Depoimento exime Olívio de relação com bicheiros







Depoimento exime Olívio de relação com bicheiros
O presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, reafirmou ontem em depoimento à CPI da Segurança Pública que o governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT), não o mandou tratar com o ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino sobre as relações entre governo e jogo do bicho.
Para o relator da CPI, Vieira da Cunha (PDT), Oliveira foi evasivo nas declarações ao falar sobre empresários que disseram ter destinado suas doações para outros fins que não o de comprar um prédio para o PT. "Mantive minha opinião", disse o relator.

"Não sou bicheiro, não conheço nenhum diretor do jogo do bicho e nunca arrecadei nenhum centavo desse setor para o que quer que fosse", disse o presidente do Clube da Cidadania.
De acordo com Oliveira, ele ouviu "repetidas queixas dos apontadores do jogo do bicho sobre perseguições que estariam sofrendo por parte de certos elementos da Polícia Civil", referindo-se a extorsões de policiais.
"Em um país onde a jogatina é generalizada, onde se aposta até pela televisão, manter certos jogos na ilegalidade é hipocrisia."

Na CPI da Segurança Pública, instalada em abril, delegados afirmaram que o jogo do bicho doa dinheiro para o PT e para obras sociais do governo gaúcho. A informação foi reforçada pelo ex-tesoureiro do partido Jairo Carneiro, que havia sido expulso do PT por desvio de verbas. Depois disso, empresários e entidades depuseram negando que tivessem doado dinheiro declarado pelo Clube de Seguros da Cidadania, captador de recursos do PT.

Em gravação, Oliveira aparece falando ao ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino que o PT mantém relações com os bicheiros. Tubino confirmou a gravação e disse que estaria presente na sessão de ontem, para rebater qualquer possível acusação de Oliveira, mas não compareceu.
O presidente do Clube de Seguros da Cidadania, empresa cujo objetivo é captar dinheiro para o PT e custear obras sociais do governo, disse que, "sensibilizado" pela perseguição aos bicheiros, resolveu "dar um carteiraço" e convidou Tubino para ir até a sua casa. "Ele atendeu prontamente e tivemos uma conversa que agora é de conhecimento público. Eu não tinha a autorização do governador para usar o seu nome, nem nunca falei com ele, nem antes nem depois, sobre esse episódio."

O relatório da CPI deverá imputar aos dirigentes do Clube de Seguros da Cidadania os crimes de estelionato e falso testemunho.
Oliveira também atacou o grupo de comunicações gaúcho RBS, que estaria, segundo ele, perseguindo o governo. O grupo RBS informou ontem que vai processar Oliveira (leia texto nesta página). No depoimento, Oliveira disse que grupo RBS teria interesse em abordar imparcialmente o tema, pois teria deixado de receber recursos publicitários do Estado desde que Olívio assumiu. Oliveira disse acreditar que o grupo está por trás das gravações que têm sido apresentadas na CPI.

Para Oliveira, as perseguições começaram no dia 11 de maio, quando o "Diário Gaúcho", do grupo RBS, começou a publicar matérias sobre o jogo do bicho. No dia 18 de maio foi gravada uma fita pelo jornal na qual Carneiro, ex-tesoureiro do PT, falava sobre a participação do jogo do bicho na campanha de Olívio.


Empresa diz que acusações são "irresponsáveis"
A RBS emitiu nota ontem à tarde dizendo que tomará providências legais contra o presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, que acusou o grupo de perseguir o PT no Estado em represália por ter deixado de obter verba publicitária do governo.
Oliveira disse que a RBS obteve supostos empréstimos em paraísos fiscais e "se encontra praticamente em insolvência técnica".

As acusações foram definidas como "caluniosas e irresponsáveis". A intenção de Oliveira, diz a empresa, é "desviar a atenção" das acusações contra ele de arrecadação de verbas para o PT e para o governo gaúcho por meio do jogo do bicho.


Falta de consenso pode barrar votação do fim da imunidade
As resistências à proposta e a falta de consenso entre os líderes poderão comprometer a votação do projeto de emenda constitucional que limita a imunidade parlamentar. A proposta entra hoje em discussão no plenário da Câmara, e sua votação está prevista para amanhã.
O projeto atinge os atuais congressistas que estejam com pedido de licença em tramitação no Congresso.
O líder do PMDB, Geddel Vieira Lima (BA), vai reunir a bancada do partido para decidir como seus deputados votarão. Ele foi procurado por peemedebistas descontentes com o projeto.

