Serra, Roseana e Garotinho empatam em 2º









Serra, Roseana e Garotinho empatam em 2º
Governadora cai 8 pontos e tucano sobe 7, revela Datafolha; Lula oscila um ponto negativamente e lidera corrida sozinho com 25%

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), despencou oito pontos percentuais em 18 dias, e José Serra (PSDB) cresceu sete pontos numa reviravolta do quadro eleitoral de 2002, revela pesquisa Datafolha.
O segundo lugar registra um tríplice empate técnico. Serra atingiu 17%, Roseana caiu para 15%, e o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), aparece com 15%; uma oscilação positiva de dois pontos, seguindo linha de ascensão registrada desde novembro de 2001.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou negativamente um ponto, mas com 25% voltou a liderar isoladamente a disputa presidencial, que antes dividia com Roseana.

O triplo empate técnico no segundo lugar ocorre porque a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Assim Serra pode ter entre 15% e 19%; e Roseana e Garotinho, entre 13% e 17%.
O Datafolha ouviu 2.545 eleitores, em 126 municípios brasileiros de todas as unidades da Federação. Entre a pesquisa realizada ontem e sua anterior, com entrevistas nos dias 21 e 22 de fevereiro, ocorreram pelo menos dez fatos relevantes no conjuntura política que influenciaram os novos números (veja quadro nesta página).
Os mais importantes foram a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que obriga a repetição nos Estados das alianças estabelecidas nacionalmente e a apreensão pela Polícia Federal de documentos e R$ 1,34 milhão em dinheiro em empresa de Roseana e seu marido, Jorge Murad.

A queda de Roseana está obviamente vinculada à operação da PF e seus fatos subsequentes, como a veiculação das imagens de 26,8 mil notas de R$ 50 apreendidas na empresa da pefelista, a crise advinda da suposta ação de bastidores de tucanos no episódio e a saída do PFL da base de apoio ao governo FHC.
Roseana perdeu votos em 16 das 17 estratificações pesquisadas. Caiu mais entre as mulheres (nove pontos a menos), os eleitores maduros (dez pontos na faixa de 45 a 59 anos e nove entre os de mais de 60), os mais ricos (perda de 12 pontos entre os que ganham mais de R$ 3.600) e nas regiões Norte/Centro-Oeste e Sul (dez e nove pontos, respectivamente).

A queda da governadora do Maranhão só não foi maior porque entre os eleitores que têm até o primeiro grau ela apenas oscilou negativamente de 22% para 20% e porque, no Nordeste, região do Estado que administra, perdeu menos pontos que nas demais -mesmo assim tendo uma redução acentuada de 26% para 20% das intenções de voto.

A subida do ex-ministro da Saúde José Serra pode ser atribuída à sua exposição no rádio e na televisão -desde 5 de março teve direito a 80 inserções de 30 segundos e mais 20 minutos do programa eleitoral gratuito do PSDB em rede nacional-, à sua confirmação como pré-candidato tucano, ocorrida em 24 de fevereiro, e ao efeito óbvio da migração de eleitores simpatizantes do governo de Fernando Henrique Cardoso para sua candidatura em detrimento da opção por Roseana.

Serra destaca-se no eleitorado feminino (cresceu quatro pontos a mais entre elas do que entre eles), na classe média (15 pontos a mais no eleitorado que recebe entre R$ 1.801 e R$ 3.600) e entre os eleitores de idade madura (mais dez pontos na faixa de 35 a 44 anos, 11 na de 45 a 59 e dez entre os de mais de 60 anos).
O tucano cresceu em menor proporção entre os mais jovens e os que têm até o segundo grau (subiu quatro pontos).

O ex-ministro oscilou negativamente entre os que ganham mais de R$ 3.600, passando de 19% para 17%. Foi nessa faixa de renda que ele havia obtido o seu melhor índice na pesquisa passada.

Foi exatamente entre os mais ricos que Lula obteve seu melhor resultado nessa pesquisa, crescendo nove pontos percentuais, mostrando-se o maior beneficiário da queda de 12 pontos percentuais de Roseana nesse estrato.

Mas Lula caiu 14 pontos na faixa entre R$ 1.801 e R$ 3.600, quatro pontos entre os de nível universitário e três pontos entre os eleitores do Nordeste. Serra cresceu nessas três faixas.

