Ermírio faz restrição a Serra, elogia Tasso e apóia Alckmin







Ermírio faz restrição a Serra, elogia Tasso e apóia Alckmin
O empresário Antônio Ermírio de Moraes, do grupo Votorantim, disse ontem que o ministro José Serra (Saúde) precisa aprender a "andar no meio do povo" para ser candidato à Presidência. Ele criticou o comportamento de Serra e elogiou o governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), principal adversário do ministro na corrida tucana pela sucessão presidencial.

"O Serra, eu conheço mais aqui de São Paulo. Evidentemente é um homem competente. Agora, precisa ter mais flexibilidade no andar. No meio do povo, às vezes, ele perde um pouco a paciência. O Tasso é o contrário", disse. E completou: "É preciso ter paciência para andar no meio do povo. Eu já andei no meio do povo em 86 [quando foi candidato derrotado a governador paulista pelo PTB" e sei como é que é."
"O Tasso é mais sossegado [do que Serra", do tipo assim nordestino, tem mais calma e não tem pressa. Isso é importante em campanha", afirmou o empresário, após reunir-se com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), no Palácio dos Bandeirantes.

Ele chegou a insinuar a dificuldade de Serra de cumprir horários em compromissos públicos. "Eu disse ao Serra também que quando você vai para um comício marcado para as 9h da manhã tem de chegar um quarto para as 9h. Não pode marcar para as 9h e chegar às 10h30 porque todo mundo xinga", disse.
Antônio Ermírio, que é presidente do Conselho de Administração do grupo Votorantim, confirmou presença na palestra que Tasso fará em São Paulo, na segunda-feira. A reunião é organizada pela família do governador Mário Covas, morto em março. "Eu conheço bem o Tasso também, e a gente sempre pode aprender alguma coisa", disse, referindo-se ao encontro com o governador cearense.

Assinado pela viúva de Covas, Lila, e pelos dois filhos do casal, Renata e Mário Covas Neto, o convite para o evento informa que Tasso "falará sobre conjuntura política nacional".
O empresário afirmou que ainda não tem candidato a presidente. "Tem de ser competente e honesto -duas coisas absolutamente indispensáveis". Ele disse que ainda não sabe se votará em um tucano. "Precisa saber quem vai ser guindado a candidato".

Alckmin
Se Antônio Ermírio tem dúvida sobre quem gostaria de eleger para o Palácio do Planalto, o mesmo não acontece no plano estadual. Ele declarou apoio irrestrito à provável candidatura Alckmin a governador de São Paulo.
"Eu disse a ele: "Estou esperando o senhor se candidatar para que nós possamos reelegê-lo'", relatou Ermírio ao deixar o gabinete do governador depois da audiência, que durou uma hora.
"Ele vai ser reeleito, se Deus quiser. É de coração. Uma coisa é você ter um candidato de coração; outra coisa é você ter outros interesses. Eu não tenho interesses. Meu interesse é ver o Estado bem administrado, por gente séria que saiba resolver problemas", disse.

Ermírio fez outros elogios a Alckmin. Disse que ele "honra o nome do governador Mário Covas" ao realizar um governo que considera "ótimo".
O empresário foi ao Palácio dos Bandeirantes para apresentar a Alckmin a nova diretoria do grupo Votorantim. "Vim apresentar a meninada", disse, referindo-se a dois de seus filhos e cinco sobrinhos escolhidos para assumir a diretoria do grupo. Dos sete novos diretores, cinco participaram do encontro de ontem.


Tasso e Serra disputam apoio do PSDB mineiro
Em campanha pela legenda do PSDB para concorrer à Presidência, o ministro José Serra (Saúde) e o governador Tasso Jereissati (Ceará) disputam ferrenhamente o apoio dos tucanos de Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país e um dos principais redutos do partido.
Tasso tem uma leve vantagem sobre Serra, inclusive porque faz um discurso que soa como música aos ouvidos mineiros: o de que é preciso romper a hegemonia política de São Paulo no processo político, cristalizada pelo governo Fernando Henrique Cardoso.

