Serra faz de Ciro o alvo









Serra faz de Ciro o alvo
Tucano diz que rival é despreparado e está apostando no 'quando pior, melhor'

BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, elegeu o adversário Ciro Gomes, do PPS, como o principal culpado pela alta do dólar. “Toda vez que o Ciro abre a boca, o dólar sobe e uma fábrica fecha.” Serra também acusou o candidato da Frente Trabalhista de estar apostando “no quanto pior melhor” para tentar obter ganhos eleitorais. Lembrou ainda que Ciro foi filiado à Arena e ao PDS – partidos que apoiaram o regime militar – antes de passar pelo PSDB e, finalmente, chegar ao PPS. “Enquanto outros eram da turma do oba-oba do regime ditatorial, eu lutava contra ele”, acrescentou Serra.

Depois de responsabilizar Ciro Gomes pela alta do dólar, Serra disse que o adversário quer obter ganhos eleitorais com as dificuldades econômicas do país, desenvolvendo a política do ''quanto pior melhor''. O candidato governista classificou Ciro de despreparado e disse que ele não conhecia economia. ''Apesar do falatório, não entende nada de economia e tem propostas incoerentes. Sabe fazer xingamentos como ninguém, mas não aponta soluções'', afirmou.

Na linha da ofensiva contra o rival com que disputa o segundo lugar nas pesquisas, Serra acusou Ciro de ter alimentado a especulação com dólares, ao propor o fim das contas CC-5 - expediente bancário que permite a remessa de valores para o exterior. Para o candidato do PSDB, a proposta teria feito com que os especuladores enviassem dólares ilegalmente para fora do Brasil.

O tucano também relacionou a alta do dólar às últimas declarações de Ciro, condenando um acordo de transição com o Fundo Monetário Internacional (FMI). ''Fico espantado com um candidato que, neste momento, está jogando nessa linha. Ciro está ajudando a piorar o quadro da economia brasileira'', disse Serra.
As críticas do tucano foram feitas ontem, depois que ele experimentou um doce quebra-queixo (espécie de puxa-puxa, feito com coco e açúcar) oferecido por um eleitor à candidata a vice Rita Camata, no fim do almoço no restaurante comunitário de Samambaia.

Para amenizar a crise econômica, Serra defende que o presidente Fernando Henrique Cardoso deve apressar a assinatura de um novo acordo com o FMI. ''Temos que fazer tudo para dar mais segurança econômica ao país'', argumentou. O novo acordo, segundo Serra, não exige mais sacrifícios e, além de dar maior credibilidade à economia brasileira, vai permitir a criação de mais empregos.

Perguntado sobre as recentes pesquisas eleitorais, Serra , que está em terceiro lugar, disse que só falará sobre pesquisas depois que começar o horário gratuito de propaganda no rádio e na TV, em 20 de agosto.
O comando da campanha põe suas esperanças de crescimento no horário gratuito, quando Serra terá o maior tempo.


Após o ataque, o revide
Ciro diz que críticas refletem desespero de rival

ADAMANTINA, SP - O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, rebateu ontem a acusação do tucano José Serra de que estaria utilizando a ''estratégia pega-ladrão'' para responder às denúncias contra integrantes da sua campanha. A acusação tinha sido feita anteontem por Serra, que dissera: ''A estratégia da campanha de Ciro é a daquele sujeito que bate a carteira no calçadão e sai com ela gritando 'pega-ladrão, pega-ladrão', para distrair os transeuntes''.

''Recomendo a Serra um genérico de calmante'', disse Ciro. ''E que proponha uma solução para os 11,7 milhões de desempregados que o governo FH produziu nestes quase oito anos''.

Ciro afirmou ainda que, ''longe de haver um efeito Ciro, há um modelo neoliberal no poder que está deixando o país nesta situação''. Para o candidato, as declarações de Serra refletem seu ''desespero e despreparo''.

Ciro acusou Serra de estar por trás das denúncias contra o presidente do PTB e um dos coordenadores da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), o deputado José Carlos Martinez, e contra o vice de sua chapa, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

Mesmo rebatendo os ataques de Serra, o candidato do PPS disse em Adamantina, no interior de São Paulo, que não comentaria as acusações. ''Pelo menos, não agora, numa hora em que estou emocionado''.

