Em nova pesquisa, Serra cresce e se isola em 2.º










Em nova pesquisa, Serra cresce e se isola em 2.º
Tucano sai do empate técnico com Garotinho; Lula se mantém com 49% dos votos válidos

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, ganhou 2 pontos e saiu do empate técnico com Anthony Garotinho (PSB), segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem. O tucano passou de 19% para 21%, enquanto o ex-governador do Rio manteve 15%. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continuou com 45% e Ciro Gomes (PPS) oscilou 1 ponto para baixo, aparecendo com 10%. José Maria de Almeida (PSTU) ficou estável com 1%. Os votos em branco e nulos e a taxa de indecisos permaneceram inalterados. Os votos em branco e nulos somam 3% e 5% dos entrevistados não sabem ainda em quem vão votar.

Segundo os cálculos do instituto, o petista manteve 49% dos votos válidos (soma de todos os votos menos os em branco e nulos). Para eleger-se já no primeiro turno, o candidato precisa atingir 50% dos votos válidos mais um voto. Serra tem 22% dos votos válidos; Garotinho, 17%; e Ciro, 11%.

Nas simulações de segundo turno, Lula venceria todos os adversários. Se a disputa fosse com Serra, o petista ganharia por 55% a 37% (no levantamento anterior o índice era de 57% a 35%). Se concorresse com Garotinho, Lula teria 55% a 36% (em comparação com 57% a 35%). Com Ciro, o candidato do PT seria eleito por 58% a 33% (era 58% a 32%).

A pesquisa foi feita ontem com 8.068 entrevistas em 388 municípios. A margem de erro é de 2 pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Semelhança – O resultado do Datafolha é parecido com o do Ibope, divulgado terça-feira. Segundo o Ibope, Lula subiu de 41% para 43%, Serra oscilou de 18% para 19%, Garotinho foi de 15% para 16% e Ciro caiu de 12% para 11%. José Maria de Almeida tem 1%, os votos em branco e nulos são 3% e 7% ainda estão indecisos.

Com isso, Lula tem 48% dos votos válidos; Serra, 21%; Garotinho, 18%; e Ciro, 12%.

Nas simulações para o segundo turno, Lula venceria Serra por 55% a 35%. Numa disputa com Garotinho, ganharia por 54% a 35%. Se concorresse com Ciro, seria eleito por 57% a 31%.

A pesquisa do Ibope foi feita entre 28 e 30 de setembro com 3 mil entrevistas em 203 municípios.

A margem de erro é de 1,8 ponto porcentual.

Boca-de-urna – As pesquisas de boca de urna feitas no domingo, durante a eleição presidencial, somente poderão ser divulgadas após as 19 horas, horário de Brasília. Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram anteontem fixar esse prazo para que os levantamentos não influenciem os eleitores indecisos.

Apesar de a votação terminar oficialmente às 17 horas, no Acre ela acabará duas horas depois, pois o fuso horário naquele Estado não é o mesmo da maioria do País. Há uma diferença de duas horas.


'Times' prevê crise se Lula não ouvir mercados
Em editorial, diário londrino diz que 'primeira tarefa' do petista, se eleito, será acalmá-los

No editorial "O Brasil é Importante", o jornal inglês The Times afirmou ontem que "a partir de segunda-feira" o País "deverá estar no centro das preocupações internacionais", pois as eleições do domingo "parecem prestes a produzir um líder de esquerda cuja simples presença poderia criar uma crise financeira no Brasil e provocar uma perda de confiança econômica na região".

Depois de assinalar que "está claro" que os investidores externos "já votaram contra ele", o Times adverte que, mesmo que o candidato não seja amigo dos meios financeiros, "deve entender a importância de cortejá-los, se é que se preocupa com o destino de seu povo e da América Latina".

Mas o jornal vê "alguns sinais positivos", um dos quais "a confiança que os brasileiros, em geral conservadores, parecem ter no sr. (Lula) da Silva".

