto mais amplo e não a figura da mulher como uso sexual". Irma recomendou a Ciro que "dê maior precisão" às palavras. "Não pode dar conotação de que a mulher é para uso de cama, mesa e banho."
"Não é possível que ele tenha essa figura machista, espero que não", declarou Irma, depois da conversa com Ciro. "Se a Patrícia estivesse aqui, eu ia conversar com ela." (F.M.)
Presidenciáveis voltam a se enfrentar hoje na TV
Record reúne hoje os quatro candidatos, a partir de 21h20, com regras bem diferentes
Os quatro principais candidatos à Presidência voltam a se enfrentar hoje, no debate que será transmitido pela TV Record a partir das 21h20. É o segundo do gênero este ano, e apresenta diferenças com relação ao primeiro, realizado pela Bandeirantes no início de agosto. Naquele momento, o horário eleitoral gratuito ainda não havia começado e José Serra (PSDB) estava em baixa nas pesquisas. Agora, Serra cresceu e empatou com Ciro Gomes (PPS) na disputa pelo segundo lugar na corrida eleitoral.
A troca de acusações entre Serra e Ciro começou no debate da Band, e vem se acirrando. Os dois chegam ao programa de hoje brigando para ver quem vai enfrentar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um segundo turno.
O jornalista Boris Casoy, mediador do debate, disse que está se preparando para eventualidades.
“Gostaria que o debate fosse democrático e civilizado, mas, pelo ambiente de animosidade entre o Serra e o Ciro, estou me preparando não só para mediar, mas para serenar os ânimos.”
Lula deve seguir a tática de não confrontar os adversários, e apresentará propostas. “Não há o menor sentido em mudar a estratégia”, afirmou o marqueteiro do PT, Duda Mendonça. “Quem está liderando o jogo não tem de escolher adversários. Acho que o Lula vai ganhar de qualquer jeito, seja o Serra ou seja o Ciro no segundo turno.”
Para o marqueteiro de Serra Nelson Biondi, o debate ocorre em um “momento eleitoral novo”. “O segundo lugar está emboladíssimo, o que pede mudanças de estratégia.” Mas ele não quis adiantar como será a atuação do tucano. “A característica maior da nossa estratégia é ser sigilosa”, declarou.
O marqueteiro de Ciro, Einhart Jacome da Paz, não retornou pedido de entrevista do Estado. Na semana passada, porém, Ciro deu sinais de sua nova estratégia. Ele vinha evitando rebater os ataques de Serra, mas na sexta-feira chamou o tucano de “covarde” e Lula de “inexperiente”.
Já o candidato do PSB, Anthony Garotinho, foi uma metralhadora giratória no primeiro debate. Seu marqueteiro, Carlos Rayel, não revela se a estratégia vai se repetir. “São coisas que acontecem no momento, não existe estratégia para isso.”
Diferenças – O programa da Record terá três diferenças em relação ao da Band. Duas rodadas de perguntas entre os candidatos serão obrigatoriamente sobre saúde, educação, segurança pública, emprego ou habitação. Não haverá participação de jornalistas. Apenas Boris fará duas peguntas gerais, uma no início e outra no final do programa.
“Não adianta ter entrevistadores se os candidatos não querem que eles tenham direito à réplica”, disse Boris. “A idéia é exercitar o confronto de idéias entre eles”, afirmou o diretor do debate, Dácio Nitrini.
A terceira diferença é a falta de platéia: só três assessores poderão ficar no estúdio. “Isso evita a torcida, que é uma participação partidária emocional. A idéia é faze r um debate jornalístico, sem características de show de TV”, explicou Nitrini. Os convidados acompanharão o programa por um telão.
Medo de líderes é ‘machucar’ muito Ciro e ajudar Lula
No avião de Fernando Henrique, Aécio e Ramez Tebet pedem cuidado na estratégia
JOHANNESBURGO – O clima no avião que trouxe o presidente Fernando Henrique Cardoso à África do Sul era de “animação absoluta”, na descrição de um passageiro, por causa das pesquisas que indicam empate técnico, no segundo lugar, entre José Serra (PSDB) e Ciro Gomes (PPS). A preocupação de alguns tucanos passa a ser que Ciro “não chegue machucado demais”no primeiro turno, o que favoreceria muito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Os presidentes da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), e do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), esperam que agora a campanha de Serra inspire mais entusiasmo de candidatos locais da aliança em todo o País. Os dois chegaram ontem a Johannesburg com Fernando Henrique, para a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável.
