Demostenes aponta falhas no projeto que modifica Lei de Execução Penal



O senador Demostenes Torres (PFL-GO) adiantou, em Plenário, suas discordâncias em relação ao projeto de lei da Câmara dos Deputados que altera a Lei de Execução Penal e o Código de Processo Penal. O senador, que é relator da matéria na Subcomissão de Segurança Pública da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), argumenta que o projeto -acena com mais regalias aos condenados, além de facilitar a prática do desvio de conduta nos estabelecimentos prisionais-.

Demostenes Torres considera inaceitável a modificação proposta no artigo 6º da Lei de Execução Penal, que transfere à autoridade administrativa o direito de conceder a progressão ou regressão do regime de cumprimento da pena, sem a intervenção do Ministério Público e do Poder Judiciário. Ele argumenta que -a juridiscionalização da execução da pena é uma das conquistas do direito brasileiro-. Para ele, -renunciar à prerrogativa é um retrocesso jurídico-. O histórico de corrupção nos presídios, acrescentou o senador, -leva a crer que a matéria pode ensejar a constituição de uma indústria de liberação de presos no país-.

O projeto de lei, informou o senador, propõe a criação de um regime disciplinar diferenciado, durante o qual será avaliado o mérito do condenado de progredir na pena, com prazo determinado, o que, em sua avaliação, -trará mais benefícios aos criminosos-. Demostenes Torres anunciou a apresentação de emenda propondo dois sistemas: o regime disciplinar diferenciado, com duração de 360 dias, prorrogáveis a critério do juiz, basicamente com recolhimento em cela individual; e o regime disciplinar de segurança máxima, destinado aos presos de alta periculosidade, com duração de 720 dias, com possibilidade de repetição a ser determinada pela autoridade judicial, além de uma série de restrições.

Entre as restrições do regime de segurança máxima estariam recolhimento em cela individual; proibição de aparelhos telefônicos e de som; comunicação vedada com outros presos e agentes penitenciários e limitações de visitas tanto dos familiares quanto dos advogados. Demostenes explicou que o objetivo do regime é o de isolar presos condenados ou provisórios que apresentem alto risco à ordem dos presídios e à segurança da sociedade.

Demostenes Torres também manifestou-se contrário a dispositivo do projeto estabelecendo que a autoridade judiciária se dirija ao estabelecimento prisional para realizar audiências com os presos. Para ele, -expor o magistrado ao risco de realizar audiência na cadeia é uma bobagem inominada-.

O senador também criticou dispositivo do projeto que exclui a análise do mérito do preso e o exame criminológico. Na sua opinião, -é um absurdo que a avaliação do preso seja reduzida a simplório atestado de bom comportamento carcerário, a ser expedido pelo diretor do estabelecimento prisional-.

Demostenes Torres também apontou como falha do projeto o fato de não ter corrigido o que ele chamou de -equívoco do ordenamento jurídico penal brasileiro-, que é a suspensão do processo quando o acusado é citado por edital e não se apresenta em juízo ou constitui advogado. Segundo ele, em razão deste dispositivo, 70% das ações penais contra o crime organizado estão paradas em todo o país. Ele adiantou que irá apresentar emenda corrigindo -esta excrescência-.

O senador chamou a atenção para a crise de segurança pública vivida pelo país, apresentando dados sobre o crescimento e a ação do crime organizado, a falência do sistema penitenciário e a morosidade do sistema jurisdicional. Ele ressaltou que a responsabilidade não pode ser creditada a juízes e promotores, mas às leis que regem as relações processuais.

- O Brasil precisa ter a coragem de realizar profunda reforma no Poder Judiciário - disse o senador.



22/04/2003

Agência Senado


Artigos Relacionados


Jurista aponta falhas na definição de conceitos no projeto de Reforma do Código Penal

Demóstenes critica governo por impedir aprovação de exame criminológico na reforma da Lei de Execução Penal

LEGALIZAÇÃO DOS CASSINOS: RELATOR APONTA FALHAS NO PROJETO APROVADO

Renato Casagrande aponta falhas no projeto de reforma política do Executivo

Sarney promete dar urgência a projeto sobre execução penal

Os três Poderes vão se unir para elaborar ante-projeto de lei de execução penal