Ele se referia ao reencontro com sua mãe, Maria José Gomes, que completou 74 anos ontem e foi se encontrar com o filho na cidade em que a família viveu entre 1958 e 1963, antes de se mudar para Sobral, no Ceará. Adamantina estava repleta de faixas com mensagens como ''O bom filho à casa retorna'' e ''Bem-vindo à sua terra, Ciro''.

Em palestra nas Faculdades Adamantinas Integradas, o prefeito da cidade, Laércio Rossi (PPS), chamou Ciro de ''filho de Adamantina'', porque ''foi gerado na cidade''. O candidato nasceu em Pindamonhangaba (SP), mas sua família morava em Adamantina quando sua mãe engravidou.

Maria José Gomes almoçou com Ciro e Lúcio, seu outro filho, na casa em que morou há 39 anos, no centro da cidade. A comida foi preparada pela atual moradora, a aposentada Íria Albanez, que não tem qualquer uma relação de parentesco com Ciro, mas se diz sua eleitora.

O almoço ocorreu a portas fechadas, e só puderam entrar na casa correligionários e a equipe de filmagem da campanha. ''Acabei de ver a cena mais emocionante desta campanha'', disse o deputado João Herrmann Neto (SP), vice-presidente nacional do PPS, ao sair da sala. ''Quando mãe do Ciro entrou, os três (ela, Ciro e Lúcio) começaram a chorar''. Segundo Herrmann, porém, a cena não foi filmada e não será usada na campanha eleitoral.


Martinez aceita sair
Coordenador e vice estão longe da campanha

BRASÍLIA - Presidente do PTB, José Carlos Martinez (PR) já está bem longe dos holofotes da campanha de Ciro Gomes. Ontem, o parlamentar passou o dia no interior do Paraná, cuidando de sua reeleição para a Câmara dos Deputados. Ciro admitiu em público pela primeira vez que poderá afastar o coordenador e o vice de sua chapa, o presidente licenciado da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, caso as denúncias contra eles sejam comprovadas. O senador Roberto Freire comemorou o anúncio de Ciro. ''Ele sempre nos disse isso e é por essa razão que mantive minha postura crítica.''

Martinez negou que tenha sido isolado pelo candidato e que será substituído. ''Já tinha combinado com Ciro que deixaria um pouco a campanha para cuidar mais da política do Estado'', argumentou.

Ontem, o presidente do PTB garantiu ao Jornal do Brasil que quitou o empréstimo com a família do falecido tesoureiro do ex-presidente Fernando Collor, Paulo César Farias. ''Se ainda houvesse alguma parcela a pagar constaria da minha declaração de renda e na de Augusto Farias (irmão de PC).'' Martinez não falará mais nada sobre o empréstimo. ''O assunto está esgotado'', afirmou.


Socialista sobe mas despreza pesquisas
Com o discurso mais radical destas eleições, que pressupõe desde a estatização dos bancos até o confisco das grandes fortunas, o candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) à Presidência da República, José Maria de Almeida, ou simplesmente Zé Maria, como ele prefere, desdenhou ontem de seu crescimento nas pesquisas de opinião. Ao invés de traço na preferência dos eleitores, ele aparece agora com um ponto percentual nas aferições dos institutos Datafolha e Ibope. Com este desempenho, o presidenciável socialista ingressa para o seleto grupo de candidatos que poderão sair das urnas com mais de um milhão de votos, em todo o país.

''A pesquisa que interessa é a das eleições, no dia 6 de outubro'', afirma Zé Maria. Ele não descarta, porém, a importância de melhorar a sua colocação na disputa ao Palácio do Planalt o, ainda que apenas em nível residual. Será a oportunidade para o PSTU eleger, pela primeira vez em seus oito anos de existência, uma bancada federal e alguns deputados estaduais.

Candidata a vice-presidente na chapa de Zé Maria, a ativista do movimento negro do Rio de Janeiro Dayse Oliveira integra-se hoje à campanha, durante ato público no auditório da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, com o objetivo de ''denunciar a terrível situação por que passam os trabalhadores negros'', como afirma o presidenciável do PSTU.