Garotinho manteve sua linha ascendente por sua performance no eleitorado jovem (cinco pontos a mais), entre os que têm até o segundo grau (mais quatro), entre os que ganham mais de R$ 3.600 (crescimento de cinco pontos) e entre os eleitores do Norte/ Centro-Oeste, onde cresceu outros cinco pontos.

O ex-governador Ciro Gomes (PPS) mantém-se com 8% nesta pesquisa, o mesmo índice que tinha no levantamento anterior.

O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), mantém os mesmos 6% da pesquisa de fevereiro. Ele enfrenta uma disputa interna com peemedebistas aliados do governo FHC que não querem a candidatura própria e pode não sair candidato.

Sem a apresentação da lista de postulantes à Presidência, 58% afirmam não saber em quem votar ou não têm candidato. No chamado voto espontâneo, Lula foi de 15% para 12%, e Serra de 3% para 6%.


Ciro admite conversar com o PFL
Ao inaugurar escritório político, presidenciável diz que possível aliança seria "ajuda inesperada"

Ciro Gomes, pré-candidato à Presidência pelo PPS, disse ontem estar aberto a "conversas", ao se referir à possibilidade, comentada em Brasília, de que o PFL poderá apoiá-lo na eleição.

Na inauguração do escritório político de sua coligação em Brasília, ontem, Ciro disse que o rompimento na base aliada do governo seria uma "ajuda inesperada". Mas fez uma ressalva: novos aliados precisarão passar pelo crivo de Leonel Brizola e do PTB.

Questionado sobre a aproximação com o PFL, caso Roseana Sarney (MA) deixe a disputa presidencial, declarou: "Depois que isso acontecer (a desistência da pefelista), voltamos a conversar".

Aliados de Ciro, no entanto, consideram muito difícil o apoio do PFL ao presidenciável do PPS. Acham que o partido, ao alimentar essa especulação, apenas tenta ganhar tempo. Lá na frente, quando a poeira do caso Roseana abaixar, deverá retomar as conversas com o PSDB de José Serra.

Ontem, Ciro também evitou falar de Roseana. "Não vou tripudiar sobre uma pessoa que está em plena efervescência, sofrendo", disse ele. Para Ciro, Roseana é inocente até que apareça uma "prova definitiva". Até lá, sua candidatura seria legítima.

O pré-candidato não quis falar sobre detalhes da investigação contra a governadora e seus desdobramentos na sucessão. Considerou o assunto "sujo demais" e aproveitou para criticar o senador José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência.

"A máquina do Estado tem se dado ao trabalho de estar depredando biografias e lançando calúnias ou verdades à sua conveniência", declarou.

Ciro também defendeu uma campanha "quente" e "transparente", mas "educada", na qual todas as acusações sejam esclarecidas sem a "chantagem" do uso seletivo de provas de corrupção.

Escritório
Em tom eufórico, o PPS, o PTB e o PDT inauguraram ontem o escritório político e futuro comitê eleitoral de Ciro em Brasília.

Para o deputado federal José Carlos Martinez (PR), presidente do PTB, que alugou escritório, apartamento e carro para o pré-candidato, a aliança sairá do comitê direto para o Planalto.

Os discursos dos líderes da aliança estabeleceram o que deve ser o tom imediato da campanha de Ciro: a consistência de seu currículo e capacidade de agregar política contra a "folha corrida" de outros candidatos que se desgastam com a troca de acusações.

"Nosso candidato não teme dossiês", celebrou Roberto Jefferson, líder do PTB na Câmara.


PFL rifa Roseana e flerta com Ciro para barrar Serra
Maciel admite que candidatura naufragou e diz a tucanos que tendência é procurar o PPS

Única ponte oficial que sobrou entre PFL e PSDB, o vice-presidente da República, Marco Maciel, transmitiu aos tucanos o seguinte recado dos pefelistas: a candidatura Roseana Sarney (PFL) acabou e, se o PSDB não substituir o candidato José Serra, a tendência pefelista será buscar aliança com Ciro Gomes (PPS).

Ciro deu sinais de que deseja a união, mas, para isso acontecer, tanto ele como o PFL precisam engolir desaforos que trocaram. Exemplo: em 1999, Ciro disse que o cacique baiano Antonio Carlos Magalhães era "sujo que só pau de galinheiro". ACM rebateu: "Ciro é o próprio galinheiro".

