Debate na CRA aponta preocupação com concentração no mercado de sementes



VEJA MAIS

A concentração no mercado de sementes, dominado por um pequeno número de grandes empresas, não favorece a competitividade da agricultura brasileira e pode inviabilizar parte dos produtores rurais, em especial os menos tecnicamente preparados. Essa situação, considerada uma tendência hoje no país, foi analisada em audiência pública nesta quinta-feira (8) na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

De acordo com o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, os altos custos envolvidos no melhoramento genético e na viabilização comercial de produtos transgênicos têm levado à integração de empresas e formação de grandes grupos, como estratégia de atuação no mercado.

Para assegurar retorno de investimentos em inovação, esses grandes grupos adotam mecanismos de proteção de propriedade intelectual e estratégias de integração vertical. Com isso, condicionam a eficiência da nova semente à adoção de outras inovações, como tipos específicos de herbicidas e outros agrotóxicos, fabricados pelo mesmo grupo que detém a tecnologia da semente.

Mesmo considerando a concentração uma tendência normal de mercado, Lopes alertou para o fato de a redução do número de empresas de sementes colocar em risco o papel mediador do setor publico. Como observou, as inovações geradas conforme a política pública de pesquisa chegam ao produtor por meio do licenciamento de empresas parceiras.

– Quando essas empresas fecham, o setor público perde seu elo com o mercado – afirmou, enfatizando que esse processo impede que o conhecimento chegue aos agricultores.

Sem a presença do Estado, observou o presidente da Embrapa, o país se tornaria mais vulnerável, seja por perder a capacidade de orientar o desenvolvimento da agropecuária ou por não conseguir manter na atividade uma grande gama de produtores rurais.

Décio Lauri Sieb, da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), concorda que a redução na oferta de material genético tem impacto direto sobre os agricultores familiares, que perdem a capacidade de escolha.

Para ele, avanço tecnológico e ganho de produtividade devem ocorrer sem a exclusão de agricultores e sem comprometer a biodiversidade e a continuidade de sistemas produtivos tradicionais.

Escolhas

Para Márcio Santos, diretor de Gerenciamento de Produtos da Monsanto, a introdução de biotecnologia no Brasil ocorreu em mercado aberto, permitindo a entrada de muitas empresas. Ele diz ser o produtor rural o direcionador desse mercado, ao escolher a tecnologia que oferece maiores vantagens.

Também Paulo Campante, da Associação Brasileira de Sementes (Abrasem), considera que o mercado de sementes está mais diversificado. Conforme dados apresentados por ele, o país teria hoje mais empresas produtoras de sementes que há dez anos.

Já o representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, observa que desenvolver, multiplicar e distribuir sementes são atividades complexas, que exigem não só mão de obra especializada, mas laboratórios, áreas para testes, rede de distribuição e assistência técnica ao produtor. Para ele, essa complexidade é uma barreira à atuação de pequenas empresas.

– O Brasil não pode satanizar quem desenvolveu essas tecnologias – disse.



08/08/2013

Agência Senado


Artigos Relacionados


Concentração do mercado de sementes em debate

Especialistas e produtores analisam concentração no mercado de sementes

Especialistas e produtores analisam concentração no mercado de sementes

Delcídio do Amaral quer debate sobre concentração no mercado de frigoríficos

Valdir Raupp manifesta preocupação com concentração de renda no campo

Estudo revela concentração em mercado de cartões no Brasil