Ciro mais perto de Lula
Ciro mais perto de Lula
O candidato do PPS continua subindo, de acordo com o levantamento do Vox Populi, divulgado com exclusividade pelo Correio. Ele está dez pontos abaixo do candidato petista. Serra, do PSDB, aparece em terceiro
Em uma coisa, o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, é igual aos seus adversários. Nas semanas em que estiveram no ar os programas eleitorais dos partidos da sua coligação (além do PPS, o PTB e o PDT), Ciro Gomes subiu nove pontos percentuais nas pesquisas. É o mesmo percentual de crescimento que José Serra, do PSDB, e Anthony Garotinho, do PSB, tiveram. Luis Inácio Lula da Silva, do PT, cresceu dez pontos. Há, porém, um ponto fundamental em que Ciro se diferencia dos demais. Depois que os programas pararam de ser veiculados, todos eles começaram a cair. Ciro, ao contrário, continua subindo. ‘‘Ainda é um pouco cedo para se afirmar que o crescimento de Ciro Gomes está consolidado. Mas também não se pode ignorar essa diferença’’, comenta o presidente do Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra.
Na pesquisa do Vox, que o Correio publica com exclusividade, Ciro Gomes aparece dez pontos percentuais atrás de Lula. Ele tem 24% das intenções de voto, contra 34% do candidato petista. José Serra, do PSDB, tem 16%. E Anthony Garotinho, do PSB, tem 11%. Zé Maria, do PSTU, e Rui Costa Pimenta, do PCO, têm zero. A pesquisa foi realizada entre os dias 13 e 15 de julho. Foram ouvidas 2.807 pessoas em 173 municípios. A margem de erro é de 1,9%.
Com relação às últimas pesquisas, realizada nos dias 2 e 3 de julho e nos dias 22 e 23 de junho, Ciro Gomes despachou José Serra. Os programas eleitorais de Ciro começaram a ir ao ar há 45 dias e se concluíram no início de julho. Fizeram com que Ciro subisse de 9% em maio para 18% na rodada de 2 e 3 de julho. De lá para cá, porém, Ciro subiu mais seis pontos, atingindo os 24%. No final de junho, Serra tinha 21%. Caiu para 17%, e agora para 16%. Queda total de cinco pontos. Lula, no mesmo período, teve a mesma queda. No início de julho, ele subiu de 38% para 39%. Agora, caiu para 34%.
Na pesquisa espontânea (em que os eleitores dizem o nome do candidato que vier à cabeça, sem que o entrevistador apresente uma lista), a diferença entre Lula e Ciro também é de dez pontos percentuais: 26% a 16%. Na espontânea, Serra tem 9%, e Garotinho tem 6%. Ciro é também o candidato com menor taxa de rejeição. Apenas 12% dos entrevistados afirmam que não votariam nele de jeito nenhum. A maior taxa de rejeição entre os quatro principais candidatos é de Garotinho: 31%. Lula tem 28%. E Serra 24%.
Novos sustos
A pesquisa do Vox Populi trouxe novos sustos para os comandos das campanhas de Lula e de Serra. Os aliados de Serra receberam os números reunidos no comitê de campanha do candidato, em Brasília. Discutiam exatamente uma forma de reagir às quedas constantes do tucano nas pesquisas (leia na página 12). Em São Paulo, os petistas resolveram criar um grande fato político para a semana que vem. Em Brasília, divulgarão integralmente o programa de governo, que traz principalmente propostas para a área social (leia na página 11). Tanto Serra como Lula pretendem agora voltar o debate eleitoral para essa área. Perceberam que a discussão de temas econômicos só serviu para fazer Serra crescer.
Lula não comentou os números da pesquisa, nem seus aliados, publicamente. Mas a avaliação do comando da campanha petista é de que a manutenção da subida de Ciro é um perigo. ‘‘Isso seria a descida para o inferno’’, chega a dizer um assessor de Lula. Os petistas não sabem como agir com relação a Lula. Torcem para que a sua ascensão seja apenas momentânea. Por enquanto, manterão a estratégia de criticar o governo e polarizar com Serra. Temem começar a bater em Ciro porque o querem como aliado no segundo turno se o adversário for Serra. Se atacarem Ciro, e ele depois cair, podem perder esse apoio na disputa com Serra.