“É natural que vá haver maior engajamento”, avaliou Aécio. “O crescimento nas pesquisas anima todo mundo”, completou Tebet. Apesar disso, ele deixou claro que discorda da falta de apetite de candidatos locais em apoiar Serra, até a semana passada. “Às vezes se apóia um cadidato perdedor e não se perde voto”, disse, acrescentando que esse é seu caso. Tebet está em primeiro lugar nas pesquisas para o governo em seu Estado, assim como Aécio em Minas.
Aécio afirmou que as intenções de voto nos níveis nacional e estadual ainda “não estão coladas” e pesquisas indicam que 55% dos eleitores de Lula em Minas votariam nele para governador. “Com o programa eleitoral, pode haver colagem”, avaliou. “Eu sempre disse que este jogo ainda está sendo jogado. Não terminou nem para nós nem para ninguém.”
Ele disse que Lula parece consolidado na liderança, mas assegurou: “Vamos lutar com muito vigor pelo outro lugar para o segundo turno.” Aécio aposta que “os partidos que fizeram aos reformas ao lado do governo FHC continuarão amplamente majoritários”, mas incluiu o PT na lista dos que, “de alguma forma”, apoiaram as reformas.
Viagens – Ele e Tebet não disfarçam a inquietação em ter de acompanhar o presidente nas viagens, no calor da campanha. É que, com a ida do vice-presidente Marco Maciel ao Chile, eles teriam de assumir a Presidência, o que pela lei os inabilitaria como candidatos.
“Quando vi que o presidente faria quatro viagens em menos de dois meses, pensei: estou liquidado”, brincou Aécio. “Agora estou achando que é pouco”, acrescentou, referindo-se aos constrangimentos que sua presença causaria em algumas cidades mineiras, nas quais é apoiado por adversários locais. Já Tebet não tem dúvidas: “Pedi para o presidente parar de viajar um pouco. Ele riu.”
Os apelos dos dois levaram Fernando Henrique a antecipar em um dia a sua volta a Brasília. A Cúpula terminará quarta-feira e o presidente voltará amanhã. Com isso, se as várias declarações políticas do encontro não ficarem prontas antes de terça, não contarão com a presença do presidente para a cerimônia de assinatura.
Agenda – Fernando Henrique participou no fim da tarde de reunião com outros presidentes sul-americanos, para coordenar as posições da região. Ele não quis falar com a imprensa e cancelou a participação ontem em mesa redonda na qual falaria como presidente de turno do Mercosul.
Hoje, o presidente participa da sessão plenária de chefes de Estado e de governo. também se reúne com o chanceler alemão, Gerhard Schröder, a primeira-ministra da Nova Zelândia, Helen Clark, o presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma – a quem pedirá que assine o Protocolo de Kyoto. a chefe do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Mary Robinson, e o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela.
Afirmação de Lula sobre pesca é contestada
Diretor de Agricultura e Pesca do Ministério da Agricultura diz que há, sim, política para o setor
BRASÍLIA - Seguindo à risca a orientação do governo de não deixar nenhuma crítica sem resposta, o diretor de Aqüicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Gabriel Calzavara, contestou ontem as afirmações do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, de que não existe uma política para o setor de pesca no País. Segundo dados apresentados pelo Ministério da Agricultura, desde o ano passado o setor conta uma linha de crédito específica que, para este ano, será de R$ 70 milhões.
Os empréstimos são concedidos aos pescadores com taxas fixas de juros de 8,75% ao ano e incluem todas as espécies de pescado. O limite de empréstimo por beneficiário, que era de R$ 40 mil no ano passado, foi ampliado para R$ 150 mil, devido à demanda. Os R$ 70 milhões para este ano fazem parte de um programa traçado pelo Ministério da Agricultura que prevê a aplicação de R$ 280 milhões nos próximos quatro anos.
"A continuidade dessa linha irá depender, obviamente, do próximo governo", diz Calzavara.
O diretor do Ministério da Agricultura informa que, desde 1998, quando o setor deixou de ser subordinado ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama) e passou para o Ministério da Agricultura, a preocupação maior foi a de incentivar a produção nacional, aumentar a renda do pescador e reverter o déficit da balança nacional de pescado. "Os números atestam o sucesso da política que implementamos", afirma o diretor.
