Eleição está embolada no Estado do Rio







Eleição está embolada no Estado do Rio
Conde, Cabral e Benedita têm chances

Cabral, Conde ou Benedita para governador? Os nomes variam conforme a simulação. O deputado estadual Sérgio Cabral (PMDB) aparece em primeiro lugar, tecnicamente empatado com a vice-governadora Benedita da Silva (PT), numa das opções apresentadas ao eleitor pela pesquisa do DataUFF no Estado do Rio, em 20 e 21 de dezembro. Foram ouvidos 1.300 pessoas.

Na simulação em que aparecem os principais nomes apontados como candidatos ao governo, o prefeito de Caxias, José Camilo Zito dos Santos (PSDB), vem em terceiro e o ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde (PSB) em quarto. O prefeito de Niterói, Jorge Roberto Silveira (PDT), e o deputado federal Eduardo Paes (PFL) fecham o quadro.

Apoio decisivo - O DataUFF previu também outra hipótese, em que Luiz Paulo Conde surge como candidato apoiado pelo governador Anthony Garotinho. Nesse caso, o atual secretário de Articulação Governamental lidera a pesquisa, seguido por Sérgio Cabral e Benedita da Silva, tecnicamente empatados, com Zito em quarto, vindo depois Jorge Roberto, Paes e o prefeito Cesar Maia, este último com apenas 1% dos votos. Eduardo Paes é do esquema político de Cesar e vem tendo seu nome estampado em outdoors espalhados pela cidade.

Numa terceira simulação, em que não é citado o nome de Sérgio Cabral, quem ganha é Benedita, com Conde e Zito em segundo e terceiro lugares. Fecham a lista, como ocorre em outras simulações, Jorge Roberto e Eduardo Paes, sempre com menos de 10% dos votos.
Na lista estimulada do DataUFF para o Senado, Sérgio Cabral é o primeiro, com Luiz Paulo Conde em segundo e o ex-governador Leonel Brizola (PDT) em terceiro.

Caso desista de concorrer à Presidência da República e opte pelo caminho mais seguro da reeleição, Garotinho dificilmente será derrotado, segundo mostra a pesquisa da DataUFF, em diversas simulações. Ele ganharia de qualquer adversário, com muita folga. Sérgio Cabral, Benedita da Silva e Zito ficam empatados em segundo lugar, com uma diferença de mais de 30 pontos em relação ao governador. Garotinho repete a diferença contra Benedita e Zito, quando Cabral não é considerado candidato.

Presidência - Os fluminenses também dariam votação maciça a Garotinho na eleição para presidente. Ele aparece com mais de 40% dos votos, seguido por Lula e Roseana Sarney. A pesquisa da DataUFF não investigou o que ocorreria se houvesse segundo turno. E mesmo para o Senado, na pesquisa espontânea, o governador lidera com folga.
O DataUFF confirma o que outras pesquisas já anteciparam: a boa avaliação de Garotinho pela maioria dos eleitores fluminenses. Só 18,5% consideram a administração estadual péssima, ruim, ou de regular para ruim.


Argentina importa e amplia bolsa-escola
BRASÍLIA - A estratégia do Ministério da Educação de exportar para a Argentina o Programa Bolsa-Escola sobreviveu à queda do ex-presidente Fernando de la Rúa. O único representante do partido Renovador de Salta no Senado argentino, Ricardo Gomez Diez, promete vestir a camisa do ministro Paulo Renato Souza no Congresso do país vizinho. Na próxima semana, apresenta projeto de lei para implementar uma bolsa-escola nacional, nos moldes do programa criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso em fevereiro deste ano.

''A Argentina não tem as dificuldades do Brasil para manter as crianças na escola'', afirma Gomez Diez. ''Mas achamos o mecanismo eficaz para transferir renda a famílias em situação de indigência''.
Apelidado de Beca-Escuela, o programa já existe na província de Buenos Aires. Mas o senador quer expandi-lo para o resto do país, copiando mecanismos do MEC, como cartões magnéticos para sacar o valor da bolsa em caixas eletrônicos. O projeto será avaliado pela comissão de educação do Senado argentino, antes de seguir para o plenário.

