Eleição da Amepe mostra divisão no TJ





Eleição da Amepe mostra divisão no TJ
Mozart Valadares conta com o apoio dos novos juízes, enquanto José Fernandes é candidato do TJPE e do TER

Dois grupos rivais da magistratura do Estado voltam a se enfrentar amanhã durante a eleição da Associação dos Magistrados de Pernambuco (Amepe), que decidirá quem será o novo presidente e definirá a composição da diretoria. De um lado, o atual presidente, Mozart Valadares, apoiado pela nova safra de juízes e pelo desembargador Bartolomeu Bueno. Do outro, o desembargador José Fernandes, que tem como principais cabos eleitorais o futuro presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), desembargador José Napoleão, e o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), Antônio Camarotti.

Além da disputa da Amepe, haverá no mesmo dia a eleição no TJPE. De uma só vez os desembargadores vão votar para o novo presidente do Tribunal, do vice, do corregedor geral e do diretor-presidente da Escola de Magistratura de Pernambuco. O desembargador Napoleão Tavares, que ocupa o cargo de vice-presidente do Tribunal, deve ser indicado para assumir o lugar do atual presidente, desembargador Nildo Nery. O critério adotadopara ocupar a vaga tem sido o da antigüidade.

A vaga de vice-presidente deve ser ocupada pelo desembargador Macêdo Malta. Para o cargo de diretor da Escola de Magistratura, atualmente dirigida pelo desembargador Etério Galvão, o desembargador Jovaldo Nunes garante que será eleito. Ele faz parte do grupo que defende a vitória do desembargador José Fernandes. "Minha avaliação pessoal é de que dos 26 desembargadores, 20 a 22 votam em José Fernandes", afirmou.

Mozart Valadares e José Fernandes protagonizaram embate semelhante há dois anos. Na época, Valadares era o vice-presidente da Amepe e disputava o cargo de presidente da Associação pela primeira vez. Nessa eleição, seu principal cabo eleitoral foi o ex-presidente do TJ, desembargador Etério Galvão. José Fernandes já foi presidente da Amepe duas vezes e tenta reassumir o poder novamente. De acordo com fontes do Judiciário, a eleição de Mozart conta com a simpatia dos juízes mais novos, enquanto a de José Fernandes é apoiada pela ala mais conservadora doTribunal de Justiça.

A Amepe é uma entidade de classe que representa 490 juízes em Pernambuco, entre ativos e inativos. Ela funciona como espécie de porta-voz da magistratura e tem o poder de dialogar com a administração do Judiciário em defesa dos interesses dos juízes. "A Amepe é o contraponto a eventuais excessos que o Tribunal possa cometer em relação à magistratura", disse uma fonte da OAB.

Outra fonte do Legislativo que preferiu não se identificar, informou que a reeleição de Mozart é vista na magistratura como a confirmação de uma Justiça menos burocrática e mais próxima da população. "A vitória de José Fernandes significa a volta da velha guarda conservadora à Associação dos Magistrados", criticou.

O desembargador rebate a acusação, alegando que Mozart procura jogar a magistratura jovem contra o TJ. "Quando fui presidente lutei pela união da magistratura", afirmou Fernandes.


TCE passa por mudanças no próximo ano
Reestruturação vai seguir determinação feita por auditoria realizada pela Fundação Getúlio Vargas

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) será reestruturado em 2002. As mudanças abrangerão todos os setores. O quadro de profissionais também será alterado. As transformações seguirão determinações de relatórios de uma auditoria iniciada em abril e concluído em novembro pela Fundação Getúlio Vargas. O resultado do trabalho da FGV - uma espécie de radiografia que detectou problemas e apresentou soluções - será debatido segunda e terça-feira pelos conselheiros do TCE.

As mudanças são necessárias em decorrência do aumento da carga de trabalho imposta ao TCE pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Antes da LRF, que passou a vigorar ao ano passado, o TCE fazia uma avaliação a posteriori das contas anuais das prefeituras. Agora passou a realizar um acompanhamento concomitante aos gastos. "Analisávamos um relatório anual, fiscalizando a legalidade das ações administrativas. Hoje, examinamos, além da legalidade, a eficiência, a eficácia e a economicidade das gestões", explicam os auditores.