Aumento - Calzavara diz que a produção brasileira de pescado, que historicamente se situava entre 600 mil a 700 mil toneladas anuais, passou para 860 mil toneladas em 2000 e para 900 mil toneladas em 2001.
A renda do setor pesqueiro, que era R$ 2,994 bilhões em 1998, passou para R$ 3,620 bilhões em 2000 e para R$ 3,769 bilhões no ano passado.
As exportações do setor também quase triplicaram, comparando as vendas feitas em 1998, de US$ 120 milhões, e a previsão para este ano, que é de alcançar US$ 333 milhões. No ano passado, o Brasil exportou US$ 284 milhões.
Graças à política implementada pelo governo, Gabriel Calzavara diz que foi possível reduzir importações e reverter o déficit crônico da balança comercial do setor.
As importações de pescado, que em 1998 foram de US$ 453 milhões, caíram para US$ 261 milhões no ano passado. E, para 2002, a estimativa é de que sejam importados US$ 244 milhões.
Com essa redução drástica, Calzavara diz que o déficit da balança comercial de pescado, que foi de US$ 333 milhões em 1998 e de US$ 59 milhões em 2000, passou para um superávit de US$ 23 milhões no ano passado, devendo alcançar um saldo positivo de US$ 84 milhões neste ano.
Área de pesca - O diretor do Ministério da Agricultura diz ainda que, com uma política estratégica para o setor, o Brasil passou a brigar nos grandes fóruns internacionais para ampliar sua área de pesca nas regiões oceânicas.
"Queremos ampliar nossa fronteira de pesca que, atualmente, é de 55 milhas da costa." A ampliação dessa área, segundo ele, será possível com a modernização e aparelhagem dos barcos de pesca.
Nova meta de superávit não altera Orçamento
Governo já adaptou estimativas para este ano e garante que não será necessário cortar mais
BRASÍLIA - O Orçamento da União deste ano já foi adaptado pelo governo para assegurar o aumento adicional na meta de resultado das contas públicas, previsto no novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Não deverão ser necessários novos cortes na programação de gastos, uma vez que o aperto já adotado nos últimos ajustes garantirá um superávit primário (diferença entre receitas e despesas, exceto gastos com juros da dívida pública) maior do governo federal e suas estatais.
De acordo com a mensagem enviada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ao Congresso na quinta-feira, foi elevada de 2,81% do Produto Interno Bruto (PIB) para 3% do PIB a meta de superávit primário das finanças da administração direta e das estatais federais. Além disso, a expectativa do desempenho das contas dos Estados e municípios, antes em 0,95% do PIB, foi revista para 1% do PIB.
Dessa forma, o setor público consolidado fechará o ano com superávit primário correspondente a 4% do PIB, em vez dos 3,75% que haviam sido anunciados pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, em 8 de agosto. Com isso, em vez de economizar em torno de R$ 49 bilhões, os três níveis de governo e suas estatais pouparão cerca de R$ 51 bilhões no acumulado de 2002.
Os números já constam da nova versão do acordo que deve ser avaliado pela diretoria do FMI na sexta-feira. No entanto, oficialmente, o governo ainda não anunciou o aumento da meta.
Esta é a segunda vez que a meta de superávit primário para 2002 é elevada - o ano começou com 3,5% do PIB (R$ 45,7 bilhões), subiu para 3,75% (R$ 48,7 bilhões) no início da crise no mercado financeiro que fez o dólar disparar e agora passará para entre 3,9% e 4% do PIB.
Salto - O motivo do aperto nas contas foi o crescimento da dívida pública, que em julho saltou para o equivalente a 61,9% do PIB. Com a alta do dólar constante - só em julho a taxa de câmbio subiu 20,54% - e os juros altos, o endividamento cresce, porque cerca de 70% dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional são indexados a esses dois indicadores da economia. Ao contrário do que a equipe econômica esperava, o dólar não retornou para a casa dos R$ 2,60 após o anúncio do acordo com o FMI.
A maior parte do aumento da meta de superávit primário para este ano será arcada pelo governo federal. De acordo com a mensagem presidencial ao Congresso, a administração direta da União fechará 2002 com saldo positivo de R$ 30,7 bilhões, equivalente a 2,4% do PIB. Em 2001, o montante economizado correspondeu a 1,9% do PIB. "Este é um senhor ajuste", constata o economista e especialista em finanças públicas Raul Velloso.
A contribuição das estatais federais foi fixada em cerca de R$ 7,5 bilhões (0,6% do PIB) e ficou no mesmo nível de 2001. No total, o esforço da União será responsável por 3% do PIB (R$ 38,2 bilhões) na nova meta.