Trunfo - Se for aprovado, pode se transformar em trunfo para candidaturas tucanas em 2002. O secretário nacional do Bolsa-Escola, Floriano Pesaro, foi à capital portenha para vender a idéia no início do mês. Teve audiências com o então ministro da Educação, Andrés Delich, e com o vice-presidente do Congresso Nacional argentino, senador Pedro Salvatori. Ele também se reuniu com senadores da comissão de educação para tentar convencê-los sobre a eficiência da bolsa-escola.
Fernando Henrique tem investido pesado no programa. Com R$ 2 bilhões do orçamento garantidos para o próximo ano, promete expandi-lo para um milhão de novas famílias. Hoje, 4,8 milhões são beneficiadas com R$ 15 para cada criança de 7 a 14 anos freqüentando o sistema de ensino.

Outros países - A expansão da bolsa-escola, de paternidade disputadíssima, não será exclusividade tucana nas próximas eleições. A organização não-governamental Missão Criança, do candidato petista ao Senado pelo Distrito Federal Cristovam Buarque, prepara-se para instalar sua versão do programa, o Bolsa-Escola Cidadã, na Tanzânia e em Moçambique.
''Estive com o embaixador da Argentina para discutir a bolsa-escola'', diz o ex-governador do Distrito Federal. Para ele, faz sentido o país vizinho adotar o modelo nacionalmente. ''Não fazia há cinco ou dez anos, mas hoje, na Argentina, tem muita criança trabalhando na rua.'' Estimativas de organizações não-governamentais sustentam que 6,6% das crianças entre 10 e 14 anos estão inseridas no mercado de trabalho informal.


Governo faz operação no Pará
BELÉM - O governo federal começa domingo uma operação de desarmamento e combate à impunidade no Bico do Papagaio - Sul do Pará, Oeste do Maranhão e Norte do Tocantins - região de conflitos sangrentos entre latifundiários e posseiros. Concentrada inicialmente nos meios de comunicação, a ação envolverá ministérios, sem-terra e o Exército.
A Câmara Técnica do Conselho de Desenvolvimento Rural vai cuidar especificamente da violência no Bico do Papagaio. Relatório da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, apontou a ausência do Estado como causa principal das 706 mortes lá ocorridas nas últimas três décadas. A impunidade estimula a matança: em apenas dois dos 534 casos de execução os acusados foram a julgamento.

Prisão - O governo reconhece a existência de 30 áreas violentas no país. Por enquanto, vai atacar as três mais críticas: entorno do Distrito Federal, Polígono da Maconha, em Pernambuco, e Sul do Pará, considerado o caso mais grave. O Tribunal de Justiça paraense será acionado para cumprir ordens de prisão contra autores e mandantes da morte de trabalhadores rurais.
O Ministério da Justiça vai oferecer proteção a pessoas marcadas para morrer. O telefone 0800-787000 ficará à disposição para recebimento de denúncias sobre procurados pela Justiça.

Plano - Em Marabá, a 450 quilômetros de Belém, será centralizado o Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável, que abrange educação, trabalho e previdência social. O trabalho escravo também será combatido. Na semana passada, 75 trabalhadores foram libertados pela Delegacia Regional do Trabalho numa fazenda em Redenção.


'Quero ver desarmarem fazendeiros'
O frei Henri des Roziers está ameaçado de morte por fazendeiros no Sul do Pará, mas não se perturba. Com sotaque francês e voz mansa, continua defendendo os trabalhadores rurais. Henri chegou ao Brasil em 1978 e, em seguida, passou a trabalhar com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) na Região Norte. Desde 1991 está em Xinguara (PA). No dia 19 de dezembro recebeu do presidente Fernando Henrique Cardoso o Prêmio de Direitos Humanos outorgado pelo Presidência da República. Em entrevista ao Jornal do Brasil por telefone, não escondeu o ceticismo com a operação de desarmamento anunciada pelo governo federal.

- Qual a expectativa do senhor em relação a essa operação?
- Este ano já houve outras operações de desarmamento. E o que aconteceu? Os fazendeiros não foram incomodados e trabalhadores rurais perderam as poucas espingardas que usavam para caça.

- Mas não pode ser diferente?
- Não creio. Uma operação anunciada com antecedência permite que os fazendeiros escondam os armas e os pistoleiros das empresas de segurança. Aliás, empresas de ''pistolança''.

- O senhor, então, está cético?
- Estou. Depois das reportagens do JB, da repercussão delas na opinião pública, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara e no Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, as autoridades têm que mostrar algum serviço. Mas quero ver desarmarem as milícias dos fazendeiros. Nunca fizeram isso.