Para os serristas, o apoio do PFL a Ciro é complicado e não passaria de um blefe. Blefe ou ameaça real, o fato é que hoje o PFL não aceita composição com Serra.

Maciel, um dos últimos pefelistas que ainda tentam fechar com Serra, deu esse recado a Fernando Henrique Cardoso e a dirigentes do PSDB depois de constatar que a inviabilização fulminante de Roseana significará o acirramento da guerra do PFL contra o pré-candidato tucano à Presidência.

Por guerra, entenda-se uma tentativa do PFL, especialmente dos clãs Sarney e carlista, de derrubar Serra. No próprio PSDB, há uma minoria que também gostaria de inviabilizar o senador paulista. No entanto, o cacife político e empresarial de Serra, que está em ascensão nas pesquisas, torna esse plano de difícil execução.
A reação dos serristas é forte. FHC está sendo a pressionado a esquecer o PFL e a fortalecer laços com o PMDB, o PPB e o PTB.

Serra está bem acertado com o PMDB e tenta fechar com o PPB e o PTB -esse último ainda amarrado por aliança a Ciro. FHC mostra que ficará ao lado de Serra, mas teme que as brigas compradas pelo pré-candidato reabram investigações no Congresso e tragam à tona dossiês contra ele e contra o PSDB.

Apesar de FHC e da maioria do PSDB bancar Serra, a ameaça Ciro-PFL mais as faixas afixadas em Fortaleza defendendo a candidatura ao Palácio do Planalto do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), caíram como uma bomba ontem no PSDB.

"Chega de confusão, Aécio é a solução", dizem faixas espalhadas pela capital do Ceará, palco nos últimos dias de um encontro do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) pelo qual passaram FHC e Serra.
As faixas pró-Aécio, que indiretamente atribuem a Serra a ruptura de uma aliança de quase oito anos do PFL como PSDB, foram afixadas por pessoas ligadas ao governador do Ceará, Tasso Jereissati (CE), tucano que perdeu a disputa pela candidatura do partido para Serra. Tassistas dizem que o governador cearense poderia apoiar Aécio. E, para o PFL, tanto Tasso como Aécio são vistos como boas opções.

Se a candidatura Serra sobreviver ao bombardeio, o que parece ser hoje a tendência, o PFL crê que uma aliança com Ciro poderia abrir espaço para um terceiro pólo na eleição, enfraquecendo o cenário desejado por PSDB e PT, o de um confronto "mais ideológico e menos fisiológico" entre Serra e Luiz Inácio Lula da Silva.
Ciro poderia criar o bloco das forças que desejam se vingar de FHC. Ele, que deixou o PSDB magoado com o presidente, atrairia as oligarquias nordestinas que perderam força, como as lideradas por Sarney e ACM.
No PSDB, Ciro contaria com a simpatia de Tasso. Apesar das mágoas com Serra, Tasso ficará oficialmente com ele. Mas Tasso é amigo de Ciro e poderia ser, num eventual governo, fiador de um acordo com o PSDB. Até Itamar Franco, governador de Minas, dissidente do PMDB e desafeto de FHC, poderia engrossar o coro dos "vingadores".


Partido não descarta lançar dono do SBT
Além de uma possível aliança com Ciro Gomes (PPS), outras três opções estão na cabeça do PFL. Uma é deixar o partido sem candidato a presidente e sem aliança nacional. Não agrada a cúpula. Na avaliação de Jorge Bornhausen, presidente do partido, e outros, na prática seria apoio indireto a José Serra (PSDB).
A possibilidade Silvio Santos é mais fraca, mas a candidatura do empresário e apresentador de 71 anos, dono do SBT, empolga o "baixo clero" do partido. Bornhausen é contra.

Um dos maiores defensores do lançamento de Silvio Santos, o senador Edison Lobão (MA) esteve ontem em São Paulo, onde teria se encontrado a sós com Silvio.

Por último, a improvável possibilidade de ter candidato só para constar. Haveria três: Bornhausen, Maciel e Cesar Maia. Nenhum aceita.