Segundo o presidente do Tribunal, Adalberto Farias, as propostas da FGV exigirão de mudanças e ajustes na Lei Orgânica, regimento interno e instruções normativas do TCE. "Vamos reunir representantes da auditoria feita pela Fundação, da procuradoria geral e de cada grupo de trabalho montado pela FGV. Veremos o diagnóstico da situação atual, as falhas e as soluções sugeridas e como elas poderão ser implantadas", explicou, acrescentando que o redesenho será limitado ao que o TCE recebe de duodécimo e à própria LRF.

No total, seis grupos "esmiuçaram" as atividades desenvolvidas em diversas áreas como protocolo, julgamento, planejamento, administração e transporte. Analisaram também a execução de auditorias e o desempenho de pessoal. O procurador do TCE, Dirceu Rodolfo, explica que o Tribunal deve se ajustar aos novos tempos, uma vez que, paralelamente às novas atribuições, foi determinada a redução dos gastos.

"Será necessário, portanto, mais agilidade no andamento dos processos", argumenta. Segundo ele, o trabalho da FGV permitirá que se verifique em qual setor o processo emperra. O procurador destaca que todas as transformações acontecem dentro da filosofia de aproximação do TCE da sociedade aliada a uma maior eficientização das decisões. "Estamos ainda primando pela publicização dos atos ao máximo".

CONCURSO - As mudanças propostas para o TCE apontarão para a necessidade de mais pessoal. Ainda em setembro, dois meses antes do encerramento da auditoria do FGV, o Tribunal já sabia que as conclusões iriam orientar para a realização de um concurso. Mas Adalberto Farias afirma que a formação do novo quadro dependerá da LRF. O TCE recebe 1,9% do orçamento do Estado. O limite de gastos é de 3% da Receita Corrente Líquida - hoje o Tribunal está no limite prudencial que é 95% dos 3%. De qualquer maneira já é certo que em janeiro o concurso será feito.


Campanhas : O efeito Mão Santa
Cassação do governador do Piauí por abuso de poder econômico na eleição de 98 preocupa candidatos e impõe nova prática política

Quem vai ganhar, ninguém sabe, mas uma certeza já se tem em relação às eleições de 2002: haverá grande influência daquilo que no meio político está sendo chamado de "efeito Mão Santa", referência ao que aconteceu com o governador do Piauí, Francisco de Assis Moraes (PMDB), o "Mão Santa", cassado por abuso do poder econômico. "Eu estou com medo até de comprar camisetas em grande quantidade. Vai que alguém cisma que isso é abuso...", comenta um parlamentar com base eleitoral no Interior, e já experimentado em pelo menos três eleições.

Para o ex-governador e ex-ministro Gustavo Krause (PFL), a cassação do governador piauiense e as conseqüências dela não foram compreendidas em profundidade pelos observadores da cena política nacional. "As análises ficaram num tom de que fosse uma briga PMDB x PFL, um Fla x Flu eleitoral, quando o assunto é muito mais sério", diz ele, que vê no episódio mais um exemplo do que define como "profilaxia dos costumes políticos" - uma mudança para melhor na prática política e um sinalde que, sim, o espaço para o ilícito nas eleições está sendo reduzido.

Outros políticos ouvidos pelo DIARIO - como o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), o ex-prefeito do Recife Roberto Magalhães (PSDB), o senador Roberto Freire (PPS) e o deputado federal Fernando Ferro (PT) - também concordam, com diferenças pontuais, que o efeito da cassação d e Mão Santa se fará sentir em 2002. "Todas essas cassações têm um efeito muito benéfico", argumenta Magalhães, aludindo não só a do governador do Piauí mas a outras que - por motivos diversos, como a falta de decoro parlamentar - vêm acontecendo no País. "Primeiro porque se constituem numa punição; segundo, porque mostram que não são um caso isolado e excepcional. Estão-se incorporando à cultura política do Brasil e à dinâmica do processo político nacional", completa Magalhães.

À direita e à esquerda - novamente, ressalve-se, com divergências em ou outro ponto - a convicção é que as mudanças cujos resultados incidem diretamente nas eleições estão acontecendo, e o "efeito Mão Santa" é um reflexo disso. "Nós ainda precisamos andar muito no sentido de impedir a influência do poder econômico nas eleições, mas é inegável que houve avanços", afirma o deputado petista Fernando Ferro.