O paulista José Serra representaria a continuidade dessa hegemonia, que tem reflexos diretos na economia.
"O governo foi desbalanceado do ponto de vista regional. É preciso romper com essa concentração de poderes e promover um equilíbrio melhor entre as regiões do país", disse ontem à Folha o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo (95-98).

"Além disso, Minas tem mais empatia com o Tasso. Ele tem um jeitinho mineiro, não tem?", acrescentou o ex-governador, ressalvando que Serra "igualmente tem grandes qualidades".
Além de Azeredo, o principais líderes tucanos em Minas são o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, e o presidente da Câmara, Aécio Neves.
Os três não são apenas disputados mas também disputam o apoio de Tasso e Serra para definir quem será lançado ao governo do Estado em 2002. Pimenta, com uma peculiaridade: ele se considera com alguma chance presidenciável.

Perfil
Minas tem cerca de 17 milhões de habitantes e 12 milhões de eleitores e, além de segundo maior colégio eleitoral, oscila com o Rio de Janeiro entre a segunda e a terceira economia do país.
Ali, Tasso e Serra têm um adversário comum na corrida presidencial: o governador Itamar Franco, do PMDB, que tem forte discurso de oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso.
E há outros, como Ciro Gomes (PPS), que fazem tudo para colher a simpatia mineira.
Ciro, inclusive, já convidou Azeredo para integrar sua chapa como vice, mas o ex-governador achou mais prudente se manter fiel ao PSDB, partido com mais tradição e força no Estado.

Almoço
Nesta semana, que marca a entrada ostensiva do governador do Ceará na disputa, Tasso almoçou com dois outros governadores nordestinos: Roseana Sarney (PFL-MA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
Também conversou com Pimenta e almoçou com Aécio, na companhia, aliás, do vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho.
Tasso também vai ser homenageado na segunda-feira, em São Paulo, pela família do governador Mário Covas, morto no início do ano. Está, portanto, tentando consolidar sua vantagem no Nordeste, capitalizar o apoio de Covas em São Paulo e se fortalecer em Minas Gerais.

Jantar e pacto
Um dos mais importantes compromissos de Tasso em Brasília, entretanto, foi com o próprio Serra. Os dois jantaram na casa do ministro e, segundo Pimenta, que tem falado com ambos, fizeram um "pacto" para a sucessão.
"Foi um pacto de não agressão, de uma campanha sem golpes baixos", disse Pimenta, acrescentando que Tasso e Serra "estão firmemente comprometidos a apoiar um ao outro".
Serra confirmou sua disposição de apoiar Tasso, se este for o candidato do PSDB.
"É óbvio. Não tenho a menor dúvida quanto a isso. Apoiarei confortavelmente e acho que a recíproca é verdadeira", disse o ministro à Folha.


Cearense articulou candidatura de FHC em 94
O governador Tasso Jereissati (CE) tenta repetir hoje o mesmo papel que desempenhou em 1994, quando articulou a aliança PSDB-PFL para eleger Fernando Henrique Cardoso. A diferença é que, desta vez, Tasso quer unir os dois partidos em torno de seu nome.
Naquela ocasião, a candidatura de FHC surgiu como uma solução de compromisso no PSDB entre o grupo cearense, liderado por Tasso e por Ciro Gomes, e os tucanos paulistas, que defendiam a candidatura de José Serra ao Planalto -uma vez que Mário Covas, derrotado na eleição presidencial de 1989, já havia decidido disputar o governo do Estado de São Paulo.

FHC assumiu o Ministério da Fazenda em maio de 1993. Em outubro, Tasso defendeu o ministro das críticas feitas pelo grupo político do senador José Sarney (PMDB-AP). No mês seguinte, sugeriu a criação de um "núcleo de poder" integrado por FHC e por Antônio Britto (PMDB), que na época era cogitado para ser candidato de Itamar à sucessão.
O dirigente tucano propôs uma dobradinha FHC/Britto. Conversou em janeiro com o pres idente do PMDB, deputado Luiz Henrique (SC), mas o grupo do ex-governador paulista Orestes Quércia barrou qualquer tentativa de aliança entre os dois partidos.