PFL aponta empresa ligada a tucanos por suposto dossiê
Partido suspeita de ação da Interfort, que prestou serviços de segurança ao governo FHC

Dirigentes do PFL apontam a empresa Interfort Tecnologia em Segurança como a responsável pelo dossiê que teria sido encomendado pelo PSDB contra a pré-candidata presidencial pefelista, governadora Roseana Sarney.

Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a Interfort prestou serviços aos ministérios da Marinha, da Aeronáutica, do Exército e do Desenvolvimento Agrário, segundo o diretor comercial da empresa, José Heitor. "Não me lembro [se fomos contratados pelo Ministério da Saúde também"", disse Heitor à Folha.
José Heitor se apresenta em Brasília como um "consultor de segurança", especialista em "câmeras secretas, varredura eletrônica, rastreamento, consultoria em segurança, circuito fechado, detectores de metais, detectores de grampos/escutas".

Em seu círculo de amizades, um dos nomes mais próximos é o de Jonathan Sardenberg, agente da Polícia Federal destacado para zelar pela segurança de autoridades. Em 1994, Sardenberg dividiu com o também agente Paulo Chelotti a responsabilidade por guardar o então candidato FHC.

"É verdade que trabalhei com o presidente Fernando Henrique, em 1994. É verdade que sou amigo de José Heitor. Mas nunca prestei serviços para a Interfort", disse Sardenberg. Segundo o agente da PF, apenas esporadicamente ele indica a Interfort para pessoas interessadas em segurança.

Em 1995, um grampo telefônico no Palácio do Planalto selou as demissões do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, do delegado da PF Vicente Chelotti e do tucano Francisco Graziano. Paulo Chelotti foi apontado como o responsável pelo grampo no chamado "caso Sivam".

José Heitor disse que não estava autorizado a informar se já havia trabalhado ou não para políticos do PSDB. "Tenho muitos amigos", foi o que preferiu dizer.

Segundo estimativa do "consultor de segurança", a elaboração de um dossiê sobre Roseana Sarney é um trabalho que valeria mais de R$ 3 milhões. "Isso envolve dezenas de pessoas. É algo que só poderia ser feito por empresas como a Kroll ou a Control Risk", disse o diretor da Interfort.

"Minha empresa não tem porte para um trabalho como esses", afirmou José Heitor, que diz estar há 18 anos trabalhando nesse mercado. "Mas sempre desmontando grampos, nunca colocando", ressalvou.

A indicação da Interfort como a empresa que seria a responsável pelo dossiê contra Roseana Sarney reforça suspeitas no mundo político de que tucanos teriam contrataram serviço de espionagem, devido aos laços de José Heitor e Sardenberg com o governo.

O senador José Sarney (PMDB-AP) tem dito que a ação do submundo das investigações foi detonada pelo deputado federal Márcio Fortes (PSDB-RJ), um dos principais articuladores da campanha do pré-candidato José Serra. Ele nega a acusação.

Os pefelistas acreditam que os telefones do escritório da Lunus foram grampeados. Os autores da operação teriam descoberto, pelo grampo, o dia em que haveria dinheiro na empresa.


PFL sabia desde o início sobre a origem do R$ 1,34 milhão
Roseana informou a cúpula do partido no dia seguinte à operação da PF na Lunus

A governadora Roseana Sarney (MA) informou aos principais integrantes da cúpula do PFL sobre a origem do dinheiro encontrado pela Polícia Federal na empresa Lunus quase imediatamente, segundo a Folha apurou. Um dirigent e pefelista disse ter conhecimento do fato desde as 10h da manhã de sábado, dia 2, o dia seguinte ao da operação de busca e apreensão da PF.

Como Roseana disse que o dinheiro era para financiar sua pré-campanha à Presidência, um estudo jurídico foi feito às pressas para averiguar as consequências. Chegou-se a uma conclusão ruim. Se Roseana admitisse que o dinheiro era para a sua pré-campanha (estimada pela direção do PFL em R$ 5 milhões a R$ 6 milhões até julho), correria o risco de ser acionada na Justiça. Na pior das hipóteses, seria declarada inelegível para qualquer cargo.

Iniciou-se então uma tentativa de montar uma versão para a origem do R$ 1,34 milhão.
Sem saída, a maioria dos dirigentes pefelistas acreditava ontem que Roseana deveria desistir da disputa "enquanto sua candidatura não derreta", para usar uma expressão de dentro do PFL.

