Especialistas defendem aprimoramento da legislação sobre ONGs



As entidades sem fins lucrativos e as organizações não-governamentais precisam ser reconhecidas pelo Poder Público de forma muito clara para que os doadores e voluntários tenham cada vez mais orgulho de participar e vontade de contribuir para o desenvolvimento da sociedade. A avaliação é do procurador da Justiça do Distrito Federal José Eduardo Sabo Paes, que nesta quinta-feira (30) participou do painel "Marco Legal: Avanços, Lacunas e Desafios", durante o último dia do 2º Fórum Senado Debate Brasil, que discute o tema "Terceiro Setor - Cenários e Perspectivas".

- Essas entidades contribuem valorosamente para suprir as deficiências do Estado. No entanto, a legislação tem que ser muito clara para deixar expresso o que é o interesse público, em quais campos as entidades atuam e como o Poder Público pode acompanhá-las e fiscalizá-las, diferenciando aquelas que recebem recursos públicos e contribuições populares daquelas que lidam com interesses meramente privados, como as que se unem para cultuar a música ou ouvir o canto de pássaros. Essas aí o governo não deve ter interesse em acompanhá-las, assim como aquelas corporativas ou ligadas a instituições, de interesse totalmente fechado, como as de cabos e policiais - afirmou.

Sabo Paes também defendeu a revisão dos auxílios, subvenções e incentivos tributários concedidos às entidades do terceiro setor, a partir do aprimoramento do artigo 150 da Constituição Federal, que contém dispositivos sobre as limitações e o poder de tributar da União, Distrito Federal, estados e municípios.

- Os auxílios merecem ser revistos pelo Congresso e pela sociedade, sob a perspectiva doutrinária de que os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência devem ser aplicados às pessoas jurídicas. A lei deve prever claramente quem pode receber e em que condições. Deveria haver lei própria. Não tendo, a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) deveria impor limites para que houvesse maior controle da legislação.

Já o diretor-geral da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), José Eduardo Saavedra Durão, atribuiu as deficiências na legislação do terceiro setor à inexistência de um paradigma governamental que considere as relações entre o Estado e as organizações da sociedade civil.

- A ausência de um paradigma ou de uma filosofia relativa ao assunto faz com que nós nos debatamos com uma legislação casuística,incongruente e contraditória. Além disso, existe a heterogeneidade do terceiro setor. Estamos falando de um universo amplíssimo de organizações. Sobre a pesquisa que mostra que as associações privadas e entidades sem fins lucrativos chegam a 276 mil, até 2002, grande parte dessas organizações são entidades de interesse estritamente privados - disse, referindo-se a estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que apurou o crescimento das ONGs no país no período de 1996 a 2002.

Embora considere que o crescimento das ONGs seja fruto da redemocratização do país, iniciada em 1985, o consultor jurídico do Grupo Institutos, Fundações e Empresas (Gife), Eduardo Szazi, ressalta que o aumento do número dessas entidades em atividade no Brasil não pode levar à incongruência legislativa. O Gife constitui a rede de fundações privadas que investem no setor social.

- A sociedade civil é diversa e se manifesta por meio de várias ONGS quando existe democracia. Não existem ONGs em regimes fortes, de direita ou esquerda, ou em regimes em que a religião domine o sistema legislativo. O aumento dessas entidades é fruto da democratização e da conquista social. Claro que, por ser diversa, a sociedade expõe várias formas de ver e administrar os assuntos. Isso leva à diversificação das ONGs - avaliou.

Já o diretor do Departamento deJustiça, Classificação de Títulos e Qualificação da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, José Eduardo Elias Romão, defendeu a criação de um cadastro das ONGs e disse que a legislação diversa sobre o setor prejudica a atuação dessas entidades.

30/11/2006

Agência Senado


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