CPI gaúcha apreende lista de petista







CPI gaúcha apreende lista de petista
Oficiais de Justiça apreenderam documentos no apartamento do presidente do Clube de Seguros da Cidadania, Diógenes de Oliveira, depois que a CPI gaúcha da Segurança Pública conseguiu autorização judicial para entrar no local. A CPI investiga supostas relações entre o jogo do bicho com o PT e com o governo gaúcho.
O principal documento apreendido pelos oficiais de Justiça e pelo deputado Vieira da Cunha (PDT), relator da CPI, foi uma lista de pessoas que teriam contribuído para a aquisição de um prédio pelo Clube da Cidadania, cedido em comodato ao PT em 98.

Oito pessoas assinaram um documento em julho deste ano mencionando o empréstimo, supostamente feito em junho de 1998. O valor não atinge os R$ 80 mil que Diógenes dissera ter arrecadado. O total chega a R$ 32 mil.
Os deputados consideraram a lista ""sob suspeita" de ser uma armação para justificar a arrecadação. Vieira da Cunha disse que o depoimento de Oliveira já não é necessário para seu relatório.
Oliveira foi convocado pela CPI após ter aparecido em um CD falando com o ex-chefe de polícia Luiz Fernando Tubino sobre relações do PT com o jogo do bicho. O Clube da Cidadania arrecadou fundos para comprar um prédio, depois cedido ao PT. Na última segunda, ele teve pressão alta e taquicardia após oito horas de seu depoimento, que foi suspenso.

As pessoas que constam na lista serão convocadas pela CPI. Como o relatório terá de ser concluído no próximo dia 14, deve ser aberta nova comissão para investigar a corrupção no governo gaúcho.
Foram encontradas ainda agendas com páginas rasgadas e correspondência em alemão. Os deputados querem verificar se Oliveira tem conta na Alemanha.
Também está sendo investigado o depósito de R$ 20 mil na conta de Juares Motta de Paula, segurança de Olívio Dutra, no dia 1º de outubro de 1998. No seu depoimento, Oliveira disse não saber quem é Motta. A CPI vai convocá-lo. Ele não foi encontrado ontem para falar sobre o assunto.

Para hoje, está previsto depoimento do filho do governador Olívio Dutra (PT), Espártaco Dutra, um dos doadores do Clube da Cidadania. O advogado de Oliveira, Ricardo Cunha Martins, protestou contra a busca na residência do seu cliente e disse que vai pedir reforço na sua segurança à Secretaria da Justiça, por ter recebido uma ameaça de morte.


Justiça aprova contas de Taniguchi após escândalo
As contas do prefeito de Curitiba, Cassio Taniguchi (PFL), na campanha de reeleição do ano passado, só foram aprovadas realmente ontem pela Justiça Eleitoral -um dia depois de Taniguchi declarar, por meio de nota oficial, que suas contas tinham sido aprovadas, sem ressalvas, pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Uma decisão anterior, também de aprovação das contas, tinha sido anulada porque a Justiça não solicitou, na ocasião, o parecer do Ministério Público.

A decisão de ontem, assinada pelo juiz da 1ª Zona Eleitoral de Curitiba, Expedito Reis do Amaral, saiu um dia depois de a Folha ter publicado reportagem mostrando que a campanha de Taniguchi teria um caixa dois que movimentou pelo menos R$ 29,8 milhões não-declarados à Justiça.
Amaral aprovou a prestação de contas de R$ 3,11 milhões que o PFL apresentou à Justiça Eleitoral. Ele disse ter se baseado em um parecer do Ministério Público, que concluiu pela inexistência de irregularidades após análise contábil feita nos gastos de campanha declarados pelo partido.

No entanto, o juiz afirmou que a decisão de ontem ainda poderá ser alterada pela própria Justiça Eleitoral. "Nada impede que seja feita uma investigação. Se constatadas irregularidades, esta decisão de hoje (ontem) não prevalecerá", afirmou o magistrado.
Segundo ele, o caso poderá ter implicações além da esfera eleitoral. "Se for comprovado o caixa dois, haverá desdobramentos na área criminal", afirmou.

