Estratégia de Serra é modificada










Estratégia de Serra é modificada
BRASÍLIA - A campanha do ex-senador José Serra (PSDB) à Presidência da República vive sua pior crise. Não bastasse o risco de vitória do PT no primeiro turno da disputa eleitoral, o tucano tem o candidato do PSB, Anthony Garotinho, em sua cola e um prazo curtíssimo - apenas 12 dias - para tentar reverter o quadro. Diante deste cenário, estrategistas do PSDB e do PMDB confessam-se meio perdidos. A única certeza, por ora, é que o programa eleitoral do tucano não deve mais bater pesado no PT como vinha fazendo. Ontem, Serra passou o dia em conversas com marqueteiros e assessores, reajustando o tom e regravando alguns programas a serem veiculados no horário gratúito da propaganda eleitoral.

O cientista político Antônio Lavareda, um dos estrategistas da campanha, tem deixado claro que a tática dos ataques, embora inevitável, impunha riscos à candidatura tucana.

O risco, apontado por Lavareda, chama-se Garotinho. Foi ele quem capitalizou a pancadaria. Enquanto a popularidade de Serra despencou nas grandes metrópoles, o candidato do PSB ganhou votos.

O retrato da crise na campanha da aliança PSDB-PMDB, com expressões de desolação em alguns casos, é exposto pelos aliados. "Eu já estou para ficar doido com estas pesquisas e não sei mais de nada", admitia ontem o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).

Enquanto o candidato discute o que fazer daqui para frente, seus auxiliares esforçam-se em manter o ânimo, mas ficam claras as divergências sobre o rumo da campanha. "A idéia é tocar nossa campanha com todos os agentes políticos e a militância nas ruas, pedindo voto. E quanto mais propostas e conteúdo apresentarmos na televisão, melhor", disse o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA).

Mas, apesar de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, ter subido nas pesquisas de opinião quando era o alvo da pancadaria do PSDB, a estratégia ainda é defendida por alguns setores. "Não quero falar mal da estratégia de ataques ao PT porque ela cumpriu seu papel. Se não tivéssemos optado por ela, Lula já teria vencido a eleição", disse um dos principais interlocutores de Serra. "Foi uma etapa desagradável, mas necessária", concorda Jutahy. Quanto ao desempenho de Anthony Garotinho, alguns políticos preferem acreditar que ele é um risco calculado. "Ele bateu no teto", aposta Geddel Vieira Lima e outros interlocutores de José Serra.


Artigos

Para quando tudo for oficial
André Resende

Quando a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva estiver oficializada, o Brasil viverá vários momentos de transição. O primeiro será de contrapropaganda e contra-informação, apoiado pela mídia, que não cansará de procurar personagens ansiosas por dar conselhos e alertas futuristas, visionários e otimistas, todos reticentes ao novo presidente da República. O segundo momento acontecerá com a formação do Ministério e com o apoio de governantes de outros países, quando a mídia começará a avaliar a sociedade a partir das oscilações do mercado e indagar se o Brasil suportará as mudanças sistêmicas - ninguém vai chegar a qualquer opinião sensata, mas a sensatez será pedida. O terceiro momento será a composição política e de adesão, com a mídia contando os parlamentares, governadores e empresários que engrossarão o caldo da governabilidade em nome do País.

Se as lições virão de um amplo debate nacional, como ele acontecerá, eu não sei - mediado pela mídia? - e se desse diálogo surgir a promessa de um novo contrato social, com a participação de novos atores, o presidente agirá mais como mediador e conciliador - duas coisas que ninguém espera, mas deveria esperar, de um presidente - e talvez o Estado brasileiro aprenda a agir dessa maneira, o que seria muito bom para nós e para as próximas gerações. Seja como for, esse cenário me sugere um Governo de introdução - porque imagino que dois ou mais mandatos serão necessários para concluir a elaboração de um contrato social. Os dois anos de Itamar Franco e os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso foram responsáveis por concluir uma transição econômica e um diálogo com o Mundo, iniciando uma reforma na maneira de pensar o Estado e o seu papel na formação econômica atual do País. Se o resultado não agradou a todos é outra história, do mesmo jeito que, se a próxima década introduzir um novo contrato social, não vai agradar a todos - mas os dois lados terão de aceitar e conviver a alternância de poder e a existência de pensamentos diferentes.