Os petistas rezam, então, para que as pancadas em Ciro partam de José Serra. A preocupação no comando da campanha de Serra é muito grande. Mas o candidato faz questão de dizer o contrário. ‘‘Quando eu tinha 5% ou quando tinha 20%, eu sempre disse a mesma coisa: pesquisa é uma fotografia do momento. Não ganha eleição. Não estou preocupado com isso. Estou ocupado com a minha campanha’’, jura ele.
O PT social contra Ciro
Avanço do candidato do PPS nas pesquisas faz cúpula petista deixar de lado as questões econômicas e investir em temas como segurança pública, emprego e educação
O medo da subida do candidato do PPS a presidente, Ciro Gomes, levou PT e PSDB a buscarem a mesma saída para as suas campanhas. Na terça-feira, o candidato do PSDB, José Serra, resolveu reorientar a sua campanha e centrá-la agora na discussão de temas sociais. Para os partidários do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, essa notícia foi um alívio. ‘‘Ótimo. Agora, o debate vai ser travado na nossa arena’’, comemora o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP). Tanto os petistas quanto os tucanos perceberam que só um candidato estava se beneficiando do rumo econômico dado à corrida eleitoral: Ciro Gomes, do PPS.
Na primeira entrevista em seu comitê depois da conversa com o presidente Fernando Henrique Cardoso em que recebeu sugestões para centrar a campanha no social, José Serra citou os cinco pontos prioritários de seu programa: oportunidades de trabalho, segurança pública, saúde/educação combinados, combate às drogas e à pobreza. ‘‘A minha prioridade sempre foi o social e continuará sendo. O centro da campanha não deve ser o debate econômico e sim os problemas das pessoas, a vida das pessoas’’.
Diante da nova estratégia do candidato tucano, Lula resolveu lançar em Brasília, no próximo dia 23, seu programa de governo (leia quadro abaixo com algumas das propostas petistas). O programa será apresentado em um evento no Auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados. Lula será recepcionado no aeroporto por uma grande carreata e seguirá para o Congresso, no primeiro grande ato da sua campanha em Brasília. Coordenado pelo prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Pallocci, o programa do PT foi trabalhado por especialistas em várias áreas, desde o promotor de Justiça Antonio Carlos Biscaia até o engenheiro nuclear Luís Pinguelli Rosa.
Nas últimas semanas, os responsáveis pela campanha de Lula tiveram de ceder, a contragosto, à pauta que era ditada por Serra, pelo governo e pelo mercado financeiro. Ainda que não quisessem, tiveram de dar respostas ao temor de que mudariam a política econômica e de que poderiam levar o país rumo ao caos econômico que se verificou na Argentina. Os petistas ainda não estavam preparados para esse debate. Não havia uniformidade nas idéias dos economistas do PT, principalmente Guido Mantega e o deputado Aloizio Mercadante.
Tiro pela culatra
A sorte do PT é que o tiro saiu pela culatra para o PSDB. Na falta de propostas concretas, os partidários de Lula fizeram gestos políticos. O presidente do PT, José Dirceu, foi aos Estados Unidos conversar com pessoas-chave do mercado financeiro. Mercadante aceitou um convite do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, para uma conversa.
De qualquer forma, Lula caiu nas pesquisas. Porém, mais importante que esse fato para a corrida eleitoral foi que o discurso econômico levou o candidato do PPS, Ciro Gomes, a ultrapassar Serra. Ciro demonstra mais segurança na discussão desses temas. Contra o candidato do PPS, a estratégia dos petistas de apenas demonstrar que não pretendem botar fogo no circo econômico não funcionaria.
A mudança de Serra pode tirar a arma de Ciro. Mas, para os petistas, irá beneficiar Lula. ‘‘Para Serra, será um tiro no pé. Que indicadores sociais positivos ele p oderá mostrar no atual governo, que o apóia? Além disso, as principais propostas nas áreas sociais são nossas’’, comenta o deputado João Paulo.