Investigação
O juiz disse ainda que ele mesmo vai tomar a iniciativa de solicitar investigação sobre a existência do caixa dois, caso a Justiça não receba até amanhã um pedido formal de apuração do caso, como anunciaram partidos de oposição, como o PMDB e o PT.
Amaral recebeu em setembro os processos relativos a todas as prestações de contas das campanhas do ano passado, depois que o TRE anulou a primeira decisão. O juiz afirmou que já tinha programado a sentença sobre as campanhas para esta semana.
Ele disse que, em virtude da denúncia da Folha, chegou a "refletir bastante" sobre tomar ou não uma decisão ontem, mas acabou proferindo sentença para não "prorrogar muito" a análise das contas de campanha.

Segundo ele, a sentença só não saiu antes "por absoluta falta de tempo".
O vereador André Passos, líder do PT -maior bancada de oposição- na Câmara de Curitiba, lamentou a decisão da Justiça.
"É uma pena que o Judiciário tenha ficado só no aspecto formal (da análise das contas). No Brasil, nunca haviam sido mostrados tantos indícios da existência de um caixa dois de campanha", afirmou o vereador do PT.

O vereador disse esperar que a Justiça reconsidere a decisão e "apure as denúncias".
Ontem, a Promotoria de Defesa do Patrimônio Público instaurou procedimento administrativo investigatório para apurar o conteúdo das reportagens da Folha.
A investigação pode resultar em processo criminal contra Taniguchi. Promotores do órgão estiveram ontem na casa do tesoureiro da campanha do PFL, Francisco Paladino Júnior -que confirmou a autenticidade dos documentos obtidos pela Folha. Paladino não foi encontrado.

Outro lado
O prefeito Cassio Taniguchi foi procurado ontem, mas não se pronunciou sobre o assunto. Sua assessoria informou que o PFL é quem deveria falar sobre o caso, já que o partido foi o responsável pela campanha eleitoral.
Na sede do partido, ninguém atendia o telefone até o final da tarde de ontem.


Bornhausen atuou em eleição
A declaração do presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), sobre a existência de documentos comprovando a existência de um caixa secreto de campanha do partido no Paraná, causou mal-estar entre pefelistas paranaenses. No segundo turno das eleições em Curitiba, no ano passado, Bornhausen participou ativamente da campanha de Cássio Taniguchi, reeleito contra Ângelo Vanhoni (PT).
Bornhausen não entrou no mérito da denúncia nem defendeu o prefeito. Segundo ele, o diretório do PFL no Paraná iria esclarecer tudo, "na forma da lei". Ontem, pefelistas ligados a Taniguchi lembravam que o presidente do partido utilizou a vitória em Curitiba para aumentar seu poder de negociação em nível federal.

Depois da vitória de Cássio, Bornhausen chegou a ironizar a derrota do petista Vanhoni, que é bancário. "Um banqueiro não pode perder para um bancário", disse na época o senador.
Sua participação no segundo turno das eleições em Curitiba foi ativa e acabou, na época, provocando a saída do coordenador político de Taniguchi no primeiro turno, Marcos Isfer.
Bornhausen participou da campanha no segundo turno como estratégia para melhorar a situação de Taniguchi que praticamente terminou empatado com Vanhoni no primeiro turno.
Hoje no PPS, Isfer preferiu ontem não comentar suas desavenças com a direção nacional do PFL na época. "Fui coordenador e as divergências me levaram para fora da coordenação, não quero comentar nada agora", disse Isfer.
Bornhausen e Giovane Gionédis, ex- secretário de Fazenda de Lerner, também tiveram atritos na condução da campanha do PFL em Curitiba. A crise entre os dois provocou a saída de Gionédis do governo Lerner.


CPI depende de assinatura do PPS
Está nas mãos do PPS do presidenciável Ciro Gomes a possibilidade de a Câmara de Curitiba abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para apurar as irregularidades da campanha do prefeito Cássio Taniguchi, demonstradas em reportagens de anteontem na Folha.
A bancada de oposição na Câmara defende a instauração da CPI, mas para apresentar o pedido de abertura são necessárias 12 assinaturas (a Câmara tem 35 vereadores). Como a bancada de oposição reúne 11 vereadores, a estratégia é tentar convencer Arlete Caramês, que pertence ao partido de Ciro Gomes, a também assinar o pedido.

Caramês foi eleita pelo PPB e apoiou a reeleição de Taniguchi, do PFL. Embora tenha uma postura considerada "independente", a vereadora costuma apoiar a bancada governista.
Ela não foi localizada ontem para dizer se já tomou uma decisão, mas a Agência Folha apurou que ao trocar de legenda, há cerca de um mês, a vereadora teria comunicado aos dirigentes do PPS que continuaria apoiando Taniguchi na Câmara.

