Crescimento de Garotinho acirra disputa
Crescimento de Garotinho acirra disputa
Mais difícil Lula vencer no 1°- turno. Faltam 12 dias. Serão 288 horas de fortes emoções na eleição presidencial mais disputada das últimas cinco décadas.
Os resultados da última pesquisa do Ibope, divulgada ontem, indicam ser muito difícil uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, ainda no primeiro turno eleitoral, com mais da metade dos votos válidos. Lula continua isolado na liderança, com 41% da preferência, quatro pontos abaixo da soma dos adversários.
Mas em política tudo é possível. E a melhor evidência está na ascensão ao segundo lugar de Anthony Garotinho, do PSB, agora virtualmente empatado com José Serra, do PSDB.
Depois de amargar um quarto lugar na disputa sucessória durante 110 dias, Garotinho voltou a crescer. Está com 15% das intenções de voto, três pontos abaixo do candidato do governo.
Como a margem de erro da pesquisa é de 1,8%, configura-se um empate na vice-liderança. Significa que a disputa por uma vaga no segundo turno, em possível confronto com Lula, tende a ser ainda mais acirrada.
Para Serra, os problemas se multiplicaram. Ele se tornou o alvo preferencial de Lula, Garotinho e Ciro Gomes, do PPS. Em quarto lugar, Ciro Gomes registra seu pior desempenho dos últimos 80 dias. Reduziu-se a 12% da preferência, menos que a parcela de eleitores (14%) indecisos, dispostos a anular ou a votar em branco
Especulação faz o dólar aumentar mais 5,73%
Boatos sobre novas pesquisas eleitorais fizeram o dólar comercial registrar ontem um novo recorde de alta. A moeda americana subiu 5,73%, a maior oscilação em um único dia, e ficou em R$ 3,78. O Banco Central (BC) fez várias intervenções no mercado de câmbio e pode ter vendido cerca de US$ 500 milhões, segundo operadores, mas não teve sucesso em evitar a alta.
Durante o dia, o dólar chegou a R$ 3,82. Os diretores de tesouraria de grandes bancos são unânimes em afirmar que as pesquisas podem perder a influência sobre o mercado de agora em diante. "A menos que haja uma reversão dos números, as pesquisas não trazem mais nada de novo", disse o diretor de um banco estrangeiro.
O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que nada justifica a especulação com o dólar. "A especulação não tem nada a ver com a economia real e com as contas do governo e sim com fatores internos e externos."
No mercado internacional, o risco Brasil, medido pelo índice Embi do JP Morgan, subiu 0,91% e ficou em 2.206 pontos básicos. O C-Bond fechou com alta moderada de 0,98% e foi negociado a US$ 0,513.
Publicidade mantém investimento este ano
Apesar da conjuntura desfavorável, publicitários e anunciantes apostam na manutenção dos mesmos níveis de investimentos neste ano, em comparação aos realizados em 2001. "Empresas mais sensíveis à variação cambial, como as indústrias de eletroeletrônicos, reduziram os investimentos. Já setores como o de telefonia, o varejista e imobiliário continuaram anunciando", diz o presidente do Grupo Total, Eduardo Fischer. No ano passado, os investimentos em publicidade somaram US$ 12,8 bilhões, segundo Meio & Mensagem.
Garoto atrás de novos mercados
Reação à queda na América Latina. A Chocolates Garoto, comprada pela Nestlé em março, busca novos mercados para seus produtos, depois que as vendas para a América Latina, o seu principal mercado, caíram 45% neste ano. A empresa já contratou exportações neste ano para as Filipinas, a Itália, Angola, Cabo Verde e Taiwan.
A empresa quer que as exportações passem de uma participação de 12% para 15% da receita. Segundo o diretor geral da Garoto, Léo Leiman, o objetivo é expandir os negócios para mercados considerados menos vulneráveis, como a Coréia, o Oriente Médio e o Japão.A Garoto se ressente principalmente com a recessão argentina. As vendas para aquele país, destino de 10% das exportações da empresa, caíram neste ano 50% em relação a 2001. Uruguai, Paraguai e Venezuela também diminuíram seus pedidos à companhia.
