CRISTOVAM BUARQUE: ACM COLOCOU POBREZA NA AGENDA NACIONAL E ISSO É POSITIVO



Em entrevista ao programa Agenda Econômica, da TV Senado, nesta sexta-feira (dia 30), Cristovam Buarque, disse considerar "muito positivo que o senador Antonio Carlos Magalhães tenha trazido o problema da pobreza para a agenda nacional". Para o ex-governador do Distrito Federal e atual presidente da organização não-governamental Missão Criança, o que importa é sair da lógica econômica e inverter a hierarquia das dívidas a serem pagas pelo país, priorizando a dívida social em detrimento da dívida com os bancos nacionais e internacionais. Em princípio, afirmou, não é preciso aumentar impostos para começar a erradicar a pobreza já.A entrevista, concentrada no tema "Erradicação da Pobreza", foi concedida aos jornalistas Helival Rios e Ribamar Fonseca e gravada na manhã desta sexta-feira, para ser transmitida pela TV Senado às 19h30 de sexta, com reapresentação no domingo, no mesmo horário. Cristovam Buarque disse que, quando um adversário político defende uma proposta como a de erradicar a pobreza no país, é preciso "louvá-lo, parabenizá-lo, conversar com ele". Depois, acrescentou, "pode-se até vir a descobrir que ele estava fazendo marketing, mas dizer isso, hoje, é falta de sensibilidade".Na opinião do ex-governador do DF, a lógica econômica, no mundo inteiro, só fez aumentar a riqueza de poucos e a pobreza de muitos. Invertê-la, conforme disse, implica dar prioridade, em primeiro lugar, a boas escolas, saneamento básico, transporte urbano e moradia. No entendimento de Cristovam Buarque isso não implica deixar de pagar as dívidas externa e interna, "pois dívida é sagrada, mas vamos pagar primeiro a dívida com as crianças, negros, pobres e doentes". Para exemplificar essa inversão de lógica, ele referiu-se a um pai de família comum, que antes de tudo destina parte de seu salário à garantia das necessidades básicas de seus filhos para, se sobrar, pagar a prestação de um carro, e não o inverso.Cristovam Buarque contabilizou que para garantir 11 anos de escola a dez milhões de crianças brasileiras, hoje, são necessários R$ 2,4 bilhões. Para tanto, sugeriu, basta distribuir os R$ 30 bilhões de superávit primário federal estimado para 1999 (receitas menos despesas governamentais, excetuado o pagamento da dívida) da seguinte forma: "R$ 27,6 bilhões para os bancos e R$ 2,4 bilhões para as crianças".A erradicação da pobreza, segundo o ex-governador, não é uma questão regional, mas problema social nacional. Se atacado de frente, beneficiará regiões mais pobres, um efeito que não será alcançado com a instalação de uma montadora como a Ford na Bahia, por exemplo, disse ele.- A Ford não tem nada a ver com a erradicação da pobreza, não vai resolver nada da pobreza da Bahia - insistiu, manifestando sua posição favorável à redução do ICMS para a instalação da montadora, mas contrária à concessão de financiamento do BNDES. A seu ver, a Bahia deveria fazer investimentos em tecnologia de ponta e não em indústria automobilística, que "é coisa velha, teve impacto positivo de modernidade há cem anos".

30/07/1999

Agência Senado


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