Contrário à violência, Stédile afirma que direita tenta criminalizar o MST



O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, acusou a imprensa e a direita de manipular suas declarações, retirando-as de contexto para que seja dado um caráter criminoso ao MST.

- Somos contra o uso da violência para resolver problemas sociais. Nossa força vem do número de famílias que conseguimos organizar. Quanto mais pobres estiverem organizados, mais pacífica será a mudança. Temos consciência que em situações de violência somente nós pagamos o pato. As mortes, são mortes do nosso lado - declarou.

A manifestação de Stédile se seguiu ao pedido do presidente da comissão, senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que, ao abrir a reunião, solicitou que Stédile, em sua exposição, explicasse declarações recentes de que os movimentos sociais deveriam promover um "abril vermelho", em que o país "vai pegar fogo".

- Essas expressões fortes são um grito de guerra ou apenas um desabafo, um protesto, uma manifestação de indignação diante da paralisia do processo de reforma agrária no país? Essa é a posição institucional do MST? - perguntou Alvaro Dias.

O senador leu ainda declaração de Stédile de julho de 2003 reproduzida pela imprensa em que o líder dizia: "A luta camponesa abriga 23 milhões de pessoas. Do outro lado há 27 mil fazendeiros. Será que mil perdem para um? É muito difícil. Não vamos dormir até acabar com eles".

Stédile afirmou que as suas declarações sempre foram maldosamente manipuladas pela "imprensa burguesa". As "publicações direitistas", afirmou, dizem que o MST é revolucionário, radical e que só quer a violência.

O líder do MST explicou que no ano passado fez uma exposição sobre a concentração da terra no Brasil em que demonstrou que há 10 milhões de pequenos proprietários no Brasil e que 23 mil fazendeiros têm mais de 120 milhões de hectares. A palavra "acabar" ou "eliminar", afirmou, se referia à desigualdade exagerada que faz com que milhões de brasileiros não tenham cidadania.

- Por sorte temos a Constituição que diz que o latifúndio tem que ser exterminado. Não sou eu quem diz isso. Esse era o sentido da palavra eliminar. Isso foi distorcido como se eu tivesse declarado uma guerra mundial - disse Stédile.

Ele também comentou as declarações feitas este ano, em uma reunião em Campo Grande (MS) para preparar a mobilização da Coordenação dos Movimentos Sociais para a passagem do Dia do Trabalho (1º de maio).

- "Vamos infernizar", foi uma frase infeliz. O objetivo era pressionar, azucrinar. Ibéricos, somos generosos no uso do idioma e as palavras às vezes têm conotações exageradas. O "abril vermelho" quer dizer que vamos ter que recuperar nossas bandeiras vermelhas e construir um grande mobilização contra o desemprego - afirmou.

Favorável ao Estatuto do Desarmamento, Stédile informou que o MST orienta os militantes a não andarem armados.

- Nossa força não está na armas, está na luta política - disse.



01/04/2004

Agência Senado


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