Do que vai acontecer nos próximos dez aos se poderá olhar o futuro da geração que hoje está saindo da infância. Não dá para governar olhando só o futuro ou apenas administrando o presente. Também não dá mais para pensar o País como sempre desejou a elite, olhando o passado como fonte de inspiração para o presente.

Com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva o passado estará no seu devido lugar, no passado, e a democracia terá de viver tensões até então desconhecidas. O que era segurança nacional ou ação estratégica nas décadas passadas, quando o Estado criou classes sociais, Nação e nacionalismo entre nós, pode não ser mais tão decisivo para mudar o País. Contudo, a experiência histórica mostra que um País livre para pensar e decidir tem de ter indústrias fortes, mercado interno crescente, soberania intelectual e informativa. Não é mais papel do Estado criar a Nação ou intervir como capitalista nos setores econômicos. Fará melhor agora se mediar, acompanhar, regular e estimular as cadeias produtivas, os segmentos econômicos e o potencial industrial e intelectual do Brasil.

Como exemplo, o novo Governo tem de entender que não dá para instituir a sociedade do trabalho, onde haveria emprego para todos e estabilidade regulada por lei. Pode funcionar na propaganda política ou como estratégia para garantir votos, mas do que isso, não. A sociedade industrial nunca foi exclusivamente industrial, ou do capital, ou do trabalho. Da mesma maneira, a sociedade da informação e do conhecimento, a pós-industrial, não é a sociedade do trabalho dos modelos da sociedade industrial, baseada em operadores e padronizadores. Não é um sistema de operários e subsistências, mas um sistema de cognitários, de gente que processa, cria, distribui, produz, acessa e conecta informação e conhecimento. Nenhuma sociedade conseguiu resolver o problema do desemprego querendo gerar emprego para todos. Talvez seja mais simples pensar em programas de renda extensiva a todos ou de trocas simbólicas, principalmente a chefes de família, homens ou mulheres, e umprograma de educação completo e flexível, onde estudar, pesquisar e participar de equipes de soluções possam ser tarefas remuneradas com o critério de grupos estratégicos. Tudo isso, claro, se, depois das eleições, o tema voltar à cena e ao diálogo.


Colunistas

DIARIO POLÍTICO - Divane Carvalho

Os últimos dias
Nos dez dias que faltam para acabar os programas eleitorais de rádio e TV os marqueteiros passam a ocupar um lugar secundário na campanha, porque já fizeram tudo que podiam. A partir de agora, a conversa vai ser mesmo entre os candidatos e os eleitores, sem intermediários, porque é nesse período que a eleição começa a ser decidida. E aí ninguém se liga mais nas superproduções dos especialistas em marketing político, porque o embate entre os candidatos é o que realmente interessa ao eleitorado.

Em particular aos indecisos, que costumam fazer suas escolhas de última hora. Na corrida presidencial é possível que, a partir dessa semana, se tenha uma definição sobre se haverá ou não o segundo turno, pois a disputa vai ficar mais acirrada do que já está.

E enquanto os petist as apostam na militância para eleger Luiz Inácio Lula da Silva(PT) no primeiro turno, (PSDB), prometendo colocar nas ruas um milhão de militantes, no comitê do presidenciável tucano a ordem continua sendo bater em Lula para tentar impedir que opleito seja decidido no dia 6 de outubro. Mesmo que o candidato governista já saiba que seus ataques não deram o resultado esperado, mas ele simplesmente não tem outra saída. Até porque não encontrou o caminho para continuar crescendo, como mostraram as pesquisas divulgadas na semana passada. Os últimos dias, portanto, prometem mais emoção, um importante tempero da disputa eleitoral, mesmo que não tenha lógica.

A amizade entre Jarbas Vasconcelos e João Paulo, que pelo visto cresce e se renova a cada dia, pode ser o esboço de uma futura aliança política. Quem sabe o PT passando a integrar a base de sustentação do governador no lugar do PFL

Fashion 1
Marco Maciel e Mendonça Filho se divertiram muito, domingo à noite, na festa que a militância tucana promoveu no comitê de Sérgio Guerra (PSDB) no primeiro jardim de Boa Viagem.