Dirigentes do partido pretendem se reunir no final de semana para estudar uma maneira de convencer Caramês a apoiar a criação da CPI.
Caso a comissão seja aberta e investigue o assunto, seu relatório final -que pode pedir processo de impeachment para o prefeito- precisará dos votos da metade dos vereadores mais um para ser aprovado.


Almirante diz ter recebido depósito de R$ 28 mil
O almirante Sergio Tavares Doherty confirmou à Folha que Alexandre Paes dos Santos depositou cerca de R$ 28 mil em sua conta bancária, conforme indicado na agenda do lobista.
Segundo Doherty, APS utilizou sua conta para enviar remessas ao Rio, onde o lobista abriu uma filial de sua empresa para atender aos fluminenses.
Os recursos teriam sido utilizados no pagamento de aluguel de salas, compra de computadores e móveis para o escritório.

Doherty foi diretor de Portos e Costas da Marinha até 1992 e diretor de Transportes Aquaviários do Ministério dos Transportes até 1994.
Zulaiê Cobra (PSDB-SP) negou ter recebido qualquer quantia do lobista. Disse que só marcou uma audiência para a empresa Gtech na Caixa Econômica Federal a pedido do ex-senador tucano José Richa (PR).
Zulaiê o interpelou judicialmente e enviou à Folha resposta recebida. "Posso categoricamente afirmar que a letra K isoladamente nada significa", disse APS. Carlos Mosconi (PSDB-MG), Robson Tuma (PFL-SP) e Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) também negaram o recebimento de quantias em dinheiro. Sebastião Madeira (PSDB-MA) não foi encontrado pela reportagem. "Não tenho nenhuma relação comercial com ele [Alexandre"", afirmou Tuma.

O ex-senador José Richa disse que não conhecia o lobista Alexandre Paes dos Santos. "Quem é esse cara?," perguntou. Mas depois acabou se lembrando: "Não tenho nada a ver com esse cara". Ele confirmou ter pedido à deputada Zulaiê Cobra para intermediar uma audiência entre a Gtech e a Caixa Econômica Federal (CEF). O presidente da Voith Siemens, Edgar Horny, não foi localizado. A Pirelli informou que seu relacionamento com APS "resume-se a orientação e assessoria no encaminhamento de documentos". Felipe Amodeo, advogado de APS, disse que seu cliente não vai se pronunciar sobre o significado da indicação K em sua agenda.


Lula defende CPMF até 2004 e bicho legal
O presidenciável petista Luiz Inácio Lula da Silva defendeu um déficit público até um "limite" que não prejudique o país, quer a CPMF até 2004, disse ser a favor da legalização do jogo do bicho e recomendou a desvalorização do peso na Argentina.
Lula fez essas declarações polêmicas em Brasília durante um jantar com jornalistas que terminou à 1h de ontem. O encontro foi promovido pelo restaurante Piantella, ponto tradicional de políticos na capital federal.
Lula também opinou sobre o PSDB. Apesar das evidências em contrário, disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso não deseja o ministro José Serra (Saúde) como seu sucessor.
A seguir, os principais comentário do petista no jantar.

DÉFICIT PÚBLICO - Eu não tenho déficit zero na minha casa. Eu faço dívida de acordo com a minha capacidade de pagar. O Estado terá déficit até o limite onde não prejudique o projeto de desenvolvimento do país. Nós não vamos governar o Brasil na lógica atual.

ROSEANA - O PFL percebeu as divergências internas do PSDB e apresentou o nome da Roseana. De forma inteligente, o PFL tenta trabalhar a mulher. Acho que isso não se sustenta. Eu me lembro da minha campanha de 1982, ao governo de São Paulo. O lema era trabalhador vota em trabalhador. Só que trabalhador não vota em trabalhador, mulher não vota em mulher, homossexual não vota em homossexual...

ADVERSÁRIO - Eu sempre achei que o Fernando Henrique nunca quis o Serra como candidato do PSDB. Até porque quando começar a pauleira, o Serra vai querer se diferenciar [do governo".
É mais fácil o PSDB vender um nordestino de olhos azuis para São Paulo do que vender o Serra para o Nordeste.

