ENTREVISTA / Covatti faz balanço geral dos trabalhos da CPI do Leite



Líder da bancada do PPB avalia o desempenho do governo estadual

O líder da bancada do PPB na Assembléia, deputado estadual Vilson Covatti, mesmo tendo se destacado na defesa dos produtores de leite não abdica de criticar duramente o governo Olívio Dutra. Nesta entrevista, o deputado faz um balanço geral dos trabalhos da CPI do Leite, avalia o desempenho do Governo Estadual e fala sobre a candidatura de Celso Bernardi às eleições deste ano.

Depois de sete meses de trabalho ininterrupto, a CPI do Leite chega em sua reta final. Qual o trabalho desenvolvido até aqui e quais serão as principais conclusões?

Covatti: Bem, apesar dos trabalhos ainda não terem sido encerrados, posso dizer que a CPI cumpriu seu papel. Instalada para investigar as causas da exclusão de produtores de leite do setor e apurar indícios de abuso do poder econômico, a Comissão obteve provas irrefutáveis de irregularidades no segmento.Há uma profunda injustiça na cadeia leiteira, onde poucos ganham muito e muitos ganham nada. As grandes indústrias fazem os pequenos produtores de reféns, pagando-lhes um preço irrisório pelo litro produzido, muitas vezes abaixo do custo. As redes de hipermercado praticam o chamado rapel, exigindo quantidades gratuitas de leite do fornecedor como condição para colocar o produto nas gôndolas. No setor de embalagens, está tudo nas mãos de apenas uma empresa, a Tetrapak, que, sem concorrência, estipula o valor que mais lhe convém, contribuindo para a elevação do preço do leite ao consumidor final. Enfim, não há qualquer equilíbrio econômico ou social na cadeia. Os grandes ditam as regras e os pequenos obedecem. Munido destes resultados, vamos enviar o relatório final ao Cade e aos demais órgãos federais competentes para que possa ser adotada uma política nacional para o produto. Só assim o produtor gaúcho poderá se sentir protegido contra esta exploração indiscriminada.

Além de lutar por um melhor preço ao produtor, a CPI também se destaca pela sua forte atuação em Brasília, apresentando sugestões que garantam benefícios ao agricultor gaúcho. Como está a receptividade destas propostas?

Covatti: Muito boa. Semana passada, por exemplo, o Ministério da Agricultura acatou as modificações sugeridas pela CPI em itens da portaria 56, que estabelece novas regras de produção e comercialização do leite no Brasil. Entre as alterações, está a garantia de sete graus de temperatura mínima para o leite na propriedade rural até três horas após o término da ordenha, e de dez graus na indústria. Esta medida garante que aquele pequeno produtor sem recursos para adquirir alta tecnologia permaneça inserido nas normas do Ministério. O Mapa também autorizou o uso de resfriadores comunitários e de imersão, e o transporte do leite em tarros até duas horas depois da ordenha. Além disso, o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes já instituiu a chamada rede de controle de qualidade do leite, para inspecionar o produto com mais eficácia em todo o País. Serão criados sete novos laboratórios para análise da qualidade do leite, incluindo um em Passo Fundo. Com os novos estabelecimentos, o tempo de fiscalização será reduzido drasticamente, beneficiando produtores e consumidores. Pratini estuda, ainda, a criação de um fundo nacional para auxiliar os produtores na compra de equipamentos de extração e resfriamento do leite, similar ao Pronaf e Pronafinho. Todas sugestões da CPI que viraram realidade.

O PPB foi o primeiro partido a lançar candidato às eleições para o Governo do Estado. Como o senhor vê a candidatura de Celso Bernardi ao Piratini?

Covatti:Olha, sou suspeito para falar do caráter e da competência de Celso Bernardi. Mais do que um cidadão honrado e exemplar pai de família, Bernardi é um homem de palavra. E uma pessoa que almeja ser governador deste Estado não se sustenta sem cumprir sua palavra. Ao contrário do que lamentavelmente vimos nestes últimos quatro anos de desgoverno, Bernardi não é partidário dos discursos enganosos e vazios, mas da política séria e eficaz. Desde o ano passado, nosso candidato tem peregrinado pelo Rio Grande afora com as propostas do partido, expondo abertamente as idéias progressistas. Isso demonstra, antes de tudo, um profundo respeito pelo eleitor gaúcho, e o empenho inequívoco em apresentar alternativas coerentes para este verdadeiro caos administrativo que impregnou o Rio Grande. Bernardi representa o fim das rixas políticas, o fim do autoritarismo, da soberba, da empáfia. Bernardi é um homem do povo, uma pessoa que, como todos nós, acredita que o Rio Grande pode ser governado com paz e tranqüilidade. Temos certeza de que para o eleitor consciente, isso conta muito. Quando se tem propostas sérias e a verdadeira palavra de um gaúcho honrado, o povo reconhece.

Restando oito meses para o fim da gestão de Olívio Dutra, como o senhor avalia a administração do PT no governo estadual?

Covatti:Uma administração absolutamente catastrófica. O Governo do PT institucionalizou a baderna e o caos administrativo no Estado, gerando um déficit quase irrecuperável. Em nome de questões puramente partidárias, quebrou o Estado. Nós, gaúchos, acostumados a cultivar valores caros, como o respeito e a cordialidade, passamos os últimos três anos assistindo pasmos à proliferação da discórdia. Vivemos a rotina de um governo que põe seus interesses à frente dos do povo, exclui ao invés de agregar, apóia invasões, humilha policiais, aplaude guerrilheiros. A expulsão da Ford é um dos maiores exemplos. A montadora geraria milhares de empregos, trazendo o desenvolvimento e o progresso e colocaria o Estado na vitrine da indústria automobilística mundial. Mas de nada adianta chorar o leite derramado. Agora, assistimos com uma ponta de inveja, a justa festa dos baianos. Temos muito a lamentar.

Para finalizar, a segurança pública continua merecendo nota zero?

Covatti:Continua merecendo nota zero. A segurança pública estadual foi o símbolo maior do caos da administração do PT. Regida por um secretário comprometido com posições ideológicas definidas, transformou-se em mais um instrumento a favor das idéias petistas, ao invés de proteger o cidadão. Episódios de absoluto vandalismo, como a queima do relógio dos 500 anos e a depredação de estabelecimentos, tiveram a total complacência da Secretaria da Segurança. A Brigada Militar passou por humilhações jamais vistas em mais de 150 anos de serviço ao povo gaúcho, e a Polícia Civil foi esquecida. Porém, graças ao empenho dos parlamentares da oposição, a CPI da Segurança Pública comprovou todas as irregularidades habilmente acobertadas pelo PT, desvendando, entre outros escândalos, a ligação estreita entre o Governo e o jogo do bicho e as doações ilegais ao Clube de Seguros da Cidadania, entidade de fachada que servia apenas para arrecadar dinheiro para o partido. Espero que o povo gaúcho tenha aprendido a lição.



05/03/2002


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