Os peemedebistas argumentam que a proposta deixa os congressistas expostos à perseguição política. "Deputados têm restrições. Vamos ver o tamanho e a capacidade de convencimento deles", afirmou Geddel.
A limitação da imunidade a opiniões, palavras e votos dos congressistas durante o exercício do mandato, como estabelece a proposta, ressuscitou a discussão sobre a votação do projeto que torna mais rígida a Lei de Imprensa.

Deputados que resistem à aprovação do projeto afirmam que a imprensa tem uma lei que a protege, o Ministério Público não aceita a limitação da divulgação de informações (como previa a Lei da Mordaça) e apenas os congressistas ficarão vulneráveis a ações na Justiça, com a entrada em vigor da emenda.
O projeto de imunidade voltou à pauta dentro do chamado pacote ético, lançado pelo presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG), para contrapor aos escândalos recentes envolvendo políticos. Enquanto discute a possibilidade de limitar a imunidade parlamentar, a Câmara deixa na gaveta 42 ofícios do STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo licença para processar deputados.

Os pedidos envolvem 31 deputados, dois deles ocupando cargo de ministro de Estado.
O ofício do Supremo mais antigo é de 1993. O inquérito trata de difamação na propaganda eleitoral envolvendo o deputado Freire Júnior (PMDB-TO). A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) aprovou o parecer contra a concessão da licença, mas ainda falta votação pelo plenário da Casa.
Dos 42 ofícios, 21 já foram analisados pela CCJ, etapa preliminar, e 18 deles receberam parecer contrário à concessão da licença.

Há três anos o projeto está pronto para ser votado pelo plenário, mas nunca houve acordo entre os deputados para dar seguimento à proposta. Aécio afirmou que não espera consenso, mas formar uma maioria que permita sua aprovação.
Como se trata de emenda constitucional, são necessários 308 votos dos 513 deputados. É necessária aprovação em dois turnos no plenário da Câmara. Depois, a proposta deve voltar ao Senado.
Isso porque o texto em discussão na Câmara é proposta que modifica outra já aprovada no Senado -que mantinha a necessidade de licença para que um parlamentar possa ser processado.


Texto precisa voltar ao Senado
Se for aprovada em duas votações no plenário da Câmara, o texto da emenda constitucional sobre imunidade deverá voltar à apreciação do Senado -onde já houve proposta aprovada, mas com redação diferente.
Há três anos o projeto está pronto para ser votado pelo plenário da Câmara, mas nunca houve acordo entre os deputados. Aécio Neves afirma que não espera consenso, mas formar uma maioria que permita sua aprovação.

Como se trata de emenda constitucional, são necessários 308 votos dos 513 deputados.
O texto em discussão foi elaborado pelo deputado Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG), com apoio de representantes de cada partido. A principal diferença entre a proposta dos senadores e a dos deputados está na necessidade de licença para abertura de processos.

O Senado a mantinha; no texto dos deputados, é criado um dispositivo pelo qual o partido tem a iniciativa de sustar o processo no Supremo, se entender que é caso de perseguição política contra o congressista. A suspensão do processo tem de ser aprovada pelo voto da maioria da Casa.
Enquanto discute a possibilidade de limitar a imunidade parlamentar, a Câmara não dá resposta conclusiva a 42 ofícios do Supremo Tribunal Federal pedindo licença para processar deputados.

Os pedidos envolvem 31 deputados, dois deles ocupando cargo de ministro de Estado.
Dos 42 ofícios, 21 já foram analisados pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, etapa preliminar, e 18 deles receberam parecer contrário à concessão da licença. O ofício do Supremo mais antigo é de 1993.


TJ desafia Alckmin e libera Orçamento para Assembléia
O Tribunal de Justiça desafiou ontem o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e, em uma decisão polêmica, determinou a retomada dos trâmites para aprovar o Orçamento de 2002. O tribunal ordenou que a Assembléia Legislativa discuta o Orçamento com a proposta original do órgão, sem o corte de R$ 627,28 milhões destinados ao Judiciário paulista, feito pelo governo.
A decisão do vice-presidente do TJ, Álvaro Lazzarini -que paralisou o Orçamento em 16 de outubro-, foi considerada polêmica porque a Assembléia só pode receber a proposta orçamentária por meio do Executivo.
"Liberei o trâmite orçamentário com a condição de que o presidente da Assembléia [Walter Feldman" incluísse a proposta original do Judiciário", disse.