Em fevereiro de 94, porém, conseguiu o apoio do PFL. No dia 26, durante o 4º Encontro Nacional do partido, a ala liderada por Antonio Carlos Magalhães, então governador da Bahia, defendeu o lançamento imediato de seu nome à Presidência. Mas a corrente liderada por Marco Maciel (PE) e Jorge Bornhausen (SC) defendia a formação de uma aliança reunindo o PFL e o PSDB, que reeditasse a "Aliança Democrática" que elegeu Tancredo Neves em 1985.
Diante do impasse entre os grupos de ACM e de Maciel, o partido decidiu fazer enquetes nos Estados para ouvir as "bases" -uma forma de adiar a decisão. ACM, porém, percebeu que não conseguiria unir o partido em torno de sua candidatura e, no dia seguinte, deu entrevista defendendo a aliança do PFL com o PSDB em torno da candidatura do ministro Fernando Henrique Cardoso.

No dia 2 de março, Tasso lançou a candidatura de FHC à Presidência: "Ele tem jeito de estadista, serenidade, seriedade e sobriedade". Ele defendeu ainda aliança com o PFL, rejeitada por cerca de um terço da bancada federal tucana: "Para ganhar a eleição, o apoio do PFL é bem recebido".
No final de março, Tasso selou a aliança com ACM e Bornhausen. Pelo acordo, o PFL indicaria o vice de FHC -que sugeriu o nome do deputado Luís Eduardo Magalhães (BA), filho de ACM. O próprio Tasso faz o convite a Luís Eduardo, mas este recusou. Mais tarde, chega-se ao nome do senador Guilherme Palmeira, depois substituído por Marco Maciel.


Ciro compara políticos a "cocô de galinha" e se desmente em seguida
O presidenciável Ciro Gomes (PPS) comparou os políticos a "cocô de galinha", ao criticar "a falta de moralidade no espaço público", ontem, em palestra no 73º Encontro Nacional da Indústria da Construção, em Fortaleza.
"Não é um ato de defesa, porque eu também não sou do sindicato [dos políticos", mas eu também acho que político e cocô de galinha é [sic" quase a mesma coisa nesse país e eu faço muita força para ser uma pessoa diferente."

Ele respondia a Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna, palestrante que o antecedeu, que afirmou que não concorreu à Prefeitura de São Paulo nas eleições passadas, apesar de ter recebido convites de vários partidos, porque acredita que não é necessário ser governo para poder fazer algo pela sociedade.
Logo após o término da sua palestra, Ciro afirmou, em entrevista, que a frase havia sido "distorcida" pelos jornalistas. "Eu não disse nada disso. Eu disse que a sociedade é que pensa dessa forma sobre os políticos."
A frase de Ciro provocou reações negativas. O mediador do evento, Luís Roberto Ponte, ex-deputado federal pelo PMDB e atualmente presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, afirmou, depois da fala de Ciro, que "o Congresso Nacional é infinitamente melhor do que é passado para a população". "Existem os bandidos, como há em toda parte, mas são só uns 10, diante dos 600 que estão lá dentro."

Ponte afirmou que não se sentia cocô de galinha quando estava no Congresso.
O ex-deputado também disse que Ciro foi deselegante ao fazer críticas a Pedro Simon (PMDB-RS), outro palestrante do evento, na ausência do senador. Simon havia falado sobre ética.
"Tenho horror a essa ética do fala-fala", disse Ciro. "Jader Barbalho foi eleito presidente do Senado por todos do PMDB. Simon, como não poderia deixar de ser, também votou em Jader", prosseguiu Ciro. "Tem que ter ética engajada, não ética de goela."
Ao falar sobre sucessão, o presidenciável afirmou que vê com naturalidade a pré-candidatura do amigo Tasso Jereissati (PSDB). "É uma pessoa de alta qualificação."


Tasso vê vantagem para PPS no Ceará
O governador Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse ontem que qualquer candidato que disputar a Presidência da República terá dificuldades de conseguir no Ceará mais votos que Ciro Gomes, pré-candidato do PPS. "Ele já é um candidato posto", afirmou.