Mesmo com as turbulências da economia, os planos da Garoto para este ano são de ampliar a produção em 5%. Num prazo de até cinco anos, a nova direção pretende fazer com que a empresa retome sua participação no mercado brasileiro, que já foi próxima de 30% e hoje está em 22%.
Globo anuncia reestruturação
Philippe Reichstul muda de função. Em notas à imprensa, as Organizações Globo anunciaram ontem à noite mudanças na gestão do grupo. Haverá, de acordo com o primeiro comunicado, simplificação e redução da estrutura corporativa "de modo a adequá-la à nova realidade do mercado". Várias funções, antes desenvolvidas pela Globopar, serão desempenhadas pela TV Globo Ltda. A Globopar se ocupará apenas da gestão financeira do grupo. "A efetivação da Globo S.A. está postergada " e o atual diretor financeiro, Ronnie Moreira, assume como presidente da Globopar. Philippe Reichstul continuará nas Organizações Globo como membro do conselho de administração. Roberto Irineu Marinho acumulará a presidência do conselho com a presidência executiva do grupo."
Em outra nota, a família Marinho comunica o afastamento "por alguns meses", para tratamento de saúde, da diretora geral da TV Globo, Marluce Dias da Silva. "Todos os cargos, ocupantes e processos de tomada de decisão e ação permanecerão inalterados. O comitê operacional permanece sob a coordenação de Octávio Florisbal e com a mesma composição atual continuará a ser a principal instância de decisão na TV."
Linhas comerciais encolhem e ficam ainda mais caras
Leilões do BC somam US$ 887 milhões em um mês. As linhas externas de financiamento ao comércio exterior voltaram a escassear nos bancos. A instabilidade do mercado financeiro e a proximidade das eleições presidenciais tornaram a renovação do crédito mais cara e difícil. A escassez de financiamento só não tem conseqüências mais perversas porque o Banco Central (BC) faz leilões periódicos para a venda de dólares destinados ao comércio exterior. E a demanda das empresas está menor. Com a alta de 63,21% do dólar neste ano, muitas companhias preferem fechar o câmbio no momento do embarque e fugir dos financiamentos.
O presidente do britânico Lloyds TSB no Brasil, Roberto Paschoali, disse que a oferta de linhas chegou a melhorar com as gestões feitas pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan, e do presidente do Banco Central (BC), Armínio Fraga, com os bancos internacionais, há duas semanas. Mas após o resultado das últimas pesquisas de intenção de voto favoráveis ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ficou difícil renovar ou captar esse tipo de linha no exterior.
"As linhas comerciais voltaram para poucos bancos, em volume pequeno e para negócios pontuais", disse o diretor da área de negócios internacionais do HSBC, Antonio Assis. Segundo Assis, o HSBC só tem conseguido renovar 10% das linhas externas. O volume de recursos destinados ao comércio exterior caiu de US$ 1,1 bilhão, no início do ano, para US$ 400 milhões.
De acordo com dados do BC, em janeiro o volume total de linhas de comércio internacional oferecido ao Brasil chegava a US$ 13,7 bilhões. Em agosto, o volume havia caído para menos de US$ 12 bilhões. A estratégia do BC é colocar no mercado mais US$ 2 bilhões. Desde 23 de agosto, já foram leiloados US$ 887,25 milhões.
O Unibanco recorre aos leilões de dólares do BC. O banco tomou entre 13% e 14% do total leiloado, segundo o diretor de câmbio e agribusiness, Angelo Vasconcellos. "Apesar do cenário ruim, o banco tem conseguido repassar os recursos e renovar as linhas internacionais."