- A situação tem melhorado?
- Está igual. Os fazendeiros continuam usando os pistoleiros e as empresas de ''pistolança'', com conivência das autoridades. Matadores condenados, como Barrerito e Ubiratan Ubirajara, circulam na região. Para mostrar seriedade na operação, seria preciso que, pelo menos, as milícias dos fazendeiros fossem desarmadas e os pistoleiros presos. Se o JB achou os mandantes da morte do padre Josimo, por que a polícia é incapaz de achar os pistoleiros?


Todos se preparam para teste de DNA
Empresário e policiais federais suspeitos de ter engravidado a cantora Gloria Trevi colhem material para o exame

BRASÍLIA - Apesar dos altos índices de audiência, a novela mexicana encenada na capital federal está próxima do desfecho. Mas a protagonista, Gloria Trevi, não anda empolgada com os próximos capítulos. Não pretende deixar o filho participar do esperado final: o exame de DNA. ''Não quero nada dele, meu filho é inocente, não tem de pagar pelo que fizeram comigo'', sentenciou, certa feita.
A Polícia Federal, no entanto, espera, após o nascimento do filho da cantora, grávida de oito meses, aplicar o teste do DNA. O resultado será comparado com o da longa fila de extras nessa superprodução: os suspeitos de terem engravidado a moça na carceragem. Todos funcionários da PF. Para tanto, garantem os advogados de Gloria, os agentes também já teriam colhido material.

O empresário da artista, Sergio Andrade, anunciou ontem que deixou pronta sua participação: ampolas de sangue para o teste. Sergio também é suspeito. Apesar de estar noivo de outra mulher. Elemento mexicano extra: a noiva, Sílvia Beeg, é amicíssima de Gloria. É ela quem compra comida, na cantina da penitenciária da Papuda, para Gloria e Sergio.

Mudança - A prisão, aliás, deixou de ser locação para as cenas recentes. A trupe se mudou para o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde Gloria está internada desde quarta, esperando o bebê. Após 91 dias na Papuda, a cantora, grávida de oito meses, conseguiu a transferência para o hospital. Segundo os boletins médicos, passa bem. Aproveita a estada para mudar um pouco o cardápio penitencial. Devora frutas e verduras, alimentos que não come há meses.
Segundo Sílvia Beeg, as quentinhas da penitenciária eram intragáveis. Exemplo: água com fubá - ela jura.

Glória teria passado todos os dias a arroz e pizza. ''Chego a gastar R$ 200 por semana com a comida dela, do Sergio e da Maria Raquenel'', calcula Sílvia.
Apesar dos holofotes sobre Gloria, a gravidez, pelo menos, não é considerada de risco. Segundo o médico, ela não precisará de tratamento especial. ''O estado emocional e clínico da paciente é bom'', garante o boletim médico. Mas apenas depois da liberação dos resultados do exame de sangue, os especialistas poderão comprovar se a cantora não apresenta problemas como, por exemplo, anemia.

Guarda - A porta do quarto 210 está sempre aberta. Dois policias federais, no entanto, ficam de guarda. Enfermeiros entram e saem a todo instante. Para se distrair, Gloria assiste a programas de entrevistas e à novela O Clone na televisão de cinco polegadas levada por Sílvia, única pessoa autorizada a visitá-la além do advogado. Das atuais condições, a protagonista só lamenta que seus amigos Sergio e Maria Raquenel, a popular Mary Boquitas, não possam desfrutá-las. Eles continuam na carceragem.
Gloria escreveu uma carta agradecendo, primeiro, a Deus e, depois, ao ministro Marco Aurélio Mello, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), por terem permitido a internação. ''Quero agradecer ao ministro, ao hospital onde me encontro e ao Brasil pela bondade de permitir e dar um pouco de paz ao meu coração e cuidados para o meu filho''.


Artigos

Depois dos atentados
J. Carlos de Assis

A minha primeira reação aos atentados de 11 de setembro foi achar que precipitariam o processo de paz no Oriente Médio. Passados mais de três meses, a impressão é de que o mundo se transformou num grande Israel, acomodado no estado permanente de guerra e de insegurança. A ''normalização'' da vida, contudo, mascara um perigo escatológico: estamos vivendo como carneiros que pastam tranqüilamente no rumo do matadouro.
Armas de destruição em massa estão ao alcance de terroristas políticos que vêem na própria morte um ato de glorificação e de afirmação de dignidade. Contra eles não existe nenhum antídoto militar seguro. Entretanto, mesmo essa afirmação, com todas as suas implicações, está banalizada. Ninguém parece muito preocupado em pensar sobre isso, seja por um certo sentido de fatalidade, seja por um reconhecimento de impotência.

