Política de segurança de Olívio em xeque



Política de segurança de Olívio em xeque PORTO ALEGRE. A política de segurança do Rio Grande do Sul, uma das áreas mais críticas do governo do petista Olívio Dutra e que está sendo investigada por uma CPI na Assembléia Legislativa, voltou a ficar em xeque com o assassinato do tenista Thomás Feltes Engel, de 16 anos. Ele foi morto com um tiro nas costas, disparado por um policial militar na madrugada de domingo. Hoje, o Comando-Geral e o Estado-Maior da Brigada Militar instalam-se em Novo Hamburgo, a 35 km da capital. A transferência, que incluirá também a chefia da Polícia Civil, foi provocada pela morte do tenista. A iniciativa de deslocar a cúpula da Brigada Militar faz parte da política do governo de tentar conter ações de violência provocada por policiais militares no Vale do Rio dos Sinos, onde fica São Leopoldo, cidade em que o tenista foi assassinado, e em Canoas, na Região Metropolitana, onde os índices dessas ocorrências são maiores. Em Canoas, a 10 de agosto, o microempresário Roberto Ângelo de Souza, de 29 anos, depois de bater o carro num poste, resistiu à prisão por desacato a autoridade feita por soldados da Brigada Militar. Foi colocado num carro da corporação, aparentemente sem ferimentos, e entregue 37 minutos depois num hospital da cidade com parada cardíaca, morrendo no dia seguinte. Laudo do Instituto Médico-Legal comprovou que ele sofreu lesões graves causadas por objeto contundente e que seu pescoço tinha marcas características de estrangulamento. Esse e o caso do tenista reforçam os argumentos do secretário de Segurança, José Paulo Bisol, para mudar o procedimento da Brigada Militar na abordagem de pessoas e pela humanização das forças policiais. Bisol se considera cansado, insinua que pode deixar o cargo e afirma que sua proposta de criar uma mentalidade menos militarizada nas forças policiais gaúchas foi ridicularizada no início do governo. — Fomos alvo de piadas e tivemos que recuar em alguns procedimentos. O resultado é esse, os policiais se sentiram livres para o uso da força e em alguns casos tem havido excessos, que são imediatamente coibidos. Mas depois que o mal está feito, só temos que lamentar e ficar tristes por episódios como esse do jovem tenista — disse. O corregedor-geral da Brigada Militar, coronel Ubirajara Dias, mostra os números de inquéritos policiais-militares (IPMs) em 2001: de 630, 596 (quase 90%) resultaram em indiciamento. Os números mostram que do ano passado até agosto, 13 policiais militares morreram no exercício do cargo e 27 pessoas foram mortas por policiais militares. A CPI da Segurança considera que a violência não faz vítimas só na população, mas também na polícia. Exemplo disso seriam as ocorrências que têm envolvido os efetivos da Brigada Militar. Bisol acha que a CPI tem finalidade política e afirma que o Rio Grande do Sul tem um dos mais baixos índices de criminalidade: 13 homicídios para cada cem mil habitantes. Para Bisol, a transferência do comando da Brigada Militar mostra o desejo do governo de combater a violência onde quer que ela ocorra. — Tanto quanto minhas atividades na secretaria permitirem, também vou ficar bastante tempo por lá — afirmou. Tuma e Peres pedirão processo contra Jader BRASÍLIA e BELÉM.Os senadores Jefferson Peres (PDT-AM) e Romeu Tuma, integrantes da comissão de investigação do Conselho de Ética que analisa as denúncias contra o presidente licenciado do Senado, não têm mais dúvidas: já existem elementos suficientes para a abertura de processo por quebra de decoro contra Jader Barbalho (PMDB-PA). Depois de ler as informações do secretário-geral da Mesa, Raimundo Carrero, sobre a tramitação do requerimento em que foram pedidas informações ao Banco Central (BC) sobre o caso Banpará, Peres concluiu que Jader abusou da prerrogativa do cargo de presidente ao engavetar o pedido por mais de 90 dias e ainda teria mentido aos colegas. Romeu Tuma (PFL-SP), depois de ouvir o depoimento de Nelson Ribeiro, presidente do banco na época em que Jader era governador do Pará, disse que vai sugerir a abertura de processo contra Jader por quebra de decoro parlamentar. No depoimento à comissão de investigação, na semana passada, o presidente licenciado negou que tenha pedido à Secretaria-Geral para segurar o requerimento do senador José Eduardo Dutra (PT-SE) e responsabilizou o setor pela