CPI deve chamar o empresário Murilo Mendes para explicar "propinoduto" denunciado por ex-funcionário



Para revelar quem foram os beneficiários do esquema de propinas pagas pela construtora Mendes Júnior em obras superfaturadas, como a da avenida Águas Espraiadas em São Paulo, o ex-coordenador administrativo-financeiro da empreiteira, Simeão Damasceno de Oliveira, disse nesta quarta-feira (20) que a CPI do Banestado deve chamar os dirigentes da empresa. Ao final do seu depoimento, Damasceno confirmou ao presidente da CPI, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), a importância de os parlamentares ouvirem o empresário Murilo Mendes e aceitou passar por uma acareação com ele.

O ex-coordenador listou, além de Murilo Mendes, os funcionários Ângelo de Lima Cotta e Sidnei Silveira Lobo, e um ex-superintendente da empresa, Jefferson Eustáquio. O quinto nome relacionado por Damasceno foi o de Marcos Mendes, já falecido. Ele afirmou à deputada Iriny Lopes (PT-ES) que os diretores da Mendes Júnior tinham relação direta com os políticos. Quem falava com o ex-prefeito Paulo Maluf, segundo o depoente, era Eustáquio e Lobo.

Em resposta ao deputado Edson Andrino (PMDB-SC), Simeão Damasceno, considerado como a principal testemunha ouvida pelo Ministério Público paulista no inquérito que investiga o superfaturamento de obras públicas e o envolvimento de Maluf e do também ex-prefeito Celso Pitta no recebimento de propinas, disse que ele era um mero executor de ordens dentro da empresa. E voltou a explicar que os pagamentos não eram identificados nominalmente e sim por códigos numéricos.

No depoimento, Damasceno afirmou que a maior contribuição que poderia dar à CPI do Banestado era explicar como funcionava o -propinoduto- montado pela empreiteira e confirmar alguns documentos que comprovam a origem ilícita do dinheiro proveniente do caixa dois da empresa, a exemplo do que fez no Ministério Público paulista. Mas que não poderia afirmar se Maluf realmente recebeu o dinheiro, principal ponto de sua retratação registrada em cartório após depoimento aos procuradores paulistas em que citou o nome do ex-prefeito paulista.

Cheques

O ex-coordenador da Mendes Júnior reconheceu os três cheques com sua assinatura apresentados pelo relator, deputado José Mentor (PT-SP). Os cheques, segundo ele, faziam parte do esquema de superfaturamento que envolvia notas frias de subcontratadas para prestação de serviços não executados ou de empresas que aceitavam vender notas fiscais. Dos três cheques encaminhados à CPI, o de maior valor é o endereçado à empresa Planicampo, no valor de R$ 3,94 milhões.

O depoente foi muito criticado por vários parlamentares por levantar suspeitas com base em -fofocas- de funcionários da empresa. Ao responder ao relator, Damasceno disse que, se fossem levados em conta os comentários internos, vários políticos poderiam ser suspeitos de recebimento de propina. Entre eles, Simeão relacionou os ex-governadores paulistas Orestes Quércia, Luis Antonio Fleury Filho, Mário Covas, Franco Montoro, o atual, Geraldo Alckmin, a ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina e a atual, Marta Suplicy, além do ex-presidente Fernando Collor de Mello. O presidente da CPI considerou -enorme injustiça- incluir Alckmin, Covas, Marta e Erundina na listagem.




20/08/2003

Agência Senado


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