Tasso não quis dizer se a alegada dificuldade de disputar os votos na área também atingiria a ele, que governa o Estado. "Ainda não sou o candidato do PSDB. Apenas estou conversando com amigos importantes que já manifestaram apoio a meu nome", disse.
O governador cearense, que em Brasília jantou com o ministro José Serra (Saúde), disse que no encontro ambos expuseram "com civilidade" suas "disposições". Ele voltou a dizer que sua reunião com Roseana Sarney (PFL-MA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) não pretendia excluir Serra.


Itamar e cúpula do PMDB se reúnem na 3ª
O governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), vai se encontrar na próxima terça-feira com a cúpula nacional do PMDB, em Brasília. Na pauta, questões relativas às prévias eleitorais do partido, marcadas para 20 de janeiro e que, em tese, definirão o candidato peemedebista à Presidência da República.
Um dos principais opositores do governo federal e ferrenho crítico do fato de o PMDB continuar na base de sustentação política do Planalto, Itamar vive às turras com a direção nacional da legenda, controlada pelos governistas. Ele é pré-candidato declarado.

O convite oficial para o encontro foi feito ontem em Belo Horizonte pelo senador Amir Lando (PMDB-RO),
que esteve no Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro, acompanhado do presidente regional do partido, deputado federal Saraiva Felipe.
A Folha apurou que na véspera um emissário de Itamar havia sondado o presidente do partido, Michel Temer (SP), sobre a conveniência de um encontro. A resposta positiva levou Lando a Minas ontem, onde foi bem recebido -diferentemente do ocorrido há algumas semanas, quando um marqueteiro enviado pelos governistas foi expulso do palácio.

Naquela ocasião, Itamar pediu que sua assessoria divulgasse que não era "menino de recados" das prévias, pois os governistas queriam que, na propaganda do partido na TV, ele se limitasse a esse tema, sem ataques ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Hoje, o governador de Minas se encontra, em Belo Horizonte, com o outro candidato declarado às prévias peemedebistas, o senador Pedro Simon (RS).
Aliados desde a época em que Itamar ocupou a Presidência (1992-1994), os dois vão tratar das prévias. Especula-se que Simon possa abrir mão de sua candidatura em prol de Itamar e se dedicar à tentativa de ser candidato ao governo gaúcho.


Depois de acusar Benedita, Garotinho recua e se retrata
O governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), recuou ontem das acusações contra a vice-governadora Benedita da Silva (PT), depois que ela decidiu questioná-lo judicialmente. Na véspera, ele dissera que Benedita havia participado do desvio de R$ 500 mil que teriam sido doados para um programa social do Estado.
O recuo foi feito não por uma retratação formal, mas durante uma entrevista do secretário-executivo do governo, Luiz Rogério Gonçalves Magalhães. Garotinho preferiu não falar mais sobre o assunto ontem.
Os ataques de Garotinho a Benedita aconteceram um dia depois que ela anunciou que vai assumir o governo em abril de 2002, quando ele promete deixar o cargo para concorrer à Presidência da República. Benedita disse também que pretende disputar a sucessão do próprio governador.

O PT é o principal inimigo das pretensões de Garotinho, segundo avaliação expressa por sua mulher, Rosinha Matheus, em uma reunião de lideranças do PSB. Magalhães disse que não há indícios nem acusações de que Benedita tenha desviado o dinheiro, que teria sido doado em 1999 pela empresa Credicard diretamente para a Ação da Cidadania, ONG que na época havia sido contratada pelo governo para implantar um restaurante popular na cidade.

Credicard
A Credicard, por meio de seu diretor de relações corporativas, Marcelo Alonso, nega q ue tenha feito essa doação para a Ação da Cidadania, criada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, morto em 1997. A entidade realiza anualmente a campanha Natal Sem Fome, distribuindo alimentos para famílias carentes.
Ao falar que a empresa doadora seria a Credicard, Magalhães corrigiu outra informação dada por Garotinho na véspera, de que a doação teria vindo da empresa de telefonia Telemar.