A imagem usada era a de um jogador de baralho prudente que precisa identificar a maré de azar enquanto ainda tem fichas na mão. Por enquanto, entretanto, a governadora do Maranhão parece ter preferido um caminho diferente, pois seu marido, Jorge Murad, ex-gerente de Planejamento do Maranhão, acabou assumindo a total responsabilidade pela arrecadação do dinheiro.

Mas pefelistas consideram ser questão de tempo a saída de Roseana da disputa pela Presidência. A explicação apresentada ontem por Murad sobre o dinheiro não foi suficiente para convencer o partido. A avaliação generalizada é que a candidatura de Roseana sofreu um sério revés e dificilmente conseguirá se recuperar.
A cúpula do PFL identifica na quinta-feira passada o momento de inflexão. Foi nessa data que ocorreram dois fatos relevantes.

Pela manhã, o partido rompeu com o governo, tentou demonstrar unidade, começou a entregar cargos e deu palanque para Roseana se afirmar na condição de candidata. Na mesma quinta à noite, o "Jornal Nacional", da TV Globo, mostrou a imagem do R$ 1,34 milhão em notas de R$ 50 apreendido na Lunus. A foto apareceu nos jornais do dia seguinte e fez com que a direção pefelista tivesse a impressão de ter perdido o controle do processo.

A exploração da foto do dinheiro é considerada fatal pela cúpula pefelista. Se a investigação ficasse apenas em questões abstratas sobre possíveis fraudes envolvendo a Sudam (a hoje extinta Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), havia convicção dos dirigentes do PFL que seria possível contornar o escândalo.

Explicações
À tarde, o deputado e ex-ministro da Previdência Roberto Brant (MG), um dos primeiros a sair em defesa de Roseana, exigiu mais explicações. "O esclarecimento não pode ser verbal. Esclarecimento é ver a origem e o destino dos recursos com fatos. Prestamos solidariedade à governadora e continuamos aguardando os esclarecimentos. Queremos explicação solidamente apoiada em documentos", disse.
O tempo de espera para Brant é o "politicamente adequado". Segundo ele, se ficarem dúvidas, Roseana "não serve para o Brasil".

Mas o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), depois da viagem ao Maranhão, ainda reafirmava a candidatura de Roseana e cobrava investigação da operação e do vazamento de informações.
O líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), afirmou que "o povo" é que deve dizer se aceita a explicação sobre o R$ 1,34 milhão encontrado no escritório da Lunus, de Murad e Roseana.


FHC também teve caixa 2, diz ACM
O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) afirma que "sempre" acreditou que o dinheiro encontrado na empresa da governadora Roseana Sarney fazia parte de um caixa extra-oficial para custear a campanha eleitoral do PFL. ACM diz que a situação é comum em campanhas eleitorais e conta que, em 94, testemunhou quando o então banqueiro José Eduardo Andrade Vieira, do Bamerindus, "disponibilizou" R$ 5 milhões para compor um caixa 2 da campanha de Fernando Henrique Cardoso.

Segundo ACM, Eduardo Jorge, futuro secretário-geral da Presidência, participou da reunião. Eduardo Jorge nega.

Há dois anos, Andrade Vieira declarou à Folha, e depois confirmou num depoimento ao Ministério Público, que a campanha de Fernando Henrique de 94 tinha um caixa 2. Afirmou inclusive que um executivo do Bamerindus levava "dinheiro vivo" a Eduardo Jorge.

Desta vez, ouvido pela Folha sobre a doação de R$ 5 milhões que ACM diz ter visto, Vieira diz: "Só posso dizer que o Brasil inteiro sabe que a pessoa que mais ajudou Fernando Henrique fui eu".

Eduardo Jorge não só nega tudo como ainda joga a batata quente da discussão sobre caixa 2 de campanha para o PT. "Olha bem, pensa uma coisa: a campanha do Fernando Henrique custou uns R$ 40 milhões. A campanha do Lula custou R$ 4 milhões. Então, se alguém tem caixa 2, é quem diz que não gasta, não é quem diz que gasta", disse.

O deputado João Paulo Cunha (SP), líder do PT na Câmara dos Deputados, diz que "caixa 2 não é com o PT". "Nossas contas foram auditadas e são públicas. Todo mundo sabe quais são as nossas fontes de financiamento."