demora no envio do documento à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ao ler a justificativa de Carrero, porém, Jefferson Peres disse ter ficado convencido que Jader foi o responsável pela demora de mais de três meses. — A responsabilidade é toda do presidente da Casa — disse Peres. Jader voltou a afirmar, através de sua assessoria, que a responsabilidade foi da secretaria da mesa. Ele mandou distribuir cópias do roteiro do processo legislativo em que é registrado que a secretaria-geral recebeu o requerimento no dia 5 de março, foi reconstituído dia 21 de junho como se tivesse sido extraviado e chegou à CCJ no dia seguinte. — Esse documento não prova nada —anunciou Jefferson Peres. O documento de Carrero foi entregue ao presidente interino da Casa, Edison Lobão (PFL-MA), ontem à tarde, após ter sido retocado pelo secretário-geral a pedido do próprio Lobão, que teria ficado insatisfeito com a primeira versão. O presidente interino mostrou o documento a Jefferson Peres, mas não o entregou. Romeu Tuma comentou com os demais integrantes da comissão de investigação que o depoimento do ex-gerente do Banpará Marcílio Guerreiro foi muito importante para que os senadores do Conselho de Ética entendam como ocorreram os desvios de recursos do Banpará. Guerreiro afirmou a Tuma que foi ele quem preencheu cinco cheques administrativos do Banpará, que foram aplicados na agência Jardim Botânico do Banco Itaú no Rio e teriam beneficiado Jader. O ex-gerente disse ainda que recebia ordens do chefe do departamento financeiro do banco, Jamil Xaud, que lhe entregava comunicações internas autorizando essa emissão. Guerreiro entregou cópias dos cheques a Tuma. Guerreiro destacou que nunca houve uma inspeção do BC em sua agência, e queixou-se de que foi perseguido por dirigentes do banco, que o demitiram por abandono de emprego quando ele estava de férias. Jamil Xaud não compareceu ao depoimento. O ex-presidente do Banpará Nelson Ribeiro não quis comentar o teor de seu depoimento. Romeu Tuma explicou que as operações no Banpará foram feitas sem o conhecimento de Ribeiro, mas disse que as informações dadas por ele ajudaram a esclarecer como funcionavam as aplicações com os cheques administrativos. — Ficou muito claro que havia dois tipos de aplicações. Uma delas através do Banco Itaú e outra vinculada ao Instituto Tecnológico de Brasília que beneficia claramente Hamilton Guedes — disse Tuma, se referindo ao ex-diretor administrativo do Banpará, que também foi convidado a prestar esclarecimentos, mas se negou a fazê-lo. Procuradores que investigam Maluf pedem ajuda à Suíça SÃO PAULO.O Ministério Público Federal fez ontem o primeiro contato formal com as autoridades que investigam o ex-prefeito Paulo Maluf na Suíça. Os procuradores Pedro Barbosa Pereira Neto e Denise Neves Abade enviaram um fax ao procurador suíço Jean Louis Crochet, o mesmo que atuou no caso do juiz Nicolau dos Santos Neto. Há mais de um mês as autoridades brasileiras aguardam informações das autoridades de Jersey e da Suíça. Os procuradores e promotores preferem manter o caso no âmbito do próprio Ministério Público. Eles temem que a interferência da Advocacia Geral da União, o Ministério da Justiça e o Itamaraty possam desviar as investigações para o campo político. Também ontem a CPI que investiga a dívida pública de São Paulo recebeu os primeiros documentos referentes à quebra do sigilo telefônico de Maluf. Os documentos, porém, só serão liberados após análise do juiz-corregedor do Departamento de Inquéritos Criminais, Maurício Lemos Porto Alves. No sábado, o ex-prefeito negou as existência de ligações para Jersey. Segunda-feira, disse não ter certeza. Ontem, em nota à imprensa, voltou a dizer que não foram feitas ligações para o paraíso fiscal de seus telefones. Itamar diz que Fernando Henrique pode fraudar eleição do ano que vem RIO e BRASÍLIA. O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, pré-candidato a presidente pelo PMDB, disse ontem no Rio que o presidente Fernando Henrique Cardoso é capaz de fraudar a eleição de 2002. Segundo Itamar, a interferência de Fernando Henrique na escolha do novo presidente do PMDB, marcada para domingo, é um indício do que poderá acontecer na sucessão no ano que vem. — Se hoje o presidente atua sobre um partido, o que não fará quando tiver um candidato? Ele não quer perder o poder. E quem não