Apoio para Jorge Roberto
O candidato da Frente Trabalhista (PDT-PPS-PTB) ao governo do estado, Jorge Roberto Silveira, disse ontem durante corpo-a-corpo na Tijuca, que pelo menos quatro partidos nanicos vão oficializar apoio à sua candidatura hoje. Embora não tenha citado os partidos, ele garantiu que o PRTB, do ex-presidente Fernando Collor de Mello, não faz parte do bloco.

Rosinha Garotinho, candidata do PSB, fez carreatas em municípios da Baixada Litorânea. Assim como tem feito desde o início da campanha, ela distribui rosas para eleitores.

A governadora Benedita da Silva (PT), candidata à reeleição, fez corpo-a-corpo com eleitores em Nova Friburgo e seguiu para Teresópolis, onde inaugurou mais um comitê.

A candidata da Frente Todos pelo Rio (PFL-PMDB-PSDB), Solange Amaral, tratou de seu plano de segurança pública em almoço com empresários da Associação Comercial e Industrial de Jacarepaguá. Ela criticou a atuação do governo do PT na área e disse que tem destinado cerca de dez horas por semana para conversar sobre o assunto com integrantes das Polícias Civil e Militar.


Briga de caciques na política da Bahia
Ex-aliados no PFL, Benito Gama e ACM trocam acusações

A propaganda eleitoral nas ruas de Salvador virou caso de polícia. O deputado federal Benito Gama (PMDB-BA), que tenta a reeleição, deu queixa em uma delegacia alegando que ''grupos armados'' estão impedindo o trabalho de seus cabos eleitorais. Benito é dissidente do PFL baiano, partido do ex-senador Antonio Carlos Magalhães. Ele aponta os ''carlistas'' como responsáveis por duas investidas contra sua equipe.

Os atritos começaram há duas semanas, no bairro Imbuí. Em um deles, um motorista de um caminhão de som do deputado foi ameaçado com uma faca por três homens. Benito também acusa o grupo de retirar placas de sua campanha das passarelas. Procurado pelo JB, Antonio Carlos Magalhães, candidato ao Senado, negou participação de aliados no caso e usou a ironia para rebater a denúncia. ''O problema do Benito é que ele é muito feio. Dei um castigo nele: em todo lugar em que há sua foto, mando colocar ao lado uma placa da Ariane Carla (candidata a deputada estadual pelo PPB). Então fica a Bela e a Fera.'' ACM lembrou ter defendido Benito de acusações contra corrupção no Estado. ''Ele preferiu ir para o PMDB'', disse. O deputado rechaçou as acusações. ''Não houve denúncia formal, apenas uma carta anônima contra mim.'' A polícia não tem pistas do grupo que ameaçou a equipe do deputado.


País vive febre de pesquisas
TSE já registrou 235 sondagens

BRASÍLIA - As pesquisas eleitorais se transformaram em uma febre no processo da sucessão presidencial. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já contabilizou 235 sondagens realizadas desde o começo deste ano, quando foi instituída a obrigação de registrá-las na Justiça Eleitoral. E com o início oficial da campanha, o volume triplicou em julho. Só na última semana, foram registradas 23 pesquisas.

Analistas políticos apontam razões variadas para o fenômeno, mas avaliam que a conseqüência mais cruel é a despolitização do processo eleitoral. O grau de incerteza do resultado da disputa é a causa mais provável da demanda por pesquisas. Eles consideram que, tanto investidores e financiadores de campanha, como partidos políticos e meios de comunicação, estão buscando com mais ansiedade a projeção de cenários porque existem quatro candidatos competitivos e politicamente distintos. ''O futuro do modelo econômico está em jogo nesta eleição, existe muita incerteza e medo do resultado, e os meios de comunicação não estão divulgando os dados mais relevantes das pesquisas'', afirma o cientista político e consultor do mercado financeiro, Murilo de Aragão.

O diretor-técnico do Departamento Intersindical de Assessora Parlamentar (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, afirma que os institutos de pesquisas estão sendo usados como estratégia política para induzir os eleitores, e que as pesquisas estão aumentando o grau de desinformação da população sobre os candidatos. ''A disputa acirrada está fazendo com que as pesquisas ganhem uma evidência desproporcional. Isso não contribui para esclarecer o eleitor, porque o essencial fica à margem do processo eleitoral'', sustenta Queiroz.