O tribunal solicitou ao Estado R$ 2,72 bilhões para despesas com pessoal, custeio e investimento em 2002. Alckmin, antes de enviar a proposta à Assembléia, reduziu a verba do TJ para R$ 2,09 bilhões, alegando a necessidade de atender a Lei de Responsabilidade Fiscal.
A interferência do Executivo na verba do Judiciário já foi vetada, em uma outra ação, pelo ministro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal. Em sua decisão, o ministro disse que o Estado "não pode, de forma unilateral, efetuar cortes na proposta do Judiciário".

"Não aceitamos a ingerência do Estado. Queremos que a nossa proposta chegue às mãos dos deputados", disse Lazzarini.
Segundo deputados ouvidos pela Folha, a decisão de Lazzarini criou um entrave legal, já que a Assembléia não pode votar diretamente a proposta do Judiciário, que não seguiu os trâmites originais. Pela Constituição, só o Executivo pode apresentar o Orçamento. O único meio de recompor a verba solicitada é a apresentação de emendas, cuja aprovação depende do voto favorável de 48 dos 94 deputados da Casa.

Para o desembargador, a emenda não garante que o recurso pedido seja repassado. Mas Feldman reafirmou a necessidade das emendas. "Isso não significa que não iremos acatar a decisão judicial. A solicitação original do tribunal será estudada, e, baseados na proposta de Alckmin, poderemos conceder algum aumento [por meio de emendas"", disse. Segundo Feldman, isso só será possível após um estudo de redistribuição de verbas.

Hoje, o deputado Jorge Caruso (PMDB) irá apresentar uma emenda de restituição total de verba para o TJ. Há ainda outras cinco que prevêem o mesmo, em parcelas. A verba sairá da secretaria de Obras. Alckmin disse, por meio de sua assessoria, que iria comentar a decisão do TJ hoje.


Tribunal restringe acesso de Maluf a documentos sobre o caso Jersey
A desembargadora federal Suzana Camargo, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, suspendeu ontem à noite a decisão da juíza Adriana Soveral, da 8ª Vara Criminal, que obrigava o Ministério da Justiça a permitir o acesso imediato dos advogados do ex-prefeito Paulo Maluf a documentos eventualmente enviados pelos governos da Suíça e do Reino Unido às autoridades brasileiras, relativos ao caso Jersey.

Suzana acatou o recurso dos procuradores da República Denise Abade e Pedro Barbosa Neto, que impetraram mandado de segurança no começo da tarde. Eles reconhecem o direito da defesa ao exame dos papéis, mas somente depois de juntados aos autos do inquérito criminal. Maluf vai recorrer ao STJ. "Queremos só que a defesa e a Procuradoria tenham acesso às informações em condições iguais, antes de a informação chegar a terceiros", disse o advogado Ricardo Tosto.

Maluf está sendo investigado pelo MPF (Ministério Público Federal) por supostos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal. O ex-prefeito e seus familiares são beneficiários de contas abertas Suíça em 1985 e transferidas para a ilha de Jersey em 1997. A família Maluf nega ter dinheiro no exterior.

Com a sentença, a defesa de Maluf não pode examinar de imediato o pedido de informações adicionais do procurador suíço Jean Louis Crochet, que chegou ontem ao Itamaraty. Nomeado para rastrear as contas do ex-prefeito em Genebra, Crochet quer explicações detalhadas sobre o que são precatórios (dívidas judiciais).
O MPF apura a relação entre o dinheiro depositado no exterior e a emissão irregular de títulos públicos para o pagamento de precatórios na gestão Maluf (1993-1996). Ele nega irregularidades.


PFL omitiu R$ 29,8 mi do TRE do Paraná
Documentos secretos apontam que o PFL (Partido da Frente Liberal) omitiu da Justiça Eleitoral do Paraná R$ 29.792.650,44 gastos na campanha de Cassio Taniguchi à Prefeitura de Curitiba no ano passado. Os valor está em papéis da contabilidade pefelista.
A Folha teve acesso aos dados. Trata-se do mais amplo material já divulgado no país sobre como funciona um caixa dois em uma campanha política.

Não são fotocópias comuns, que poderiam ter sido montadas por algum inimigo político. Os papéis foram obtidos por pessoas que participaram da campanha de Taniguchi em 2000. Há alguns originais disponíveis. Além disso, a Folha trabalhou por dez dias para checar a veracidade das informações, tendo conseguido a confirmação de oito empresas sobre dados contidos no material.
Taniguchi é a segunda estrela do PFL no Paraná, depois do governador Jaime Lerner, seu mentor político. É um dos três prefeitos de capitais do PFL. Foi reeleito no ano passado numa disputa acirrada contra Ângelo Vanhoni, candidato do PT. O pefelista venceu no segundo turno por uma diferença de apenas 26.541 votos -menos de três pontos percentuais.