MARKETING - O Nizan [Guanaes] simplifica a coisa como se o marketing ganhasse eleição. O que o Nizan tentou é se vender: "Me compre que eu faço com você igual eu fiz com a Roseana".
Eu não aceito ser vendido como um sabonete. Mas é evidente que eu posso me vestir melhor, me pentear melhor, ficar mais bonito.

CPMF - Estou convencido de que o bom senso vai prevalecer. Será irresponsabilidade o governo querer nos sinucar. Essa Casa [o Congresso] não será irresponsável a esse ponto, votando a CPMF apenas até 2003 e não até 2004.

JOGO DO BICHO e PT - Há 50 anos que jogo do bicho é contravenção, e bicheiro vai a posse de governador, vai a festas, vai a todo lugar e nada acontece. O que acho é que a única forma é legalizar. Quem não quer isso é a polícia, políticos e bicheiros. O único jeito é a Caixa Econômica Federal assumir.
No caso do Rio Grande do Sul, conversei com o Olívio Dutra, vamos deixar apurar tudo.

ALCA e ARGENTINA - A Alca é mais uma política de anexação econômica do que um acordo comercial. O Brasil precisa continuar apostando no Mercosul.
A Argentina sofreu o baque com a desvalorização no Brasil. O Brasil tem de ajudar. Como? Acreditando no Mercosul.
O Brasil mentiu quando disse que um real valia um dólar. E a Argentina mente quando diz que um peso vale um dólar. Acho que deveria desvalorizar.

FHC - Assim como o Fernando Henrique é capaz de fazer um discurso antiamericano na França, pode ir para os Estados Unidos agora e fazer um discurso contra a França. Se eu fizesse um discurso como o dele, as manchetes seriam "o Lula é o Taleban da política".


PMDB mineiro faz ato por candidatura Itamar
O PMDB de Minas Gerais realiza hoje uma espécie de lançamento oficial da campanha do governador Itamar Franco à prévia que o partido realizará em janeiro para indicar o candidato da sigla à Presidência, embora Itamar já esteja em campanha há duas semanas, viajando pelo país.
O evento terá a participação restrita de peemedebistas mineiros e visa a demonstrar força. "O PMDB de Minas está unido para dar a vitória a Itamar. Dizer que ele tem 100% de apoio pode ser exagero, mas ele tem mais de 90%", disse Aloísio Vasconcelos, vice-presidente regional da sigla.
É difícil encontrar um itamarista ou um peemedebista mineiro que coloque em dúvida o sucesso de Itamar na prévia, caso ela aconteça sem atropelos.

A questão, no entanto, é saber se a cúpula nacional do partido, que está alinhada com o governo federal e disposta a trabalhar pela manutenção da aliança governista em 2002 -sustentada pelo PSDB, PFL e PMDB-, não vai criar dificuldades e restrições, já que ela controla o partido.
Além do governador de Minas, está na disputa o senador gaúcho Pedro Simon.
Um nome da ala governista pode ser lançado para esse embate. O mais cotado é o do presidente nacional da legenda, deputado federal Michel Temer (SP), que voltou na semana passada de uma viagem à Europa com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem grande interesse na derrota de Itamar.


Suíça abre processo para apurar movimentação bancária de Maluf
O procurador-geral do Cantão de Genebra, Jean-Louis Crochet, informou oficialmente ao Ministério Público de São Paulo, na última segunda, que foi aberto processo nº 11.087-01 para investigar a movimentação bancária do ex-prefeito Paulo Maluf na Suíça.
Em resposta à carta que lhe foi enviada pela promotoria paulista há um mês, Crochet anuncia a nomeação do juiz de instrução Claude-François Wenger para comandar a apuração. Pela legislação do Cantão (equivalente suíço a um Estado do Brasil), Wenger pode intimar testemunhas e preparar ações judiciais. Os juízes de instrução também são competentes para atender aos pedidos de cartas rogatórias (solicitações de diligências vindas do exterior).

Uma semana depois de Maluf ter sido excluído da ação dos precatórios (dívidas judiciais), em que era réu, e ter conseguido a suspensão da quebra do sigilo bancário de seus familiares, a confirmação do processo foi considerada importante pela promotoria, já que Crochet poderia ter decretado seu arquivamento.

Outro lado
Ricardo Tosto, um dos advogados de Maluf, questionou o envio de carta a Crochet sem a chancela do Itamaraty ou da Justiça. "Os promotores não podem mandar fax para todos os países do mundo pedindo informações sobre terceiros", disse.