Segundo fontes da área econômica, novos cortes não serão necessários, apenas a retenção definitiva de R$ 4 bilhões bloqueados em junho por causa do atraso na votação da prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Este ano, o governo já reduziu em R$ 16 bilhões os gastos aprovados pelo Congresso.
Estados - O bom desempenho das contas dos governos estaduais e municipais também ajudará no cumprimento da nova meta.
Os contratos de rolagem das dívidas dos Estados com a União e a Lei de Responsabilidade Fiscal, que impõem regras de contenção de gastos para governos regionais neste ano de eleições, estão segurando a expansão das despesas.
A expectativa do Tesouro é que neste ano se repita o salto ocorrido de 2000 para 2001 no superávit primário dos Estados, que subiu de R$ 6,1 bilhões para R$ 8,8 bilhões. No período de 12 meses encerrado em julho, eles haviam acumulado R$ 10,962 bilhões (0,84% do PIB) de saldo positivo em suas contas.
Artigos
Televisão - cidadania contra baixaria
Carlos Alberto Di Franco
Os pontos de audiência conquistados pelas emissoras de TV com a exibição de cenas de sexo e de violência podem representar uma miragem para o mercado publicitário. O alerta foi dado por uma pesquisa da Universidade de Iowa (EUA) e suscitou interessante artigo de Robinson Borges, publicado no jornal Valor Econômico.
O estudo detectou uma dupla ação das chamadas "telas quentes": ao mesmo tempo que atraem mais telespectadores, elas inibem a memória do público na hora do intervalo comercial. Segundo o professor Brad Bushman, coordenador da pesquisa Violence and Sex Impair Memory for Television Ads (Violência e Sexo Prejudicam a Memória para Anúncios de Televisão), "as propagandas veiculadas em programas sem sexo e sem violência, o que chamamos de 'neutros', têm mais 'recall' do que os exibidos no intervalo de filmes e seriados com esses elementos".
A pesquisa constatou que telespectadores dos programas neutros se lembram 67% mais dos comerciais exibidos durante a programação do que aqueles que vêem programas com conteúdo violento e sexual. A mesma sondagem feita 24 horas depois concluiu que telespectadores de programas neutros se recordam 60% mais do que os outros. Conclusão: violência e sexo certamente têm mais audiência, mas não vendem.
Trata-se de um recurso antiético e comercialmente incompetente.
O trabalho faz parte de um amplo estudo de Bushman sobre a qualidade da programação. Na pesquisa anterior, o professor concluiu que a repercussão social desses conteúdos não é apenas negativa para anunciantes, mas para a sociedade. "A violência na TV contribui para o aumento da violência e o sexo amplia as atitudes agressivas em relação ao amor, ao próprio sexo e estimula a promiscuidade", sublinha. O pesquisador acredita que o resultado de seu estudo também deve promover uma revisão na percepção do mercado publicitário, acostumado a valorizar os pontos no Ibope para anunciar. "Isso é uma falácia. Mais do que uma grande audiência, o importante é que os produtos sejam memorizados pelo público. E isso não ocorre", conclui Bushman. Quer dizer, programa de mulher pelada ou de violência gratuita pode produzir descargas de adrenalina, mas não é o melhor espaço para a promoção de anúncios publicitários.
A pesquisa do professor Bushman não é inédita, mas é séria, fundamentada e completa. Vale, sem dúvida, uma reflexão. Se quisermos uma TV de qualidade, precisamos separar o exercício da liberdade de expressão da prática do entretenimento mundo-cão. Como salientou Arnaldo Jabor, há uma liberdade de mercado que produz um "mercado da liberdade". De resto, mesmo que exista uma demanda de vulgaridade, deve-se aceder a ela? Suponhamos que exista um público interessado em abuso sexual de crianças, assassinatos ao vivo, violências desse tipo. Nem por isso a TV deveria ter programas especializados em pedofilia e assassinatos. O mercado não é um juiz inapelável. Não se deve atuar à margem dele, mas não se pode sobrevalorizá-lo. Trata-se de uma questão de equilíbrio e bom senso.
Muita gente, dentro e fora da TV, está empenhada na batalha da qualidade. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, por exemplo, está liderando um movimento contra a má qualidade da programação das emissoras.