Talvez se tenha de esperar mais um atentado espetacular para sacudir o estado de torpor do mundo. A ''normalização'' apenas fortalece o status quo e a linha dura. A conclusão óbvia de que não há solução militar para o terrorismo político sensibiliza hoje menos gente do que logo depois do dia 11. A ''vitória'' contra o Talibã e o anúncio da disposição de pegar Bin Laden vivo ou morto deram uma sensação de compensação ao povo norte-americano.

Afinal, o que ganharam ou ainda estão por ganhar nessa campanha militar no longínquo e miserável Afeganistão? O que isso acrescenta à segurança da América? Mais cedo ou mais tarde, sabemos todos, Bin Laden será preso ou morto. Acaso isso muda a exposição do mundo e, em particular, dos países ricos a novos ataques? E quanto aos ataques de novo tipo, ainda não usados generalizadamente, como os nucleares, os químicos e os biológicos?

Com a ''normalização'' artificial da vida, a corrente mais moderada e sensata dentro do governo norte-americano perdeu terreno ou capitulou. O próprio secretário de Estado, Colin Powell, que tentou empurrar o processo de paz no Oriente Médio, em seguida aos atentados, recuou sob o rufar dos tambores de exultação por mais um ataque espetacular a Tora Bora. Contudo, se não fosse o prenúncio de uma tragédia, estaríamos diante de um dos fatos mais ridículos da História humana, que colocou o porta-aviões nuclear Roosevelt, a mais impressionante arma de guerra do planeta, na trilha de um cavalo.

Os atentados de 11 de setembro não trouxeram em si nenhum fato novo na História humana, porque todos já sabíamos, de uma maneira ou de outra, que armas de destruição maciça estão à disposição não só de países, mas de grupos e até indivíduos. Isso é uma seqüela do desenvolvimento tecnológico com o qual devemos aprender a lidar. Também se conhecia, pela experiência, a predisposição de grupos políticos para atentados suicidas.

Nova foi a simbologia, já que o ataque foi coordenado para atingir o coração do poder militar e econômico norte-americano. O choque resultou da constatação de que não há redutos seguros. A reação sensata seria identificar as causas do terrorismo e atacá-las nas raízes. A linha dura que por enquanto está prevalecendo, e tem seu maior expoente no Israel de Sharon, acha que resolverá tudo com foguetes e tanques. Mas at é quando?

A humanidade caminha para uma nova barbárie, e eventualmente para a própria extinção, se continuar prevalecendo essa sensação de normalidade no meio da guerra e da opressão política e econômica. Os direitos civis nos Estados Unidos, campeões do liberalismo, já estão indo para o espaço. Seu desterro é uma forma de aplicação de segurança. Assim mesmo, não há segurança real, mas apenas uma sensação falsa sob o aparato policial físico e os destroços morais da Constituição.

A perspectiva correta para analisar essa situação é perguntar quando, ''realmente'', as coisas poderão voltar ao normal. Normalidade significa uma vida civil razoavelmente organizada, protegida e amparada pela legalidade constitucional. Se as causas do terrorismo político não forem erradicadas, pode-se responder com segurança que nunca. Ao contrário, as coisas tenderão a piorar, pois virão novos atentados, como em Israel.
Só há uma saída para essa armadilha da insensatez, como a classificaria Barbara Tuchman: trabalhar para reduzir a iniqüidade social e as tremendas desigualdades sociais no mundo.

Isso significa recolocar o Estado no seu papel de promotor do desenvolvimento e do pleno emprego, sob o signo da cooperação interna e internacional. Estamos sob a égide de uma ordem econômica de concorrência selvagem que privilegia a especulação financeira e a acumulação improdutiva, negligenciando o papel e a responsabilidade dos Estados-nações. É o momento de deslocar o eixo da acumulação para a produção. Isso não é novidade. Já aconteceu nos Estados Unidos sob o nome de New Deal. A arma contra o terrorismo é um New Deal mundial - um New Deal, agora, também para negros, pardos e amarelos, e não só para brancos como nos anos 30.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER

Tucano quer Ciro no páreo

Não chegam a ser falsas, mas também não são inteiramente sinceras e firmes, as tentativas dos tucanos de reconquistar o apoio do PTB e retirar o partido da área de influência de Ciro Gomes. Hoje, os petebistas têm um trato que, assim à primeira vista, parece cada vez mais frágil, com o PPS.
O ânimo do PTB com Ciro decresce na proporção direta da movimentação do candidato nas pesquisas de opinião. Daí a conclusão - logo veremos, apressada - de que os petebistas voltariam, mais dia menos dia, para a base governista. Em tese, digamos que já há avançadas combinações nesse sentido. Mas, na prática, elas implicam a permanência do PTB exatamente onde ele está: ao lado de Ciro e seus 8%, 10% nas pesquisas.
Exatamente, o leitor entendeu direito: o PSDB trabalha para que o PTB continue apoiando Ciro no primeiro turno. O objetivo é evitar todo e qualquer risco de que o candidato do PPS possa sentir-se desestimulado a ponto de, em algum momento, desistir da candidatura. Com o PTB, ele tem expectativa de estrutura partidária e mais tempo de televisão.

Sem isso, na avaliação do adversário, poderia sentir-se tentado a outros planos. Mas ainda que não fosse a lugar algum, apenas mudasse seu projeto para uma eleição pelo Ceará - ao Senado ou ao governo - sua parcela de eleitorado na candidatura à presidência poderia transitar para campos indesejados.
Quaisquer que fossem eles, o perigo maior não seria o fato de a transposição engordar o embornal de votos deste ou daquele candidato. O risco residiria na não-realização do segundo turno. Por isso, os percentuais de Ciro Gomes são tão importantes para o governismo que, por enquanto, vive a certeza de que chega na etapa final com o PT apenas como a expressão de um desejo. Segurança mesmo, ninguém tem.

Os mais velhos um pouquinho lembram de um lance parecido. Foi em 1984, durante a campanha para o Colégio Eleitoral do ano seguinte. Em dado momento, a candidatura de Tancredo Neves cresceu tanto que a Aliança Democrática temeu pela renúncia de Paulo Maluf e percebeu que o êxodo precisava ser contido.
O cenário é inteiramente diferente, porque, lá, tratava-se de manter a disputa para preservar o projeto final dos operadores da transição. Mas o método de sustentar o inimigo na luta, usando suas próprias armas, é exatamente o mesmo.

Vivendo e aprendendo
Digamos que, com certo atraso, mas finalmente o presidente da República compreendeu que governantes precisam constantemente fazer gestos que traduzam interação com a sociedade. Ontem, Fernando Henrique foi ver de perto os desastres das chuvas no Rio, tipo de ato que, não faz muito, era considerado desnecessário e até algo demagógico no Palácio do Planalto.
O distanciamento da figura presidencial de alguns fatos - como os incêndios de Roraima e o massacre de Eldorado dos Carajás, apenas para citar dois - serviram, no primeiro mandato, para cristalizar a imagem de insensibilidade social deste governo.

Agora, ou apareceu um gênio da lâmpada por lá, ou é mesmo a proximidade da eleição e a percepção de que uma estabilidade só não faz verão, que abriu os olhos de Brasília para a existência de pessoas com sentimentos, vontades e emoções para além do Planalto Central.
Está certo que a constante parceria - por vezes considerada excessiva e prejudicial à imagem do governo - com os políticos, rendeu maioria parlamentar inédita, durante sete anos, a Fernando Henrique, garantindo também um último período sem a melancolia habitual das administrações em estado terminal.
Mas é verdade também que sempre foram os aliados políticos os que mais aconselhavam Fernando Henrique a se aproximar do país. Em compensação, agora que quebrou a resistência, FH tem agenda de simbolismos pronta com grande antecedência.

Por exemplo, a cerimônia que marcará um ano da explosão na Plataforma P-36 da Petrobras, em março, já está sendo organizada. As famílias dos mortos no acidente receberão condecorações, homenagem que também será concedida àqueles que trabalharam no resgate das vítimas.

Sonho secreto
Há um determinado candidato à Presidência da República que inclui em seus planos a volta da capital federal para o Rio. Ele tem pavor que se revele esse desejo, com medo de, assim, perder os votos dos eleitores de Brasília.
O sonhador em questão não é carioca, mas nutre paixão especial pela cidade.

Sem veto
Está resolvido: Fernando Henrique não vetará a correção da tabela do Imposto de Renda aprovada pelo Congresso. Ao contrário, tentará capitalizar o ganho da classe média para si.


Editorial

Impostos para quê?