No momento, o nome de Taniguchi vem sendo citado dentro do PFL como possível candidato a governador no ano que vem. Ou, eventualmente, até como o escolhido do partido para ocupar a vaga de candidato a vice-presidente da República numa chapa da aliança governista.

Gastos oficiais e paralelos
Ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Paraná, a coligação "PFL- Movimento Curitiba Sempre com Você" declarou ter gasto na campanha R$ 3,112 milhões -o resultado da soma de R$ 2.887.457,23 arrecadados e mais R$ 224.844,75 de restos a pagar.

Nos papéis obtidos pela Folha, é possível verificar que a contabilidade da campanha de Taniguchi é diferente dos dados que constam no TRE. O material é composto por quatro partes:
1) livro-caixa manuscrito - seria a movimentação diária da campanha de Taniguchi. Redigido à mão, contém todos os registros de entradas e saídas de dinheiro. Por consequência, estão ali todos os dados informados ao TRE, mas isso representa apenas uma parcela do total;
2) listagem de computador - depois de lançadas no livro-caixa, as despesas eram também digitadas num programa de computador. O sistema gerava relatórios diários sobre despesas a serem pagas. É nesses papéis que aparecem a dívidas ainda não quitadas;
3) recibos e cheques - há dezenas de cópias de cheques, recibos e bilhetes manipulados pelo comitê financeiro de Taniguchi. A Folha pode comprovar que alguns desses papéis são fotocópias obtidas a partir de originais;
4) declaração ao TRE - trata-se de uma cópia da declaração financeira de Taniguchi entregue ao TRE-PR. A cópia é idêntica à que está no TRE no que diz respeito a receitas e d espesas. Trata-se de documento importante para fazer esta reportagem, pois era necessário comparar os dados oficiais com o que seria o caixa dois da campanha.

No Paraná, diferentemente da maioria dos Estados, a Justiça Eleitoral tem por norma não permitir ao público nem à imprensa a retirada de cópias desse tipo de documento. A Folha tentou, na semana passada, fazer uma checagem do documento nas dependências do tribunal, mas não foi possível. A única cópia disponível havia sido requisitada por um juiz e não podia ser vista.
O material é todo fotocopiado. A Folha conhece a identidade de quem guarda grande parte dos originais. A reportagem teve acesso a alguns desses originais com a condição de não revelar a identidade da fonte.
O valor total arrecadado descrito no livro-caixa manuscrito é de R$ 29.294.865,88. Há mais R$ 3.610.086,54 de restos a pagar. Os dois valores resultam num gasto total de R$ 32,9 milhões -R$ 29,8 milhões a mais do que o declarado à Justiça Eleitoral. Ou seja, Taniguchi teria declarado ao TRE menos de 10% do total realmente consumido em sua campanha.

Grande parte do valor arrecadado tem uma fonte única como origem: é a inscrição "recebido M.L.F.", responsável por R$ 18,639 milhões (63,63% do total de dinheiro obtido pelo PFL para reeleger Taniguchi).
Embora o livro-caixa não dê pistas sobre como esse dinheiro foi obtido, a sigla "M.L.F." coincide com as iniciais de Mário Lopes Filho, presidente do comitê financeiro da campanha de Taniguchi. Segundo a Folha apurou, os valores atribuídos a Mário Lopes seriam trazidos por ele ao comitê, sempre em dinheiro, dentro de bolsas ou envelopes. Ele nega essas operações, assim como o prefeito Cassio Taniguchi [leia textos à pág. A7".

Apesar das negativas de Mário Lopes e Taniguchi, há evidências que demonstram que os dados desse possível caixa dois são verossímeis. Cinco dos fornecedores de material e serviços citados no livro-caixa (e omitidos no TRE) confirmam ter participado da campanha.
O instituto de pesquisas Vox Populi, de Belo Horizonte, não consta no TRE-PR como prestador de serviços à campanha de Taniguchi. O prefeito de Curitiba declarou gastos espartanos com pesquisas: apenas R$ 4.540,00.

No livro-caixa secreto, entretanto, o Vox Populi aparece como recebedor de R$ 693,9 mil da campanha. O proprietário da empresa, o cientista político Marcos Coimbra, foi indagado se teria realizado pesquisas para o prefeito de Curitiba. Respondeu: "Fizemos, com certeza".
Confrontado com o fato de que tal despesa não constava na declaração ao TRE, Marcos Coimbra disse: "Não sei. Posso verificar o que foi feito".
Coimbra ficou de dar uma resposta na quinta-feira passada, mas até ontem não havia fornecido nenhuma informação nova.