Com o slogan "quem financia a baixaria é contra a cidadania", Orlando Fantazzini, deputado federal (PT-SP) e presidente da comissão, quer incentivar os consumidores a não comprarem produtos das empresas que patrocinam esses programas. A idéia é criar uma espécie de selo de qualidade. Os produtores e patrocinadores de programas de baixo nível serão informados a respeito da desqualificação dos seus programas. A falta de ética pode pesar no bolso. É um bom começo. Democrático e legítimo. A iniciativa contará, certamente, com o apoio da maioriasilenciosa da sociedade civil.
Vejamos televisão, mas não sejamos teledependentes. E, sobretudo, cobremos qualidade. O nível da TV baixa quando os telespectadores se tornam passivos, quando o exercício da cidadania enfraquece. A televisão não mudará com anacrônicos apelos ao retorno da censura nem com o pessimismo amargo dos moralistas de sempre. Melhorará, sim, com a crítica racional, equilibrada e bem-intencionada dos que estão de bem com a vida. Você, caro leitor, pode fazer muito.
Editorial
O NOVO CENSO ESCOLAR
Os dados preliminares do Censo Escolar 2002, divulgados pelo Ministério da Educação, revelam crescimento de 5% no número de matrículas no ensino médio e de 4% na educação infantil, em relação ao ano passado. As duas pontas do sistema educacional brasileiro, a das crianças de até 6 anos de idade e a dos jovens com mais de 15 anos, apresentaram crescimento muito maior que o do ensino básico, destinado à faixa etária de 7 a 14 anos, que foi de apenas 1% neste ano, também em relação às matrículas de 2001. O Censo Escolar captou a mudança demográfica que o País está enfrentando: as matrículas na 1.ª série do ensino básico diminuíram 1,5% e o crescimento médio de 1% só foi obtido pelo aumento de matrículas nas séries finais desse nível.
Todos esses dados confirmam uma tendência de aumento da procura por educação por parte de quem tradicionalmente o sistema escolar não atendia:
crianças até 6 anos e os que abandonaram a escola, seja no ensino básico, seja no médio, e agora estão voltando. O censo mostrou, por exemplo, que da 1.ª à 4.ª séries do ensino básico estão matriculados 240,7 mil alunos com mais de 29 anos de idade.
Os principais problemas do ensino infantil - que teve 212 mil matrículas novas - têm sido bem equacionados pelo governo que, inclusive, vem recebendo bom suporte pedagógico e financeiro de órgãos internacionais. A situação é diferente no ensino médio, que recebeu 400 mil novas matrículas apenas em 2002. Nos últimos seis anos, a expansão foi de 53% no ensino médio regular - sem o supletivo - que atingiu neste ano um total de 8,4 milhões de alunos.
Destes, apenas 3,8 milhões estão na relação idade/série correta, entre 15 e 17 anos. Cerca de 2 milhões de alunos deste nível de ensino têm mais de 20 anos e quase 1 milhão de alunos têm mais de 25 anos. Parcela considerável das novas matrículas do ensino médio também foram de alunos de faixas etárias superiores a 29 anos.
Menos de um terço de nossos jovens entre 15 e 24 anos, segundo o IBGE, estão ou estiveram matriculados no ensino médio. Há, portanto, grande demanda reprimida nesse nível de ensino. O mercado de trabalho exige cada vez mais a conclusão da escola média. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho mostrou que nas 8 maiores regiões metropolitanas do País os postos de trabalho que exigiam escolaridade básica diminuíram 22% entre 1998 e 2001, enquanto os empregos que exigiam a escolaridade média completa aumentaram 28%, nesse mesmo período.
Nos últimos quatro anos o ensino médio sofreu sensível reforma com a implantação dos novos Parâmetros Curriculares Nacionais que reforçaram a assimilação analítica e interpretativa do conteúdo. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) funcionou como um elo de normatização dessas mudanças.
Toda essa modernização, no entanto, não conseguiu alterar significativamente a qualidade do ensino: as últimas avaliações dos alunos da 3.ª série do ensino médio feitas pelo INEP, órgão especializado do MEC, divulgadas em 2001, demonstraram um desempenho dos alunos em Português e Matemática 6% menor que o do exame anterior.
Há grande procura por escolaridade média em busca de qualificação para o trabalho. Porém, a própria avaliação do MEC indica que essa qualificação não está sendo alcançada, como seria desejável. Essa incompatibilidade entre o que os jovens procuram e o que encontram na escola média precisa ser superada.
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09/02/2002
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