Artigos

A escolha do Brasil
CLÓVIS ROSSI

DOHA (Qatar) - Steven Pearlstein, um dos melhores repórteres do jornal "The Washington Post", analisava na segunda-feira a recessão que se vai tornando global até introduzir o seguinte parágrafo:
"Os únicos países que parecem estar enfrentando a queda global -Índia, China, Rússia e alguns do Leste Europeu- são os que resistiram à completa integração na economia mundial, retendo vestígios de socialismo e de mercados protegidos."
No ambiente maniqueísta em que se dá boa parte do debate no Brasil, Pearlstein seria logo acusado de perigoso comunista. Para os brasileiros que acham que só há preto e branco no mundo, quem ousa dizer que é possível se dar bem sem se render por inteiro aos mercados só pode ser um bolchevique daqueles. É uma tolice, mas muito forte no país.

O diabo é que as coisas são mais complicadas do que esse Fla-Flu ideológico. Não é preciso, a partir da informação (correta, aliás) de Pearlstein, correr para implantar o socialismo ou para elevar as tarifas de importação de tudo às alturas, como se fossem a panacéia universal.
A escolha é menos dicotômica do que socialismo/capitalismo, abrir tudo/fechar tudo, integrar-se totalmente/fugir totalmente da integração.
É esse tipo de escolha complexa que o Brasil vai enfrentar de novo, a partir de amanhã, na Conferência da OMC (Organização Mundial do Comércio). O que está em jogo é a possibilidade de fazer políticas industriais, de desenvolvimento e de saúde ou, então, render-se a regras que só beneficiam o mundo rico.

Não custa repetir frase de Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, na entrevista publicada segunda-feira pela Folha: "A liberalização comercial contribuiu para a degradação das economias de muitos países em desenvolvimento, porque os expôs à incerteza dos mercados internacionais". Pelo menos alguns negociadores brasileiros já perceberam a armadilha. Agora é esperar as consequências da descoberta.


Colunistas

PAINEL

Nariz empinado
Apesar do crescimento de Roseana (PFL) nas pesquisas, a maioria dos tucanos -principalmente os ligados a Serra- continua a menosprezar sua pré-candidatura. Diz que o seu desempenho foi inflado pelos comerciais de TV e que não se sustentará por muito tempo.

Cálculo de risco
Para muitos tucanos, o lançamento de Roseana serve apenas para o PFL negociar a vice na chapa dos aliados na eleição de 2002. "Diziam a mesma coisa de Collor", rebate um pefelista.

Passo a passo
Enquanto tassistas e serristas brigam feio no PSDB, Roseana segue à risca a estratégia montada pelo PFL para alavancar seu nome. O próximo passo será montar um escritório político em Brasília para a coordenação de sua pré-campanha.

No ar
Assim como os tucanos, Garotinho (PSB-RJ) minimiza o crescimento de Roseana: "Temos de ver que ela virou uma verdadeira superstar pop. Está todo dia na TV". Em dezembro, o PSB usará a mesma tática do PFL, destinando todo o seu tempo de TV à exibição do governador.

Troca de gentilezas
Aliados de Tasso estão chamando Serra de "candidato Campari". Explicação: seria muito amargo. O apelido foi criado em resposta ao "Traço Jereissati", lançado por serristas para ironizar o desempenho do cearense nas pesquisas.

Tudo pelo social
Maldade que circula em Brasília: se Roseana (PFL) vencer a eleição de 2002, José Sarney vai voltar a mandar no Brasil. E Jorge Murad, marido da governadora, será o responsável pela articulação política e empresarial.

Luz acesa
A administração do Senado pediu à CEB (Companhia Energética de Brasília) a revisão das metas de consumo de energia elétrica de 21 dos 81 senadores.

Afago bem-vindo
De olho no apoio do PDT, Ciro Gomes foi um dos primeiros a telefonar para Leonel Brizola após a divulgação de denúncias sobre o crescimento patrimonial do pedetista. O ex-governador do Rio anotou em seu caderninho o fato de Lula (PT) não ter tomado a mesma atitude.

Estrela de fora
O PTB convidou Patrícia Pillar para apresentar o programa de TV do partido, a ser exibido no dia 29. A namorada de Ciro recusou. Mandou dizer que tinha impedimentos contratuais.