Brizola quer processar filho, Abril e PT gaúcho
O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, disse ontem que vai processar seu filho José Vicente Brizola, o governo do Rio Grande do Sul e a família Civita, proprietária da revista "Veja".
Brizola identifica seu filho e o governo gaúcho, do PT, como as fontes da reportagem publicada pela "Veja", que aponta um crescimento supostamente irregular de seu patrimônio pessoal.

Os processos serão de natureza criminal, para responsabilizar os autores da reportagem, e cível, para exigir indenização por danos a sua imagem. Segundo ele, o governo gaúcho quer difamá-lo para tentar desviar a opinião pública da crise criada pelas denúncias de ligação do governo de Olívio Dutra (PT) com o jogo do bicho. Seu filho José Vicente se filiou em 2000 ao PT gaúcho e é diretor da Loteria Estadual.
Brizola nega qualquer irregularidade em seu patrimônio.

A Folha não conseguiu entrar em contato ontem à noite com a assessoria de imprensa da editora Abril para comentar as acusações.
O chefe da Casa Civil do Rio Grande do Sul, Flávio Koutzii, afirmou que as denúncias publicadas na reportagem de "Veja" contra Leonel Brizola não partiram do governo gaúcho. "A revista sempre faz a política do palácio do Planalto. Acho que o governador Brizola atacou o palácio errado", disse.
A Folha entrou em contato ontem à noite com a assessoria de José Vicente Brizola, que prometeu localizá-lo. Até às 21h, não obteve retorno.


Saída de Serra da TV acirra crise tucana
A intenção do presidente do PSDB, José Aníbal (SP), de apresentar os pré-candidatos do partido à sucessão presidencial levou o ministro José Serra (Saúde) a não gravar sua participação nas inserções e programas de TV que a sigla exibe a partir de hoje.
A recusa de Serra abriu uma crise no PSDB. Aníbal convocou uma reunião da Executiva Nacional para hoje à noite, em Brasília, a fim de discutir o conteúdo do programa de 20 minutos que será exibido no próximo dia 15.

"As decisões políticas do PSDB devem ser tomadas coletivamente", defendeu o deputado Alberto Goldman (SP), um dos cinco vice-presidentes da sigla. Até as 19h de ontem, nenhum tucano de peso havia confirmado presença. Serra estará em viagem ao Qatar.
O conteúdo do programa de TV do PSDB foi definido em uma reunião realizada no dia 23 de outubro, no Palácio da Alvorada, com Fernando Henrique Cardoso, Serra, Andréa Matarazzo (Comunicação de Governo), líderes no Congresso e parte da Executiva Nacional dos tucanos.

A proposta aprovada previa que o programa de 20 minutos do dia 15 seria estrelado por FHC e mostraria basicamente as políticas sociais do governo. As inserções de 30 segundos serão exibidas, além de hoje, nos dias 8, 10, 13 e 17, dez vezes ao dia. Na reunião do Alvorada, ficou resolvido que os principais personagens do PSDB apareceriam, inclusive os pré-candidatos, mas de maneira institucional. Cada uma falaria de sua área de atuação e ponto final.

No meio do caminho, José Aníbal mudou de idéia. Deputado identificado com a ala que apóia a candidatura presidencial de Tasso Jereissati, governador do Ceará, Aníbal passou a achar que os "spots" de 30 segundos deveriam apresentar os pré-candidatos do PSDB à sucessão de FHC.
Seria algo no estilo que o PFL fez na quinta passada, quando mostrou Roseana Sarney (MA) como presidenciável, mas sem dizer claramente que ela é candidata.

No domingo, Serra conversou com Aníbal e disse que não é o momento adequado para o pré-lançamento de candidaturas e se recusou a gravar o programa nos moldes previstos pelo deputado.
Nos bastidores, Aníbal trabalha discretamente pela candidatura de Tasso. Apresentando os pré-candidatos tucanos no programa de TV, beneficiaria o governador cearense, já que Serra tem mídia nacional. No domingo, o ministro ocupou o horário nobre da televisão a fim de tratar de um programa para a hipertensão arterial.

Apesar do crescimento de Roseana nas pesquisas, Serra quer manter o plano de vôo que traçou: definir a candidatura entre o final de fevereiro e o início de março e ficar no governo até o último dia possível, para associar a candidatura à sua gestão na Saúde.

