Em acareação, Okamotto nega tráfico de influência; Venceslau mantém acusações



Na acareação realizada nesta terça-feira (4) pela Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos, o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Okamotto, negou as afirmações do ex-petista Paulo de Tarso Venceslau, que o acusou de praticar tráfico de influência no começo dos anos 90 junto às administrações do PT. Segundo Venceslau, Okamotto circulava pelas prefeituras em busca de nomes de empresas que tinham crédito junto aos governos locais, com o objetivo de angariar recursos para os cofres petistas.

- Tais acusações são mentirosas - reagiu Paulo Okamotto, ao negar a existência de qualquer tipo de lista de supostos fornecedores.

No decorrer da acareação, Paulo Okamotto tentou desqualificar as acusações de Venceslau, consideradas por ele como "falsas, presunçosas e sonhadoras".

O senador José Jorge (PFL-PE) disse que os fatos somente poderão ser esclarecidos após a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente do Sebrae. Para o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), a situação de Okamotto fica fragilizada enquanto ele não abrir mão do sigilo de seus dados. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) chegou anunciar que tornaria públicas as suas contas bancárias, em troca da quebra do sigilo de Okamotto, que ficou calado.

O presidente do Sebrae também negou ser o pagador das contas de Lula e da filha dele, Lurian. As suspeitas de que ele tenha pagado despesas dos dois é o principal motivo que ensejou o pedido de quebra de sigilo que foi feito pela CPI e barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Durante a acareação, no entanto, o assunto não pôde ser aprofundado em razão de uma liminar do ministro Sepúlveda Pertence, do STF, que determinou que a acareação se realizasse, mas restringiu os assuntos às contradições existentes entre os depoimentos prestados anteriormente pelos dois acareados.

Assunto Proibido

Durante a acareação, Paulo de Tarso Venceslau também se disse perseguido pelo Partido dos Trabalhadores por ter denunciado irregularidades praticadas pela Consultoria para Empresas e Municípios (Cpem) ao prestar serviços para prefeituras administradas pelo PT. A Cpem, disse ele, era representada por Roberto Teixeira, amigo do presidente Lula, e foi um "assunto proibido" no partido durante anos. As suspeitas teriam sido relatadas, em 1993, a Okamotto e ao próprio Lula.

Em São José dos Campos, cidade onde Paulo de Tarso tinha o cargo de secretário da Fazenda, a Cpem seria encarregada de conferir os valores declarados no recolhimento do ICMS pelas empresas instaladas no município. O pagamento dos serviços teria como base o aumento gerado na arrecadação por essa conferência. Uma auditoria realizada depois das denúncias de Venceslau constatou que várias empresas omitiam parte dos valores com a intenção de corrigi-los depois - o que gerava aumentos artificiais na arrecadação, beneficiando a Cpem.

De acordo com Paulo de Tarso, Paulo Okamotto pressionou a então prefeita da cidade, a atual deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) a demiti-lo e também procurou amenizar o episódio, alegando que a Cpem estava ameaçando não contribuir para a Caravana da Cidadania que o PT organizava naquele ano. Ele ressaltou que Okamotto, embora não tivesse nenhum cargo formal no partido, era visto como "um homem de Lula".

Paulo de Tarso Venceslau leu trecho de um relatório elaborado pela auditoria interna realizada pela prefeitura confirmando a existência de uma arrecadação paralela. O documento foi assinado por personalidades consideradas "pesos-pesados" do PT, incluindo Hélio Bicudo (que já deixou o partido) e Paul Singer. Em resposta, Okamotto garantiu que a prefeita "confundiu" arrecadação de recursos com o que chamou de necessidade de criar "uma agenda de apoiadores" para o PT, com o intuito de ampliar a influência do partido, principalmente na classe média.

Durante a acareação, o senador Tião Viana (PT-AC) confrontou Paulo de Tarso com declarações da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP). De acordo com o senador, ela teria afirmado que os contratos com a Cpem foram cancelados logo depois da auditoria que constatou as irregularidades. Em nota, a deputada afirmou ainda que não houve nenhum pagamento à consultoria durante a sua gestão, sendo que os contratos com a Cpem teriam sido firmados no governo que a antecedeu. Ela afirma também que, após a rescisão, a prefeitura requereu na Justiça o que havia sido pago anteriormente à Cpem.

O senador Garibaldi Alves prometeu estudar o relatório produzido pelo notáveis do PT em 1993. Em sua opinião, essa seria a melhor fonte para esclarecer as contradições entre os dois acareados.



04/04/2006

Agência Senado


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