Para o Times, "eles claramente sentem que é tempo de uma mudança, ainda que seja uma mudança que, no passado, eles rejeitaram".

Adiante, o editorial lembra que Lula deverá ter a coragem de adotar uma agenda liberal. "O destino do Brasil e da America Latina depende de suas escolhas". Enfatizando que também a economia mundial "está em situação frágil", conclui: "É irônico que Lula tenha se tornado uma figura assim tão importante."

Carnaval - Outros dois grandes jornais europeus abriram espaço ontem, também, para a forte chance de Lula chegar à Presidência. O francês Le Monde traz reportagem sobre o recente comício do petista em Osasco, sob o título "A esquerda brasileira a caminho do poder".

E italiano Corriere della Sera publica a entrevista dada por ele à imprensa internacional, em São Paulo, abrindo o título com uma frase do petista:

"Chega de lágrimas e carnaval, comigo o País será forte".

O petista destaca, segundo o jornal francês, que "se for eleito (...) as organizações operárias não serão mais tratadas como simples figurantes, mas como verdadeiras interlocutoras sociais". A matéria destaca o "pacto de transição" assumido por Lula e pelos outros três candidatos com o governo Fernando Henrique, para respeitar o recente acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e assim "reassegurar os mercados financeiros assustados com o risco de moratória".

Segundo Le Monde, Lula lidera hoje um partido "dividido em múltiplas correntes, de trotskistas a sociais-liberais" e divide sua admiração "entre o lider máximo Fidel Castro e as contingências do pragmatismo político". Em particular, afirma o texto, o candidato "admite com toda franqueza" que a eleição "é uma farsa que é preciso aceitar, para se chegar ao poder". É por isso que, entre as inovações dificilmente digeridas pelos radicais, veio a decisão de confiar a campanha ao marqueteiro Duda Mendonça.

O texto do Corriere della Sera chama a atenção para o contraste entre o antigo Lula, "o sindicalista barbudo" e o "Lulinha Paz e Amor". Sobre essa mudança e sua amizade com Fidel Castro e Hugo Chávez, Lula comenta que "os 22 anos de história do PT são a melhor resposta". "O PT nasceu para oferecer uma alternativa à luta armada e à revolução. Não temos de fazer grandes revisões ideológicas. (...) Estamos no governo em dez grandes cidades brasileiras. (...) Ao mesmo tempo, há muitas coisas que não renegamos, como a solidariedade a Cuba e o não ao embargo."


Garotinho descarta apoio a Lula no segundo turno
Em Minas, candidato do PSB alega que petista “não representa mais mudança”

POUSO ALEGRE – O candidato à Presidência pelo PSB, Anthony Garotinho, descartou ontem em Pouso Alegre, sul de Minas, uma aliança com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno.

“Prefiro continuar na oposição”, disse. Ele não admitiu, porém, a possibilidade de estar fora do segundo turno, alegando que a candidatura de José Serra (PSDB) está estacionada e a sua, “em uma curva crescente constante”.

De acordo com Garotinho, “as pesquisas de intenção de voto não refletem o sentimento das ruas”.

“A campanha de Serra não virou, a minha virou. Será bom para a democracia do Brasil um segundo turno entre Garotinho e Lula”, disse.

O candidato fez críticas ao petista, afirmando que é “importante o povo saber a posição do candidato em que vai votar para não se frustrar depois”, explicando que Lula “não representa mais mudança”. Segundo ele, Lula aceitou o apoio de José Sarney e fez “concessões ao sistema financeiro”. Para Garotinho, Lula “governaria como Fernando Henrique Cardoso”.

O candidato acusou o governo de Benedita da Silva (PT) de montar uma “farsa” no Rio sobre a ordem do tráfico para fechar o comércio. “O secretário de Segurança afirmou que não sabia e depois disse que tinha conhecimento da gravação apresentada pelo Ministério Público.”