POMADA VAGINAL - Uma das acusações contra "Mão Santa" era que, durante sua campanha à reeleição em 1998, seus comitês de campanha distribuíram cestas básicas, anticoncepcionais, pernas mecânicas e até pomada vaginal. O governador cassado defende-se usando o argumento comum nesse tipo de caso: atribui as denúncias aos adversários que desejavam tirá-lo do poder. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral), porém, julgou diferente e o cassou. Em um voto exposto em 85 páginas, o presidente do TSE, ministro Nélson Jobim, pronunciou-se sobre o assunto criticando "a velha e conhecida fórmula de corrução eleitoral e a promiscuidade que permeia as campanhas eleitorais" e defendendo "o interesse público de lisura eleitoral".

Campanhas em que são feitas distribuição de produtos na tentativa de captar votos não são exclusividade do Piauí - verifica-se também em Pernambuco e em todo o País. "O que acontece é que, além das implicações jurídicas, esse tipo de prática está encontrando uma reação cada vez maior da sociedade", afirma o senador Roberto Freire (PPS). É por aí que os adeptos desse tipo de política passam a receber outro tipo de punição, não tão severa quanto uma cassação, mas capaz de causar danos a sua imagem: a estigmatização como "político fisiológico". Em Pernambuco, quem recebe esse estigma pode até eleger-se seguidamente como deputado, mas dificilmente consegue credenciar-se como candidato a um cargo majoritário. "O passo seguinte dessa discussão é melhorar o nível daqueles que são escolhidos pelo povo", defende Roberto Magalhães.


Ciro elege o adversário: Serra
Nascido em Pindamonhangaba, interior de São Paulo, Ciro Ferreira Gomes construiu uma densa biografia política no Ceará. Antes de completar um ano de vida, o pai levou-o para Sobral, no sertão, e deixou que o filho se iniciasse na política ainda adolescente. Essa iniciação ocorreu no Partido Democrático Social (PDS), legenda que sucedeu a Aliança Renovadora Nacional (Arena) nos estertores da ditadura militar. A Arena ajudou a sustentar os generais-presidentes.

Mas a vida fez Ciro dar uma guinada à esquerda. "Sou uma alternativa de poder com sólidos compromissos democráticos", diz ele, que é candidato a presidente pela coligação PPS-PTB em 2002. "Quero mudar o país, preparei-me intelectualmente para isso, tenho propostas." Nesta entrevista concedida a Denise Rothenburg, Rudolfo Lago, Batista Chagas Almeida e Luís Costa Pinto, repórteres dos Associados, Ciro Gomes deixa claro que fechou o foco de sua artilharia contra José Serra. O ministro da Saúde, um dos pré-candidatos do PSDB à presidência, emerge como umgrande inimigo do Plano Real das histórias contadas pelo homem que foi ministro da Fazenda entre setembro e dezembro de 1994, período de implantação do Real. Ciro é tão avesso a Serra que, durante a entrevista, fumou 13 cigarros - o ministro da Saúde é o líder da campanha nacional anti-tabagismo. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Associados - Por que o senhor acha que governará o Brasil melhor do que Lula,Tasso, Serra e Roseana?

Ciro Gomes - O juiz definitivo desse conceito é a população brasileira. Tento demonstrar para as pessoas que reúno uma vida limpa, uma experiência de vida relativamente rara entre os competidores atuais. Tenho 44 anos e fui deputado estadual duas vezes, prefeito da quinta cidade brasileira, governador do oitavo estado da Federação em população, ministro da Fazenda,saí para refletir sobre o Brasil numa das mais importantes academias do mundo. Tenho seis anos de caminhadas que me levaram a visitar todo o País - não só as capitais, mas as principais cidades de todos os estados. Venho construindo uma doutrina de antagonismo ao neoliberalismo que avança na proposta econômica. Represento uma oposição capaz de governar. Não sou só críticas. Proponho soluções. E não faço isso fragmentariamente, anunciando programas isolados. Ajudei a fazer a estabilidade monetária do País. Tenho compromisso com o Estado de Direito e com as instituições democráticas.