O secretário não soube explicar o motivo do erro. Outra retificação feita pelo secretário foi quanto ao uso feito pela Ação da Cidadania do dinheiro da suposta doação. Garotinho havia dito que a entidade recebeu o dinheiro e não prestou contas. Magalhães relatou que, em uma reunião com Maurício Andrade, coordenador-geral da ONG, em 1999, este teria dito que o dinheiro fora usado em outras atividades. Maurício Andrade disse ontem que pretende processar o governador por causa de suas declarações.


Embraer sofre revés em licitação de caças
O comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista, descartou ontem a possibilidade de direcionar para a Embraer a licitação de US$ 700 milhões para a aquisição de até 24 caças do projeto de reaparelhamento da Aeronáutica. O anúncio foi feito durante a reunião da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).

A possibilidade de dispensar a licitação foi abandonada assim que a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) informou, durante a reunião, que, mesmo que o consórcio da empresa, integrado pela francesa Dassault, obtenha o contrato, os caças não serão fabricados no Brasil.
O anúncio revela uma mudança de planos estratégicos da Embraer no Brasil. Em 21 de dezembro de 2000, o presidente da empresa, Maurício Novis Botelho, havia dito que a Embraer poderia produzir o caça supersônico Mirage, com o qual o consórcio deve disputar a licitação, na fábrica de Gavião Peixoto (interior de SP).

A companhia, que desde 1999 é sócia da Dassault, fabricante do Mirage, pretendia, segundo Botelho, produzir uma versão nacional do caça, chamada Mirage BR. Agora, caso o consórcio da Embraer vença a licitação, o Mirage deve ser fabricado na França.
Havia um lobby de deputados nacionalistas para que o contrato fosse feito com a Embraer sem licitação por causa da crise na empresa, que reduziu de 200 para 165 aeronaves a meta de produção neste ano e demitiu 1.800 funcionários em setembro passado.
Segundo a comissão, o comandante disse que, se as aeronaves fossem de um modelo já fabricado pela Embraer, a concorrência nem seria aberta: "Compraríamos com dispensa de licitação".
O vice-presidente de relações externas da Embraer, Henrique Rzezinski, disse que a empresa não detém a tecnologia para a fabricação dos caças. Rzezinski chegou a dizer que o mais importante para a Embraer não é a venda das aeronaves, mas a transferência de tecnologia estrangeira ao Brasil.
Esse, segundo ele, foi o principal motivo pelo qual a Embraer se associou à Dassault para participar da licitação. Outros quatro consórcios disputam o contrato.

O comandante da Aeronáutica disse que a concorrência beneficiará a melhor proposta. A palavra final será dada pelo presidente e pelo Conselho de Defesa Civil.
A Embraer foi procurada no final da tarde de ontem para comentar as declarações do tenente-brigadeiro Baptista, mas, segundo a assessoria, não havia ninguém que pudesse falar sobre o assunto.


PSDB intercede por sabatina de Matarazzo
O PSDB intercedeu na Comissão de Relações Exteriores do Senado para evitar novos constrangimentos ao ministro Andrea Matarazzo (Secretaria de Comunicação de Governo da Presidência da República).
A pedido do senador Pedro Piva (PSDB-SP), o presidente da comissão, Jefferson Péres (PDT-AM), antecipou a sabatina do ministro para a próxima quarta-feira, dia 24, às 12h. A reunião para ouvir Matarazzo havia sido marcada para 30 de outubro, após dois adiamentos consecutivos.
Piva solicitou a antecipação, dizendo que estaria viajando na data marcada e gostaria de estar presente à sabatina como ""amigo e relator da indicação".

Indicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para ser o novo embaixador do Brasil na Itália, o paulista estava lá nas duas vezes em que a sabatina foi adiada. Matarazzo aguardava ser chamado, na sala ao lado do plenário da comissão, quando foi informado dos adiamentos.
Da primeira vez, em 10 de outubro, o senador Bernardo Cabral (PFL-AM) surpreendeu os colegas ao pedir vista do relatório de Pedro Piva -favorável à indicação-, um gesto insólito no Senado. A praxe da comissão é aprovar as indicações do presidente sem muita polêmica.

