Ciro e Serra empatam e indecisos crescem
Ciro e Serra empatam e indecisos crescem
Pela terceira semana consecutiva, o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), Ciro Gomes, perdeu votos e, com 17%, está empatado em segundo lugar com o candidato do PSDB, José Serra, de acordo com a mais recente pesquisa do Ibope, divulgada ontem pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo. Ciro caiu quatro pontos, mas nenhum candidato se beneficiou com a perda desses eleitores, que passaram a engrossar as fileiras dos indecisos. O índice dos que não sabem em quem votar subiu de 10% para 14%. Serra manteve o mesmo desempenho da semana passada, com 17%.
O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, permanece estabilizado em primeiro lugar, com 35%, mais do que o dobro das intenções de voto somadas de Ciro e Serra. Anthony Garotinho, do PSB, também repetiu o desempenho da pesquisa anterior e mantém o quarto lugar, com 11%.
Índice de mulheres indecisas é de 18%
A pesquisa mostra que, desde o início do horário eleitoral, cresceu o número de indecisos em segmentos que nas últimas eleições foram os últimos a decidir seu voto. Entre as mulheres, por exemplo, os indecisos subiram de 13% para 18%. Nessa faixa do eleitorado, Ciro caiu de 21% para 16%. Entre os eleitores de 35 a 49 anos, os indecisos passaram de 10% para 15% e o índice de intenção de voto em Ciro caiu sete pontos, de 23% para 16%. No eleitorado com mais de 50 anos, os indecisos aumentaram de 17% para 21% e o índice do candidato da Frente Trabalhista encolheu de 21% para 16%.
O Ibope entrevistou três mil eleitores de 31 de agosto a 2 de setembro, em 202 municípios. A margem de erro é de 1,8 ponto percentual, para mais ou para menos.
Nas simulações para o segundo turno, Lula continua vencendo. No confronto com Ciro, a diferença aumentou de seis pontos (47% a 41%) para dez pontos (48% a 38%) em relação à pesquisa anterior. Contra Serra (48% a 39%) e Garotinho (51% a 33%) não houve alteração nos resultados. Em outra simulação, Serra derrotaria Ciro por 41% a 38%.
O índice de rejeição de Ciro também vem aumentando nas últimas três semanas. Nesse período, o número de eleitores dispostos a não votar de jeito nenhum no candidato da Frente Trabalhista passou de 13% para 20%.
No mesmo período, a rejeição de Lula caiu de 31% para 29%, a de Serra passou de 24% para 20% e a de Garotinho, de 26% para 22%.
O número de eleitores que já assistiram pelo menos um dia ao programa eleitoral subiu nove pontos e agora é de 67%. Entre os eleitores que estão indecisos, 15% dizem que Lula está fazendo a melhor campanha na televisão. Serra vem em seguida, com 11%, e Ciro tem 7%.
Vox Populi: empate técnico no 2 lugar
Na última pesquisa do Instituto Vox Populi, realizada em 31 de agosto e 1 de setembro, a distância entre Ciro e Serra caiu de dez pontos para um ponto, configurando um empate técnico. O candidato da Frente Trabalhista caiu cinco pontos e está com 20%, enquanto o tucano subiu quatro pontos e passou para 19%. Lula subiu dois pontos e mantém a liderança, com 36%. Garotinho cresceu um ponto e continua em quarto lugar, com 9%.
O Vox Populi ouviu 2.004 pessoas em 115 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2,2 pontos, para mais ou para menos.
Nas simulações para o segundo turno, Lula venceria Serra com nove pontos de vantagem (47% a 38% das intenções de voto). Caso o adversário do candidato do PT fosse Ciro, a vantagem aumentaria para 16 pontos e seria de 50% a 34%.