Amigo – Pela m anhã, num comício num galpão de uma igreja Batista de Belo Horizonte, Garotinho disse que será “um presidente amigo de Minas”, seja quem for o próximo governador. “A minha candidata é a professora Margarida, mas esteja quem estiver no Palácio da Liberdade, eu não farei com Minas Gerais o que Fernando Henrique fez. Eu serei um presidente amigo de Minas Gerais, não farei politicagem”, disse ele, ao lado da candidata do PSB à sucessão estadual, Margarida Vieira. Ela tem entre 1% e 2% das intenções votos, de acordo com as pesquisas. Aécio Neves (PSDB) tem 52%, segundo o último levantamento do Ibope, e deve vencer no primeiro turno.

O presidenciável do PSB programou para ontem – último dia oficial de campanha no Estado antes do primeiro turno – uma extensa agenda em Minas, que incluiu, além de Belo Horizonte, visitas a Governador Valadares, Ipatinga, Pouso Alegre e Divinópolis. (Colaborou Eduardo Kattah)


Serra perde para Lula, mas ganha inserções de Ciro
TSE negou recurso e petista usará hoje 8 dos 20 minutos do PSDB na televisão

BRASÍLIA – O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, fracassou ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tentativa de adiar para amanhã a veiculação dos direitos de resposta garantidos por seu adversário do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, que consumirão 8 dos 20 minutos a que o tucano terá direito hoje, último dia do horário eleitoral gratuito.

Serra foi punido por ter apresentado programa no qual sugeria que o presidente do PT, deputado José Dirceu, teria incitado grevistas a agredirem o governador Mário Covas, há cerca de dois anos.

Ao tucano também foi imposta pena por ter veiculado mensagem segundo a qual a Prefeitura de São Paulo, administrada pelo PT, exige curso superior para os aspirantes ao cargo de fiscal de rua, mas não cobra o diploma de seu candidato à Presidência, Lula.

Para tentar convencer os ministros do tribunal, o advogado de Serra, José Eduardo Alckmin argumentou que se as mensagens de Lula fossem divulgadas hoje não haveria mais possibilidade de punir o petista por um eventual desvirtuamento do direito de resposta, já que o horário eleitoral terminará à noite. Por esse motivo, o advogado argumentou que as respostas deveriam ser apresentadas na sexta-feira, data a partir da qual eventuais mensagens aprovadas pelo TSE têm de passar pelo preliminarmente pelo crivo do tribunal para serem veiculadas.

Vitória – Serra perdeu por um lado, mas acabou ganhando por outro. O TSE confirmou que o presidenciável poderá veicular no programa do adversário Ciro Gomes (PPS) quatro inserções em resposta à afirmação de que o tucano seria “o senhor da guerra”.

O programa de Ciro apresentou Serra como um político que metralha todos os adversários na campanha, concentrando-se primeiro na aspirante a candidata presidencial Roseana Sarney (PFL) e depois no candidato da Frente Trabalhista. Em efeito especial, marcas de bala apareciam, na tela da TV, com o som de disparos de arma de fogo, sobre as imagens desses políticos.


FHC volta a rebater críticas de candidatos
Ao comemorar superávit, presidente condena os que ignoram avanços alcançados

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso voltou ontem a rebater críticas feitas ao governo durante a campanha eleitoral, comemorando a perspectiva de o País chegar ao fim do ano com superávit de US$ 9,5 bilhões na balança comercial e, assim, reduzir sua vulnerabilidade externa.

Ao discursar no lançamento de plano de ações na área de turismo, no Palácio do Planalto, condenou candidatos que, ao apresentarem propostas sobre o tema, ignoram os avanços alcançados pelo governo para reduzir a dependência do capital estrangeiro.

