'Crack' coloca em xeque a política governamental para álcool e drogas, afirma especialista
Ao avaliar a expansão do consumo de crack no país, o médico Ronaldo Ramos Laranjeira criticou o governo federal, afirmando que o Ministério da Saúde "optou por uma política que resulta em desassistência e custa milhares de vítimas". Ele também disse que é possível a cura dos viciados, mas ressaltou que o tratamento é demorado e exige toda uma rede de assistência ao paciente. Laranjeira, que é professor de psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo, fez esses comentários nesta terça, 11, durante audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS).
- O crack coloca em xeque a política governamental de álcool e drogas dos últimos 12 anos - declarou.
De acordo com um levantamento apresentado na semana passada, durante o lançamento da Frente Parlamentar de Combate ao Crack, o número de usuários no Brasil seria de aproximadamente 1,2 milhão - e a idade média para início do consumo seria de 13 anos.
Segundo Laranjeira, o Ministério da Saúde seria contra a internação dos usuários de crack e, por isso, optou por financiar somente o atendimento ambulatorial - que, nesse caso, é oferecido pelos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Ele argumenta que "o vício nessa droga é muito sério para ser resolvido apenas ambulatorialmente; o usuário muitas vezes precisa ser internado, principalmente na fase mais aguda do tratamento, e só uma clínica pode oferecer cuidados mais intensivos".
- Mas o governo não financia a internação e sua política resulta em desassistência aos usuários - afirmou, acrescentando que "o dependente não consegue, sozinho, parar de consumir".
Ao apresentar um estudo realizado no estado de São Paulo com 131 usuários de crack, Laranjeira afirmou que, após cinco anos de consumo, cerca de 25% deles haviam falecido, a maioria devido a "morte violenta" (que inclui causas como homicídio, overdose e afogamento).
- Falta uma rede de assistência para essas pessoas - reiterou.
Soluções
Como solução para o tratamento dos usuários, Laranjeira propôs não apenas a internação em clínicas, mas a aplicação combinada de diversas estratégias terapêuticas "de reconhecida evidência científica" - que incluem terapia cognitivo comportamental, terapia medicamentosa e participação em grupos de prevenção de recaída e de psicoeducação, entre outras. Ele lembrou que coordena uma clínica, financiada pelo governo de São Paulo, que implementa esse tipo de tratamento.
Além de lecionar na Universidade Federal de São Paulo, Laranjeira é membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e coordena o Instituto Nacional de Políticas Públicas do Álcool e Drogas.
Ricardo Koiti Koshimizu / Agência Senado
11/05/2010
Agência Senado
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