Associados - O senhor disse que tem uma experiência rara entre os competidores. Espera lá! O senhor é experiente, mas a Roseana Sarney assessorou o pai na presidência da República, foi deputada federal e está no segundo mandato de governadora. O José Serra foi deputado federal por doismandatos, elegeu-se senador, foi secretário de Planejamento de São Paulo, foi ministro do Planejamento e é ministro da Saúde. O Tasso Jereissati, por sua vez, cumpre o terceiro mandato de governador no Ceará e presidiu o PSDB nacional. Por fim, o Lula tem vasta biografia sindical, criou a mais importante central sindical do país, foi deputado constituinte, rodou o Brasil inteiro e disputou três eleições presidenciais. A biografia do senhor não é, pelo menos, equivalente à deles?

Ciro - Quando falo da minha história não quero desmerecer a deles. Apenas quero dizer que parlamentar, executivo municipal, executivo estadual,executivo federal, experiência acadêmica, trânsito no País, adensamento doutrinário, tudo junto, nenhum deles tem. Veja o Tasso: executivo exemplar,talentoso, espírito público, honrado. Tem todos os dotes, mas não conhece o plano parlamentar e tem pouco trânsito no País porque nunca se dedicou a isso. Quando se dedicar, em pouco tempo será brilhante. O Lula não tem uma única experiência executiva. Essa é uma fragilidade estrutural que está por trás de suas derrotas. É raro um país que outorga a um líder a presidência da República como primeira experiência executiva. Ele nunca manejou um orçamento. A Roseana não tem quase nenhuma vivência na geografia econômica do País - não tem porque escolheu não ter. Caso se dedique, também será brilhante nessa área.

Associados - Em dezembro de 1994 o senhor foi convidado para ser ministro da Saúde do Governo Fernando Henrique. Por que não aceitou?

Ciro - O convite foi mais generoso, foi para escolher o ministério que quisesse com exceção do cargo de ministro da Fazenda. Não aceitei por uma razão política e outra pessoal. Já discordava, naquelaépoca, do encaminhamento que se estava dando ao Plano Real. O Real era uma coisa muito séria, muito honesta, mas muito precária. Tínhamos pouco tempo para as imensas reformas que planejávamos. E entre a eleição e a posse de Fernando Henrique, em 1994, eu vi desacelerar o ritmo das mudanças. Tive várias conversas com ele, presidente eleito, e me espantei que naqueles dias não havia trabalho. Ninguém trabalhava, só se fazia intrigas.

Associados - Como assim? O senhor tem exemplos?

Ciro - O Paulo Renato Souza estava escolhido ministro do Planejamento, a transição se processava por ele, o presidente Itamar terminava o mandato e tinha se comprometido a dar aumento aos funcionários públicos. O presidente eleito, FHC, pedia por trás dos panos para a gente não fazer aquilo. Eu promovi um encontro dos dois e foi um grande choque para ambos. Quando chegou um certo momento, o Serra era o pior inim igo do Plano Real. Ele pode não gostar do que direi a partir de agora, ficar muito zangadinho, mas todo mundo sabe que ele sabotou o que pôde no Real antes mesmo de o plano receber este nome.

Associados - Como? O senhor o assistiu sabotar o Real?

Ciro - Eu era amigo do Serra. O Serra não tinha popularidade nenhuma na bancada, em 1991, e eu tinha um relativo poder no partido porque era o único governador eleito pelo PSDB. O Ceará tinha a maior bancada federal e aliança automática com os mineiros. Então, juntos, emparedávamos a bancada de São Paulo onde o Serra também não tinha unanimidade. Naqueles tempos, para o Serra virar líder do partido na Câmara, quem impôs a liderança dele fui eu. Eu impus - e digo isso sem arrogância nenhuma. Conseguimos que ele se elegesse líder.

Associados - E vocês seguiram amigos?

