Cristovam Buarque diz que o Brasil precisa mudar sua auto-imagem



Ao discursar nesta segunda-feira (30), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) chamou a atenção para a importância de o Brasil mudar sua auto-imagem. Essa mudança de atitude, frisou o senador, depende de diversos fatores, como o respeito à natureza. Para ele, o único presidente que conseguiu uma transformação dessas foi Juscelino Kubitschek.

- O primeiro papel de um líder é mudar a maneira como o seu povo vê a si próprio. O Brasil precisa mudar a maneira como vê o Brasil. O que Juscelino fez de grande neste país foi mudar a maneira como o Brasil via o Brasil- disse.

Cristovam afirmou que o Brasil precisa começar a ser um país que pensa no futuro, e não só no presente. O Brasil, continuou o senador, deve ser percebido pela sua população como um projeto permanente, de longa duração e com objetivos claros para o futuro.

- Nós somos um povo prisioneiro do presente. Este talvez seja o primeiro desafio: trazer para o debate nacional o futuro, e não apenas o presente - afirmou.

O Brasil também precisa, na opinião de Cristovam, passar a enxergar a importância da natureza - e das riquezas ambientais que possui - como fator determinante no processo de desenvolvimento econômico e social. A Amazônia brasileira, disse o senador, tem de passar a ser percebida como uma grande riqueza do país, um patrimônio.

- A natureza tem um valor em si. Não é apenas a base material para a construção do presente; é uma base permanente, é um patrimônio que pertence a todas as futuras gerações do país. Da mesma maneira que a gente não pode ficar preso apenas ao presente, a gente deve pensar o futuro com a natureza protegida - frisou.

Outra mudança necessária, na interpretação de Cristovam, é a população brasileira perceber que o Brasil é um país soberano que faz parte de uma realidade mundial globalizada, ou seja, "nação como parte de um 'condomínio' chamado Terra". Essa mudança de visão depende também de os brasileiros conseguirem perceber a importância do sentimento de coletividade, com respeito ao interesse de todos. Para Cristovam, o Brasil não é "um país público" pois, exemplificou, grandes investimentos são feitos em benefício do transporte individual, em detrimento do transporte público.

- Abandonamos o transporte público e, em conseqüência, hoje não funciona nem o público nem o privado. Essa é uma das maneiras novas pelas quais a gente precisa ver o Brasil: ver o Brasil pelo público, pelo conjunto, pela unidade nacional das pessoas, e não pela soma de indivíduos, cada um deles querendo pegar o máximo que puder, como se o país pertencesse a eles, e não ao conjunto do povo - disse.

Outra questão determinante, continuou Cristovam, é acabar com a visão do Brasil como um país de dois povos, duas populações separadas, os ricos e os pobres, "uma elite privilegiada e uma massa". E para acabar com essa diferença de fato, sentenciou, um dos caminhos é a "revolução educacional", para incorporar os excluídos à sociedade brasileira.

- Não nos acostumamos a ver o Brasil como um povo integrado, e esse povo integrado sendo construído a partir de políticas de um governo que estivesse no poder. Não vemos isso. Nenhum dos governos desse país teve como postura a unificação do povo brasileiro - afirmou.

Cristovam aproveitou para conclamar seus colegas senadores a debaterem esses grandes temas, essa mudança de atitude, essa nova postura.

- Se o Senado ficar só nas coisas pequenas, ele vai caminhar para a desmoralização e até mesmo para que não funcionem as pequenas. É tendo grandes rumos que a gente consegue fazer com que o pequeno funcione. Hoje, está na hora de pensarmos numa maneira nova de olharmos o Brasil - concluiu Cristovam, depois de receber aparte do senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que elogiou o pronunciamento do colega e lamentou que o Brasil ainda esteja atrelado "a estruturas retrógradas, superadas, que emperram o desenvolvimento nacional".

30/06/2008

Agência Senado


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