Cardápio popular cai mal
FH desafia tucano a comer buchada

BRASÍLIA - Candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra mudou o comportamento e adotou um estilo mais leve na campanha eleitoral. Ontem, ele encarou sorrindo uma comida temperada com ''Sazon'', alho e cebola, no restaurante popular de Samambaia, cidade-satélite da capital federal. São temperos abolidos da sua dieta desde o exílio no Chile, na década de 70.

O candidato tem estômago delicado e sofre de úlcera, mas devorou a comida pesada para colar sua imagem à do governador Joaquim Roriz (PMDB), preferido nas pesquisas. Algo, no entanto, não caiu bem. Serra saiu da mesa correndo para o banheiro, onde passou 10 minutos. Deixou o sanitário masculino pálido. A assessoria de Roriz alega que o tucano foi ao banheiro conversar com o governador sobre uma estratégia de campanha com o PMDB.

Mais tarde, o presidente Fernando Henrique Cardoso desafiou o candidato do governo: ''Quero ver ele comer buchada de bode em Caruaru''.

À saída do restaurante, o presidenciável deu autógrafos e se deixou amassar - literalmente - pela eleitora Sandra Bertoldo, de 35 anos. ''Ele é muito gostosão'', elogiou.


Família insatisfeita
Irmãos de Celso Daniel pedem novas investigações em Santo André

SÃO PAULO - A família de Celso Daniel se reuniu ontem para pedir à polícia e ao Ministério Público a retomada das investigações sobre o assassinato do prefeito de Santo André. ''Temos indícios para crer que a morte de nosso irmão não foi um crime comum, como afirmaram as autoridades'', disse Bruno José Daniel Filho.

Os outros irmãos do prefeito, João Francisco, Maria Clélia e Maria Elizabeth, também concordaram com a suspeita levantada. Segundo eles, a opinião da família é unânime. O mais radical continua sendo João Francisco: ''Minha opinião é a mesma desde o início. Para mim, foi uma queima de arquivo''.

Os outros irmãos preferiram fazer declarações mais amenas, mas destacaram que a polícia cometeu ''falhas'' durante as investigações.

''Há muitos detalhes deste caso que não foram esclarecidos e que poderiam colaborar para a elucidação definitiva do assassinato'', disse Bruno Daniel.

Entre os problemas levantados pela família está o fato de os anexos da necropsia não terem sido divulgados pelas autoridades policiais. Para João Francisco, esta documentação é fundamental para mostrar se Celso foi torturado enquanto esteve nas mãos dos seqüestradores.

''Se realmente ele sofreu algum tipo de tortura, a tese de crime comum cairá por terra'', avaliou João Francisco.

Sobre a rapidez com que a polícia de São Paulo decretou o fim das investigações, a família preferiu não entrar em polêmicas. Os irmãos lembraram, no entanto, que a pressão popular por uma solução para o caso foi muito grande. ''Não nos interessa neste momento criticar ninguém, queremos apenas seguir em busca da ve rdade'', disse Bruno.

Os irmãos do prefeito assassinado dizem que não pretendem tomar medidas judiciais com o objetivo de reabrir as investigações. O advogado Francisco Neves Coelho, contratado pela família, afirmou estar convicto de que ''as autoridades vão se sensibilizar e atender ao pedido''.

Os irmãos de Celso Daniel evitaram qualquer declaração sobre as denúncias de que haveria um esquema para a cobrança de propina na Prefeitura de Santo André. O único que se mostrou disposto a falar sobre a suposta máfia foi João Francisco.

''Eu acho que o trabalho que o Ministério Público está fazendo é louvável e saudável. Imagino que eles estejam tentando fazer primeiro uma limpeza na Prefeitura de Santo André para depois, eventualmente, tentar fazer uma ligação entre os dois casos.''