Rastro do dinheiro
A CPI que investiga o jogo do bicho no RS recebeu informação de que um segurança de Olívio Dutra comprou dois carros pouco antes de receber R$ 20 mil de uma ONG ligada ao PT, suspeita de ter obtido doações de bicheiros. A CPI quer saber se os carros foram usados na campanha eleitoral de 1998.

Desvio de função
Os atentados nos EUA provocaram grande deslocamento de agentes da Polícia Federal para aeroportos e postos nas fronteiras. Só em SP 30% do efetivo foi atuar nos aeroportos. Resultado direto: ações tradicionais, como o combate ao narcotráfico, ficaram em segundo plano.

Para americano ver
A Federação Nacional dos Delegados da PF vai reunir cerca de cem delegados em Itu (SP) no final do mês para saber se há necessidade de tanta mobilização de agentes nas portas de entrada do país. Delegados acham que a movimentação serve só para dar satisfação à opinião pública.

Abriu a porta
Marta Suplicy diz que o único pedido de audiência feito por Erundina (PSB) foi um apelo para que a prefeita recebesse uma comissão de perueiros. A petista avisa que chamará a deputada para uma conversa sobre assuntos da cidade.

TIROTEIO

De Jair Krischke, presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do RS, sobre líderes nacionais do PT defenderem a apuração das denúncias sobre as relações com o jogo do bicho, mas previamente isentarem o governador Olívio Dutra (PT-RS) de qualquer culpa:
- Causa espanto essa postura. Só haverá transparência se existir uma apuração a fundo.

CONTRAPONTO

Reserva de mercado
A Comissão de Assuntos Sociais do Senado discutiu na manhã de ontem por quase duas horas um projeto que cria a profissão de treinador de goleiro.
O texto aprovado prevê que só poderá exercer a atividade quem possuir diploma de professor de educação física ou já tiver cinco anos de experiência.
A oposição votou contra o projeto, que ainda terá de passar por deliberação do plenário.
Tião Viana (PT-AC), um dos representantes da oposição na comissão, argumentou que o projeto estava criando uma espécie de casta. Disse que a atividade deveria ser aberta a qualquer tipo de profis sional. Um ex-goleiro, por exemplo. Rindo, o senador Tião ironizou a aprovação do projeto:
- Em breve, desse jeito, o Senado vai acabar criando a profissão de benzedeiras. Mas vai exigir que tenham nível superior em feitiço.


Editorial

CONFLITO E CONCILIAÇÃO

É notório que a aviação passa por uma grave crise mundial, que não tem poupado nem as maiores empresas do setor. Em um ambiente propício ao acirramento de medidas protecionistas, deve ser saudada a iniciativa do governo canadense de procurar o governo do Brasil para tentar resolver, fora dos tribunais da Organização Mundial do Comércio, a disputa em torno do mercado de aviões regionais, envolvendo a companhia canadense Bombardier e a brasileira Embraer.
Atualmente, o Brasil está em vantagem nessa disputa comercial, que já dura seis anos. A OMC deu um prazo de 90 dias para o Canadá retirar os subsídios que concede à Bombardier. Caso contrário, esse país poderá sofrer uma retaliação comercial de até US$ 4 bilhões do Brasil.

Mas o Canadá já foi anteriormente autorizado a retaliar o Brasil em R$ 1,4 bilhão. Tal decisão fez o governo brasileiro alterar o Proex (Programa de Financiamento às Exportações).
Há bons motivos para afirmar que o caminho da conciliação com o Canadá é mais adequado. A possibilidade de retaliar o Canadá é de efeito discutível, já que não compensaria diretamente a Embraer. Além disso, a empresa já conquistou um expressivo lugar no mercado internacional e depende menos do apoio público.
Nesse contexto, estabelecer termos adequados para a disputa entre Embraer e Bombardier seria um bom caminho inclusive para que o Brasil pudesse reformular o Proex sem inviabilizar novos projetos da Embraer.
Por ser um programa que despende recursos a fundo perdido, o Proex custa muito caro. Uma estratégia mais sistemática de apoio às exportações deveria dar prioridade a um fundo rotativo, que conceda financiamentos sem a necessidade de constantes aportes do Tesouro Nacional.

Por fim, vale lembrar que a disposição de obter um acordo com o Canadá não significa que o Brasil deva deixar de pressionar a OMC para que países emergentes tenham regras mais flexíveis para apoiar setores industrias estratégicos. Afinal, amenizar o histórico desequilíbrio do comércio mundial deveria ser um dos objetivos precípuos da OMC.


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11/08/2001


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