Ciro - Deixe-me contar uma história: em 1993, o Fernando Henrique já ministro da Fazenda e o Pedro Malan negociador da dívida externa, corria a Revisão Constitucional. O Brasil tentava renegociar sua dívida externa nos EUA. A premissa da negociação no exterior eram as reformas que dariam sustentabilidade fiscal ao País. O FHC conduziu a rodada final com os credores, em Nova Iorque, garantindo-lhes que as reformas se fariam durante a Revisão Constitucional. Quando ele viajou, o Serra deu uma declaração aqui, no Brasil, retirando o apoio do PSDB à Revisão Constitucional. Aí o FHC me liga enlouquecido, inclusive usando palavrões. Eles vão negar, mas isso é absolutamente verdade. Algumas pessoas podem não se sentir confortáveis omitindo a verdade, mas isso é História e tem testemunhas. Tem, ao menos, uma testemunha respeitável que não gosta de mentir - o Tasso. Bem, voltando: o Fernando Henrique me liga e, aos palavrões, acusa o Serra de ter puxado o tapete dele, que a negociação da dívida externa podia ir pro brejo, que a Revisão Constitucional era fundamental para o que se iria fazer. Então ele me pediu para fazer o Serra inverter a posição dele. "Amanhã os jornais têm de ir para as bancas com essa inversão de posição", pediu o Fernando Henrique. Eu liguei pro Tasso, peguei um jato, encontrei-o no Rio de Janeiro, trouxe-o para Brasília e expus a censura do partido ao ato dele. Estávamos eu, ele e o Tasso no apartamento. Ele resistiu. Nós dissemos que ele não tinha aquele direito. A conversa só terminou na outra ponta, no apartamento de FHC, que tinha acabado de voltar, na Superquadra 309 Sul. O Mário Covas já estava lá. Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Resende, Winston Fritsch e Clóvis Carvalho também. Bom, expusemos para o Serra a necessidade de fazer as reformas fiscais com urgência. Os economistas disseram que a "engenhoca" estava ali - era o Plano Real, que não tinha esse nome - e o FHC pediu para que nós nos envolvêssemos até a alma naquilo. Perguntou se bancávamos os riscos. No fim, houve uma espécie de votação entre os políticos para saber se a defesa integral do plano seria unânime. FHC saiu apontando um a um e perguntando: "Covas?". Aí ele respondeu: "Já que estamos aqui, vamos fazer. A responsabilidade é nossa. Se a gente não conseguir resolver o problema da inflação o PSDB também não vai ter prosperidade política nenhuma". Quase todos concordaram, mas o Serra ficou calado. Ele nega, mas quero cegar se não for verdade: ele calou a boca, o FHC sentiu o ar pesado e anunciou "tá bom, vamos fazer, vocês querem tomar alguma coisa?" Nessa hora o Covas levantou e esbravejou: "Alto lá! Alto lá! A gente está fazendo de conta que não está vendo o que está acontecendo aqui? O que é que é, seu Serra? Está achando que esse negócio aí não vai dar certo? E que você vai me tomar o lugar de candidato a governador de São Paulo? Não vai não. Você vai dizer é agora o que acha disso". O Serra ficou assustado e constrangido. Baixou a cabeça e balbuciou um "é, eu sou a favor".

Associados - Bom, mas tantas divergências com os economistas do Governo podem servir ao Serra, na campanha, para se distanciar do Governo. Ou não?

Ciro - A manipulação da boa fé da opinião pública está passando dos limites nesse País. O Serra foi ministro do Planejamento desse Governo quando o Real esteve sobrevalorizado e tinha de ser desvalorizado. Deixar o Real ficarmais caro que o dólar artificialmente foi um ato de governo, e ele compactuou com isso. O Serra, meus caros, assinou o Proer. Tem a assinatura dele no texto de criação do Proer. Eu fui contra. Escrevi contra e ganhei a antipatia do baronato financeiro. Fui contra as bandas cambiais,pois o nosso plano previa bandas flutuantes. Ele foi a favor. E agora ele vem se apresentar de crítico? Como? O Serra é o camarada que mais gente tem na burocracia brasileira. Para onde você se virar, em qualquer órgão do Estado, tem alguém do Serra. BNDES, Banco do Brasil, em todas as agências de desenvolvimento tem gente dele.

Associados - Mas isso não é uma virtude para um homem que sempre foi obstinado por chegar ao poder?

Ciro - Eu acho que o Serra tem muitas virtudes. Não foi à toa que lutei para que ele virasse líder da bancada do PSDB em 1991. Mas vocês estão me obrigando a passar tempo demais falando dele.