quer perder o poder usa todas as armas, até a arma da corrupção, da tentativa de modificar o processo eleitoral — afirmou Itamar. O Palácio do Planalto não quis comentar as declarações de Itamar. Itamar, que fez uma palestra no Clube Militar, disse que teme fraudes no sistema eletrônico de votação. Ele também criticou o PT, que, em sua opinião, ainda não compreendeu “que Fernando Henrique vai jogar pesado na eleição de 2002”. — O principal partido da oposição ainda não teve consciência de que, se ele faz isso agora com o PMDB, ele é capaz de tudo. Ele vem usando métodos pouco ortodoxos, como essa equação de liberação de verbas e de corrupção. Ele é capaz até de manipulação de urnas eletrônicas. Este governo está sob o signo da corrupção endêmica — disse. Itamar afirmou que o presidente, por intermédio de seus ministros, vem liberando verbas para peemedebistas em troca de votos para Michel Temer (SP) na convenção. Temer disputará a presidência do partido com o atual presidente interino, senador Maguito Vilela (GO). O governador disse ainda que torce para que a convenção de domingo não repita as cenas de 98, quando peemedebistas por pouco não saíram no tapa. Ele lembrou que, naquela ocasião, Fernando Henrique brindou sua derrota, mas que, logo em seguida, ele foi eleito governador de Minas. — Se perdermos, muita coisa vai mudar. Da outra vez, saímos derrotados e humilhados da convenção, mas fui eleito logo depois. Não valeu a pena? Agora será a mesma coisa — afirmou o governador, desconversando sobre uma possível mudança de partido. Mesmo reafirmando que não tem mágoas de Fernando Henrique e que combate apenas “os métodos que eles estão usando”, Itamar deu uma pista do que pretende fazer se for candidato a presidente. — Vamos comparar todos os índices sociais do meu governo com o dele — afirmou. Na palestra, Itamar aproveitou que o tema era a Cemig para criticar a política de energia do governo. Ele foi aplaudido ao fazer um discurso nacionalista, em defesa das estatais, contra o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e contra a permanência de estrangeiros na Amazônia e na base de Alcântara. Itamar também anunciou que, no dia 18, estará lançando ações da Cemig na Bolsa de Nova York. Mesmo ciente de que tem poucas chances de vencer a convenção, Maguito impôs uma derrota aos aliados de Temer. Até sábado, aparecerá sozinho em inserções do partido na TV, em cinco minutos diários. Os comerciais foram obtidos numa permuta com o PL, avalizada por Itamar. O PL cedeu seu tempo agora e ficará com as inserções do PMDB em outubro. Por conta disso, presidentes de 18 diretórios regionais pediram o afastamento de Maguito da presidência do partido. FH avisa que vetará proposta de ruralistas BRASÍLIA. A proposta da bancada ruralista de reduzir a área de preservação ambiental da Amazônia deverá ser aprovada hoje pela comissão mista do Congresso, composta majoritariamente por parlamentares ruralistas, mas os líderes governistas tentarão impedir que o texto seja levado ao plenário. O presidente Fernando Henrique avisou ontem, por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, que vetará o novo Código Florestal, integralmente ou em parte, se o Congresso aprovar o substitutivo do deputado ruralista Moacir Micheletto (PMDB-PR). Lamazière disse que o governo considera importante manter o projeto original porque é preciso garantir a preservação da Amazônia e a exploração racional dos seus recursos. Disse ainda que, para o governo, não há necessidade de se ampliar as áreas de desmatamento, como propõe Micheletto. O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, criticou a proposta dos ruralistas: — O projeto do Micheletto não é apenas ruim, é péssimo. Derruba toda idéia de desenvolvimento sustentado. A ofensiva do Planalto, que inviabilizou a votação da proposta ontem na comissão mista, provocou reação da bancada ruralista. O deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) anunciou que, a partir de agora, a bancada ruralista não votará projetos de interesse do governo. — Vamos jogar pesado. Agora, o céu é o limite — disse. Diante dos ataques do governo e de um pedido de vista do deputado Fernando Gabeira (PT-RJ), o presidente da comissão, senador Jonas Pinheiro (PMDB-MT), adiou para hoje à tarde a votação do texto. Ao fim da sessão, Sarney Filho e o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM), se