No impasse entre Serra e Aníbal, os tucanos pousaram no muro. O "spot" de hoje, em vez de apresentar um pré-candidato, será do tipo institucional, sobre ações sociais do governo. O que acontecerá com os próximos programas será decidido na reunião de hoje da Executiva.
O crescimento de Roseana está deixando nervoso o PSDB. Para o deleite do PFL. Na sigla, diz-se que Serra não quer fazer um programa semelhante ao de Roseana para o PSDB não perder o argumento de que seus candidatos não decolam nas pesquisas porque não têm o mesmo tratamento nos programas de TV da legenda.


PFL cobra do PSDB critério para chapa
O aumento do cacife do PFL, com a pré-candidata ao Planalto Roseana Sarney batendo na casa dos 20% de intenção de voto na pesquisa CNT/Sensus divulgada ontem, levou o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), a cobrar do PSDB uma "definição de critérios para a es colha de um candidato da aliança".
"O PFL já propôs as primárias. E o PPB, as prévias. É preciso que o PSDB diga logo quais critérios deseja fixar para a escolha do candidato para tratarmos de uma aliança, o que continuo a defender", afirmou Bornhausen.

Para ele, a indefinição no campo governista pode fazer prevalecer "o critério da colocação nas pesquisas quando chegar março", data que considera limite para a indicação de um candidato da aliança. Hoje, esse critério favoreceria Roseana, mas Bornhausen afirmou estar disposto a discutir outros critérios além da pesquisa.

Se comparadas às taxas de Roseana, as dos pré-candidatos tucanos são péssimas, de acordo com o levantamento divulgado ontem, o que pode levar o PFL a não abrir mão da cabeça de chapa, segundo membros da cúpula.
Bornhausen, porém, faz questão de manter o discurso do tempo em que os pefelistas tinham desempenho tão fraco nas pesquisas quanto os postulantes tucanos. Ele evita tratar a candidatura Roseana como fato consumado, mas admite, "esgotados todos os esforços" para uma aliança, disputar "com nome próprio".

Vices de Roseana
O crescimento de Roseana acabou animando tanto o PFL que alguns setores do partido já discutem, em caráter reservado, nomes de possíveis vices tucanos para uma eventual chapa governista encabeçada pela governadora. Nos bastidores pefelistas, o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), é um dos mais cotados. Além de ser jovem, Aécio é considerado bom articulador, e uma coligação com Roseana teria forte simbolismo, por ser a reedição "invertida" da chapa Tancredo Neves (avô de Aécio) e José Sarney (pai de Roseana), que marcou o fim do regime militar.

O presidente do PT, José Dirceu, disse ontem que o crescimento de Roseana pode acabar consolidando sua candidatura de tal forma que obrigue os tucanos a indicar o vice da pefelista. "O PSDB anda nervoso. O problema deles é não ter um candidato para dizer que a Roseana deve ser vice. Ela é que pode dizer que o Serra, o Tasso ou outro pode ser seu vice."


Pesquisa aponta Roseana em segundo lugar
A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), aparece em segundo lugar em dois cenários de voto estimulado na pesquisa da CNT/Sensus, divulgada ontem, atrás do pré-candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva.
Foram entrevistadas 2.000 pessoas em 195 municípios entre os dias 23 e 31 do mês passado. A margem de erro é de três pontos percentuais. No cenário número um da pesquisa de voto estimulado, Lula manteve a liderança, com 31,8%. Roseana obteve o segundo lugar, com 19,1%. No levantamento de setembro, a governadora havia ficado com 14,4%.

A seguir, apareceram Ciro Gomes (PPS), com 12,8%; o governador Itamar Franco (PMDB-MG), com 8,2%; o governador Anthony Garotinho (PSB-RJ), com 7,6%; o ministro da Saúde, José Serra (PSDB), com 4,8%; e Enéas Carneiro (Prona), com 2,8%.
No cenário em que Garotinho saiu do levantamento, Roseana marcou 21,8%. Na simulação em que foi retirada a governadora, Serra subiu para 8,2%, mas ainda seria o quinto colocado, segundo a pesquisa.