Associados - O Lula não está certo quando diz que candidato único das esquerdas, só ele? Não é lógico que um camarada detentor de 30% das intenções de voto seja candidato nato de uma frente partidária?

Ciro - Não. Se estivesse certo, se ele fosse candidato nato, em 1989 teria vencido e o País não tinha sofrido o que sofreu. Em 1994, teria derrotado o Fernando Henrique. Ele, fechando-se nessa posição, jogou o PSDB para a direita. Em 1998 insisti mais uma vez para que não se isolasse. Por que vai ser diferente agora? O PT perdeu densidade ideológica. O partido do Lula está isolado como nunca esteve na história. A direita está convocando a população para um falso plebiscito, mais uma vez, ao dizer que é preciso união em torno de alguém que administre crises num mundo conturbado por conflitos. Faz isso e sectariza o PT. Isola o Lula.

Associados - O centro, então, se mexe com competência?

Ciro - Não. Quem se mexe com competência é a direitona. E usam como novidade a fortíssima ingerência internacional no cenário eleitoral. Podemos caminhar para a unidade, mas a priori essa unidade não pode se dar com uma rendição ao candidato de sempre. Porque ele traz os problemas de sempre também. Vamos terminar por reeditar aqui o desastre do De la Rua na Argentina. A Frepaso e a União Cívica Radical, os dois partidos que derrubaram o peronismo de Carlos Menem, uniram-se sem programa. Sem pensar no dia seguinte. Está sendo um desastre. Não vamos resolver nada com Programa de Combate à Fome, Programa de Combate à Miséria, Programa de Renda Mínima, Orçamento Participativo... Vamos nos unir em cima de um projeto de governo, de dia seguinte, traçando a estratégia de como exercer o poder. Temos que abrir pontes com o centro e com a sociedade civil organizada - eles têm de mediar as nossas diferenças.

Associados - O senhor tem convicção de que estará junto com o PTB em 2002?

Ciro - Convicção, eu só tenho a de que estou vivo agora. O que eu sou é um trabalhador político. Enquanto eu representar o estuário de esperanças deles e uma possibilidade competitiva, estaremos juntos. Mas olhe: eles eram 21 deputados, hoje são 33. Esses 12 entraram pela minha mão. Eles tinham um senador. Têm cinco. Esses quatro, entraram por minha causa. Mas estou ampliando isso. Tenho base em praticamente todos os Estados brasileiros. As exceções são Bahia e Santa Catarina. Em muitos Estados, como Rio Grande do Sul, Paraná, Pernambuco, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, as bases são duplas ou triplas. Agora, a propagando oficial fica querendo me pôr fora do jogo, dizendo que eu sou restrito... não sou. Tenho hoje 79 deputados federais com os quais converso regularmente, troco idéias.

Associados - Então, dizer que o se nhor é pequeno e restrito é o discurso que interessa ao Governo?

Ciro - Ao Governo e ao PT. Fazem isso para me desqualificar.

Associados - De fato, o senhor trabalha para ficar mais amplo. Em Alagoas, na última quarta-feira, o senhor até fez elogios ao ex-presidente Fernando Collor.

Ciro - Eu? É a fraude semanal! Fui a Maceió e sou uma pessoa educada. Dei uma palestra e os dois garotos, os filhos do Collor, Joaquim Pedro e Arnon Affonso, foram assisti-la. Sou pai e respeito as personalidades de garotos como eles. Eles não têm culpa nenhuma da história dramática do pai. Alguém, de forma grosseira, fez uma pergunta agressiva ao Collor. Os dois estavam lá. Então, ressalvei que era adversário do Collor, que tinha lutado contra ele em todas as esferas, mas que tinha bastado. Disse que ele foi condenado e pagou pelo que fez, mas que outros presidentes que fizeram até mais do que ele ainda não tinham pagado por nada.

Associados - Voltando ao que o senhor chamada de "grande conjunção de centro". Ela tem três nomes: Serra, Tasso e Roseana. Do Serra o senhor já falou demais. Mas, e Tasso? Vocês romperam? Esfriaram?

