Especialistas destacam necessidade do cuidado psicológico na primeira infância



Em audiência pública realizada nesta quarta-feira (17) pelas comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Assuntos Sociais (CAS), especialistas destacaram a importância do atendimento psicológico durante a gestação e período neonatal. Na França, esse tipo de atendimento recebe apoio do Estado e as políticas públicas priorizam a o período perinatal (logo antes e logo depois do nascimento), bem como a adolescência, informou Bernard Golse, chefe do Serviço de Psiquiatria Infantil Hospital Necker-Enfants Malades, de Paris, na França.

Em sua avaliação, o desenvolvimento da saúde mental das crianças depende da preparação dos pais e das pessoas que cuidam do bebê. As funções a serem desenvolvidas pela criança no futuro, disse o especialista, começam a ser formadas no início da vida do bebê. Portanto, o papel dos pais durante a gestação e primeira infância pode determinar a saúde mental do futuro adulto.

Também professor do Instituto de Psicologia da Universidade Paris, Sylvain Mossonier ressaltou que a primeira fase da vida repercutirá em todas as demais etapas da vida do ser humano. Ele disse que o governo e os políticos franceses liberam recursos públicos para investimento na psicologia perinatal porque estão convencidos que o trabalho realizado nessa fase da vida tem melhor resultado para o futuro da pessoa.

- Ao falar da biografia de uma pessoa, deve-se incluir o período pré-natal, ressaltou Mossonier.

Antes da Segunda Guerra, observou Mossonier, a Psicologia e a Psiquiatria enfocavam o desenvolvimento dos adultos. No período pós-guerra, explicou, começou a haver interesse pelas questões relacionadas à infância e adolescência e só muito recentemente que os bebês receberam atenção dessa área da ciência.

Mossonier sugeriu, em sua apresentação, a realização de trabalho psicológico pré-natal como forma complementar ao cuidado médico e a assistência social. Ele se refere a esse cuidado como prevenção primária, já que atua na causa dos problemas antes mesmo de que apareçam. Há também, informou o pesquisador, a prevenção secundária, quando há ação após o surgimento do problema, como, por exemplo, a gravidez na adolescência ou depressão pós-parto. Para ele, a prevenção deve acontecer por meio de atividades permanentes e com a integração entre os profissionais das diversas áreas envolvidas com o cuidado ao bebê.

Toque

A professora emérita da Universidade de Wolverhampton, na Inglaterra, Elvidina Nabuco Adamson-Macedo, destacou a importância do toque para o desenvolvimento do bebê, especialmente dos nascidos prematuramente. Ela apresentou o programa terapêutico de "nutrição sensorial", que contribui para o melhor desenvolvimento dos bebês.

O programa terapêutico TAC-TIC (Touching and Caressing - Tender in Caring), uma abordagem que enfatiza a nutrição sensorial por meio de carícia aplicada em prematuros durante a hospitalização, disse Elvidina, mostrou melhor desenvolvimento desses bebês. O sistema conta com a participação dos pais e utiliza suavidade, leveza, ritmo, equilíbrio e continuidade como princípios, explicou.

Ela disse que ainda há, em todo o mundo, muitas Unidades de Tratamento Intensivo de recém-nascidos - as UTI's neonatais - com muito barulho e alta luminosidade e ainda não permite o toque dos pais ao bebê. Em sua avaliação, o bebê prematuro teve interrompida a relação com a mãe e o toque contribui para ajudá-lo na recuperação.

Elvidina destacou o pouco investimento do estado brasileiro em pesquisa sobre o tema e atendimento psicológico a essa primeira fase da vida. Ela ainda observou que não há muitos psicólogos trabalhando na perinatalidade.

Audiência pública foi realizada dentro da programação da semana de valorização da primeira infância e cultura da paz, organizada pelo Senado Federal, que acontecerá até a próxima sexta-feira (19).



17/11/2010

Agência Senado


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