Tucanos se solidarizam com Fortes
O PSDB decidiu ontem se solidarizar com o deputado Márcio Fortes (RJ), secretário-geral do partido, após receber dele a palavra de que não mandou espionar a governadora do Maranhão e eventual candidata do PFL à Presidência, Roseana Sarney.

Os tucanos responsabilizaram o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), pela suspeita de que o deputado tenha encomendado um dossiê sobre Roseana. "É uma calúnia, uma irresponsabilidade, o que é marca registrada desse governador", disse o presidente do PSDB, José Aníbal (SP).

Aníbal só se referiu a Garotinho como "Marotinho". Sobre as denúncias de que os tucanos teriam preparado vários dossiês sobre adversários, Aníbal disse: "É desconhecer o traço que caracteriza o PSDB -a postura ética e moral".

Segundo Aníbal, o PSDB "nunca trabalhou com isso dossiês", foi vítima disso". Referia-se ao "Dossiê Cayman", sobre uma suposta conta mantida por tucanos no exterior: "Era uma farsa".

Márcio Fortes ingressou ontem no STJ com uma interpelação ao governador, para que ele confirme ou negue haver declarado que recebeu um dossiê sobre Roseana oferecido pelo tucano.

Essa medida é um passo preparatório de eventual ação penal por difamação, com base na Lei de Imprensa. Na petição, os advogados de Fortes pediram que Garotinho seja notificado no prazo de 48 horas após decisão do ministro que for designado relator.

O PSDB julgava que Fortes ainda não havia se explicado convincentemente. Por isso convocou uma entrevista coletiva para ontem, da qual, além de Aníbal, participaram o deputado carioca e o líder na Câmara, Jutahy Magalhães (BA). A idéia inicial era divulgar uma nota, que foi adiada.

Antes de convocar a entrevista, o PSDB teria, segundo versão divulgada pelos próprios tucanos, submetido Fortes a um interrogatório. Eles temiam se solidarizar com o deputado e depois serem surpreendidos com uma nova denúncia, como julgam que aconteceu com o PFL em relação a Roseana no episódio da descoberta de R$ 1,34 milhão no escritório de uma empresa da governadora.

Serra passou mais um dia sem comentar o episódio Roseana. O pré-candidato está otimista em relação a seu desempenho nas pesquisas e teme ser prejudicado pela denúncia envolvendo Fortes. Mas todos se disseram satisfeitos com as explicações de Fortes.

O presidente Fernando Henrique negou ontem, por meio de seu porta-voz, Alexandre Parola, que tenha conversado por telefone com Fortes. "O presidente reitera que o Palácio do Planalto não se vincula a campanhas e não cabe, portanto, qualquer comentário sobre o tema", disse Parola.


PFL mantém indecisão sobre CPMF
O PFL manteve o governo mais uma vez refém da votação da emenda que prorroga a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira). Dep ois de três horas e meia de reunião, a bancada do partido decidiu fazer novas consultas.

À noite, após reunião na casa do presidente do PFL, o senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), a cúpula do partido informou que o mais provável é que a emenda seja votada na próxima semana.

A declaração anteontem do presidente Fernando Henrique Cardoso -de que poderia ter sido eleito sem o PFL- foi mais um ingrediente na crise, prejudicando um possível entendimento entre o partido e o governo para a votação da CPMF.

Para explicar o adiamento da decisão, o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), usou uma frase adotada pelo ex-presidente Fernando Collor, no período da crise que resultou em sua cassação. "O tempo é o senhor da razão. O tempo será aquele que for oportuno. Tudo tem o seu tempo perante o céu", disse.

Sem o PFL, maior partido na Câmara, o governo teme ser derrotado na votação em segundo turno da emenda, que precisaria ser promulgada até o dia 18 de março para evitar a suspensão da cobrança. Não há mais tempo. A previsão é que o governo perca R$ 400 milhões por semana com a suspensão.

"O PFL é vital para essa aprovação. Se pudesse votar sem o PFL, já teria colocado em votação na semana passada", afirmou o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG).

Inocêncio classificou a declaração de FHC de "infeliz". "O presidente vinha tão bem ultimamente, elogiando o PFL, e, de uma hora para outra, tem uma recaída dessas", disse Inocêncio.

O deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), sobrinho do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse que a declaração mostra o caráter do presidente. "Isso ratifica o traço de ingratidão da personalidade do presidente."