Ciro - Nem rompemos nem esfriamos. Apenas, desde 1995 temos uma compreensão diferente sobre o encaminhamento que o Fernando Henrique dá ao País. Para minha satisfação pessoal a substância dessas diferenças está diminuindo. Quando ouço o Tasso dizer que o neoliberalismo morreu, que o Brasil precisa ter política industrial etc, sinto que ele mudou desde que acentuamos essa visão diferente do Governo federal. Temos uma compreensão comum das questões do Ceará. Agora, se ele for o candidato do PSDB, é claro que ficaremos em lados diferentes mas eu me arrisco a dizer que se isso acontecer o Brasil já ganhou. Porque ele é muito mais competente, muito mais sério do que qualquer outro dentro do PSDB.

Associados - Há consistência na candidatura presidencial de Roseana Sarney?

Ciro - Seria leviano e preconceituoso se eu negasse que ela tem consistência. Como não? Governadora duas vezes, deputada federal, filha de um ex-presidente da República que deu a ela ambiência com as grandes questões nacionais. Simpática, doce, competente. É minha adversária, mas é uma presença bem vinda. Aliás, ela está provocando tanto estrago no PSDB que eu me arriscaria a dizer que é muito bem vinda.


Tucanato quer nome competitivo
Estrategistas temem que eleições de 2002 sejam uma reprise de 89, com PFL e PMDB lançando candidatos

BRASÍLIA - Se o PSDB for incapaz de se entender e indicar uma candidatura competitiva, o prejuízo maior será do Governo e de Fernando Henrique. Esta é uma idéia fixa entre os estrategistas tucanos. Esses estrategistas temem que as eleições de 2002 sejam reprise do quadro de 1989, no qual o PFL e o PMDB, agremiações com as quais o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) dividiu o Governo, lançaram candidatos - Aureliano Chaves e o ex-deputado Ulysses Guimarães, respectivamente - que não o defendiam e, muitas vezes até o atacavam.

O debate sobre qual dos partidos da atual aliança indicará o candidato situacionista se tornou prioritário, depois que a ascensão da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), nas pesquisas mostrou que a coalizão governista tem força eleitoral suficiente para eleger o novo presidente. Por ser do PFL, que indicou o vice-presidente Marco Maciel nas duas eleições de Fernando Henrique, Roseana, no entanto, não teria chance de liderar a coalizão.

Fernando Henrique diz que não é bem assim. Na avaliação do presidente, se Roseana se firmar perante a opinião pública e for capaz de agregar forças partidárias para tornar viável uma campanha competitiva, não existiriam razões para não a apoiar.

O presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal (SP) pensa de outro modo. Ele argumenta que as conquistas do Governo FHC resultaram de um projeto estratégico, formulado pelo partido, que, desse modo, estaria mais qualificado para lhe dar continuidade. As duas correntes tucanas em disputa - a que apóia o ministro da Saúde, José Serra, e a que sustenta o governador do Ceará, Tasso Jereissati -, acreditam que o governo vencerá as eleições de 2002, seja quem for o candidato.

A certeza tucana de que o candidato governista tem uma probabilidade alta de chegar ao segundo turno e de ganhar a eleição explica a crescente radicalização da disputa interna na legenda e entre estes e opções como Roseana. O problema da luta entre os tucanos é o risco que ela pode gerar de uma ruptura que enfraqueça o candidato da sigla. Nesse caso, a noção de que a cabeça de chapa pertence à agremiação também se enfraquecerá. O desafio tucano "é fazer uma escolha sem fraturas", como afirma um político que participou das duas campanhas presidenciais vencidas por Fernando Henrique.

Em discurso na cerimônia de lançamento da revista Social-Democracia Brasileira, editada pelo PSDB, o ministro da Saúde, José Serra, aproveitou a oportunidade para alfinetar, ainda que de forma indireta, os partidos de seus principais adversários na corrida presidencial: o PFL da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e o PT de Luiz Inácio Lula da Silva.

"De dois tipos de desvios temos de escapar: o desvio do neoliberalismo, o do Estado inerte, omisso e impotente; e o da antiga esquerda ortodoxa, que é o do estatismo e do intervencionismo", afirmou.