PMDB assume direção da ECT
BRASÍLIA - O PMDB já está começando a cobrar a fatura pelo apoio concedido à candidatura de José Serra (PSDB). Será anunciada na próxima semana a troca do comando da Empresa Brasileira de Correios (ECT).
O novo presidente, indicado pelo PMDB - no contexto da aliança - é Humberto Mota, que no momento ocupa a presidência da Agência de Desenvolvimento da Cidade do Rio de Janeiro (Agência Rio).

Mota irá ocupar a vaga de Hassan Gebrin, que estava no cargo desde julho de 2000. A indicação de Gebrin partiu do ex-ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga (PSDB), que é o atual coordenador de campanha de José Serra. Antes de ir para a presidência dos Correios, Gebrin atuou na diretoria da Telebrás.

De acordo com o acerto feito com o governo, Humberto Mota deverá assumir a Empresa Brasileira de Correios na próxima semana. A nomeação oficial só aguarda a chegada ao Brasil, do ministro das Comunicações, Juarez Quadros, que está nos Estados Unidos.

Empresário, Mota é filiado ao PMDB e, segundo informa sua assessoria, não tem nenhuma experiência com empresas da área de comunicações. Mota participa do conselho de administração de empresas na área de finanças, mineração, turismo e imóveis.


Artigos

O pequeno ditador
Léo Schlafman

O New York Times perguntou há pouco se os EUA têm direito de atacar o Iraque como política de prevenção contra Estados ou movimentos que, segundo Bush, ameaçam os aliados.

A pergunta vale depois de meio século de estratégia segundo a qual os EUA responderiam imediatamente às agressões mas não seriam os primeiros a atacar. Naquele tempo havia uma segunda superpotência que obrigava um lado a pensar duas vezes antes de contrariar o outro. No entanto, atacar países em plena anarquia como Somália ou Afeganistão é uma coisa. Diferente é saber o que se pode fazer quando Iraque _ ou Irã ou Coréia do Norte _ busca se abastecer de armamentos não convencionais.

Entre os países do ''eixo do mal'', o Iraque faz a diferença por causa de Saddam Hussein. Ele é o encrenqueiro que desde a ascensão ao poder, em 1979, por meio de golpe, não sai de cartaz. Um ano depois, insuflado e armado pelos americanos, invadiu o Irã, provocando uma guerra de atrito de oito anos e 1 milhão de mortos. Em 1981 a aviação israelense destruiu o reator nuclear Osirak. Já aí se evidenciava a megalomania nuclear de um ditadorzinho com complexo de Nabucodonosor que reservou para si, no entanto, destino digno de Dom Quixote. Três anos depois, os militares iraquianos lançaram armas químicas, proibidas por convenções internacionais, contra a aldeia curda de Halabia, matando 5 mil civis. A tentativa de anschluss do Kuwait em 1990 marcou o ocaso de sua carreira de homem forte do Oriente Médio.

Naquela época se dizia na região que, depois do Kuwait, Saddam Hussein pretendia invadir a Arábia Saudita, com o que controlaria 40% das reservas de petróleo do mundo. Nabucodonosor seria pinto perto dele.

É um daqueles ditadores que não sobrevivem fora do poder, razão por que trata a virtual oposição a ferro e fogo, punindo com morte qualquer ressaibo de discordância. Saddam Hussein controla tudo no Iraque, até os fundos públicos. Fazer oposição é suicídio, e os membros da família sabem disso. O imaginário americano, de Bush pai a Bush filho, não achou a fórmula para desalojá-lo do poder, entre outras coisas pela ausência de oposição capaz de preencher o vácuo.

Como se viu na ''mãe de todas as batalhas'', em 1991, Saddam Hussein manipula uma lógica às avessas que transforma derrota em vitória. Depois do bombardeio infernal de 40 dias e 40 noites durante o qual o Exército iraquiano recuou e morreu como pôde nas areias do deserto, e Bagdá quase foi borrada do mapa, Saddam Hussein proclamou-se vitorioso...

Especialistas garantem que ele ainda tem capacidade de produzir armas químicas e não é por outra razão que brinca de rato e gato em seus 56 palácios com os inspetores da ONU. A ''guerra santa'' que tanto invoca para arregimentar países árabes nunca deu certo. Os pronunciamentos árabes contra a invasão do Iraque não são de reverência a Saddam Hussein: ele continua a ser visto como déspota sanguinário disposto a matar o próprio povo para atingir suas metas.