"O que hoje tanto se clama já está sendo feito. Na verdade, às vezes a gente custa a perceber os processos que já estão em marcha. O que aconteceu nesses últimos dois anos foi uma verdadeira inversão da tendência da nossa balança comercial", disse Fernando Henrique, ao lado de 11 ministros.

Gargalo - Sem citar nomes, o presidente aproveitou para mandar um recado em tom crítico aos presidenciáveis: "E se começa a propor políticas, como se fossem iniciar um processo que já está em marcha. Nós já reviramos pelo avesso a tendência na balança comercial", discursou. Para ele, o saldo na balança comercial reduz o "gargalo" da vulnerabilidade externa do Brasil.

"O fato é que nós estamos gerando uma massa de recursos já muito apreciável, de tal maneira que o famoso gargalo da nossa vulnerabilidade externa está caindo para US$ 14 bilhões, US$ 15 bilhões", disse.

"Para um País que tem um produto de U$ 600 bilhões, US$ 15 bilhões francamente é nada. Era até melhor não ter esse gargalo, mas é muito pouco."

O incentivo às exportações está no centro dos programas de governo dos principais candidatos à Presidência, tanto como forma de criar empregos quanto de reduzir a dependência nacional de ingresso de capitais externos.

O presidente lembrou que a expectativa de superávit de US$ 9,5 bilhões supera a previsão de US$ 5 bilhões, feita no início do ano pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Sérgio Amaral.

Turismo - De acordo com Fernando Henrique, o turismo tem papel importante a cumprir nessa política. "O turismo passou a estar inserido nesse processo porque ele gera recursos. Gera recursos externos e na moeda forte, o que é importante, e gera emprego. Que são, talvez, as duas áreas mais sensíveis do Brasil", discursou. "Logo, o turismo está no centro mesmo da atividade econômica nacional."

O ministro do Esporte e Turismo, Caio Carvalho, enumerou avanços no setor, que hoje emprega 4,6 milhões de trabalhadores no País e tem pelo menos 1.200 municípios com estrutura aprovada para receber visitantes.

Estrangeiros - Segundo Sérgio Amaral, 5 milhões de turistas estrangeiros visitaram o Brasil no ano passado, deixando mais de US$ 2 bilhões no País.

Entre os novos programas, que diminuirão a carga tributária cobrada de agentes de viagens, incluindo-os no Simples, estudantes brasileiros que vão ao exterior participar de programas de intercâmbio receberão material de divulgação do Brasil.

"É outro País, é outra mentalidade, é outra maneira de perceber o significado das novas formas de relação econômica, das novas formas de convivência internacional e de reconhecer que efetivamente o turismo é parte central desse processo", concluiu Fernando Henrique.


Artigos

Ao sr. Rogoff, a/c do FMI
Roberto Macedo

Convivo com bancos desde que nasci, em cima de uma agência bancária, na qual meu pai trabalhava. Depois, prestei serviços a quatro deles, antes de optar pela carreira universitária e outros caminhos. Quando no governo, participei de negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI), nas quais essa experiência bancária foi tão útil quanto meu treinamento acadêmico.

Este ajudava muito na lógica da coisa, no traquejo com o inglês e no status diante dos interlocutores. Na essência, entretanto, tudo era muito similar à visita a um gerente de banco, de quem precisa de dinheiro. Tratava-se de negociar um empréstimo, começando por realçar a importância e a necessidade dele, com os interlocutores insistindo em conhecer bem a situação do cliente, bem como o que pretendia fazer para sair dela. No caso de uma pessoa física ou empresa, coisas como receitas, despesas, dívidas e garantias. No governo indo ao FMI, déficit, dívida, juros, câmbio e que tais.

Com esse passado de bancário e sabendo das características do FMI - uma instituição financeira criada, entre outras finalidades, para socorrer países com dificuldades financeiras nas suas contas externas -, sempre o vi como um banco. Seus emprésti mos, como uma operação bancária; seus funcionários, como bancários sofisticados, a serviço de banqueiros não donos do banco, mas profissionais indicados pelos acionistas principais, os países ricos.