Fashion 2
Maciel de óculos amarelos, aqueles imensos, que ganhou da garotada, e Mendoncinha com um lenço amarelo, da campanha de Guerra, amarrado no pescoço. Mais fashion, impossível.

Apoios
No comício de Vitória de Santo Antão, no final de semana, José Aglaílson (PSB) anunciou que votará em Jarbas Vasconcelos, Sérgio Guerra, Marco Maciel e Eduardo Campos, do PSB (foto), para federal. Eclético, o prefeito.

História 1
Pelópidas Silveira, Egídio Ferreira Lima e Cid Sampaio estão entre as 16 personalidades que serão homenageadas pela Assembléia, amanhã, com o título Expoentes de Pernambuco.

História 2
Segundo Romário Dias (PFL), presidente do Legislativo, o objetivo é preservar a memória do Estado através dos principais nomes que fizeram e ainda fazem a história de Pernambuco.

Festa
Roberto Gomes (PT), candidato a estadual, promete uma grande festa, sexta-feira, no Clube da Compesa, para animar a militância na reta final de campanha. Reservas pelo telefone 3223-0636.

Boato
Um boateiro de plantão, do PT, espalhou que Sérgio Guerra teria comprado todos os exemplares da revista IstoÉ dessa semana, que traz reportagem sobre o Escândalo do Orçamento. Só boato, as revistas estão em todas as bancas.

Agenda
Mendonça Filho e Fernando Dueire vão a Brasília, quinta-feira, em busca de recursos federais. Apesar da campanha eleitoral, o vice-governador e o secretário de Infra-Estrutura não descuidam da agenda administrativa do Governo.


Editorial

PROTECIONISMO INCORRETO

O resultado do plebiscito sobre a Área do Livre Comércio das Américas (Alca) realizado por entidades representativas de diversos setores da sociedade revela o grau de preocupação dos brasileiros com um dos temas mais importantes a serem tratados pelo futuro presidente da República. Mais de 10 milhões de pessoas participaram da consulta popular. Delas, 98% mostraram-se contra a adesão ao bloco econômico previsto para englobar 34 países do continente. A primeira conclusão a ser tirada é que a decisão definitiva a respeito do assunto deve ser precedida da mais ampla discussão das partes envolvidas.

A proposta de antecipação do cronograma de criação da Alca feita pelo governo do Canadá foi rejeitada pelo ministro da Relações Exteriores, Celso Lafer. Trata-se de posição correta por parte do Brasil. A mudança radical das regras comerciais vigentes entre as nações americanas deve levar em conta uma gama de aspectos ainda não discutidos pela população. As informações disponíveis são insuficientes para julgar a necessidade de participação do Brasil em um bloco econômico de tamanha relevância para o futuro das nações do continente.

O Governo brasileiro também deve se preparar para o embate com os outros países, principalmente com os Estados Unidos, o mais interessado na existência da Alca. O México deu bom exemplo do que deve ser feito durante a criação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) com Estados Unidos e Canadá.

Mais de 2 mil especialistas de diferentes áreas foram convocados para participar das negociações com os dois parceiros.

A Alca só faz sentido se tiver como conseqüência o fim do protecionismo dos Estados Unidos em relação aos produtos brasileiros. Estudo feito pelo Itamaraty mostra que a maior potência econômica do Mundo onera os vinte principais produtos de exportação brasileiros com uma tarifa média de 31,9%. Essa realidade vale justamente para os itens em que o Brasil tem mais capacidade de competição. Para outros parceiros comerciais, os norte-americanos aplicam sobretaxa média entre 4% e 5%. A reciprocidade nas relações dos integrantes da Alca é condição fundamental para a decisão de participar do bloco econômico.

O protecionismo dos Estados Unidos explica o resultado do plebiscito brasileiro. Embora tenha sido preparada por entidades reconhecidamente contrárias à Alca, como Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a consulta popular mostra no mínimo a disposição dos brasileiros em garantir tratamento igualitário no projeto que pode se transformar no maior acordo econômico da história do continente americano.


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09/24/2002


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