Eleição de 2002 duplica representação feminina no Senado
O aumento da representação feminina no Senado e na Câmara dos Deputados foi um dos fatos mais marcantes das eleições de 2002. Na Câmara, aumentou em 45% o número de deputadas. No Senado o aumento foi ainda maior: 100%. Foram eleitas 8 senadoras candidatas (14,8% do total de eleitos): Marina Silva (PT-AC), Serys Marly Slhessaenko (PT-MS), Ana Júlia (PT-PA), Fátima Cleide (PT-RO), Ideli Salvatti (PT-SC), Patrícia Gomes (PPS-CE), Lúcia Vânia (PSDB-GO) e Roseana Sarney (PFL-MA).
Duas senadoras continuarão seus mandatos: Maria do Carmo Alves (PFL-SE) e Heloísa Helena (PT-AL), totalizando assim uma bancada de 10 senadoras (12,3% das cadeiras do Senado), contra as cinco atuais.
Reeleita com 32,29% dos votos, Marina Silva avalia que, apesar das divergências partidárias, é possível falar em uma bancada feminina. "Há questões suprapartidárias", explica a senadora, lembrando que na legislatura que se encerra foram conseguidos avanços na defesa dos direitos das mulheres graças, em boa parte, à luta conjunta das atuais cinco senadoras.
Mas, para a representante acreana, o aumento do número de mulheres exercendo mandatos eletivos se explica melhor pelo próprio desempenho delas nas funções públicas.
- Com certeza contribuiu o desempenho das mulheres no Legislativo. O trabalho atual ancorou as campanhas de muitas companheiras que puderam se utilizar de exemplos relevantes - avaliou.
A senadora Heloísa Helena acha que o mérito maior é das mulheres anônimas que permanecem sem acesso às instância de poder do país.
- Qualquer pessoa de bom senso identifica com clareza uma hierarquia perversa entre homens e mulheres na sociedade. São as mulheres que lutam na adversidade que ajudam a viabilizar a nossa chegada aos postos de decisão política. Muitas mulheres anônimas acabam sendo parte fundamental da abertura de espaços - observou Heloísa Helena.
A senadora Maria do Carmo Alves considera que o povo brasileiro tem cada vez mais a percepção da capacidade da mulher lutar pela implementação de políticas públicas mais justas.
- Este aumento representativo é um indício da confiança do povo brasileiro em nossa capacidade, não só no que diz respeito a bem representar nossos estados, mas, principalmente, na intenção que todas temos de buscar uma política social mais justa e utilizar a iniciativa legislativa para melhorar a qualidade de vida de todo o povo brasileiro.
Marina Silva aponta um outro detalhe: as mulheres têm ocupado os cargos públicos, mas sem abdicar das diferenças e de sua condição feminina. "Se somos mais intuitivas e apostamos no consenso, contra a imposição, devemos continuar assim. Essa nossa forma mais conciliadora, mais participativa e inclusiva deve ser aproveitada", salienta.
As senadoras ressaltam a necessidade de que há ainda muito espaço a ser conquistado, o que não impede que o resultado eleitoral seja encarado como uma mudança importante na sociedade.
- Ainda é pouco se pensarmos que mais da metade da população votante é de mulheres. Penso que estamos no início de um grande movimento de ascensão da mulheres na esfera política. Os próximos pleitos nos revelarão aumentos ainda mais expressivos em todos os graus da administração pública - previu Maria do Carmo.
A bancada feminina, na avaliação das senadoras, tem uma agenda para tratar na próxima legislatura, que não engloba apenas questões específicas das mulheres. Para Marina, devem ser discutidas no próximo ano políticas públicas para atender as necessidades da população mais marginalizada. Para Heloísa Helena, as senadoras deverão deixar de lado as divergências partidárias e trabalhar de forma coordenada, como, segundo ela, aconteceu na última legislatura, "em grande parte pelo trabalho da senadora Emilia Fernandes (PT-RS).
10/10/2002
Agência Senado
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