O pedido de Cabral foi interpretado como uma estocada do PFL na pré-candidatura à Presidência do ministro José Serra (Saúde), a quem Matarazzo é ligado. Os dirigentes do PFL se apressaram em negar articulação para dificultar a nomeação do ministro.
Também circulou a versão segundo a qual Cabral estaria atendendo pedido do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), amigo pessoal do embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima, que será substituído em Roma por Matarazzo. ACM já criticou publicamente FHC pela forma como Flecha de Lima foi afastado.
O embaixador recebeu a notícia por um telefonema do ministro Celso Lafer (Relações Exteriores), após ter manifestado solidariedade a ACM, que estava em confronto com o Palácio do Planalto.

Aliados de ACM e o próprio Cabral negaram participação do baiano no adiamento do depoimento de Matarazzo na comissão.
Nova sabatina foi marcada para o dia 16. De novo, Matarazzo esperava por duas horas quando Péres decidiu cancelar a reunião. Ele alegou que ficaria muito tarde e poderia não haver quórum para a sabatina, já que estava havendo votação no plenário do Senado.
Péres negou haver uma ""conspiração amazonense" contra Andrea Matarazzo e disse que ele estava sendo ""vítima de uma sucessão de azares".


Suíça diz que vai passar dados sobre Maluf ao Brasil
O governo suíço comprometeu-se a repassar ao Ministério da Justiça brasileiro todas as informações obtidas a respeito do ex-prefeito Paulo Maluf e seus familiares nos bancos do paraíso fiscal. Segundo a assessoria do ministro José Gregori, o compromisso foi firmado no último dia 15, quando o embaixador do Brasil na Suíça, Roberto Soares-de-Oliveira, entregou formalmente o pedido de quebra de sigilo bancário da família Maluf à chancelaria suíça.

A mesma disposição foi demonstrada pelo governo britânico, destinatário do pedido endereçado às autoridades da ilha de Jersey. Mas a aposta dos promotores e procuradores brasileiros que investigam as contas de que a família Maluf é beneficiária e a origem do dinheiro depositado fora do país é maior com relação à Suíça, que tem acordo de cooperação judiciária com o Brasil.

A pressão internacional, principalmente dos Estados Unidos, para abrandamento das leis que regem o sigilo bancário também é mais forte sobre a Suíça do que sobre Jersey, por causa da tradição suíça. Nenhum dos dois países têm prazos para o envio de informações, mas ambos já nomearam procuradores para investigar as contas da família Maluf. O procurador suíço Jean Louis Crochet é o mesmo que atuou no rastreamento das contas do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto.

Maluf, sua mulher Sylvia, os filhos do casal -Lígia, Otávio, Flávio e Lina- e Jacqueline Maluf, mulher de Flávio, negam que tenham ou que sejam beneficiários de contas no exterior.
O governo suíço, entretanto, já informou ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) que contas de que a família é beneficiária foram abertas no Citibank de Genebra em 1985. Em 1987, o dinheiro foi transferido para o Citibank de Jersey.

O promotor Sílvio Marques, do Ministério Público de São Paulo, inve stiga a possibilidade de o dinheiro ter sido transferido para o Deutsche Morgan Grenfell, a unidade de gerenciamento de fundos de investimento do Deutsche Bank.
A assessoria do banco alemão no Brasil informou que não será feito nenhum "posicionamento sobre clientes ou contas".
Em nota à imprensa, Maluf considerou a "nova versão sobre a conta bancária mentirosa, como as anteriores, e ridícula".


Artigos

O comércio e o São Caetano
CLÓVIS ROSSI

BRASÍLIA - O Brasil está envolvido no período de maior atividade de sua história em matéria de negociações comerciais. Além do Mercosul, o país participa de entendimentos com vista à formação de zonas de livre comércio com a União Européia e com 33 países americanos.
Mais a negociação planetária, a ser retomada no mês que vem pela Organização Mundial do Comércio.
É uma hiperatividade mais ou menos às cegas. Diz, por exemplo, o deputado federal Marcos Cintra (PFL- SP), presidente da Comissão de Economia da Câmara: "O Congresso não está preparado para participar das discussões, independentemente da qualificação individual de alguns de seus integrantes".
Lia Valls Pereira (Fundação Getúlio Vargas) levanta a pergunta sobre qual dessas negociações pode resultar em melhor acordo para o Brasil. Ela mesma responde: "Nem o governo nem o setor empresarial nem a academia têm respostas prontas".