Puxando Lula para a briga
Insatisfeitos com o fato de o petista Luiz Inácio Lula da Silva ter saído praticamente ileso de outro debate e certos de que a troca de ataques entre Ciro Gomes (Frente Trabalhista) e José Serra (PSDB-PMDB) é um ato de autofagia, os comandos de campanha do candidato da Frente e do tucano estão decididos a levar Lula ao ringue. Aliados de Serra e Ciro já investem numa ofensiva contra Lula para tentar impedir que ele chegue imaculado ao segundo turno.
Chamando Lula de Dula — fruto da fusão do nome do candidato com o do publicitário Duda Mendonça — o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), um dos principais articuladores da campanha de Ciro, disse:
— O Lula está escondendo seus parceiros. O MST e a CUT viraram seus sócios ocultos. Mas eles são indissociáveis.
Na segunda-feira, durante debate na TV Record, Ciro deu uma pequena alfinetada em Lula, ironizando a expressão “paz e amor”. Mas, para os aliados de Ciro, ainda é pouco:
— A luta entre Ciro e Serra é fratricida. Os dois vão sair sangrando. E o Lula vai ficar de cara limpa? Em 20 dias de segundo turno não dá para pegar nada nele! — disse o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ).
A falta de experiência administrativa de Lula passará a ser explorada no programa do PSDB. Apostando num segundo turno com Lula, o comando da campanha de Serra quer voltar a polarizar com o petista. A avaliação dos tucanos é que Lula, que vinha sendo poupado, deve ser provocado.
— É preciso trazer o Lula para o debate — disse o coordenador político da campanha, Pimenta da Veiga.
Na avaliação da campanha tucana, somente com um debate mais explícito com Lula é que Serra vai conseguir crescer mais no segmento da sociedade anti-Lula.
Hoje, o maior alvo de ironias dos adversários é a afirmação de Lula de querer apenas paz e amor. Vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR) partiu para o ataque:
— Lula é o adversário ideal para o segundo turno. Como Maluf em São Paulo, sempre perde. Se perder, o melhor que o “Lulinha paz e amor” deve fazer é criar uma colônia hippie.
Lula afirmou que vai continuar adotando o estilo paz e amor até o fim da campanha, embora diga que o PT está preparado para responder à altura a possíveis ataques.
— Sei que vão nos atacar. Mas vamos manter a campanha em alto nível — disse Lula em Caxias do Sul (RS).
Garotinho: ‘Não houve cumplicidade’
O candidato do PSB, Anthony Garotinho, também atacou o petista ontem. Para ele, Lula não quer debater porque tem assuntos que não consegue explicar ao eleitor.
— Tem essa aliança dele com o Sarney, porque agora está fazendo entendimentos com o sistema financeiro, agora elogia banqueiro. Então, tem coisas que ele não vai conseguir explicar — criticou.
Garotinho negou que tenha havido cumplicidade com Lula no debate.
— Não houve cumplicidade nenhuma. Apenas eu e ele (Lula) quisemos manter o nível e os outros dois (Serra e Ciro) mostraram que, em vez de debater propostas, partiram para agressões pessoais — disse.
O próprio Lula ironizou a troca de farpas entre Ciro e Serra no debate, comparando-a a uma briga de casal separado. Segundo Lula, as divergências entre Ciro e Serra deveriam ser resolvidas no divã de um analista, e não em um programa de TV.
Lula diz que pode criar uma nova correlação de forças no Cone Sul
PASSO FUNDO (RS). O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem em comício em Passo Fundo (RS) que sua eleição pode criar uma correlação de forças diferente entre os países do Cone Sul para negociar com os Estados Unidos:
— Uma vitória nossa muda muita coisa no continente, não só no país. A gente pode estar começando uma nova história. Ela pode repercutir em outros países. A gente pode estar criando uma outra correlação de forças para poder negociar com muito mais peso com o mundo desenvolvido.
Para Lula, o maior problema do país é a falta de planejamento:
— Tentaram colocar na minha boca que estava elogiando o regime militar. Só citei as três ocasiões em que o país teve governantes que planejaram os rumos da administrações: nos governos Getúlio, Juscelino e Geisel.
