Cofre cheio, campanha zerada









Cofre cheio, campanha zerada
Jorge Murad guardou R$ 1,34 milhão, mas precisaria de pelo menos R$ 65 milhões para bancar candidatura da mulher

BRASÍLIA - Se fosse para bancar os custos totais de uma campanha presidencial, o R$ 1,34 milhão que o ex-secretário de Planejamento do Maranhão, Jorge Murad, guardou para a mulher, Roseana Sarney, não daria nem para o começo. Não se faz uma campanha para a Presidência da República no Brasil por menos de R$ 65 milhões.

Levantamento feito pelo Jornal do Brasil mostra que os gastos de um político que aspira ao Palácio do Planalto chegam com facilidade a R$ 16,25 milhões por mês. A estimativa leva em consideração a instalação de comitês em apenas 14 estados no período oficial da campanha, de julho a outubro. Nesse valor não está previsto o custo de um eventual segundo turno.

O grosso desse dinheiro some no chamado material de campanha, que inclui camisetas, adesivos, chaveiros, bottons e santinhos. A conta é absurda: para cada eleitor, o candidato providencia uma camiseta, dois adesivos, chaveiros e bottons e, no mínimo, de três a cinco santinhos. No caso de eleição presidencial, os coordenadores dos grandes partidos trabalham com cerca de 30 milhões de eleitores-alvo, o que significa gastar, sem pechincha, R$ 60 milhões.

Os programas de Roseana apresentados no horário gratuito da TV eram bancados pelo PFL, que fazia o mesmo com as viagens da candidata. Quando a campanha começar para a governadora, o custo com viagens e programas de rádio e TV ultrapassará a casa dos R$ 2,5 milhões.

O candidato de um grande partido deve visitar cada Estado pelo menos uma vez durante a campanha. Colégios eleitorais como Rio, São Paulo, Minas, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Bahia e Paraná têm de ser visitados, no mínimo, três vezes. Para se ter uma idéia de quanto custa deslocar uma equipe pelo País, o aluguel de um jatinho numa viagem entre Brasília e São Paulo sai por R$ 36 mil. Com desconto.

No caso da produção de programas de televisão, rádio e informativos impressos, são aproximadamente R$ 300 mil por mês. O que chegaria a R$ 1,2 milhão, levando em consideração apenas os meses de julho, agosto, setembro e outubro. Somando aluguéis, mobília, infra-estrutura e salários dos colaboradores, um grande partido torra R$ 1,31 milhão. Já para pagar cachês de artistas, palco e equipamento de som, o casal Murad e Roseana precisaria de, no mínimo, R$ 75 mil por comício.


O PFL já procura outro candidato
Um em cada quatro eleitores de Roseana prega a renúncia. Partido analisa saídas se versão do marido não reverter quadro

BRASÍLIA - No PFL, a renúncia de Roseana Sarney deixou de ser apenas uma possibilidade para virar tema de pesquisa. No fim de semana, a direção do partido encomendou uma sondagem ao instituto MCI, do cientista político Antônio Lavareda. O resultado aumentou a preocupação do partido. Um entre cada quatro eleitores de Roseana acha que ela deve desistir de concorrer à Presidência. Os outros 75% consideram que a governadora deve manter a campanha até o fim das investigações sobre o envolvimento da empresa Lunus, de Roseana e do marido, Jorge Murad, em fraudes na extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

O levantamento, feito por telefone, não foi registrado e a margem de erro é alta. Mas soou como um alerta para o PFL. O partido não disfarça mais a intenção de rifar Roseana, caso não vingue a explicação do marido Jorge Murad para o R$ 1,34 milhão encontrado no cofre da Lunus - seria dinheiro para a campanha. Dirigentes da legenda procuram alternativas para a disputa ao Planalto. Não são poucos os que falam em reaproximação com o governo Fernando Henrique Cardoso, do qual o PFL desembarcou há menos de uma semana. Houve até quem lembrasse o nome do apresentador Sílvio Santos. A ficha de filiação dele saiu do baú. Tem o número 458, registrada em 1992. Idéia descartada.