Colunistas
Desequilíbrio em países ricos
Maria Clara R.M. do Prado
Um ajuste de mais de 3,5% do PIB. É esse o tamanho do esforço que os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e o Japão terão de fazer em suas balanças comerciais de bens, em conjunto com as balanças de serviços não-fatores (que excluem os pagamentos de juros e as remessas de lucros e dividendos, contabilizando outros serviços como frete, seguros e pagamentos de royalties), para reequilibrar a razão entre os investimentos estrangeiros líquidos e os respectivos PIBs.
O largo ajustamento externo estimado para aqueles países industrializados toma por base um estudo que procura relacionar a posição dos ativos internacionais de um amplo espectro de países, caso a caso, com a dívida do governo, o PIB per capita e as tendências demográficas.
Ele dá idéia do esforço necessário para estabilizar no mesmo nível a razão entre os ativos estrangeiros líquidos e o PIB. Supondo que a dinâmica dos investimentos estrangeiros não deverá manter a atual trajetória a médio prazo, impõe-se uma adequação da balança comercial e de serviços não-fatores à realidade de desativação das economias, de modo geral.
Isso não toma, no entanto, a mesma direção em todos os países industrializados.
No caso dos Estados Unidos, dado o enorme déficit na balança comercial e de serviços não-fatores, o esforço teria de vir sob a forma de redução daquele déficit, o que implica menor taxa de consumo, a menos que os níveis de produtividade voltem a crescer. Mais precisamente, neste caso, projeta-se um ajuste de 4% do PIB na balança comercial dos Estados Unidos.
Já no caso do Japão, que tem acusado superávits na balança comercial e de serviços não-fatores, o ajuste demandaria uma redução daquele superávit equivalente a 3,6% do PIB. O pressuposto aqui é o aumento do consumo interno.
Na verdade, os dois países encontram-se em extremos opostos. O Japão tem aumentado ao longo dos últimos anos as aplicações em ativos externos, enquanto os Estados Unidos têm ampliado o seu passivo externo. É a contraface dos investimentos que o Japão tem feito no exterior, cuja boa parte vai para os próprios Estados Unidos, e que internamente toma a forma de crescentes superávits na balança comercial.
Os dólares recebidos com a venda de produtos japoneses no exterior - a maioria é exportada, de novo, para Estados Unidos - foram, nos últimos anos, absorvidos pelos títulos e ações de empresas norte-americanas. É a dinâmica que movimenta o comércio e o investimento no mercado internacional.
A zona da Europa, que na tabela aparece como a média ponderada da Bélgica, França, Alemanha, Itália, Holanda e Espanha, também tem superávit comercial, mas deveria receber o equivalente a 1,4% do PIB de investimento estrangeiro para manter estabilizada a relação com o PIB. O ajuste requerido aqui é muito pequeno: de redução do superávit equivalente a 0,2% do PIB.
Os cálculos constam do texto "How Worrisome are External Imbalances" ("Quão Preocupantes são os Desequilíbrios Externos"), publicado na última edição do World Economic Outlook, a publicação semestral do FMI que está sendo distribuída em Washington. Tomam por base o trabalho de Philip Lane e Gian Maria Milesi-Ferretti, de 2001, "Long-Term Capital Movements" ("Movimentos de Longo Prazo do Capital").
O texto do FMI chega à conclusão de que desequilíbrios na conta corrente são importantes em face da integração limitada do mercado de bens entre os países, mesmo os industrializados; também são relevantes porque o crescimento dos desequilíbrios nos últimos anos reflete a combinação do dinamismo dos países em déficit com os excessos financeiros vinculados à revolução tecnológica e, por fim, porque, com base no que dizem os livros acadêmicos, não parece viável a sustentação dos atuais desequilíbrios externos a médio prazo.
Editorial
PAPEL DA CÂMARA DE COMÉRCIO NA GERAÇÃO DE EMPREGOS
Há um consenso de que, para promover o crescimento e aumentar a oferta de empregos, o Brasil, como outros países em desenvolvimento, precisa exportar mais, ampliando as oportunidades para a agropecuária, para a indústria e para os setores de mineração e serviços. Isso deve fazer parte de uma política de governo, mas, é claro, a responsabilidade básica é da iniciativa privada, que investe, faz negócios, inova e cria empregos.