Itamar diz que PMDB é empecilho a 2002
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), afirmou ontem que seu partido pode dificultar seu caminho ao Planalto em 2002. "É muito difícil em face da organização partidária a que pertenço", afirmou o pré-candidato do PMDB.
Crítico do governo federal, Itamar enfrenta no PMDB a ala ligada ao governo. Em 98, na convenção do partido, Itamar, então pré-candidato, perdeu a disputa interna que decidiria se o PMDB teria candidato. O governador se encontrará amanhã com o presidente do PMDB, Michel Temer, que não descarta a hipótese de se lançar às prévias do partido.
Em queda na pesquisa CNT/ Sensus divulgada ontem, na qual tem 8,2% das intenções de voto (em setembro tinha 10,6%), Itamar recusou-se a falar de política durante palestra na Escola de Governo da USP. Mudou na última hora o seu discurso, e passou a falar sobre relações internacionais.


Artigos

O Brasil ficou pequeno
CLÓVIS ROSSI

GENEBRA - O discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso na Assembléia Nacional francesa continua dando margem a controvérsias. A mais desfocada é a que diz que o discurso é ruim porque não combina com a prática interna. Engano. O discurso é bom, apesar de não combinar com a prática interna ou exatamente porque não combina com ela.
Agora, um novo livro, posto ontem à venda em Londres, permite examinar o discurso à luz da realidade internacional. Trata-se de "The Protest Ethic", no qual John Lloyd analisa a social-democracia a partir do movimento de protesto contra a globalização corporativa.
Escreve Lloyd para o "Financial Times": "A centro-esquerda agora tem que desenvolver uma visão global de reforma das instituições existentes e de criação de novas. Ela tem que criar uma governança global capaz de promover justiça e prosperidade mais eficazmente".

O discurso de FHC vai na mesma direção: corrigir os óbvios problemas da governança global.
Posto de outra forma: o Brasil (como qualquer outro país que não sejam os Estados Unidos) ficou pequeno demais para que seus governantes possam resolver os problemas apenas com políticas internas. Não que sejam desnecessárias ou menores, são apenas insuficientes.
O momento, aliás, é propício para tentar influir, mesmo nos modestos limites do poder brasileiro, nessa eventual reformulação da governança global. Acaba de sair o relatório do que se chamou "grupo de pessoas eminentes dos mercados emergentes", propondo reformas que, até anteontem, seriam vistas como violências inadmissíveis pelo pensamento hegemônico dito neoliberal.

Entre elas, restrições temporárias ao fluxo de capitais, parente próximo da "taxa Tobin" que FHC defendeu, de novo, na França.
Se não gosta do discurso externo do presidente, a oposição faria bem em elaborar o seu próprio. Criticá-lo porque pronunciado na França e em francês é infantil.


Colunistas

PAINEL

Antes tarde
Acuado pelas denúncias de leniência do governo do RS para com o jogo do bicho, o PT decidiu deflagrar uma operação a fim de reprimir a contravenção no Estado. Com isso, a sigla acha que conseguirá demonstrar sua isenção. A ação foi definida pela Executiva Nacional, em SP.

Peixinhos e tubarões
O jogo do bicho no RS é dominado por 25 bicheiros, que formam o chamado "Grupo da Sorte". Com as blitze, o PT diz que pegará não só os apontadores, mas também os banqueiros.

Exposição duradoura
Do deputado Walter Pinheiro (PT), sobre a ida de José Serra ao Qatar, sede da TV Al Jazeera: "Depois de aparecer no Brasil três vezes em rede nacional em um mês, com certeza o ministro vai querer aparecer na Al Jazeera, a TV que está na moda".

Sem volta
A subida de Roseana Sarney nas pesquisas assustou a muitos tucanos. Temem que a candidatura da maranhense, que foi lançada para garantir ao PFL a vaga de vice na chapa do PSDB à Presidência, vire fato consumado.

Correndo por fora
Nem Serra nem Paulo Renato. José Gregori (Justiça) foi o ministro que mais apareceu em reportagens nas TVs abertas nos últimos três meses. Uma empresa de clipping apurou que Gregori foi exibido em média três vezes por dia no período.

Exame de candidato
Pré-candidato a presidente, Tasso Jereissati irá a Cleveland (EUA) no fim do mês para o check-up anual. O governador tucano vai ao mesmo hospital desde 86, quando sofreu a primeira complicação cardíaca.

Discurso pronto
De Duda Mendonça, que deve fazer a campanha de Lula, sobre as denúncias que envolvem gestões do PT: "Problemas ocorrem em todos os governos. A apuração e a condução dos casos são o que diferencia o PT".

Limpar a mesa
FHC vai empossar os novos ministros assim que retornar dos EUA - Aloysio Nunes na Justiça, Ney Suassuna na Integração Nacional e Arthur Virgílio na Casa Civil. Mesmo que o Senado não tenha sabatinado José Gregori, indicado para a embaixada em Lisboa.