Segundo Lula , o país não teve mais planejamento depois disso. Para ele, quem assumir terá pouca margem de manobra para fazer os investimentos de que o país necessita:
— O dinheiro é curto, mas vamos fazer reformas, a economia vai crescer e vamos gerar riquezas e empregos.
Lula elogiou o presidente do PDT, Leonel Brizola, durante comício em Caxias do Sul. Falava sobre o nível de politização do Rio Grande do Sul.
— A politização do povo gaúcho está em sua origem. Enquanto em São Paulo as origens são Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf, as do Rio Grande do sul são Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola.
A citação mereceu aplausos, mas deixou parte da platéia perplexa, porque, além de apoiar Ciro Gomes para a Presidência, Brizola defende a eleição de Antônio Britto (PPS), maior adversário do petista Tarso Genro na disputa pelo governo gaúcho.
Ciro e Serra erram sobre números da Saúde
BRASÍLIA e SÃO PAULO. No embate sobre quanto o Ministério da Saúde gasta com hospitais públicos e privados, nem o candidato do PPS a presidente, Ciro Gomes, nem o do PSDB, José Serra, acertaram nas contas no debate anteontem à noite na TV Record. O governo gastou no ano passado R$ 11,9 bilhões em procedimentos e atendimentos médicos nos hospitais públicos e privados da rede do Sistema Único de Saúde (SUS). O setor público ficou com 57,1% dos recursos e o privado, incluindo as Santas Casas e outras instituições beneficentes, com 42,9%. Excluindo-se essas instituições filantrópicas, o gasto com o setor privado foi de 21,8%.
No debate, Ciro disse que a grande maioria dos recursos ia para o setor privado. Serra rebateu dizendo que o percentual era de 10%. Ontem, o ministro da Saúde, Barjas Negri, apresentou números para sustentar o cálculo de José Serra. O ministro somou os recursos disponíveis em sua pasta em 2001, incluindo ações de combate à Aids e contratação de agentes de saúde, para dizer que Serra estava certo.
Segundo Barjas, dos R$ 26,1 bilhões empenhados pelo ministério, R$ 5,1 bilhões foram para o setor privado, sendo que parte desse dinheiro foi destinada para entidades filantrópicas como as Santas Casas. Para os hospitais privados com fins lucrativos vinculados ao SUS, Barjas disse que foram repassados R$ 2,6 bilhões, o que equivale a 21,8% do total gasto com atendimento hospitalar ou 9,9% do total de recursos empenhados do ministério. Ou seja, os 10% que Serra citou no debate.
— Em qualquer hipótese não chegaria nem perto dos 75% que Ciro falou — disse Barjas.
Para Barjas, o candidato do PPS demonstrou desconhecer o SUS. Ele disse que o SUS é descentralizado e os recursos são repassados para prefeituras como a de Sobral (CE), já administrada por Ciro.
O ministro afirmou que o SUS envolve ações como o programa de combate à Aids, cujos gastos devem ser computados para se saber quanto foi para o setor público e quanto para o privado. Barjas ressaltou que o repasse a hospitais privados são feitos em função de procedimentos médicos realmente realizados.
Em nota, Ciro Gomes respondeu à acusação de Serra de que foi condenado: ele disse que o recurso ainda tramita na Justiça. Segundo a nota assinada pelos advogados do candidato, Márcio Thomaz Bastos e Hélio Parente Filho, “não é verdade que exista sentença transitada em julgado” contra Ciro. Serra fez a declaração no debate. A nota diz que a queixa-crime do ex-ministro da Saúde Henrique Santillo contra Ciro foi julgada à revelia e considerada procedente em primeira instância. Segundo os advogados, o Tribunal de Alçada de São Paulo manteve a decisão, e eles ingressaram com recurso no Superior Tribunal de Justiça, onde o processo está em tramitação.