Juro cai. Serra quer mais
Banco Central surpreende o mercado e baixa taxa para 18%. O candidato do governo diz que a decisão não foi eleitoreira, mas ficou animado com a boa notícia
Depois da queda nos juros de 18,5% ao ano para 18% anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom), o candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, espera do governo não eleve preços de tarifas públicas e de serviços no período eleitoral. A expectativa foi relevada por políticos, logo depois de uma reunião de Serra com representantes dos partidos que apóiam — PSDB, PMDB, PFL e PPB. Ali, o candidato falou da lealdade do presidente Fernando Henrique Cardoso. Disse que o presidente tem disposição de ‘‘fazer o que for preciso para ajudá-lo na campanha’’.
O corte nos juros foi recebido pelos políticos e pelo mercado financeiro com uma medida imaginada para ajudar a candidatura de Serra. Com uma taxa menor, eles apostam que empresas e consumidores gastarão mais, criando no eleitor uma atitude mais favorável ao governo.
Por enquanto, a queda nos juros já foi considerado um alívio. Serra estava tão contente que não perdeu o humor nem mesmo pelo dólar ter chegado ontem a R$ 2,89, a segunda maior cotação no período do real. A inflação também está em alta: a segunda prévia de julho do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) ficou em 1,49%.
A maior parte dos analistas de mercado apostava que a Selic seria mantida em 18,5%. Pensavam assim porque as pressões de alta do dólar, apontadas na última reunião do Copom, permanecem. O país vive picos de alta do dólar e, com a queda dos juros, mais dinheiro circula na economia provocando maior procura pela moeda americana nos momentos de tensão.
‘‘Dentro do conservadorismo que tem guiado as decisões do BC, achei que eles manteriam a taxa’’, afirma o presidente da Bolsa Mercantil e de Futuros, Manoel Felix Cintra Neto.
No início da tarde presidente do Banco Central, telefonou para Fernando Henrique para comunicar a decisão do Comitê de Política Monetária, o que não é o costume. Mas o ministro da Fazenda, Pedro Malan, negou as suspeitas de que a redução nos juros foi política. ‘‘O Copom sempre teve independência’’, disse. Malan afirmou que desde a última reunião do Copom há uma novidade: o Conselho Monetário Nacional elevou de 3,25% para 4% a meta de inflação para o próximo ano. Com isso, há maior liberdade para reduzir juros.
Serra tentou desvincular a eleição da queda dos juros. ‘‘Foi uma decisão corajosa. Cada um interprete como quiser. Conheço a seriedade de Armínio Fraga e toda a cautela que ele teve. Se fosse eleitoral, teria feito antes. Desde março, abril, eu achava que o Copom deveria baixar os juros’’, afirmou.
Ele comentou a decisão do Comitê depois de uma longa reunião com governadores, líderes e presidentes de partidos. O objetivo foi mostrar que não há uma debandada da sua campanha rumo à candidatura de Ciro Gomes (PPS) por causa do melhor desempenho de Ciro nas pesquisas. Foram chamados governadores do Piauí, Hugo Napoleão (PFL), de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), representantes do PPB e do PMDB. Serra lembrou a todos que sua vitória representará poder para seus aliados.‘‘A mim, podem atribuir tudo, menos deslealdade. Aqueles que fazem parte da luta da campanha serão aqueles com quem irei governar’’, avisou.
Esse é um momento mais importante para Ciro, Serra e o próprio governo. Se Ciro deslanchar nas pesquisas, jogará toda a crise no colo dos governistas. Se o tucano subir, o remédio do juro menor deu resultados. Tudo agora é uma questão de tempo, de pouquíssimo tempo.