Incidente diplomático
O representante do Sudão na ONU, embaixador Mohamed Majzoub, ficou doze horas retido na sala VIP do aeroporto de Guarulhos (SP) no domingo. A Polícia Federal diz que ele tentou desembarcar sem visto, para participar da conferência Habitat 2001, em SC. Brasília intercedeu para liberar o diplomata.

Medo de avião
Três parlamentares dos Estados Unidos cancelaram a inscrição na Conferência Parlamentar da América, que acontecerá no Rio de Janeiro entre 17 e 21 deste mês. Eles tomaram a decisão em razão dos atentados terroristas do dia 11 de setembro.

Momento oportuno
Só agora será entregue a FHC o título de honoris causa da Universidade Hebraica de Jerusalém, aprovado há dois anos. Na época, o presidente não pôde ir a Israel. A homenagem ao tucano, que defendeu na França a criação do Estado Palestino, será dada no dia 18, em São Paulo.

Migalhas
A prefeita Marta Suplicy (PT-SP) foi contemplada com apenas R$ 100 mi do total de R$ 1,44 bi previsto pelas emendas da bancada paulista ao Orçamento. Perdeu para as entidades privadas do Estado -a maior parte, hospitais particulares-, que deverão receber R$ 240 mi.

Medida preventiva
Novo líder de FHC no Senado, o tucano Artur da Távola (RJ) passou a distribuir aos aliados uma planilha com a orientação do governo federal para cada projeto incluído na pauta de votações. Para ninguém poder alegar que não sabia.

TIROTEIO

De Saulo Queiroz (PFL-MS), secretário-executivo do PFL, sobre as pré-candidaturas de Tasso Jereissati e de José Serra a presidente e o desempenho de Roseana Sarney nas pesquisas:
- O PSDB tem de entender que não dá para liderar uma chapa presidencial por direito divino. Tem de ter voto.

CONTRAPONTO

Punição exemplar
Quando vê alguém fumando, Leonel Brizola costuma contar que largou o cigarro em 1986 "graças a Moreira Franco". Hoje assessor especial de FHC, Moreira Franco é inimigo político de Brizola há muitos anos. Os dois se detestam.
Em 1982, Brizola foi eleito governador do Rio de Janeiro ao derrotar Franco (PDS) numa disputa tumultuada. Na ocasião, a Proconsult, empresa encarregada de totalizar votos, foi acusada de criar um programa de computador que desviava votos para Franco.
Quatro anos depois, Brizola lançou Darcy Ribeiro à sua sucessão. A disputa foi novamente com Franco, então no PMDB. Ele acabou vencendo a eleição - para desespero de Brizola, que dizia que jamais poderia ter perdido para o rival.
Brizola revela:
- Tive de me autoflagelar. Decidi que nunca mais fumaria.


Editorial

POLÍTICA EM RISCO

São preocupantes as repercussões do mais recente pacote econômico lançado pelo governo da Argentina na semana passada.
Fundamentalmente, o Executivo manifestou a disposição de renegociar sua dívida limitando em 7% os juros anuais. Houve também medidas tímidas de incentivo à atividade econômica, como a redução da contribuição dos trabalhadores para os fundos de pensão.
O objetivo dessas medidas é possibilitar que o governo consiga honrar seus compromissos, visando a recuperar a confiança dos investidores na economia da Argentina.
Mas o risco-país (índice que reflete a sobretaxa exigida pelos compradores de títulos de dívida externa de um país em relação ao que paga o Tesouro dos EUA) saltou da casa dos 2.000 para quase 2.500 pontos.

O Fundo Monetário Internacional e o G-7 (o grupo dos sete países mais ricos) deram apoio discreto, demonstrando ceticismo.
Já existe no cenário internacional um certo consenso de que medidas tradicionais não conseguirão resolver o problema da Argentina. Nesse sentido, é importante destacar que o atual pacote atingiu pela primeira vez os credores internos e externos.
Mas as instituições multilaterais ainda consideram essa medida insuficiente para contornar a crise. Além de não resolver o problema da dívida, o pacote deixa intacta a sobrevalorização cambial que arrasa a competitividade dos produtos argentinos.

O caminho aparentemente mais recomendável seria, então, o de adotar medidas que incluíssem o fim do regime de conversibilidade e um "default" da dívida argentina.
É possível que as medidas recentemente anunciadas sejam um primeiro passo nessa direção. No entanto é preciso torcer para que a lentidão com que esse consenso está se formando internamente não venha a causar uma crise política que ameace as instituições argentinas.


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11/06/2001


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