Ciro mostrou Ricardo Sérgio em seu site
Ontem Ciro mostrou que está mesmo disposto a aumentar a ofensiva contra Serra, ao colocar, em seu site, reprodução de reportagem da revista “Veja”, que fala do suposto envolvimento do economista Ricardo Sérgio em propinas de empresas que participaram do consórcio de privatização da companhia Vale do Rio Doce.
Mas o coordenador político de Serra, Pimenta da Veiga, disse que isso nada tem a ver com a campanha do tucano.
Lula diz que pode criar uma nova correlação de forças no Cone Sul
PASSO FUNDO (RS). O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou ontem em comício em Passo Fundo (RS) que sua eleição pode criar uma correlação de forças diferente entre os países do Cone Sul para negociar com os Estados Unidos:
— Uma vitória nossa muda muita coisa no continente, não só no país. A gente pode estar começando uma nova história. Ela pode repercutir em outros países. A gente pode estar criando uma outra correlação de forças para poder negociar com muito mais peso com o mundo desenvolvido.
Para Lula, o maior problema do país é a falta de planejamento:
— Tentaram colocar na minha boca que estava elogiando o regime militar. Só citei as três ocasiões em que o país teve governantes que planejaram os rumos da administrações: nos governos Getúlio, Juscelino e Geisel.
Segundo Lula, o país não teve mais planejamento depois disso. Para ele, quem assumir terá pouca margem de manobra para fazer os investimentos de que o país necessita:
— O dinheiro é curto, mas vamos fazer reformas, a economia vai crescer e vamos gerar riquezas e empregos.
Lula elogiou o presidente do PDT, Leonel Brizola, durante comício em Caxias do Sul. Falava sobre o nível de politização do Rio Grande do Sul.
— A politização do povo gaúcho está em sua origem. Enquanto em São Paulo as origens são Adhemar de Barros, Jânio Quadros e Paulo Maluf, as do Rio Grande do sul são Getúlio Vargas, João Goulart e Brizola.
A citação mereceu aplausos, mas deixou parte da platéia perplexa, porque, além de apoiar Ciro Gomes para a Presidência, Brizola defende a eleição de Antônio Britto (PPS), maior adversário do petista Tarso Genro na disputa pelo governo gaúcho.
Serra joga para a torcida
SÃO PAULO e RIO. Quatro meses depois de exibir na TV uma camisa do Corinthians para atacar os adversários que, segundo ele, mudam de time apenas para agradar à torcida, o candidato à Presidência pelo PSDB, o palmeirense José Serra, discursou ontem num jantar em pleno Parque São Jorge, sede da nação corintiana. Apressado, falou por dez minutos e, antes de deixar o clube, foi vaiado por parte dos 300 convidados quando disse que era palmeirense. Ao falar sobre o que sentia em fazer campanha eleitoral na casa do Corinthians, maior rival do Palmeiras, respondeu:
— Na verdade, o Corinthians não vive sem o Palmeiras e o Palmeiras não vive sem o Corinthians.
Nas primeiras inserções do PSDB na televisão, o candidato apareceu sentado na arquibancada do estádio do Parque Antártica, do Palmeiras, com a camisa do Corinthians na mão. E, veladamente, fez críticas ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que na ocasião negociava aliança com o PL.
— Eu até poderia colocar essa camisa para agradar aos corintianos, mas seria falta de respeito. Isso é o que vem fazendo alguns adversários, que mudam de time só para agradar à torcida — disse.
Enquanto Serra andava em terreno de maioria masculina, a vice, Rita Camata, corria atrás do eleitorado feminino. Ela pediu votos ontem entre as costureiras das fábricas de lingerie De Millus e Du Loren, na Zona Norte do Rio. Apesar de se apresentar como uma das autoras da lei que garantiu a proibição da revista íntima, a deputada não sabia que o movimento contra a inspeção havia sido iniciado na De Millus em 1989.
