Violência na primeira infância tem de ser combatida desde a gestação, alertam especialistas



A violência na primeira infância tem de ser prevenida e combatida desde a concepção. Essa é a opinião dos três palestrantes convidados para a audiência pública realizada nesta terça-feira (30) para discutir o projeto de lei do senador Pedro Simon (PMDB-RS) que institui a Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância (PLS 340/05).

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A audiência, realizada conjuntamente pelas comissões de Educação (CE) e de Assuntos Sociais (CAS), foi sugerida pelas senadoras Patrícia Saboya (PSB-CE) e Fátima Cleide (PT-RO). Patrícia Saboya, relatora da matéria na CE, onde a proposta receberá decisão terminativa, já apresentou parecer favorável à aprovação do projeto.

Segundo o pediatra e neonatologista Laurista Corrêa Filho, o bebê já nasce pronto para interagir com o meio ambiente porque passa por um treinamento uterino. O médico explicou que a organização do cérebro é única e pessoal e que, com apenas quatro meses de vida uterina, o feto já produziu a maioria dos seus neurônios e o cérebro está praticamente formado. Por isso, na opinião de Laurista Filho, a experiência uterina é fundamental, mas é igualmente importante a experiência que as crianças adquirem nos primeiros anos de vida, principalmente antes dos três anos de idade.

- As crianças que sofrem abuso ou negligência não desenvolverão uma relação segura com seus cuidadores. Mesmo em termos físicos, somos beneficiados pelo afeto dos outros. Por isso, tem de haver prevenção e investimentos para assegurar qualidade de vida às nossas crianças - afirmou o médico.

Para o psiquiatra e presidente da Federação Latino-Americana de Psiquiatria da Infância, Adolescência, Família e Profissões Afins (Flapia), Salvador Célia, a sociedade precisa desenvolver a "cultura do apego", que significa trabalhar as boas relações entre o bebê, desde a vida uterina, e os seus cuidadores, que são, segundo ele, os pais e responsáveis, mas também os pediatras, entre outros. Para Salvador Célia, é preciso que haja políticas públicas voltadas não só para garantir maior atenção e qualidade de vida às crianças, mas também aos responsáveis por estas.

- A cultura do apego é muito importante. Ela compreende uma série de ações, como um acompanhamento mais profundo e personalizado no pré-natal, um parto mais humanizado, uma maior presença do pai, creches de bom nível e a definição de uma série de políticas públicas voltadas para a primeira infância - explicou o psiquiatra.

Da mesma opinião compartilha o pediatra e professor de pediatria da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Márcio Lisboa. Segundo ele, a violência é previsível e pode ser tratada em vários aspectos, pois alguns dos fatores determinantes aparecem já na gravidez. Ele citou, como exemplo, a gestação não desejada. Lisboa citou ainda como fatores determinantes da violência o mau exemplo adquirido no ambiente familiar, a desestruturação do lar, a falta de limites e disciplina, a baixa auto-estima e a privação materna.

- O período mais crítico da formação do ser humano vai da concepção aos seis anos de idade. Ou as providências necessárias são tomadas até essa idade-limite ou então o corrupto está formado - afirmou Antônio Lisboa.



30/05/2006

Agência Senado


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