As câmaras de comércio de diversos países instaladas no Brasil podem e devem dar a sua contribuição para a geração e manutenção dos empregos. Isso pode ser feito, em primeiro lugar, por meio da ativação do comércio exterior, que é a razão de ser das câmaras de comércio. Exportando mais, o Brasil terá condições de importar mais, alargando a sua inserção na economia internacional.
As câmaras de comércio podem ser agentes de promoção de exportação, à medida que contribuam para a formação de joint ventures e parcerias estratégicas entre empresas brasileiras e estrangeiras na área de sua influência. Nesse sentido deve ser a atuação das câmaras de comércio Brasil-Índia, Brasil-Rússia e Brasil-China. E a câmara Brasil-Portugal pode abrir as portas da Europa para os produtos brasileiros. Devem também desempenhar um papel duplo, abrindo o imenso mercado brasileiro para o consumo, com uma política de buscar inserções regionais.
Muitas câmaras de comércio já fazem isso, mas podem fazer muito mais. O Japão, por exemplo, tem um programa para estimular as empresas brasileiras a exportar para o seu mercado por meio da Japan External Trade Organization (Jetro). Mas o papel das câmaras de comércio na exportação não depende apenas de iniciativas de companhias ou empresários estrangeiros. Depende muito de empresários e empresas brasileiras que participam das câmaras.
Essas organizações podem prestar outros serviços na área de emprego, como a Câmara Americana de Comércio (Amcham) faz, mantendo um cadastro on-line de candidatos a postos de trabalho e servindo, assim, de intermediária entre eles e as cerca de 5.200 empresas (70% são brasileiras, 20% americanas e 10% de outras nacionalidades) a ela filiadas. Além disso, em 1954 ajudou a fundar em São Paulo a Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas e desde 1965 durante 15 anos ministrou a universitários seminários sobre métodos gerenciais. Em 1978 criou o Amcham International Fellowship Program, que dá bolsas de estudos integrais de mestrado para executivos. A Amcham tem unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.
Outro exemplo é a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, que mantém um departamento de formação profissional com cursos profissionalizantes nas áreas administrativa comercial e técnica industrial. Também desenvolve projetos de formação profissional em cooperação com instituições públicas.
Até aqui as câmaras de comércio funcionaram com características individuais, voltada cada uma para o seu público. Esse comportamento reduzia sua capacidade de empreendimento a suas filiadas ou à comunidade em que estão instaladas, em lugar de maximizar sua atuação com um trabalho conjunto, com esforços comuns.
Essa situação está mudando. Várias entidades, em uma decisão inédita no mundo, passaram a atuar unidas no Comitê Inter-Câmaras de Comércio de Carbono. Participaram do lançamento do comitê as câmaras Brasil-Alemanha, Amcham, França-Brasil, Britânica de Comércio, Áustria-Brasil, Suíço-Brasileira e Japonesa.
O objetivo é auxiliar entidades públicas e privadas na implantação de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM, sigla em inglês). Além de desenvolver a troca de informações sobre o processo, com reuniões para conhecer projetos já em execução, e gerar a divulgação de dados para o público externo. "Primeiro vamos falar com o setor empresarial, mas depois va mos abrir para a população e organizações não-governamentais (ONGs)", disse o presidente da Amcham, Álvaro de Souza. Ele destacou a independência da entidade, uma vez que o governo dos Estados Unidos se recusou assinar o Protocolo de Quioto, que prevê a redução da emissão de carbono a 5,2% em relação ao emitido em 1990.
Essa união entre as câmaras de comércio deveria também ser posta a serviço de um programa de geração de empregos que apoiasse principalmente a pequena e média empresa, com iniciativas capazes de impedir a morte precoce das firmas. Para isso poderiam incentivar a criação de consórcios de exportação, como faz a Câmara de Comércio Ítalo-Brasileira.
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09/25/2002
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