PPS desfaz união com Collor
Intervenção do diretório nacional do partido de Ciro Gomes em Alagoas anula a tentativa de coligação com o ex-presidente no estado. Roberto Freire tentará, agora, formar uma terceira via com PDT e PTB
Sob pressão da direção nacional, o diretório estadual do PPS em Alagoas anulou ontem a aliança que, na letra fria da lei, punha no mesmo palanque o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência, Ciro Gomes, e o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB), candidato ao governo do estado. A coligação do PPS com os colloridos dava o combustível necessário para fazer arder a fogueira na qual os tucanos — especialmente seu presidenciável, José Serra — vinham tentando assar Ciro Gomes, com o argumento de que ele é, em 2002, o que Collor foi em 1989.
A aliança do PPS com o PRTB ganhou amplitude nacional justamente por representar um elo concreto entre Ciro e Collor. Ciro tanto se incomodou com a tática dos adversários que pediu mais de uma vez ao presidente nacional do PPS, o senador Roberto Freire (PE), que encontrasse uma saída honrosa para todos os lados. E recomendou a Freire toda a pressa do mundo.
A saída veio, mas o nó da política alagoana está longe de ser desatado. O presidente regional do PPS, Anivaldo Miranda, disse ao Correio que não porá em risco as pretensões eleitorais de dez candidatos a deputado estadual e três candidatos a deputado federal por causa de um ‘‘factóide’’.
Na cabeça dele, o fato de o PPS fazer parte da Frente de Oposição — coligação entre PTB, PPB, PFL e PRTB — não tem nenhuma importância, já que o partido anunciou publicamente que não indicaria candidatos na chapa majoritária, muito menos participaria da campanha de Collor. ‘‘Entramos na aliança para não inviabilizarmos nossa chapa proporcional’’, explica. Ou seja, os votos de Collor são bem vindos, desde que não haja apoio explícito de lado a lado. ‘‘Tudo isso é resultado desse absurdo que é a verticalização’’, reclama.
Inimigo comum
A reabilitação política de Fernando Collor embaralhou profundamente as idéias em Alagoas. Até um mês atrás, o ex-presidente ameaçava candidatar-se ao Senado. Os senadores Renan Calheiros (PMDB) e Teotônio Vilela Filho (PSDB) decidiram unir forças para renovar os respectivos mandatos combatendo o inimigo comum. Juntos, firmaram uma coligação branca com o governador Ronaldo Lessa (PSB). PMDB e PSDB não lançaram candidatos ao governo e o PSB não lançou ninguém para o senado. Os três, que não se entendiam, agora pedem votos juntos pelo estado.
Renan chegou a indicar Demuriez Leão para a vaga de vice de Lessa. Leão, no entanto, é adversário ferrenho da prefeita de Arapiraca, Célia Rocha (PSDB), mulher do ministro da Integração Nacional, Luciano Barbosa. Registrada a mancada, Ronaldo Lessa achou um substituto para compor a chapa. O escolhido foi Luís Abílio de Souza, do próprio PSB.
A mexida veio tarde. Célia revoltou-se. Espera-se para os próximos dias seu desembarque na campanha de Collor. Arapiraca, com 270 mil eleitores, é o segundo colégio eleitoral do estado. Outros cinco prefeitos do PSDB a seguirão. Collor driblou os adversários e lançou-se candidato ao governo. Polarizou a disputa entre ele mesmo e Lessa. Para o senado, defende o ex-governador Geraldo Bulhões.
Roberto Freire vai tentar construir a terceira via, unindo PPS, PTB e PDT. A tarefa é difícil. Entre os três partidos, o PTB é mais robusto — tem 14 dos 29 deputados estaduais alagoanos. E seu maior líder, o presidente da Assembléia Legislativa, Antônio Albuquerque, é aliado de Collor.
PSDB dá o troco no PFL
Tucanos ameaçam retirar apoio à candidatura de Paulo Octávio ao Senado se o PFL de Brasília abandonar Serra e abrir palanque para Ciro Gomes. Repercussão faz pefelistas adiarem decisão
A possibilidade de o PFL do Distrito Federal abandonar a candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência e aderir à campanha de Ciro Gom es (PPS) abriu uma crise na Frente Brasília Solidária, coligação entre PFL, PSDB e PMDB que apóia a candidatura do governador Joaquim Roriz (PMDB) à reeleição. Dirigentes do PSDB ameaçam deixar de fazer campanha para o deputado federal Paulo Octávio (PFL), candidato da coligação ao Senado, se os pefelistas de Brasília debandarem do palanque do presidenciável tucano.
