Cristovam propõe discussão sobre qualidade de vida na definição do salário mínimo



O senador Cristovam Buarque (PT-DF) defendeu um novo encaminhamento para a questão do salário mínimo a fim de que, em 2005, se evite a "repetição trágica" da discussão sobre o valor desse salário que, avaliou, acaba girando em torno da definição a respeito da concessão de um pão ou de cinco pães por dia a mais para cada família. O senador propôs que os parlamentares trabalhem, desde já, durante a análise da proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), na elaboração de artigos que permitam que o orçamento de 2005 inclua o salário mínimo necessário e tudo o que o complementa para assegurar uma boa qualidade de vida ao trabalhador.

- Ficar nesse debate limitado entre vinte a sessenta reais a mais, debate monótono e aristocrático, é o mesmo que, no passado, decidir entre vinte a sessenta chibatadas no escravo. Precisamos formular um caminho para que, dentro de um ano, não repitamos a enorme tragédia - enfatizou Cristovam.

Na opinião do senador, se o Congresso procurar saber desde já quanto é preciso para aumentar o salário mínimo em 2005, para que a escola seja de qualidade, para que o trabalhador não precise de fila para o tratamento médico, reservando o dinheiro necessário, daqui a um ano as condições poderão ser muito diferentes quando se for debater quanto o trabalhador tem direito a receber. Da mesma forma, acrescentou, os parlamentares devem discutir quanto é necessário de gasolina para os carros dos senadores e para a construção de prédios do setor público, por exemplo.

- Se a gente trabalhar a idéia da qualidade de vida, e não do salário, e colocar no orçamento em primeiro lugar a necessidade do povo, vamos evitar a repetição trágica de discutir a quantas migalhas do que sobra das mesas das casas grandes o trabalhador tem direito - disse.

Cristovam apoiou o senador Paulo Paim (PT-RS) em sua idéia de aperfeiçoar a medida provisória (MP) sobre o salário mínimo "de tal maneira que ela saia de forma que o povo ou fique contente ou fique entendendo o porquê do valor fixado".

- Tão grave quanto o salário ser baixo é o trabalhador não entender por que não pode ser mais alto diante de tanta riqueza e de tanto desperdício - observou.

O senador disse que o Brasil não acabou ainda com a escravidão, que os trabalhadores continuam a ser tratados como "senão escravos, quase escravos", e que o respeito das elites com as classes excluídas não é diferente de 116 anos atrás.

- Ou se completa ou não se completa a abolição da escravatura - disse.

Cristovam criticou o fato de, em vez de se aumentar o salário, se tenha optado, ao longo dos últimos anos, por conceder ao trabalhador vale-transporte e vale-refeição, garantindo locomoção e refeição para que ele possa trabalhar, sem que esse direito se estenda às famílias.

- Fomos inventando penduricalhos no lugar de um salário digno para o trabalhador - lamentou.

O senador disse ainda que, cada vez que o salário mínimo é aumentado, parte do custo do trabalhador é paga pelo poder público, que tem seus limites. Por isso, sustentou, qualquer proposta tem de levar em conta que não se pode enganar o trabalhador dando um aumento que depois lhe é roubado com a inflação. Cristovam foi aparteado pelos senadores Mão Santa (PMDB-PI) e Geraldo Mesquita Júnior (PSB-AC).



30/04/2004

Agência Senado


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