Há um aspecto, contudo, que escapa à comparação entre o FMI e um banco, mas o ideal seria que esta fosse mantida. Nos bancos, os bancários e banqueiros não ficam a falar publicamente do devedor e das operações realizadas. Em particular, não fazem avaliações adjetivadas do que fazem ou devem fazer os devedores.

Já esse banco, o FMI, vem-se revelando um boquirroto, dando palpites aqui e ali. O melhor seria que ficasse calado, pois alguns de seus pronunciamentos causam embaraços ao Brasil. Uma dessas declarações foi a que este jornal anunciou na quinta-feira passada, em manchete de primeira página e destaque no caderno de Economia. Segundo a matéria, o economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff, disse que o principal objetivo da política econômica brasileira deve ser o de reduzir o endividamento público. "É uma tarefa dolorosa", afirmou.

Outros jornais deram o mesmo destaque à notícia, com manchetes do tipo "FMI receita ajuste 'doloroso' ao Brasil". Rogoff prosseguiu deixando claro que encara o superávit primário de 3,75% do produto interno bruto (PIB), meta com a qual o Brasil está comprometido, como um nível mínimo ou piso que poderia ser aumentado nos próximos anos.

Traduzindo o "economês": esse superávit primário é a diferença entre receitas e despesas governamentais antes de pagar os juros da dívida pública. Idealmente, deveria ser suficientemente alto para pagar o serviço dessa dívida de forma que esta não crescesse ou até caísse como proporção do PIB. Como esse objetivo não vem sendo atingido, uma saída seria aumentar o superávit primário. Só que isso implica um imbróglio administrativo e político de enormes dimensões, pois significaria aumentar receitas e/ou cortar despesas, o que usualmente provoca reações políticas em contrário, mesmo que o remédio seja necessário.

Apesar do nome, o sr. Rogoff não teve nem a cautela de falar em "off", o que ainda assim seria indevido. Deitou falação daquelas que remetem ao ditado que diz que muito ajuda quem não atrapalha. Por quê? O FMI tem uma má imagem, aliás, pior do que merece, pois muitos países e seus políticos costumam fazer trapalhadas financeiras. Depois vão à instituição como um doente que vai ao médico, discutem com ela tratamentos amargos, muitos dos quais envolvem opções pelo próprio cliente. Em seguida, numa lógica besta, muitos no país põem a culpa no FMI pela doença que os levou até lá. Na mesma linha, outros acham que romper com o Fundo é uma solução para seus problemas.

Seja como for, como resultado de sua má imagem, há oposição a qualquer coisa que cheire a remédio prescrito pelo FMI, ainda mais com o aviso de que seria dolorido, o que desperta objeções de todo tipo. Ou seja, se precisarmos fazer um ajuste ainda mais doloroso do que o atual, o trombeteio dessa recomendação pelo FMI, além de não ajudar em nada, só vai atrapalhar, pois causará embaraços para o governo e estimulará as posições em contrário.

Aliás, nosso governo deveria protestar contra declarações desse tipo, que vejo como um incidente diplomático e de impacto econômico. Se contribuísse para postergar novos ajustes necessários, perderíamos tempo e o PIB também sofreria.

Portanto, sr. Rogoff, é o caso de ponderar que V. Sa. faria um grande favor ao Brasil, inclusive de significado econômico, se evitasse falar em público ou mesmo em "off" sobre o que o nosso país deve fazer. Se um apelo como esse não fosse levado em conta, sugeriria simplesmente que ficasse calado. Ou seja, o surrado "shut your mouth", o cale a boca que cabe aos faladores inconseqüentes.


Editorial

VOTAR SEM ILUSÕES

A partir de amanhã, o eleitor deixará de ser bombardeado pela propaganda eleitoral obrigatória referente ao primeiro turno e terá pelo menos 48 horas para fazer um juízo crítico de todas as propostas e promessas que ouviu dos candidatos que se propõem a governar o Brasil pelos próximos quatro anos.