Artigos
Transgênicos e as eleições
Jean Marc Von Der Weid
Não, leitor, não estamos analisando as alianças estranhas entre os diferentes partidos ou frações dos partidos para apoiar este ou aquele candidato, embora existam muitos cruzamentos contrários à natureza nestas eleições. O que queremos examinar são as posições dos candidatos sobre a liberação ou não dos transgênicos no Brasil.
Será que esta questão merece atenção particular, com tantos temas de urgência dramática, como emprego, segurança, distribuição de renda, fome, etc? Infelizmente, a resposta é sim. A questão dos transgênicos é de capital importância para o futuro da agricultura, do meio ambiente e da saúde do consumidor, sobretudo por tratar-se de uma tecnologia cujos impactos, se comprovados seus efeitos nocivos, não podem ser revertidos por medidas posteriores.
Ao contrário da energia nuclear, cujo uso pode ser interrompido e o material radioativo guardado hermeticamente para evitar a contaminação ambiental, os transgênicos, uma vez liberados na natureza, não podem ser retirados e seus efeitos passam a ser permanentes.
Os transgênicos estão proibidos no Brasil, tanto para o cultivo comercial, como para o consumo. A ausência de uma vigilância do governo federal para inibir o contrabando de sementes transgênicas da Argentina, os cultivos clandestinos no Rio Grande do Sul e o consumo de importados contaminados vêm colocando em risco o meio ambiente e a saúde do consumidor.
Por outro lado, a mesma falha na vigilância dos campos experimentais de transgênicos vem propiciando o abuso das empresas, que empregam áreas de grandes dimensões sem qualquer esforço para isolar os plantios.
Uma lei facilitando a liberação dos transgênicos está em tramitação na Câmara de Deputados, embora dificilmente ela seja votada antes de se inaugurar o próximo governo e a próxima legislatura. A posição do próximo presidente será crucial para destino desta proposta.
Até agora, tanto Lula como Garotinho incluíram nos seus programas posições favoráveis a uma moratória por tempo indeterminado, até ficar clara a ausência de riscos significativos na liberação dos transgênicos. A posição de Serra pode ser deduzida por sua postura quando ministro da Saúde, pois a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a ele então subordinada, foi inteiramente omissa no cumprimento da lei, evitando fiscalizar a contaminação de produtos à venda no mercado nacional.
A posição de Ciro é ambígua, pois se por um lado o PTB votou a favor da lei em discussão na Câmara e Roberto Freire, do PPS, assumiu posição pública favorável à mesma em entrevista ao “Pasquim”, por outro lado o PDT teve papel importante na oposição ao projeto, particularmente o seu líder na Câmara, deputado Miro Teixeira.
Cerca de trezentas organizações da sociedade civil, representadas por 1.100 agricultores, extensionistas, pesquisadores e professores reunidos no Encontro Nacional de Agroecologia realizado no Rio de Janeiro, manifestaram-se claramente a favor da moratória aos transgênicos, assim como 130 participantes de um seminário nacional organizado na semana anterior pela CNBB. Além destes, milhares de ONGs ambientalistas e entidades representativas de consumidores e outros movimentos sociais já se manifestaram na mesma direção, em carta enviada a ministros e ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Por outro lado, pesquisa realizada pelo Ibope para a ONG ambientalista Greenpeace indicou uma rejeição aos transgênicos de 74% dos entrevistados.
A sociedade cobra agora uma posição clara de Serra e Ciro sobre este polêmico tema.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
Dilema para Lula
A tabelinha “todos contra Serra” posta em prática pelos candidatos de oposição no debate da TV Record, juntamente com os indicadores das últimas pesquisas, aponta para a nova situação de competitividade obtida pelo candidato tucano José Serra, mesmo não tendo ele superado o candidato Ciro Gomes. O Ibope de ontem trouxe o empate absoluto entre eles, cada um com 17%.