reuniram com os líderes ruralistas. Ficou acertado que o parecer será aprovado hoje pela comissão, mas não terá o apoio do governo e não será levado ao plenário imediatamente. A partir daí, governo e ruralistas negociarão alterações no texto. Integrantes da campanha SOS Florestas fizeram ontem de manhã um protesto em frente ao Congresso contra o parecer de Micheletto. Vestidos com ternos e chapéus de palha, como se fossem parlamentares ruralistas, os manifestantes fizeram um banquete com um bolo, cortado com uma motosserra com o formato do mapa da Amazônia Legal. Serra reage a Ciro chamando-o de desocupado e comparando-o a Collor BRASÍLIA. O ministro da Saúde, José Serra (PSDB), chamou ontem de desocupado o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, e o comparou ao ex-presidente Fernando Collor. O ataque foi uma resposta à acusação de Ciro de que o ministro estaria usando dinheiro público para promover sua pré-candidatura à Presidência. Irritado com o ex-ministro, Serra determinou que sua assessoria distribuísse nota afirmando que “os números nunca foram o forte de Ciro”. “O que Ciro Gomes deseja é que eu pare de trabalhar como ministro da Saúde e fique como ele, há seis anos e meio sem fazer nada, desocupado, proferindo insultos e promovendo confusões. Tenho mais o que fazer. Toda vez que Ciro fala, me lembro de Collor e de um ditado: ‘Cabeça vazia é morada do diabo’”, disse Serra na nota. Serra contesta ainda a afirmação de Ciro de que a verba publicitária do Ministério da Saúde para este semestre é de R$ 90 milhões: segundo a nota, a verba para este ano é de R$ 63,6 milhões, dos quais R$ 45,5 milhões já foram gastos. A nota diz ainda que os anúncios pagos com o dinheiro se referem à prestação de serviços do ministério e cita como exemplo as campanhas contra a dengue, a febre amarela, pela detecção precoce da diabetes, de estímulo ao aleitamento materno, dos genéricos, contra o tabaco e de vacinação contra a paralisia infantil. Serra contestou as críticas de Ciro ao presidente Fernando Henrique e disse que os ataques ao governo federal fazem parte de uma estratégia de marketing eleitoral do candidato do PPS. “Ele (Ciro) pretende fazer com Fernando Henrique o que Collor, candidato, fazia com Sarney. Até nisso Ciro se parece com Collor”, disse o ministro na nota. Serra não desmentiu ser candidato à Presidência e afirmou que suas viagens pelo país são necessárias para o desempenho de suas funções como ministro. Disse ainda que Ciro nunca trabalhou. Artigos O código e a mulher LÍGIA DOUTEL DE ANDRADE O jurista Clóvis Bevilacqua, na defesa de seu projeto de Código Civil, já discursava sobre a libertação da mulher de inferioridade que não se coadunava com a “concepção atual da vida”. Mas o Código Civil de 1917 acabou em conformidade com a tendência conservadora da época, consagrando a superioridade do homem no comando da família, enquanto a mulher casada era marcada pela incapacidade jurídica relativa, no que era equiparada a índios, pródigos e menores de idade. Havia ainda forte influência do Código de Napoleão, atrelado ao Direito Romano e à concepção patriarcal de família. Em 1949, a advogada e feminista Romy Medeiros da Fonseca liderou a luta pela criação do Estatuto Civil da Mulher Casada — proposta avançada para a época — quando a mulher ocupava 14,6% da força de trabalho. O Estatuto só foi promulgado em 1962. Entre outros esforços pela modernização das nossas leis, há os trabalhos do parlamentar Nelson Carneiro, que dedicou a vida pública à modernização do direito de família. Em 1980, mulheres ligadas aos movimentos feministas receberam a missão de fazer um levantamento dos artigos do Código Civil que faziam da mulher cidadã de segunda classe. Coube a especialistas elaborar um anteprojeto de lei. Era o novo Estatuto Civil da Mulher, que teve seus principais pontos incluídos no atual projeto do Código Civil. Algumas dessas propostas já estavam no projeto de Romy Medeiros. Não era mais possível aceitar em nossa legislação a imagem patriarcal da família, num país em que as mulheres constituem a maioria da população, a metade do eleitorado, a maior parte das matrículas escolares, do primário à universidade, ocupam 40% do mercado de trabalho, inclusive nas atividades econômicas que exigem maior escolaridade. A Constituição de 1988 foi elaborada com a participação do movimento