A adesão do diretório regional do PFL à campanha de Ciro Gomes foi discutida na terça-feira entre Octávio e o presidente nacional da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC). A despeito do apoio da Frente Brasília Solidária a Serra, o senador pediu a participação do PFL-DF no palanque de Ciro. Argumentou que a medida era importante para a direção nacional do partido e eleitoralmente vantajosa para Octávio, uma vez que o candidato do PPS à Presidência tem bom desempenho no DF.
O deputado brasiliense respondeu que a maioria do partido em Brasília era favorável a uma aproximação com Ciro. E aceitou convite de Bornhausen para conversar com o presidenciável sobre o assunto, provavelmente na semana que vem. Para o senador catarinense, convencer o PFL-DF a aderir à campanha de Ciro faz parte da estratégia de esvaziar os palanques pefelistas que estavam com Serra.
A possibilidade dos pefelistas do DF trocarem Serra por Ciro irritou os aliados tucanos. ‘‘Eles têm todo direito de tomar a decisão política de apoiar outro candidato a presidente. Mas correrão o risco de não serem escolhidos pelos tucanos’’, alfinetou a deputada federal Maria de Lourdes Abadia (PSDB), candidata a vice-governadora na chapa de Roriz.
Presidente do PSDB-DF, Abadia disse que passou o dia inteiro recebendo ligações de militantes do partido indignados com a possível adesão do PFL a Ciro. ‘‘Foi um baque muito forte no entusiasmo do PSDB para apoiar o PFL. Ficou a impressão de que bastou uma pesquisa mostrar subida de Ciro para o PFL de Brasília pensar em mudar de posição’’, acrescentou. Os pefelistas de Brasília participaram do comício de Serra e Roriz realizado no último dia 7.
Denúncia da CNBB derruba hacker no Paraná
Engenheiro usa provedores da Igreja e da PUC para enviar mensagens pornográficas pela Internet. Proliferação de programas para invadir computadores incentiva ataques de piratas. Código Penal não prevê crime cibernético
Uma denúncia da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) terminou por desmascarar um hacker. O engenheiro civil Juliano Todeschini de Andrade, 25 anos, atacou os servidores da entidade e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná no dia 28 de junho. Depois de invadi-los, apropriou-se das listas de endereços para enviar spams — mensagens publicitárias não solicitadas. Anexos aos E-mails vinham endereços de páginas com fotos e conteúdos pornográficos e anúncios para a obtenção de ecstasy e outras drogas pela Internet.
A polícia obteve autorização judicial para quebrar o sigilo do provedor Terra, usado por Andrade, e identificou o hacker, que mora com os pais em um prédio de classe alta em Curitiba. ‘‘Se foi brincadeira, ele fez muito mal, porque pode ser punido por crimes como apologia ao uso de drogas, por exemplo’’, disse o delegado de Crimes Contra a Administração Pública do Paraná Guaraci Abreu.
Os investigadores apreenderam dois computadores de Andrade na segunda-feira. Agora, ele vai responder por cinco crimes. A pena de prisão poderá chegar a 15 anos. Os pais de Andrade informaram que ele está no Rio de Janeiro e irá se apresentar à polícia assim que chegar. Caso isso não aconteça, sua prisão preventiva será pedida.
Legislação é ineficiente
A legislação brasileira contra os crimes cibernéticos, os chamados cibercrimes, é frouxa. No novo Código Penal não existe nenhum capítulo específico sobre o assunto. Para enquadrar os criminosos, os investigadores tentam caracterizar o ataque dentro de uma infração prevista em lei.
‘‘Isso incentiva os piratas de computador’’, opina o professor Leonardo Lazarte, do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB). Ele é um dos encarregados de manter a segurança do sistema da instituição, constantemente ameaçado de invasões.