Detalhe fundamental: Lia é, talvez, a especialista que mais tem se dedicado, no Brasil, a estudar os efeitos de acordos comerciais. Se ela se sente incapaz de definir com segurança qual o melhor acordo, dificilmente alguém se atreveria a fazê-lo.
Do lado empresarial, Osvaldo Douat, vice-presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e um dos empresários que mais diretamente participa das negociações comerciais, prefere informar que só no fim do primeiro semestre de 2002 a CNI terá um raio-x das potencialidades e dos problemas que cada setor da economia terá que enfrentar como consequência desses acordos.
Com toda a nitidez, e ressalvado o profissionalismo do Itamaraty, tem-se um quadro de um país amador jogando contra profissionais do calibre de Estados Unidos e União Européia. Resta torcer para que, também no comércio internacional, se repita o fenômeno São Caetano.


Colunistas

PAINEL

Trégua diplomática
Itamar Franco (MG) vai reunir-se com Michel Temer (SP), presidente do PMDB, na próxima semana para tentar obter o apoio de pelo menos parte da cúpula governista nas prévias. O governador mineiro está disposto até a amenizar, por um tempo, seus ataques a FHC.

Volume baixo
Na última semana, Itamar recebeu vários recados da cúpula do PMDB: se quiser viabilizar seu nome para a eleição, o governador terá de procurar a direção nacional e reduzir seu tom antigovernista. Pode e deve propor mudanças, mas não dá para atacar FHC o tempo todo.

Pragmatismo eleitoral
Um discurso totalmente antagônico ao governo, segundo a cúpula do PMDB, deixaria o partido em uma situação muito constrangedora nas eleições estaduais de 2002. Não teria como justificar o apoio dado por todos esses anos ao presidente tucano.

Sonho de infância
Aécio Neves adotou uma postura olímpica na disputa Tasso Jereissati/José Serra porque conta com o acirramento da relação entre os dois. Se houver um impasse na escolha do candidato, o presidente da Câmara acha que poderá surgir como uma terceira via consensual.

Memória tucana
Renata Covas tem usado o exemplo do pai para argumentar em favor da realização de prévias no PSDB para a Presidência. Em 1989, mesmo sendo o único inscrito, Mário Covas fez questão de que fossem realizadas as primárias do partido.

Papas na língua
José Serra (Saúde) vai tentar medir suas palavras porque não quer dar o discurso de vítima a Tasso Jereissati. Muita gente no PSDB acha que o governador está preparando o terreno para justificar um futuro apoio a Ciro no caso de não viabilizar sua candidatura a presidente.

Entre poderes
Marco Aurélio de Mello, presidente do STF, venceu a queda-de-braço com o presidente do Senado, Ramez Tebet, e conseguiu que FHC indicasse o desembargador Luiz Fux, do Rio, para o cargo de ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A indicação saiu ontem.

Laços regionais
Ramez Tebet apoiava o desembargador do MS, Rêmolo Letteriello, conterrâneo do presidente do Senado. O peemedebista chegou a encabeçar um abaixo-assinado em favor do desembargador. Antes de ser confirmado ministro, Fux será sabatinado pelo Senado.

Dividendo político
Para o PFL, Roseana saiu da reunião com Tasso (PSDB) e Jarbas (PMDB) como a eleitora número dois dos aliados na eleição presidencial. Atrás apenas de FHC. Qualquer candidato governista terá de passar por ela.

Férias forçadas
Professor da Universidade Federal da Bahia, o senador ACJ, filho de ACM, está em greve forçada. A paralisação dos servidores impediu as matrículas neste semestre. Júnior dá aulas às segundas e recebe R$ 600 por mês.