de mulheres e nela a bancada feminina no Congresso introduziu “o princípio democrático da família” (igualdade de direitos e de deveres entre homens e mulheres, o princípio da igualdade dos filhos, independentemente de sua origem). Ao adequar a lei civil à Constituição, o código moderniza regras envelhecidas. Desaparece o crime de adultério, surge o conceito de “poder familiar”. Fica reconhecida como família a casa comandada por mães solteiras, viúvas e separadas. O texto elimina anacronismos, como a questão da virgindade, cuja perda possibilitava a anulação do casamento, regula a união estável como entidade familiar e prevê o direito de ex-cônjuges e ex-companheiros, em estado de necessidade, receberem ajuda para sua subsistência, aplicando dessa forma o espírito do direito social às relações civis. Reconhece a igualdade de gênero no artigo 1, quando não diz “todo homem”, e sim “todo ser humano é capaz de direitos e obrigações”. Apesar dessa sintonia com mudanças de comportamento e costumes, o projeto tem sido criticado por juristas, não sem razão. Embora reconheçamos seus méritos, as inovações introduzidas no direito de família estão aquém da realidade social do país e da cultura jurídica que sofre no momento a ação do tempo e dos fatos da sociedade em mutação. O novo código perde a oportunidade de regulamentar inovações científicas trazidas com as técnicas de reprodução assistida e engenharia genética, desconhecendo, como diz a jurista Flora Verucci, a Declaração Universal do Genoma, da Unesco. O projeto retrocede no tempo, no artigo 1.520, que permite o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil, para evitar a imposição de cumprimento da pena criminal. Para nós, feministas, a interpretação de tal artigo pode levar à extinção da punibilidade prevista no Código Penal para os casos em que a vítima de delitos sexuais se casa com o agressor, “preservando a honra” com o casamento (o casamento tem aí caráter reparador da violência cometida). O conteúdo do texto reclama discussão e reflexão. Muitos setores da sociedade, sobretudo as mulheres, devem encontrar na legislação apoio para situações com as quais se deparam cotidianamente, de modo a propiciar, especialmente às mais pobres, o efetivo exercício dos direitos da cidadania. Colunistas PANORAMA POLÍTICO – TEREZA CRUVINEL Limão ou limonada Nunca se viu CPI a favor do governo, é sempre contra e dá prejuízo. O governo recebe com estranho otimismo a CPI do Proer, prometendo usá-la para provar que o programa de socorro aos bancos foi correto e era necessário. Mas tanto sabe estar lidando com uma variável incontrolável que o PSDB indicou para relator um deputado de sua total confiança como Alberto Goldman (SP). Essa CPI, requerida em 1996 pelo deputado Milton Temer (PT) e outros parlamentares da oposição, foi objeto de longa e paciente briga de gato e rato entre os dois lados. Aprovada como CPI mista, o governo abortou-a, conseguindo o recuo de alguns senadores. Tentada só na Câmara, o governo fez o mesmo. Até que um dia Temer conseguiu novamente o número de assinaturas e protocolou o requerimento em silêncio. Os governistas foram surpreendidos por sua publicação no dia seguinte. Aprovada, a CPI entrou na fila de instalação e agora tem seu momento, com seis anos de atraso mas na reta da eleição. — Não temos nada a temer. Com essa CPI vamos provar ao país que sem o Proer o Brasil não teria superado com êxito as crises externas que enfrentou em 1997 e 1998 — diz o líder tucano Jutahy Júnior. Temer, pai da criança, discorda, naturalmente. — Eles se enganam se pensam em nos usar para legitimar o Proer — diz ele, dando algumas das razões. De fato, só a lembrança de que o governo evitou por tanto tempo essa CPI já lhe é desfavorável. Depois, ao longo destes anos a oposição moveu muitas ações que resultaram em processos e investigações. Embora atravancados na Justiça, agora serão pólvora na CPI. Há inclusive denúncias de “apropriação indébita” contra o ministro Malan e o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. Os procuradores responsáveis serão os primeiros a serem ouvidos. Barulho à vista. Depois virão as convocações de Malan e outras autoridades. Eles já falaram sobre o Proer no Congresso, mas nunca em CPI, sob juramento constitucional. Não poderão, como em 1996, deixar de explicar por que em bancos que movimentavam em torno de R$ 