Debate sobre crise na Venezuela divide senadores de oposição e da base de governo no Brasil



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A audiência pública destinada a debater a crise política na Venezuela, promovida nesta quarta-feira (2) pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), colocou em lados opostos os integrantes da oposição e da base de governo no Brasil. A deputada María Corina Machado, cujo mandato foi cassado pela Assembleia Nacional da Venezuela, recebeu a solidariedade dos presidentes nacionais do PSDB e do DEM, principais partidos da oposição, e foi contestada por senadores da base do governo de Dilma Rousseff.

Ao abrir a reunião, o presidente da comissão, senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) lembrou que o debate ocorreria na mesma semana em que se registrou o 50º aniversário do golpe militar de 1964. Ele lamentou a cassação do mandato da deputada, em “rito sumário”, e observou que, apesar de o Brasil ter por princípio não intervir em questões internas de outros países, a comissão tinha o dever de prover espaço para que “diversas vozes” do país vizinho pudessem ser ouvidas. O presidente informou ainda que convidou a uma próxima reunião a vice-presidente da Assembleia da Venezuela, Blanca Eekhout.

O líder do PSDB, senador Aloysio Nunes (SP), manifestou solidariedade a Corina e repúdio ao governo de Nicolás Maduro, que, segundo observou, “cassou (mandato), assassinou opositores, manieta a imprensa, submete o Poder Judiciário e usa grupos paramilitares”. Falando como presidente nacional do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) criticou a “posição passiva” do governo brasileiro diante do “cerceamento crescente de liberdade” na Venezuela.

O senador Pedro Taques (PDT-MT) lembrou que a Venezuela, atualmente membro permanente do Mercosul, precisa respeitar a cláusula democrática do bloco. O senador José Agripino (RN), presidente nacional do DEM, recordou ter sido contra o ingresso da Venezuela no Mercosul, exatamente por causa do suposto não cumprimento, por aquele país, da cláusula democrática. E elogiou a “coragem” de Corina por comparecer à audiência na comissão apenas um dia depois de participar de manifestação pública em Caracas em defesa de seu mandato. Por sua vez, o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) disse que “a pior ditadura é aquela que veste a roupa da democracia”.

Já a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) foi a primeira a se posicionar contra a deputada venezuelana. Ela criticou Corina por haver exibido um vídeo de três minutos em que aparecem cenas de violência policial contra manifestantes e depoimentos de jovens contra o governo do presidente Nicolás Maduro. Ela disse ainda que mortes ocorreram dos dois lados nos conflitos.

- Esse vídeo é uma montagem. Considero a sua exibição um desrespeito ao Senado do Brasil. Não queira nos enganar com aquilo – acusou Vanessa Grazziotin.

O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questionou os manifestantes de oposição na Venezuela que, segundo ele, pedem a saída do poder de Maduro, democraticamente eleito pela população. Da mesma forma, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) disse ter aversão à palavra “fora”, quando em referência a um presidente eleito.

Por sua vez, a senadora Ana Amélia (PP-RS) recordou ter se solidarizado em Plenário com Corina, ao saber que ela havia perdido seu mandato. Por fim, o senador Roberto Requião (PMDB-PR) considerou o desabastecimento o maior problema atual da Venezuela. Ele criticou a administração da estatal petrolífera PDVSA, que vende petróleo a preços muito baixos a países que integram a Alternativa Bolivariana das Américas (Alba) e à China.



02/04/2014

Agência Senado


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