No tempo das cruzadas, como observou Umberto Eco, o potencial de guerra dos muçulmanos era semelhante ao dos cristãos: os dois campos dispunham de espadas e máquinas de guerra. Os cristãos não necessitavam do ferro árabe para forjar suas espadas nem os muçulmanos do ferro cristão. Hoje, ironicamente, a tecnologia ocidental depende do petróleo. E o petróleo, quem tem são os árabes.
Os falcões do Pentágono que durmam com esse barulho...


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

As ambigüidades de cada um
O primeiro debate entre os candidatos à Presidência na televisão, domingo próximo, inaugura nova fase na campanha: a da comparação. Muito mais difícil de ser transposta com sucesso que a etapa final da apresentação dos programas eleitorais gratuitos.

Agora os candidatos não se mostrarão ao público no figurino talhado por seus marqueteiros, como acontecerá a partir de 20 de agosto.

No embate direto entre adversários, sob mediação da imprensa, o resultado vai depender da competência de cada um. Sair-se bem não será para quem quiser, mas para quem puder.

Daqui em diante, haverá 15 dias de novos debates e intensa repercussão a respeito. Seja no noticiário, seja nas pesquisas.

Campanhas que estavam apostando excessivamente nos programas gratuitos, terão oportunidade de verificar que a realidade dos fatos é um tanto mais complexa que a virtualidade da propaganda.

Para início de conversa, cada um dos candidatos terá de acertar contas com as respectivas ambigüidades. Sob a lente das câmeras, estas senhoras adquirem tanto corpo que, dependendo das proporções de suas formas, podem sufocar os cavalheiros que as carregam.

E não há entre os quatro quem não tenha contradições bastante profundas. Em Anthony Garotinho são gigantes pela própria natureza e dispensam apresentações.

Luiz Inácio Lula da Silva precisará de arte para fazer fechar a conta entre aquilo que pensava não faz muito tempo e o discurso que o ministro Pedro Malan tanto fez, que conseguiu fazer o PT adotar.

O problema para Lula é recitar o roteiro sem cola, no improviso do desenrolar do raciocínio. Será um belíssimo teste, pois não haverá ventríloquos à mão.

José Serra será cobrado a resolver de uma vez por todas a patológica dicotomia entre ser e não ser governo. A exemplo de Lula, Serra também assimilou um discurso que não era o seu. Louvar as qualidades de Malan e de Fernando Henrique foi tarefa a que o tucano não se dedicou nos últimos oito anos.

Agora que é obrigado a posar de avalista das ações da Era FH, corre o risco de não ficar lá nem cá. Pode deixar órfãos os que o consideravam um diferencial no governo e não ser adotado pelos governistas. Basta ver que na campanha ninguém ''é Serra'' de corpo de alma.

O coordenador, Pimenta da Veiga, preferia Tasso Jereissati e a companhia do PFL no lugar do PMDB. O homem de marketing tem antipatia pessoal ao candidato e foi imposto por Fernando Henrique. Os outros, no geral, cuidam cada um da própria vida comportando-se como quem ainda não notou que, para continuar sendo governo, é preciso antes ganhar a eleição.

E, desta vez, sem o ''carisma'' do Plano Real. Na raça, como não convém ao tucanato.

Ciro, este então é um poço de contradições que se avolumam na proporção direta em que crescem seus índices nas pesquisas de opinião. Vamos tratar apenas de duas bem simplesinhas e de divulgação mais recente.

Primeiro, as denúncias envolvendo o vice Paulo Pereira da Silva e o coordenador da campanha, José Carlos Martinez. Ciro defende os dois.

Mantém Martinez onde está, acha naturalíssimo que ele seja dono de uma parte daquele dinheiro que levou Paulo César Farias à cadeia, por apropriação indébita. Na mesma linha, não se dá ao trabalho nem de verificar se existe algo de irregular no uso dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador pela Força Sindical, entidade presidida por Paulo Pereira e praticamente sustentada pelo dinheiro do FAT.