Como revelou a análise dos programas dos quatro principais candidatos à Presidência da República, feita pelo professor Celso Martone e resumida pelo jornalista Lourival Sant'Anna na edição de ontem do Estado, há uma notável semelhança entre essas propostas. E, embora o ex-diretor da Faculdade de Economia e Administração da USP chame a atenção para o caráter "improvisado e precário", com "baixo nível de detalhes e consistência" de todos os programas, a existência de pontos comuns a todos eles e a sua incessante repetição no rádio e na televisão podem ter levado o eleitor menos atento a acreditar que a saída da crise em que se encontra o Brasil é fácil e indolor e já no dia 1.º de janeiro o País entrará em uma fase de inédita prosperidade.

Mas as coisas não funcionam assim, como lembrou o presidente Fernando Henrique na comemoração dos 38 anos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Suas reflexões sobre as servidões da política e sobre os constrangimentos estruturais do Estado Brasileiro deveriam funcionar, para os eleitores, como uma advertência contra promessas que não poderão ser cumpridas e, para os candidatos, como um memento de que a consagração de uma carreira política pelo sufrágio não dá a ninguém atributos de onipotência.

O grande cabedal de votos recebido na eleição majoritária não dá ao vencedor, advertiu Fernando Henrique, a capacidade de fazer o que quiser no Congresso. "Os votos você tem no dia da eleição.

No dia seguinte, não tem mais nada", sendo preciso reconquistar, a cada dia, a confiança e a legitimidade, lutando contra a oposição, cujo papel, no jogo democrático da política, é "solapar as bases da legitimidade".

Fernando Henrique referiu-se, também, ao voluntarismo que tem sido a tônica do discurso de vários candidatos, como se com "vontade política" tudo se resolvesse. "Essa vontade política nos atormenta dia e noite", disse o presidente. "Basta baixar os juros que tudo se resolve: aumenta a produção, barateia o produto, acabou a inflação", ironizou. Mas a realidade é que, enquanto o déficit da Previdência assombrar as contas nacionais, não há como reduzir juros. "Não vai ter como baixar a taxa de juros enquanto o governo sistematicamente for ao mercado para pedir mais dinheiro emprestado. E o governo não tem como deixar de ir ao mercado pedir dinheiro emprestado porque chegou ao máximo do que ele pode tributar e não chegou ao máximo do endividamento possível", explicou. E voltou a observar que os gastos com a previdência dos funcionários públicos "são uma máquina de aumentar a dívida do governo. Um terço do orçamento fica nas mãos de 3 milhões de pessoas.

Será democrático isso?".

A maioria dos candidatos não explica de onde virá o dinheiro para custear seus programas de bem-estar social e de geração de emprego. E não explica porque sabe que não haverá dinheiro disponível, nem para aumentar os gastos sociais, nem para fazer os investimentos necessários para reaquecer a economia, enquanto mais de 90% das receitas da União estiverem vinculadas ou comprometidas com despesas obrigatórias.

O equilíbrio das finanças públicas, que já era estruturalmente precário, foi ainda mais abalado pela crise cambial. A capacidade contributiva dos brasileiros está esgotada. Após quase uma década de estabilidade, a população não tolerará um governo que escolha financiar os seus gastos imprimindo moeda inflacionada. No entanto, estarão à disposição do próximo governo US$ 24 bilhões já negociados com o FMI pelo governo Fernando Henrique para que o País possa atravessar 2003 sem percalços adicionais, ganhando ainda tempo para fazer as reformas tributária e da Prev idência que aliviarão as servidões estruturais.

É, portanto, sobre as dificuldades a vencer, e não sobre as mágicas promessas de um Brasil melhor, que os eleitores deverão meditar, antes de entrar na cabine eleitoral.


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10/03/2002


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