Déficit de investimentos foi uma das causas da crise de energia, segundo consultor legislativo
Abbud sugeriu como soluções para a crise o racionamento, a estabilização de uma estratégia nacional de abastecimento, a revisão do novo modelo do sistema brasileiro de energia elétrica e a complementação da reforma iniciada no setor, além do estímulo à co-geração e à auto-produção, a ampliação das ações de conservação de energia elétrica e também a diversificação da matriz energética.
Sobre a diversificação da matriz, a consultora Márcia Biato explicou que a energia renovável não vai resolver a crise, mas o investimento nessa possibilidade deve ser pensado a longo prazo. A consultora afirmou que o consumo de energia no Brasil não é alto - enquanto um brasileiro consome, em média, 2 mil KWh por ano, um norueguês gasta 25 mil KW h no mesmo período. Além disso, informou, há 20 milhões de brasileiros que não têm acesso à energia elétrica.
Márcia Biato explicou que a energia renovável é melhor para o meio ambiente e hoje não é tão mais cara do que a tradicional, uma vez que novas tecnologias a estão tornando mais barata. As principais fontes de energia renovável são: solar, eólica, geotérmica (energia retirada do calor do subsolo, pouco usada no Brasil, mais comum para calefação) e de biomassa (retirada , por exemplo, do bagaço da cana-de-açúcar, sendo uma energia cara). A consultora explicou que, além de ajudar a suprir a demanda, essas fontes energéticas são muito úteis para regiões isoladas.
Já o consultor David Waisman comentou, durante o evento, o histórico da geração elétrica no país e explicou por que o Brasil hoje está em crise. Lembrou que, inicialmente, o país passou por modelo privado, depois estatal e, agora está voltando ao modelo privado. No Brasil, na época em que o sistema era privado, nos anos 40, 50 e 60, as crises energéticas eram comuns. A estatização surgiu como uma resposta ao problema, que impedia o crescimento industrial do país. Surgiram nesse período estatais como Cemig e Furnas. "Deu muito certo, desde os anos 70 não faltava energia no Brasil, as estatais de geração tinham muita autonomia", disse.
Mas à medida que o governo foi retirando autonomia dessas empresas, explicou Waisman, foi havendo corrosão das finanças dessas estatais, e o setor elétrico chegou a ser o mais endividado da economia brasileira. Quando Fernando Henrique Cardoso decidiu privatizar o setor, introduziu como principal mudança a competição no fornecimento privado. "O modelo é delicado, exige vigilância do governo e reforço na fiscalização", afirmou. O governo privatizou 24 concessionárias de geração e distribuição de energia, gerando uma receita total de R$ 26 bilhões.
08/06/2001
Agência Senado
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