Até aí, coerência total. Incongruente com a segurança de Ciro é o ''mergulho'' dos dois personagens que, por estratégia de campanha, foram aconselhados a se manter distante da cena principal para evitar constrangimentos.

Ora, mas se suas biografias não fazem feio na sala de visitas, por que o exílio no quartinho dos fundos?

Outro fato que certamente será cobrado de Ciro é não o apoio, mas a apropriação de sua candidatura pelo PFL. Claro que voto não se recusa, mas Ciro Gomes afirmou, e está registrado na gravação do programa Roda-Viva, da TV Cultura, que o único partido com o qual jamais se aliaria era o PFL.

Cumpre agora indagar de onde vinha tanta ojeriza. Era informação ou implicância? Em ambos os casos, não se sai bem o candidato. Se tinha conhecimento de fatos que desabonassem o PFL, a ponto a fazê-lo externar rejeição com tanta veemência, seu arquivo mental deve dispor ainda dessa memória. E, se era mera implicância, aquela reação revela ligeireza de caráter e superficialidade de conduta.

De qualquer forma, não são os adversários, mas seu maior avalista político, o senador Roberto Freire, quem cobra de Ciro providências contra Martinez e Paulo Pereira, além de prudência na abertura dos portos ao PFL.
Afinal de contas, pefelista que se preze só vai ao baile se tiver assento garantido na mesa da diretoria.


Editorial

SINAL DE COMANDO

A alucinante alta do dólar foi interrompida ontem graças a um leilão do Banco Central, que injetou no mercado US$ 100 milhões. A intervenção ocorreu quando a cotação da moeda americana já havia ultrapassado R$ 3,60, o que é sintoma de crise de confiança. Não faltam motivos para a crescente descrença nos rumos da economia. O primeiro deles é de natureza política. Nos meios financeiros e nos corredores oficiais, dava-se como certo que o tucano José Serra iria para o segundo turno e, na corrida final para a Presidência, derrotaria Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. O vaticínio, hoje, parece hipótese muito distante.

A vitória da oposição - de Lula ou Ciro Gomes - não estava nos planos de investidores e empresários. O resultado é o que se vê: a sensação de insegurança paralisou a economia real. Neste ambiente de alta tensão, o dólar surge como defesa e necessidade. Empresas não conseguem renovar dívidas no exterior e pressionam as fontes de crédito internas, que também secaram. E o câmbio escapa do controle.

Nem todo o nervosismo, porém, se prende ao nebuloso horizonte da sucessão. Apesar do imenso esforço fiscal que se fez nos últimos anos, a economia brasileira apresenta algumas distorções de monta. O Banco Central administrou mal a política de juros. Cometeu grave equívoco ao manter as taxas básicas elevadas no início do ano. Perdeu o timing e sufocou a atividade empresarial. Quem vive no Brasil e fatura ou depende de financiamento em reais está em maus lençóis.

Não bastassem as dificuldades internas, a economia mundial enfrenta dias de forte instabilidade. O mercado de capitais dos Estados Unidos continua a sofrer reflexos negativos das várias denúncias de fraudes contábeis. Na verdade, o gigante do Norte paga alto preço por ser conduzido, hoje, por uma turma de quinta categoria. Não pode haver melhor exemplo do que as declarações desastradas do secretário do Tesouro, Paul O'Neill. Como agravante, o Brasil é afetado pelas crises dos países vizinhos, Argentina e Uruguai.

O cenário é sombrio. E nada indica que vai se alterar à base de leilões do Banco Central, remédio de curtíssimo prazo. O momento exige sinal muito mais forte. É preciso cobrar mais ação do Congresso. E pôr em votação as reformas vitais para o país. Mas a responsabilidade maior continua a ser do presidente Fernando Henrique. Se for o caso, que o governo firme acordo de emergência com o FMI. Sem consultar a oposição. Fernando Henrique está no comando até a noite do dia 31 de dezembro. Tem de governar até lá.


Topo da página



08/01/2002


Artigos Relacionados


Ascensão de Serra faz FHC virar alvo

Ciro e Serra

Serra se aproxima de Ciro

Serra sobe e Ciro cai

Serra diz que Ciro é campeão de mentiras

Ciro acusa Serra de agir de má-fé