Embaixadores e senadores debatem Alca em reunião conjunta da CAE e da CRE



Em audiência pública realizada pelas comissões de Assuntos Econômicos (CAE) e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) para tratar da retomada de uma agenda para a Área de Livre Comércio para as Américas (Alca), os embaixadores Samuel Pinheiro Guimarães e José Alfredo Graça Lima e o secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) expuseram pontos de vista diferentes sobre o que representaria a inserção do Brasil neste bloco comercial.

Enquanto Graça Lima entende que a Alca é uma oportunidade, e que só os setores ineficientes é que devem temê-la, Samuel Guimarães alertou que num sistema de livre competição entre as empresas do Brasil e dos Estados Unidos, dificilmente os norte-americanos - que no conjunto da economia são entre 40% e 60% mais competitivos que os brasileiros - perderiam.

Primeiro a falar, Rubens Ricúpero fez um balanço da conjuntura mundial após os ataques terroristas desferidos contra os Estados Unidos. Ele esclareceu que os atentados precipitaram a crise que já começava a atingir a economia norte-americana. Na sua avaliação, as maiores conseqüências para o Brasil e para os demais países emergentes são uma diminuição das importações pelos EUA e a escassez de investimentos externos no país.

Em sua exposição, Samuel Guimarães disse que se o Brasil aderir à Alca a tendência é que as suas disparidades regionais e vulnerabilidades estruturais se agravem. Ele acrescentou que o acordo em torno da Área de Livre Comércio poderá retirar do Brasil a possibilidade de executar políticas comerciais ou industriais. Por sua vez, Graça Lima afirmou que se o país conseguir fazer uma reforma tributária e reduzir as taxas de juros poderá obter vários benefícios com a Alca.

Participando do debate, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) manifestou sua preocupação de que a Alca não se limite apenas a facilitar a transferência de capitais, bens e serviços entre os países. Ele entende que, a exemplo do que ocorre na União Européia, os direitos sociais e trabalhistas das populações envolvidos na área de livre comércio também devem se aproximar. "Que os cidadãos possam participar das riquezas dos três países", disse o senador.

Já o senador Lauro Campos (PDT-DF) lamentou que o Brasil tenha entrado tarde na discussão do livre comércio entre países e lembrou que desde 1950, quando estudava na Itália, os europeus já debatiam o assunto. Ele acredita que o interesse dos Estados Unidos na Alca vem da necessidade daquele país de ampliar o mercado para seus produtos. "Por isso eles estão tentando construir esse mercado do Alasca a Patagônia", observou.

Último senador a debater o tema, Paulo Souto (PFL-BA) indagou sobre que tipo de retaliação o Brasil poderia sofrer se decidisse não aderir à Alca. Graça Lima garantiu que não há nenhuma possibilidade de que o país possa ser punido com retaliações ou sanções. "O único prejuízo seria deixar de desfrutar de um mercado maior e desimpedido", acrescentou.

23/10/2001

Agência Senado


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