Especial do D.O.: Poli inventa aparelho que reduz tempo para avaliação de peças metálicas



Além da rapidez, o instrumento permite averiguar estado de equipamentos industriais, mantendo-os intactos

Invento criado pelos pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) permite avaliar a qualidade e a resistência de peças metálicas e equipamentos industriais sem a necessidade de destruição do objeto nem retirada de uma parte para a realização de testes. Chamado de BarkTech, o aparelho faz inspeção rápida do material, tem custo baixo, é prático no uso e reflexível nas aplicações, informa o responsável pelo projeto, o professor Linilson Padovese.

Desenvolvido no Laboratório de Dinâmica de Instrumentação (Ladin) da Poli, as possibilidades de aplicação do BarkTech são inúmeras, reforça Padovese: "Uma série de problemas industriais pode ser analisada e resolvida de maneira mais simples e barata. Esse equipamento permite realizar avaliações não disponíveis pelos métodos clássicos".

O nome do invento homenageia o físico alemão Henry Barkhausen. Esse cientista descobriu que, ao se aplicar um campo magnético numa peça metálica, ela responde com um ruído magnético que varia de acordo com as condições em que se encontra. O fenômeno ficou conhecido como Ruído Magnético Barkhausen e é o princípio de funcionamento do BarkTech para verificar os materiais que têm propriedades ferromagnéticas (maioria dos aços, inclusive alguns aços inoxidáveis).

Sem cortes

O BarkTech é um equipamento portátil de medição, formado por uma central eletrônica conectada a uma sonda magnética. Na avaliação do material, a sonda emite um campo magnético na peça metálica que responde com um ruído, captado pelo computador e processado em poucos minutos.

De acordo com o sinal, é possível detectar a qualidade da peça, diagnosticar alterações microestruturais, deformações plásticas e fazer avaliações de degradação (fadiga) mecânica e térmica. Para explicar melhor o seu funcionamento, Padovese compara o BarkTech com um exame por ressonância magnética do corpo humano, que detecta anomalias não perceptíveis a olho nu. O aparelho pode ser utilizado, por exemplo, para saber se uma chapa de aço usada na carroceria de carro tem condições adequadas de qualidade, resistência e durabilidade.

Com o BarkTech, a resposta da avaliação da chapa de aço fica pronta em poucos minutos, não há interferência na peça e a averiguação pode ser feita em todas as unidades, informa o pesquisador. Outra vantagem é a praticidade de se fazer o teste no próprio local. Atualmente, para se avaliar materiais como caldeiras, carrocerias de automóveis, dutos, trilhos e rodas ferroviárias é necessário cortar a peça para a retirada de três amostras de partes distintas do material.

Instrumento inédito

O processo tradicional, além de exigir o recorte do material e, às vezes, a interrupção da produção, requer que a chapa seja enviada para a realização de ensaios de prova de tração. Esses testes, capazes de informar a resistência da chapa, são demorados e necessitam de uso de equipamentos de alto custo.

Os ensaios são feitos por lote, porque se fossem feitos por unidade os custos seriam muito altos. Nesse método anterior, como não é feito o controle por unidade, a garantia da segurança do produto pode ficar comprometida. Padovese acrescenta que "praticamente toda a indústria metal-mecânica pode utilizar o aparelho para inspeção e manutenção de equipamentos, controle de qualidade e estado do material de peças usinadas e conformadas, rodas, trilhos ferroviários, dutos e carrocerias de automóveis".

O instrumento, inédito no mercado brasileiro, atraiu a atenção de empresas. O protótipo foi finalizado no segundo semestre de 2006. Padovese diz que essa tecnologia permite desenvolver aplicações industriais específicas e prestar suporte técnico necessário a quem quiser adquirir o produto ou usar as suas aplicações.

Seis anos de pesquisa

O aparelho está em fase de patenteamento de suas aplicações, testes de protótipo, desenvolvimento de versões para a indústria e identificação de novas aplicações. "O BarkTech e suas aplicações estão em contínuo desenvolvimento e otimização", afirma Padovese. Ainda não se sabe quanto custará. A previsão é que fique "em algumas dezenas de milhares de reais, mas o preço será muito menor que o produto importado".

Para desenvolver a tecnologia nacional, os pesquisadores da Poli/USP, da Universidad de Oriente (de Cuba), da Universidad de Antioquia e da Universidad de Ibagué (na Colômbia) trabalharam no projeto durante seis anos. As pesquisas tiveram o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Claudeci Martins - D

01/10/2007


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