Por meio do presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que almoçou com FHC ontem, o presidente tentou explicar que sua intenção era "valorizar" o partido. "O presidente disse que seu interesse foi na verdade valorizar o PFL e essa era sua intenção, por mais que a frase solta possa ir em sentido contrário. Ele reiterou isso e foi mostrar que o PFL não fez uma aliança eleitoral, mas uma [aliança" programática", afirmou Aécio, ao sair do almoço.


Artigos

Tirando o marido da sala
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - A renúncia de Jorge Murad, marido da governadora Roseana Sarney, ao cargo de super-gerente do governo do Maranhão leva todo o jeito de ser uma variante da piada do sofá, aquela em que o marido traído tira o sofá da sala ao constatar que nele se dera a traição.

No caso, Roseana tirou o marido da sala. Não adianta. Continua sendo seu marido e continua sendo uma tremenda encrenca.

Para começar, Murad confessou ontem um crime: diz ter tomado a iniciativa de arrecadar dinheiro para a campanha da mulher à Presidência. A instrução 56 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em seu artigo 2º, diz que a arrecadação de fundos só pode começar depois do registro da candidatura.

O artigo 38 da mesma instrução prevê as punições -sem prejuízo de uma ação por "abuso de poder".
O marido de Roseana praticou, portanto, abuso de poder -e duplamente. Abusou da paciência dos brasileiros ao tentar convencê-los de que fez tudo sem que sua mulher soubesse. Mesmo que se acredite nessa inverossímil versão, resta a pergunta: se ocultou da mulher a violação a uma norma legal, quantas mais não terá ocultado?

Está pois respondida a única pergunta que de fato contava no episódio: Murad e, por extensão, Roseana são culpados ou inocentes?

Murad é culpado confesso. Não basta tirá-lo da sala. A candidatura Roseana Sarney foi baleada por uma arma formada por 26.800 notas de R$ 50 encontradas no cofre da empresa do casal.

Essa dinheirama assombrará a candidata até o último dia de campanha, na improvável hipótese de que ela mantenha a candidatura. Roseana tornou-se inútil para os defensores do status quo, até porque já surgiu, para esses, quem a substitua como hipótese forte de vitória. Sim, é ele, José Serra.


Colunistas

PAINEL

Saída Incor
O PFL tenta convencer Roseana Sarney a retirar sua candidatura sob alegação de problemas de saúde. Seria, supostamente, uma "saída honrosa" para a governadora, que, em queda livre nas pesquisas, diria não ter condições físicas para enfrentar uma campanha nacional.

Demora prejudicial
Após analisar ontem as novas pesquisas, o PFL passou a defender que Roseana renuncie ainda nesta semana à sua candidatura. Quanto mais demorar, menor será o poder de reação da sigla.

Abalo emocional
Roseana tem alternado impulsos de raiva com momentos de depressão. Mas recusa-se a acreditar que a sua candidatura tenha ido para o buraco.

Crença na moeda
Virou motivo de piada entre os aliados de Serra a apreensão de R$ 1,34 mi na empresa de Roseana. Os tucanos dizem que a pefelista deu a maior demonstração de crença no real. Explicação: ninguém deixa muito dinheiro fora de um banco. A não ser que seja em dólar.

Síndrome de Lunus
Silvio Santos está em dúvida. Gostaria de disputar a eleição presidencial, como lhe sugeriu o PFL. Mas teme ser bombardeado por acusações, principalmente no processo sobre supostas irregularidades na Telesena.

Só o começo
Projetos financiados pela Sudene no Maranhão também estão na linha de tiro do Ministério Público. Foram criados anteontem dois grupos de investigação com três procuradores federais cada: um para a Sudam, outro para a Sudene. O MA recebia recursos dos dois órgãos.

Oposição light
O PFL fez barulho para dizer que deixou o governo federal, mas manteve um pupilo em um posto estratégico. Airson Lócio continua no comando da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco.

Tudo ou nada
Aécio Neves (PSDB) deve colocar a prorrogação da CPMF em votação hoje na Câmara, mesmo sem acordo de líderes. Os deputados do PFL já receberam um recado: quem votar contra perderá todos os seus cargos nos Estados, que não foram mexidos por FHC.