2,6 bilhões em contas correntes foram aplicados até R$ 7 bilhões para “garantir os correntistas”. E na época um real valia um dólar. Loyola, por exemplo, será chamado a confirmar, ou não, declaração sua na época de que o presidente sabia das irregularidades no Nacional. Outra novela, a não-liquidação do Banco Econômico depois da marcha de ACM e seus baianos até o Planalto. Como as demais, a CPI do Proer terá prazo de 120 dias, prorrogáveis por mais 120, para concluir seus trabalhos. É grande o risco de estar funcionando no início do ano eleitoral. Pela delicadeza dos assuntos, dá para ver que não será fácil a tarefa de Goldman, de fazer limonada do limão.Ciro ao largo de Fleury A entrevista de Ciro Gomes publicada ontem pelo GLOBO, em que distribui pancadas a torto e a direito, deixou indignado o líder tucano Jutahy Júnior. — Ele tem uma ética seletiva. Bateu em todo mundo, até em Caetano Veloso, mas passou ao largo do deputado Luiz Antônio Fleury, que num gesto imoral de autodefesa apoderou-se da CPI do Banespa, banco que controlava como governador até o momento da intervenção, motivada pelo rombo existente. Fleury é do PTB, que apóia a candidatura de Ciro Gomes. Na época da intervenção — apagar das luzes do governo Itamar — Ciro era ministro da Fazenda. Jutahy tem uma coleção de declarações dadas pelo então governador Fleury, acusando Ciro de participar de um complô contra o Banespa para atingir sua administração. Ciro rebateu, chamando-o de aborto da natureza e dono do rombo. Frustradas as tentativas de embargo de Jutahy e dos tucanos, Fleury foi eleito ontem para a presidência da CPI, renunciando ao próprio sigilo bancário. — Ele seqüestrou a CPI, com ajuda dos quercistas e da oposição, que só pensa em atingir o Banco Central e o governo — diz Jutahy. Que é esquisito, é.Nome na praça Depois do flerte com Lula, que chegou a pensar nele como vice, o senador José Alencar (MG) voltou a ser bom filho do PMDB, apoiando a candidatura de Michel Temer a presidente do partido. Favorável à candidatura presidencial própria do partido, Alencar recusa-se a prometer apoio a Itamar Franco ou Pedro Simon nas prometidas prévias de janeiro. — Pode ser que eu também apresente meu nome como opção.Dinheiro de volta Muita gente foi multada no ano passado por não ter no carro o kit de primeiros socorros, exigência que acabou revogada. A Comissão de Finanças da Câmara aprovou projeto do deputado João Eduardo Dado (PMDB-SP) anistiando as multas e determinando a devolução dos valores pagos. O plenário precisa concluir o trabalho, se possível adotando a tabela com que a Receita Federal corrige as cotas de Imposto de Renda em atraso.ROMARIA ontem em Salvador ao apartamento de ACM, que fazia aniversário. O PL ofereceu-lhe a sigla e o apoio ao candidato presidencial que indicar. Mas ACM não pensa em sair do PFL. Avisa aos adversários que voltará senador pelo partido. Editorial Equívoco O presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, criticou energicamente os participantes da Conferência Mundial contra o Racismo que tentaram tratar a questão, que diz respeito a milhões de pessoas por todo o planeta, “como se fosse restrita ao Oriente Médio”. É um erro, disse ele, e tinha toda a razão. Mas é mais do que um erro. A ênfase nessa visão, e mais especificamente no fogo cerrado contra Israel — um equívoco de todos os pontos de vista, sem entrar no mérito das acusações — acabou tendo como maior vítima a própria conferência, que sofreu um grande e irreparável esvaziamento com a retirada dos Estados Unidos, além do próprio Israel. Um desfecho que é particularmente lamentável porque, apesar da repercussão de propostas surpreendentes como a concessão de indenização pelo tráfico de escravos, constam da agenda do encontro temas da maior relevância, como o estabelecimento de normas internacionais para o combate à discriminação racial e a garantia dos direitos das minorias. O objetivo expresso da conferência — livrar o mundo do racismo, da discriminação racial, da xenofobia e da intolerância — é tão ambicioso que evidentemente ela não poderia representar mais do que um pequeno passo nesse sentido. Agora, mesmo esse passo tornou-se praticamente inviável, graças à miopia dos que preferiram usar o encontro como um palanque para os ataques a Israel. Topo da página

09/05/2001


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