Delegado aponta responsabilidades de pilotos e controladores
Ao depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Apagão Aéreo, nesta quarta-feira (30), o delegado da Polícia Federal Renato Sayão Dias, responsável pelo inquérito que investigou o acidente entre o Boeing da Gol e o jatinho Legacy da American ExcelAire em 29 de setembro de 2006, apontou "condutas culposas" por parte dos pilotos do jatinho e também indicou falhas do controle de tráfego aéreo nacional.
Para Sayão, o acidente aconteceu por uma sucessão de "pequenos erros que levaram à tragédia". O inquérito conduzido pelo delegado foi encerrado no dia 7 de maio e concluiu por uma divisão de responsabilidades entre controladores e pilotos americanos.
O delegado iniciou sua exposição, apontando os problemas encontrados na atuação dos pilotos americanos Joseph Lepore e Jan Paladino, do Legacy. De acordo com Sayão, o plano de vôo do Legacy estava certo. O plano previa que o Legacy mantivesse a altitude de 37 mil pés até Brasília; 36 mil pés até um ponto central e, depois, subisse para 38 mil pés.
- Se o plano de vôo tivesse sido seguido, não teria havido o acidente - disse.
De acordo com o delegado, o controlador de Brasília que fez a primeira autorização de vôo (repassada aos pilotos americanos por um controlador de São José dos Campos) não observou as normas de vôo porque, segundo Sayão, deveria ter indicado as mudanças de altitude que deveriam ser feitas ao longo do trajeto, mas limitou-se a dizer que a altitude do vôo seria de 37 mil pés. Mas, destacou, os pilotos americanos também não apresentaram dúvidas quanto às informações passadas pelo controle.
- Pode-se até imputar uma culpa mais leve aos pilotos porque são americanos, mas deveriam questionar ao controlador essa informação. O piloto tem que estudar o plano de vôo, as rotas, as altitudes. Se tivessem feito isso, teriam evitado o acidente - afirmou.
Mais umasituação determinante para o choque entre os aviões foi o fato de o transponder e o TCAS (equipamentos anticolisão) do Legacy terem ficado desligados por cerca de 50 minutos. O delegado Renato Sayão destacou que aeronaves que viajam em grandes altitudes voam com distâncias muito pequenas umas das outras, de apenas 300 metros, e por isso só podem voar com esses equipamentos ligados.
Os dois equipamentos do Legacy funcionaram perfeitamente até seis minutos depois da passagem por Brasília e voltaram a funcionar pouco depois do acidente. Quando o transponder e o TCAS do Legacy falharam, tanto os pilotos quanto os controladores teriam que ter tomado atitudes de segurança, mas nada foi feito.
- Há indícios de que os equipamentos foram desligados e religados. Não há prova de falha mecânica, nem indicação de manobra perigosa. Acredito que foi um desligamento involuntário. Partimos da possibilidade de falhahumana - disse Sayão.
O delegado afirmou que seria possível que os pilotos tivessem desligado por engano o transponder e o TCAS, uma vez que bastaria ter apertado duas vezes um botão no painel central do avião para que isso acontecesse. Uma das sugestões de Sayão para evitar que acidentes como esses voltem a ocorrer é que um sinal sonoro passe a avisar aos pilotos que os equipamentos anticolisão estão desligados.
O delegado destacou ainda que há dois outros indícios de que os pilotos teriam desligado involuntariamente o aparelho: os termos de um diálogo entre os dois pilotos sobre o possível desligamento do aparelho e de outra conversa entre os pilotos e um controlador, depois que o jatinho fez um pouso de emergência no campo de provas da Aeronáutica na Serra do Cachimbo. Ainda sob o impacto do acidente, um dos pilotos americanos afirmou quatro vezes que o TCAS estava desligado. Numa quarta vez, no entanto, negou e disse que o aparelho estava ligado.
O delegado disse também que houve falhas de comunicação entre o jatinho Legacy e o controle aéreo de Brasília. Sayão explicou que, nesse caso, o jato precisaria seguir procedimentos de segurança: ater-se ao plano de vôo, ou seja, descer para 36 mil pés, e acionar um código de emergência no transponder.
- Se o piloto tivesse feito isso, veria que o transponder estava desligado e o ligaria. Assim, passaria a ser percebido pelo controle. Mais uma vez houve falha dos pilotos americanos e não foram seguidas as normas para os casos de falha de comunicação - afirmou.
Fatalidade
Uma infeliz coincidência foi apontada por Sayão como tendo sido determinante parao acidente. O plano original de vôo do Boeing da Gol indicava que a viagem seria feita a 41 mil pés, mas o piloto pediu autorização na decolagem para realizar o percurso a 37 mil pés. A mudança estava dentro das normas de aviação e a aeronave da Gol esteve todo o tempo correta. Ninguém sabe por que motivo o piloto solicitou essa mudança.
- Se tivesse seguido o plano da empresa de voar a 41 mil pés, não teria acontecido o acidente - destacou o delegado.
30/05/2007
Agência Senado
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