De acordo com o professor, quem ataca a UnB é, em sua maioria, seguidor da corrente dos hackers éticos. Esse grupo, depois de superar as barreiras encontradas, deixa um alerta para o administrador fechar os pontos vulneráveis da rede (leia material abaixo). ‘‘Mas já encontramos páginas descaracterizadas pelos invasores’’, ressalta.
Um dos maiores especialistas em segurança de redes do país, o professor João Gondim do Departamento de Informática da UnB, confirma a audácia dos piratas. ‘‘Uma vez abri um terminal para demonstrar um detalhe do sistema. Cinco minutos depois, alguém tentou invadi-lo. Consegui fechar a porta e pensei em contra-atacar, destruindo o computador do hacker diante dos alunos, mas resolvi deixar barato’’, conta.
Gondim atribui o crescimento do hackerismo à proliferação de ferramentas de invasão disponibilizadas, gratuitamente, pela Internet. ‘‘Atacar um computador virou uma tarefa automatizada. ’’, garante. ‘‘E esses softwares são eficientes e perigosos’’, ressalta.
Em 1999, Gondim e Lazarte ajudaram a desmontar um grupo de hackers de Brasília. Os piratas usavam duas máquinas da UnB como ponte para atacar órgãos públicos e a empresas de telefonia. A Polícia Federal conseguiu uma autorização de escuta na Justiça. Isolou as máquinas utilizando-as como isca. Em julho de 1999, os investigadores fizeram uma blitz numa empresa de segurança informática na 112 Sul. Foram indiciados A.M.D. e seu sócio F.G.G., acusados de invadir provedores para depois oferecer seus serviços. Os dois respondem processo por estelionato.
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Cidadania à moda Lago Sul?
Renato Ferraz
O envolvimento do cidadão nas decisões do poder público não pode se limitar ao voto. Mas, infelizmente, é isso que tem acontecido. Vejamos: nos últimos anos, os cidadãos ganharam a chance efetiva de participar da gestão governamental de suas cidades e municípios. Passaram a ser co-responsáveis pela aplicação dos recursos financeiros e pela definição das metas de saúde, educação, trabalho, infância, assistência social etc. No entanto, desgraçadamente têm jogado no lixo essa prerrogativa.
Hoje, os conselhos de educação funcionam em apenas 1,2 mil dos quase 6 mil municípios. E, nos lugares onde foram legalmente instalados, contêm uma aberração: quem os preside é o secretário de Educação. Para piorar, os conselheiros são cunhados, sogros, amigos, eleitores e correligionários do prefeito. Nas demais áreas, as constatações são semelhantes.
Mas como mudar isso? Como propagar a idéia de que há uma democracia representativa (a eleitoral, que excita hoje o país) e uma participativa? Como mostrar que acesso digno à saúde e à educação é um direito? Como convencer os cidadãos de que qualquer um de nós tem o direito de participar, influir, fiscalizar essas ações?
Claro, tudo isso passa por uma mudança cultural. No fundo, esses conselhos apenas refletem a consciência do povo, o grau de servidão em relação ao poder local e outras variantes sociais. Estudos dos ministérios da Saúde, da Educação e da Procuradoria da República comprovam que esse fenômeno ocorre mais no Norte e no Nordeste. Mas conheçam um detalhe curioso: o conselho de saúde do Lago Sul é visto como o mais omisso, mais fraco do Distrito Federal, sabiam? Os moradores parecem acreditar que não precisam dele (embora o bairro até hoje não tenha saneamento básico). Cidadania, portanto, não é exclusividade das classes sociais abastadas cultural ou financeiramente. O da Ceilândia é bem melhor. Porque há promotores de Ju stiça, padres e ONGs participando do dia-a-dia da maior cidade do DF. Martelando nessas teses, estimulando as críticas e as cobranças.
Por isso, é lamentável constatar que raríssimos candidatos estimulam esse tipo de democracia. Sequer tocam no assunto. Temem se tornar reféns da sociedade, perder privilégios. Desta forma, sem consciência de seus direitos e deveres, o cidadão cala, foge e deixa esses conselhos à mercê do prefeito e de sua fiel trupe.
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07/18/2002
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