Colunistas

DIARIO Político

Vivemos numa democracia
O Governo do Estado, realmente, tem um apego incrível a coisas pequenas. Isso fica bem claro quando o Palácio do Campo das Princesas volta a fazer pressão sobre a Assembléia Legislativa para impedir que as contas de Arraes (PSB), exercício de 1999, ano dos famigerados precatórios, sejam votadas no plenário. Ninguém sabe como surgiu, mas existe uma tese, na equipe de Jarbas Vasconcelos, de que se as contas de Arraes forem aprovadas, acabou-se o governador, sua administração, a eleição de 2002, quem sabe o mundo, uma loucura. O lamentável, e todos os deputados sabem, é que Mendonça Filho, o vice-governador, e Dorany Sampaio, o secretário de Governo, são considerados os maiores defensores desse absurdo, que já está virando piada e daí para cair no folclore falta bem pouco. Passados três anos da administração Jarbas Vasconcelos e quase quatro da sua estrondosa vitória sobre Arraes, com uma diferença de mais de um milhão de votos, não faz sentido continuar nessa paranóia que não leva a lugar nenhum. Se o caso dosprecatórios ainda não foi solucionado pela Justiça, isso não é nenhum empecilho para que as contas do ex-governador sejam julgadas, todo mundo sabe disso. Depois, o Governo tem bancada na Assembléia e deveria confiar nela na hora da votação. Agora, se mesmo com o empenho dos governistas, as contas forem aprovadas, paciência. Vivemos numa democracia, mesmo que muita gente ainda não tenha se acostumado com isso.

O ministro da Saúde, José Serra, vem ao Recife, segunda-feira, mas na sua agenda não consta nenhum compromisso político, só do ministério. Nem mesmo com os tucanos do PSDB

Sufoco 1

Tereza Duere (PFL) passou o maior sufoco no aeroporto de São Paulo, semana passada, quando o alarme do detector de metais disparou com sua bagagem de mão e a polícia perguntou se seu sobrenome era árabe e se ela estava levando algum arma na mala.

Sufoco 2

A deputada disse que Duere era de origem árabe, sim, mas que não tinha armas. Ao abrir a mala, um policial encontrou uma tesourinha junto com agulha e linha, coisas comuns em bolsas de mulheres. Foi liberada com tesourinha e tudo para embarcar.

Nomeação 1

O médico pernambucano Alexandre Bezerra de Carvalho foi reeleito presidente do Centro de Pesquisas Ageu Magalhães por 50 votos mas terá que deixar o cargo. Porque o manda-chuva da Fiocruz, Paulo Buss, indicou pa ra o seu lugar Rômulo Maciel, o segundo colocado, com 40 votos.

Nomeação 2

Entre os médicos, o comentário é que Paulo Buss é ligado ao PPS e ao PT e por isso escolheu Maciel, uma vez que Alexandre Bezerra de Carvalho não é ligado a nenhum partido político. O ministro da Saúde, José Serra, deve analisar essa história para que seja feita a vontade dos eleitores.

Candidata 1

O PFL reprisa, segunda-feira, o programa de TV sobre Roseana Sarney (PFL-MA), que foi exibido dia 1 de novembro e fez o maior sucesso. Com exceção de Pernambuco, que cedeu os 20 minutos regionais do partido, os demais estados cederam 10 minutos para a governadora do Maranhão.

Candidata 2

André de Paula, presidente do PFL, diz que não teve problema algum para convencer as lideranças do partido da importância de ceder o tempo integral para Roseana, que ainda é pouco conhecida em Pernambuco::"Confesso que até me surpreendi com a compreensão dos colegas".

Contas

Jarbas Vasconcelos começa a prestar contas do 3º ano de sua administração nesse domingo. Criada pela MCI e com o tema Pernambuco em ritmo de mudanças, a campanha mostrará obras prontas ou em andamento, com Reginaldo Rossi, Silvério Pessoa, Dominguinhos, Lenine e Geraldo Azevedo cantando as ações do Governo.

Lançamento

Romário Dias, do PFL, preside mais um lançamento do Perfil Parlamentar Coleção Século XX terça-feira, às 18h, na Assembléia. Desta vez serão lançados os livros sobre Francisco Julião, José Francisco, Nilo Coelho e Orlando Parahym.

Relatório

A votação do projeto que altera a CLT, marcada para terça-feira, pode ser adiada. Porque o presidente da Câmara Federal, Aécio Neves (PSDB-MG), deseja um relatório completo da Unicamp sobre os defeitos do painel eletrônico.


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12/02/2001


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