Longa espera
O Planalto avalia que, se não houver votação hoje ou amanhã, a CPMF só poderá ser analisada em três semanas. Na próxima, uma medida provisória sobre o setor elétrico travará a pauta. Na seguinte, o plenário estará esvaziado devido ao feriado da Semana Santa.

Quarta tentativa
Depois das prévias de domingo, o PT lançará o slogan de sua campanha presidencial: "Dê uma chance ao Lula".

Mesmo teto
O deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) tenta levar a Força Sindical, hoje com Ciro Gomes (PPS-CE), a apoiar Lula e o PT na eleição presidencial. A CUT está adorando.

Nada feito
A direção do PL decidiu que, se a decisão do TSE de verticalizar as coligações não for derrubada, o partido não apoiará formalmente Lula na eleição.

Ilusão parlamentar
Um grupo de deputados entregará hoje aos presidentes dos partidos de oposição (PT, PDT, PSB, PC do B, PPS, PL e PCB) manifesto pedindo a união das siglas na eleição. O grupo diz que é preciso aproveitar a atual "fragilidade" dos governistas.

Suprapartidário
O manifesto dos deputados oposicionistas foi assinado pelos deputados Luiza Erundina (PSB-SP), Rubens Bueno (PPS-PR), Waldir Pires (PT-BA), Virgílio Guimarães (PT-MG), Vivaldo Barbosa (PDT-RJ), Haroldo Lima (PC do B-BA) e Marcelo Barbieri (PMDB-SP).

TIROTEIO
Do deputado Ricardo Berzoini (PT), sobre a possibilidade de o BNDES participar de uma operação financeira de até R$ 1 bi para capitalizar a Globo Cabo (maior empresa de TV por assinatura do Brasil), controlada pelas Organizações Globo:
- Pelo jeito, o "S" do BNDES é o "S" de Serra.

CONTRAPONTO

Voz de prisão
Roberto Requião (PMDB-PR) participou ontem em Fortaleza (CE) de uma reunião de parlamentares do Mercosul. Tema: projetos de financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) na região.
A reunião correu paralelamente ao evento principal, que atraiu vários governantes. Mais de 3.000 policiais foram mobilizados pelo governo do Estado para dar segurança aos participantes.
Assim que pegou a bagagem para deixar a área de desembarque do aeroporto, o senador peemedebista foi parado, com todos os outros passageiros, por agentes da Polícia Federal. Eles queriam ver seus documentos de identidade. O senador, que não se identificou ao policial como tal, falou alto:
- Eu não mostro documento algum. E, se insistir, vou pedir a sua prisão!
O senador foi liberado no ato.


Editorial

A MÍDIA DECIDE

Entre os vários projetos para conter a violência, a Comissão Mista de Segurança Pública do Congresso Nacional aprovou, na semana passada, o substitutivo que proíbe a divulgação de sequestros sem a autorização da família da vítima.

A pretexto de proteger a vida do sequestrado, o projeto, da deputada Laura Carneiro (PFL-RJ), peca ao propor uma tutela sobre o livre trabalho da imprensa.

A aprovação do substitutivo se deu em meio a polêmica. O projeto, que será submetido à Câmara e ao Senado, suscitou dúvidas a respeito de sua constitucionalidade entre membros da comissão. De fato, a medida propõe uma preocupante restrição da liberdade de imprensa.

Em seu argumento, a deputada procura hierarquizar os objetivos em questão. "É inconstitucional o cidadão defender seu bem maior, que é a sua vida?", pergunta a deputada, em declaração no "Jornal do Senado".
Não é o caso, porém, de se sobrepor um valor ao outro, como se o direito de proteção à vida fosse incompatível com a liberdade de imprensa.

A questão é que os meios de comunicação que divulgam informações sobre sequestros à revelia da família da vítima o fazem na convicção declarada de que, com isso, podem ajudar na solução do crime.

Não é o caso da Folha, que se reserva o direito de omitir informação que coloque em risco a segurança de uma pessoa, o que está explicitado em seu "Manual da Redação".

Este jornal, portanto, se sente à vontade para condenar a iniciativa de legislar sobre a matéria. Na falta de consenso sobre o efeito da divulgação do andamento do sequestro, a responsabilidade pela decisão deve ficar a cargo dos meios de comunicação, sob pena de se atentar contra a liberdade de imprensa.


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03/13/2002


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