Ao pé da letra
Líderes do PT insistem com Lula para que o petista, ao falar de economia, evite fugir do roteiro previamente traçado. Cada vez que o presidenciável se empolga, como fez ao defender que só se deve exportar após acabar com a fome, afasta mais um pouco o empresariado.

Fila indiana
Aos poucos, os principais assessores de Covas estão deixando o governo Alckmin. Ontem foi Mary Zaidan, coordenadora de imprensa do Palácio dos Bandeirantes desde o primeiro mandato do governador morto.

Visita à Folha
Aloísio de Toledo César, desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado do médico Tuffik Mattar.

TIROTEIO

Do presidente do PSDB, José Aníbal, sobre a reação do PT à divulgação de jornal tucano com críticas a Marta Suplicy:
- O PT beirou o fascismo. Desqualificou quem fez a crítica em vez de responder a ela.

CONTRAPONTO

Terrorismo às avessas
O vereador de Londrina (PR) Jamil Janene (PDT) recebeu ontem à tarde, em seu gabinete, um envelope contendo pó branco e um pequeno bilhete:
- O meu Deus é macaco e é frio -dizia parte da nota.
Devido aos casos de contaminação pela bactéria antraz nos Estados Unidos, o Instituto de Criminalística e o Corpo de Bombeiros foram acionados imediatamente.
O prédio foi interditado, a Câmara teve sua sessão suspensa, e o funcionário que abriu o envelope foi mantido em isolamento.
Filho de libaneses seguidores do islamismo, Janene nunca acompanhou a religião dos pais. Frequentou a Igreja Católica e há nove anos é evangélico.
Por isso o envelope acabou virando motivo de piada entre os colegas do vereador.
-Você deve ser o único descendente de libaneses do planeta que recebeu esse tipo de coisa!


Editorial

SUCESSÃO ÀS CLARAS

Tasso Jereissati , até há pouco na periferia do circuito nacional da política, agora atua ostensivamente em Brasília para, talvez numa última tentativa, frustrar as aspirações presidenciais do ministro da Saúde, José Serra. O modo de agir do governador do Ceará, que já não faz segredo de que pleiteia a Presidência, contribui para lançar à luz do dia um lado importante do jogo sucessório.
Falta menos de um ano para as eleições. As perspectivas para a economia são ruins. Uma série de questionamentos tem sido arrolada, inclusive nos partidos que sustentam FHC, sobre erros na condução da política econômica. O público tem o direito de ter acesso ao que os governistas têm a dizer sobre esse e outros grandes temas que estarão em jogo no ano que vem.

Ao iniciar seu mais recente périplo reunindo-se com os governadores do Maranhão, Rosean a Sarney (PFL), e de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), Jereissati tentou caminhar em vereda semelhante à que ele percorrera em 1994. À época presidente do PSDB, teve importante papel na costura do amplo acordo interpartidário que possibilitou não apenas a eleição de FHC, mas que proporcionou ao governo uma grande e estável força parlamentar.

Talvez a investida atual seja a última cartada de Tasso Jereissati para bloquear as ambições presidenciais de José Serra. Além de ser o tucano com melhor desempenho nas pesquisas, o ministro tem a simpatia de setores influentes do empresariado nacional e já circula e articula há muito tempo no veio principal da política brasileira. Mesmo já tendo o governador do Ceará demonstrado habilidade política, viabilizar seu nome será tarefa difícil. Na mais recente sondagem do Datafolha, ele foi o preferido por 3% dos eleitores. Além disso, tem dificuldade para ser aceito na ala governista do PMDB, não podendo contar nem com o apoio de Jarbas Vasconcelos, notório aliado de Serra.

O caminho para Jereissati chegar a candidato é espinhoso. Mas a sua militância pela reedição da aliança e pela escolha o quanto antes do postulante ao Planalto já lançou, mesmo que de forma incipiente, o debate eleitoral que Serra, por motivos estratégicos, insiste em adiar. Quanto mais às claras se travar o jogo da sucessão, tanto melhor.


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10/19/2001


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