Direção petista teme que crise gaúcha atrapalhe Lula









Direção petista teme que crise gaúcha atrapalhe Lula
Direção petista receia que prévia entre Olívio e Tarso rache partido

O PT teme que a prévia para definir o candidato ao governo gaúcho, a ser disputada entre Olívio Dutra e o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, cause um racha irreversível no partido e prejudique a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.

A disputa, segundo avaliação interna no PT, preocupa muito mais do que a prévia presidencial entre Lula e o senador Eduardo Suplicy. O motivo é simples: Olívio, governador do Rio Grande do Sul, e Tarso são dois dos principais líderes nacionais petistas, que têm ressentimentos históricos e estão em conflito no lugar que se propõe a ser a vitrine do partido.

Nos próximos dias, a direção petista pressionará ambos a que façam um acordo ou, pelo menos, moderem o tom das críticas mútuas, em uma operação que deverá ter a participação pessoal de Lula. As prévias presidencial e estadual ocorrerão em 17 de março.

O sinal amarelo acendeu anteontem, com a acusação feita por Tarso de que Olívio usa métodos "stalinistas", em razão de suposto boicote da TV pública gaúcha à participação do prefeito no Fórum Social Mundial.
Além da mágoa entre os dois, que vem da tumultuada prévia estadual de 1998, há uma feroz disputa de poder entre os moderados, ligados a Tarso, e os radicais petistas, próximos a Olívio.

Ao contrário da situação majoritária do país, em que os moderados preponderam, no Rio Grande do Sul os dois grupos estão em pé de igualdade. No Estado, quinto colégio eleitoral do país, Lula venceu em 1994 e 1998. Rachado, o PT poderia perder esse reservatório de votos. Alguns petistas dizem que o ideal seria Tarso abrir mão em favor de Olívio.

O governador seria um candidato "natural", por ser o atual ocupante do cargo. O arquivamento de denúncias de ligação do governo com o jogo do bicho, somado ao sucesso do fórum, contribuíram para elevar seu cacife.
Tarso, por sua vez, teria de renunciar à prefeitura após cumprir menos da metade de seu mandato, deixando-a na mão de seu vice, João Verle, da corrente radical.

Haveria o risco, assim, de ele, além de perder a disputa estadual, causar turbulência na administração que mais orgulha o partido, a de Porto Alegre. Em seu favor, o prefeito da capital gaúcha tem aparecido em melhores condições eleitorais nos levantamentos internos do partido do que Olívio.

Para desistir, Tarso teria de obter uma compensação, como um lugar de destaque na campanha de Lula -há quem sugira que poderia obter o posto de coordenador do programa petista, no lugar do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel.

Em contraste, a prévia presidencial segue tranquila. Suplicy tem procurado retomar a ponte com a cúpula partidária, trincada no final de 2001. Sua atitude de aceitar "comportado" o fato de o PT não ter marcado debates com Lula surpreendeu o partido.

Na cúpula petista, há a interpretação de que o senador busca se cacifar para ser vice de Lula, se o partido perder o apoio do PL. O senador nega que pense no assunto, mas deixa uma porta aberta: "Sou candidato a presidente. Se o Lula vencer a prévia, eu o ajudarei da forma que o PT achar melhor".


FHC afirma que é preciso mudar, mas "continuar"
Em discurso de 2 horas, presidente dá mote ao candidato governista

Numa espécie de "aula" de duas horas de duração, Fernando Henrique Cardoso reuniu o ministério para fazer um balanço de seus sete anos de governo e mandar recados. O principal deles é que o governo tem uma obra importante e inconclusa, que precisa ser levada adiante por seu sucessor. O discurso dá o mote para o candidato do governo ao Planalto.

"É preciso continuar, é preciso mudar muita coisa, avançar mais. Mas não jogar fora tudo que está aí. Nós não vamos deixar jogar fora um novo Brasil", afirmou ele, sem defender explicitamente o pré-candidato de sua preferência. O ministro José Serra (Saúde) ocupava a primeira fileira do auditório e teve a gestão mencionada com destaque no discurso.

Cerca de 200 pessoas ouviram a exposição, entre elas os 26 ministros -13 deles deixarão seus cargos até abril para disputar as eleições de outubro.

Ao deixar o auditório junto com o ministro Pedro Malan, Serra foi questionado se manteria o colega no Ministério da Fazenda, se fosse eleito. Foi Malan quem respondeu: "Serra, não aceite provocação". Dizendo que era preciso primeiro ganhar as eleições, Serra se esquivou das perguntas sobre o discurso de FHC.

Limitou-se a dizer que não havia se programado para dar entrevista e não iria correr o risco de falar bobagem.
Sem citar Serra nominalmente, FHC deu destaque à atuação do Ministério da Saúde e classificou de revoluções o programa Saúde da Família e a política de medicamentos genéricos. Nesse trecho, FHC citou o senador José Sarney, pai de Roseana Sarney (PFL), lembrado como autor do projeto de lei que obriga o governo a custear o tratamento contra Aids.

O presidente dedicou boa parte de sua exposição ao Nordeste, mostrando indicadores segundo os quais a região melhorou muito nos últimos sete anos. Trata-se de uma referência à região tida como desprezada pelos tucanos.

Apesar de a maioria do discurso fazer um auto-elogio, o presidente não deixou de fazer um mea culpa em relação às crises da segurança pública e da energia elétrica. "Nem tudo foram glórias."

Sobre a segurança, disse que todos são responsáveis, tanto o governo federal como os governos estaduais, "historicamente e presentemente". Sobre a crise de energia, deixou de atribuir o problema exclusivamente às chuvas, como fez em dezenas de ocasiões. Disse que o modelo de privatização adotado pelo governo "não estava bem equacionado".

Admitiu que "a situação não está uma maravilha", mas insistiu que era pior antes do Plano Real, de 94. "Se olharmos para trás, não havia nada." Foi menos enfático do que de costume nas críticas aos seus opositores, a quem se referiu como pessoas que ficam olhando para o retrovisor.

Em tom de campanha, FHC afirmou que ganhou duas eleições "dizendo ao povo o que ia fazer, e o resultado aí está". Disse esperar que o próximo governo seja muito melhor do que o seu e que está pronto a aplaudi-lo.


Serra foi "aluno" mais atento ao discurso
O tom solene da reunião ministerial foi quebrado por um penetra, um certo Roberval Uzeda, que aplaudiu diversas vezes o presidente Fernando Henrique Cardoso, causando constrangimento na platéia e deixando os seguranças de prontidão para o caso de precisarem retirá-lo do local.

Ao final da reunião, todas as atenções se voltaram para o ministro da Saúde, José Serra. Ele anotou boa parte da "aula" de FHC. Foi o mais aplicado ouvinte do discurso. O auditório de um prédio anexo do Palácio do Planalto com capacidade para 200 pessoas foi lotado por autoridades do primeiro e segundo escalões do governo.


Presidente diz que "há muitos pobres no Brasil"
Ao reconhecer que "há muitos pobres no Brasil", o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o governo federal repassou no ano passado cerca de R$ 29 bilhões em programas sociais para a população carente. Ele criticou os que têm apenas "retórica" em relação à pobreza.

Das duas horas de discurso, FHC gastou metade falando sobre as ações executadas no Nordeste e dividiu o restante entre vários temas, dando destaque aos programas da Saúde, entre os quais o de combate à AIDS e o dos genéricos. A seguir os principais trechos do discurso do presidente.

Saúde - Depois do Nordeste e das ações do governo na região, foi o tema ao qual dedicou mais tempo. O ministro da pasta -José Serra- é o pré-candidato tucano


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