A percepção que importa sobre ganhos ou perdas de Ciro ou de Serra na refrega que travaram no ar e ao vivo é a do eleitorado, conjunto de subjetividades que as próximas pesquisas ainda vão traduzir. Mas o fato de terem todos se juntado, direta ou indiretamente, contra o candidato do governo, dá a medida de sua nova posição. Com seu segundo lugar ameaçado, Ciro não tem mesmo outro caminho senão o combate renhido. Já Lula, mesmo se esforçando para manter a linha “paz e amor”, levantou bolas para Garotinho e Ciro cortarem contra o adversário tucano. E Garotinho, que não tem nada a perder ou a defender neste momento, bateu sem o rancor ou o desespero de Ciro, com um misto de sarcasmo e descompromisso.
Para Lula, o pior dos quadros agora é aquele em que o adversário do segundo turno é Serra, e não Ciro. O candidato tucano reunificaria as elites que se dividiram quando foi dado como morto, ampliando os indicadores de confiança do petista. Com pelo menos dois ataques agressivos, Serra deu mostras de que seu apetite pela vitória não deixa espaços para a indulgência com Lula. Que, por sua vez, neste momento, quer evitar confrontos que deixem seqüelas para o segundo turno, quando pode precisar do apoio do tucano ou do trabalhista. Mas talvez ainda antes de 6 de outubro ele tenha que começar a bater com os próprios punhos, tanto em Serra como no governo, pondo fim ao estilo “paz e amor”. De Ciro, pode diferenciar-se apenas no estilo e nas demonstrações de maturidade. De Serra, não o faria senão com um discurso mais esquerdizante, que neutralizaria pelo menos em parte a idéia do Lula moderado e maduro.
A pesquisa Vox Populi/“Correio Braziliense”, sugerindo que Serra, e não Ciro, é agora o candidato mais forte para enfrentar Lula no segundo turno, vem ao encontro desse dilema que começa a ser colocado para o candidato do PT. Segundo a simulação, Lula bateria Ciro por 50% a 34%, mas o resultado contra Serra seria mais apertado: 47% a 38%.Aureliano Chaves confirma que acertou com o prefeito de BH, Fernando Pimentel, um encontro com Lula. Sairá declaração de apoio? “Por ora, vou apenas encontrá-lo, com muita alegria”.Festa no interior. De Minas
O arraial de Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro surgiu, como outras cidades de Minas, da marcha de um bandeirante, Gabriel Ponce de León, em 1702. Hoje é a terra de José Aparecido de Oliveira, e tem como prefeito seu filho José Fernando. No alto da região do Cerro Frio, ainda estava isolado por 60km de estrada de terra. A inauguração do asfalto, esse sinal da civilização, levou ontem à cidade, para uma festa política à moda do interior, muitos amigos dos Aparecido, políticos mineiros e o governador Itamar Franco, que recebeu 19 títulos de cidadão honorário concedidos por gratos prefeitos da região. No palanque, ele pediu votos para seus dois candidatos, Aécio Neves (governador) e Lula (presidente). Distinguiu deputados que apóia, como Marcelo Siqueira (federal) e Alberto Pinto Coelho (estadual) e dois candidatos ao Senado, Hélio Costa e Israel Pinheiro Filho. Aécio, com Fernando Henrique em Johannesburgo, deveria estar tratando do que o angustia no fim do mandato de deputado: “Eu estou pedindo os créditos que são um direito de Minas, mas não estou sentindo boa vontade”.
Também homenageado, o ex-vice-presidente Aureliano Chaves pôde fazer dueto com Itamar no discurso nacionalista e na crítica ao neoliberalismo. “O Estado brasileiro nunca substituiu a iniciativa privada. Mas o que tivemos agora foi o Estado absenteísta, implantando pelos que chamam de atraso a defesa da soberania e do interesse nacional”.