A independência dos Estados Unidos baseou-se num princípio simples. Sem representação o povo não deve pagar impostos. Bom princípio que faz, até hoje, com que os cidadãos americanos tenham como uma das maiores preocupações o destino que o poder público dá ao dinheiro dos contribuintes. No Rio, hoje, os cidadãos não estão representados pelas autoridades, que se acusam pelas conseqüências das enchentes e dão triste espetáculo aos fluminenses, já tão castigados pelo clima e pela incúria.
Brigam prefeitos e o governador. Acusam-se de incompetência mútua. E (o que é pior), com razão. Enquanto brigam, parecem não ter tempo para cuidar dos recursos do Estado. Do orçamento da União, aprovado para o combate às enchentes no Rio - um total de R$ 66,3 milhões nos últimos seis anos - as autoridades só retiraram R$ 11,1 milhões, cerca de 17% do total destinado à desobstrução de rios e canais e construção de obras em encostas.

O mais novo bate-boca envolve o prefeito de Duque de Caxias, José Camilo, o Zito (PSDB), o governador Anthony Garotinho (PSB) e César Maia (PFL). Zito diz ter entregue, em vão, ao governador uma lista de rios que deveriam ser dragados há dois anos e que não são limpos há cinco. Garotinho responde que alertou os prefeitos, incluindo Zito, sobre as enchentes e recomendou que abastecessem seus depósitos com colchonetes, cobertores, equipamentos e comida. Acusa também o prefeito de Caxias e outros de construírem casas em lugares não autorizados e sujeitos a inundações. Cesar Maia ataca e acusa o governador de construir ''casinhas de papelão'' em Sepetiba, em área imprópria, onde a lama chegou ''até os joelhos''.

Os cidadãos/contribuintes/eleitores assistem, perplexos, à troca de baixarias sobre a situação na Baixada. Enquanto as autoridades permutam incompetências, muitos moradores sinistrados ainda tentam salvar algo da fúria das águas e da lama, contabilizam mortos e feridos e procuram sobreviver em meio ao caos urbano e administrativo.
Ao serem eleitos, os políticos devem parar de fazer política partidária, abandonar o palanque e passar a administrar para todos os cidadãos. O interesse comum de todos os políticos do Estado que estão no Poder Executivo (seja de que partido forem) é (ou deveria ser) o progresso e bem-estar dos cidadãos do Rio de Janeiro. Nisso, todos devem (ou deveriam) trabalhar em conjunto.

Oposição precisa existir. É fundamental. Mas sua expressão terá de ser feita através do canal próprio: o Legislativo. Prefeitos e governador do mesmo Estado em briga politica, acusando-se de omissão e incompetência - enquanto dinheiro posto à disposição para resolver problemas prioritários é esquecido - é, simplesmente, crime de lesa-cidadania.
Uma das razões por esse desinteresse deve-se ao fato de tratar-se de dinheiro ''carimbado'', isto é, que só pode ser usado para o fim a que foi destinado. Os governos, em geral, não têm grande entusiasmo por esse tipo de recurso. Ele não pode ser manipulado (afinal vivemos uma sucessão de anos de poucas chuvas), e, por isso, deixaram de programar e fazer várias obras que seriam possíveis caso os R$ 55,2 milhões, desprezados nos cofres de Brasília, tivessem sido usados.

Se o governador (socialista) não ajuda um prefeito (social-democrata), briga com outro (da frente liberal) e ninguém se entende no palanque em que transformaram a administração pública do Estado do Rio, seria muito justo que o cidadão - ao não se sentir representado pelas autoridades, ao perceber-se excluído desse jogo de políticos menores - passe a pleitear isenção de taxas e impostos. Afinal, os americanos preferiram jogar o chá dos navios ingleses ao mar a pagar pelo que não recebiam. E eles tinham tanta razão que a democracia deles funciona bem há mais de 200 anos.

Vota-se para escolher um governante mas, uma vez terminada a eleição, o escolhido deve lembrar que todos os cidadãos, independentemente de seu sufrágio, pagam impostos e são, portanto, responsáveis e patrões dos eleitos (ou pelo menos assim deveria ser numa verdadeira democracia). Omissões, conivência e disputas estéreis, como é comum ver-se no Brasil, deveriam ser duramente sancionadas pela população, através do voto e até da desobediência civil, e pelo Poder Judiciário, processando os responsáveis, por ação ou omissão, pelas calamidades que todos os anos se renovam quando chegam as chuvas de verão.


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12/28/2001


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