Ontem de manhã, quando o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC) desembarcava em São Luís para se reunir com Roseana, o PFL divulgava pesquisa que registra queda acentuada da candidata e crescimento do adversário tucano, José Serra. Á noite, levantamento do Ibope piorou o quadro. Serra surge em segundo, com 19%, a governadora, em terceiro, tem 17%. O petista Luiz Inácio Lula da Silva, favorito, soma 24%. O verborrágico ex-ministro da Previdência Roberto Brant (MG) deu o tom da debandada do PFL. ''Se houver dúvidas, mesmo que injustas, não pode haver candidatura'', declarou. ''A dor individual vamos chorar debaixo da escada.''

Fora de hora - A versão de Murad para a fortuna guardada no cofre da Lunus, avaliam integrantes do comando do PFL, chegou tarde. ''A foto do dinheiro apreendido pela Polícia Federal Lunus foi fatal para candidatura dela'', afirma o ex-senador Júlio Campos, da Executiva do partido.

A confissão de culpa do marido de Roseana não surpreendeu, nem convenceu o PFL. Bornhausen fugiu comentários. ''A nota do senhor Jorge Murad é auto-explicativa'', limitou-se a afirmar em nota divulgada ontem à noite. Retorna a campo o estilo pragmático de o PFL fazer política. Agora, a hora é de calar e esperar a reação do eleitor à explicação de Murad. Se perceber que há chances de a opinião pública digerir a versão do marido, o partido volta a se fundir em torno da candidata. Caso contrário, poderá se reaproximar do governo ou surgir com outro candidato. Como o prefeito do Rio, Cesar Maia.


Festival de irregularidades
Receita Federal condenou projeto de empresa aprovado com voto de Roseana

PALMAS, TO - Relatório enviado pela Receita Federal ao Ministério Público em abril do ano passado revela graves irregularidades envolvendo a Usimar Componentes Automotivos. O projeto foi aprovado com o voto da governadora Roseana Sarney em dezembro de 1999, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento da Sudam, o Condel. Com o nome de Relatório final de diligência fiscal , o documento mostra que a Receita era contra a aprovação do projeto, do qual teriam sido desviados R$ 44 milhões.

O primeiro aviso de que o empreendimento poderia dar problemas foi no dia 7 de dezembro de 1999, uma semana antes da reunião do Condel. No primeiro relatório de avaliação da Usimar, a Receita faz um alerta: o volume de dinheiro envolvido, R$ 1,1 bilhão, poderia colocar em risco a saúde financeira do Finam, o fundo da Sudam. O segundo aviso foi no dia da reunião do Condel, 14 de dezembro, quando a Receita constatou que os documentos do processo não continham dados suficientes para uma análise segura da operação.

O relatório traz os nomes de 10 empresas do Paraná, São Paulo e Maranhão envolvidas nos desvios de recursos do projeto Usimar. A principal suspeita recai sobre a Engeblon Incorporações e Obras, de Curitiba (PR). Com sede constituída por ''uma sala e um banheiro'', segundo a Receita, a empresa ficou com 99% do dinheiro desviado da Usimar. Os fiscais concluíram que a Engeblon foi reativada para emitir notas fiscais destinadas ao grupo New Hubner. No capital social da Usimar aparecem os nomes de Teodoro Hubner Filho, Marilza Hubner, Léo César Hubner, Adriano Hubner, Magaly Hubner, além da ML Administradora e Participações. Teodoro, Léo e Magaly Hubner aparecem também como sócios da ML.

As investigações chegaram às empresas STO Construções e Fundações, Deltaconsult Engenharia, Conclusão Incorporações, Kuttner do Brasil, Construtora Planor, Empreiteiras de Obras Construtec e Construtora Conclumar. A Receita descoriu que diversos pagamentos contabilizados pela Usimar foram efetuados para construtoras que não efetuaram o serviço e usaram notas frias. Nesta lista estão Engeblon, Conclusão, Construtec, STO e Deltaconsult.

A Construtec e a Conclus


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