Uma festa com banda de música e sabores antigos, como carne de suã e doce de limão-rosa, no jeito próprio dos mineiros de tratar do futuro, enquanto a embaixadora do México deixava o recinto para atender, pelo celular, ao chanceler Jorge Cas tañeda.A hora do desespero
Desesperado com a ultrapassagem da marca dos 50% nas pesquisas pelo concorrente Aécio Neves, o candidato do PMDB ao governo de Minas, Newton Cardoso, mudou tudo em sua campanha. Agora promete moderar o discurso contra o tucano. Dispensou a agência F-3 e contratou outra, com o sintomático nome de Fúria Comunicação. Para o serviço pesado, vem tentando aliciar o candidato do PT, deputado Nilmário Miranda, que fará falta na Câmara como voz mais ativa em defesa dos direitos humanos. Até agora, nem Nilmário nem o PT parecem dispostos a cair nas tentações. Pesquisa Vox Populi divulgada ontem deu 52% a Aécio e 15% a Newton, que, pelo visto, só saiu candidato para atrapalhar a vida de Itamar Franco.GAROTINHO aposta. Vai começar a herdar votos de desiludidos com Ciro que não irão para Serra nem para Lula.
Editorial
O DERROTADO
Nas democracias de massa, os debates na televisão assumem importância decisiva. Mas esses confrontos tanto podem ajudar o eleitor a informar-se e decidir-se por um candidato com base em argumentos sólidos e verdadeiros, como há o risco de servirem para semear ilusões. Foi o caso do embate de segunda-feira à noite.
Estimulados por regras flexíveis, os quatro mais cotados aspirantes à Presidência puderam utilizar o arsenal de táticas esmerilhadas pelos assessores de marketing.
E assim passaram-se duas horas e meia sem que o eleitor obtivesse alguma informação de fato útil sobre como cada um dos candidatos fará para tornar realidade as promessas que fluíam na tela como rios de leite e mel. Pior, caso ele tenha ouvido o que ouviu com credulidade, desligou a TV convencido de equívocos.
Um deles é que se pode acelerar a economia brasileira e torná-la uma usina de boas notícias apenas por atos de vontade. Tudo se resumiria às boas intenções do homem público da hora. Nada mais falso. Entre bate-bocas e pedidos de direito de respostas, estreitou-se o tempo disponível para se explicar como os juros poderão ser cortados pela caneta presidencial sem que haja fuga de capital do sistema bancário para o dólar, problema que pode desembocar na paralisação do parque produtivo — o oposto do que gostaria qualquer candidato emocionalmente equilibrado.
O cidadão ficou, ainda, sem saber que os juros pagos pelo Tesouro aos bancos vão remunerar investimentos de milhões de brasileiros da classe média. E que não há nenhum tubarão financeiro viciado em dinheiro do povo. O que existe é uma perversidade determinada pelo desequilíbrio fiscal do Estado brasileiro.
O eleitor-telespectador perdeu também uma oportunidade de entender a relação entre o salário-mínimo e o estruturalmente deficitário sistema previdenciário brasileiro — principalmente o do funcionalismo público.
Faltou explicar-lhe por que criar oito ou dez milhões de empregos em quatro anos é tão simples como comprometer-se com metas à frente de uma câmera.
O eleitor continuou, ainda, sem saber ao certo como poderá ser ampliada a geração de energia por meio de um Tesouro deficitário — embora tenha tido a impressão de que é politicamente fácil fazer uma reforma tributária.
Os candidatos também ficaram-lhe devendo a explicação de como o Orçamento será substancialmente alterado mesmo que a Constituinte de 1988 e as revisões posteriores da Carta tenham vinculado boa parte dos gastos a áreas específicas.
Por isso, o eleitor foi o grande derrotado da noite. Como também derrotado será o vitorioso de outubro, se assumir em meio a esperanças que ele não poderá converter em realidade.
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09/04/2002
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