EX-FUNCIONÁRIO DO INDESP ATRIBUI REDAÇÃO DE PORTARIAS SUSPEITAS AO "GRUPO DA CONAB"



O senador Roberto Requião (PMDB-PR) indagou ao ex-funcionário do Indesp, João Elias Cardoso, quem redigiu a Portaria 23 do Indesp, que na prática liberou a utilização de máquinas caça-níqueis no Brasil, juntamente com as máquinas de sorteio de números para as casas de bingo. Durante seu depoimento na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta quarta-feira (dia 1º) Cardoso respondeu que a portaria foi feita pelo chamado "grupo da Conab" (Companhia Nacional de Abastecimento), composto pelo advogado Paulo Araújo (ex-procurador-geral do órgão, depois contratado pelo Indesp) e outros.
Também respondendo a Requião, o servidor, lotado na Secretaria de Fiscalização e Controle do Ministério da Fazenda, atribuiu ao "grupo da Conab" a redação da medida provisória (MP) encaminhada pelo ministro dos Esportes, Rafael Greca, ao presidente Fernando Henrique Cardoso. A MP, que liberava as máquinas em todo o país, não foi assinada pelo presidente.
Para o senador, o ministro quis criar "um grande caixa de campanha" através de cobranças para licenças a casas de bingo, que são concedidas pelo Indesp (Instituto de Desenvolvimento do Desporto). Estas licenças, segundo denunciou, chegavam a US$ 15 mil. Mas o grupo que o ajudava, afirmou Requião, resolveu associar-se à máfia italiana.
- Conheço o ministro Greca. Ele está muito longe de ser sério, tem mil defeitos, mas não sei se o envolvimento direto com a máfia é um deles - afirmou Requião. O parlamentar acrescentou que deve ser investigado o grupo de paranaenses que se reunia no flat Parthenon, em São Paulo. Entre seus integrantes, disse o senador, está André Manfredini, já convocado para depor na CAS, e Sérgio Buffara, irmão do ex-diretor-administrativo do Indesp, Luiz Antonio Buffara.
O delegado de Polícia Federal Luiz Fernando Ayres Machado, outro depoente na CAS na manhã desta quarta-feira, confirmou à senadora Heloísa Helena (PT-AL) as reuniões na Conab para redação das portarias. A senadora, vice-presidente da comissão, solicitou que o outro delegado da PF em São Paulo, que cuida do inquérito sobre as ramificações das máquinas caça-níqueis com a máfia, também seja ouvido pela CAS.
O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) quis saber se havia ligação entre as portarias suspeitas do Indesp e a máfia das máquinas caça-níqueis. Cardoso respondeu não ter dúvidas da utilização da máquina governamental e fez mais uma denúncia: após sua saída, foram contratados irregularmente os serviços da Poliedro Informática, que tem hoje mais de 15 pessoas trabalhando no Indesp.
- O ministro foi verdadeiro quando disse, de forma indireta, que ainda não assumiu seu ministério, pois não conhece seus assessores nem o que acontece lá dentro - afirmou Álvaro Dias.
O senador Eduardo Siqueira Campos (PFL-TO) quis saber quem contratou a Poliedro, mas o depoente disse ter conhecimento apenas de que a empresa pertence a Sueli Nakano, ex-funcionária do Ministério da Agricultura.
O senador Ernandes Amorim (PPB-RO) indagou se a denúncia que levara ao Indesp sobre irregularidades em Sorocaba (SP) havia precipitado as descobertas de irregularidades. Segundo Cardoso, a denúncia ajudou, embora não fosse a primeira.
Ao final, o presidente da CAS, senador Osmar Dias (PSDB-PR), comunicou que estão convocados para depor Luiz Antônio Buffara, Paulo Araújo e Sérgio Manfredini. Na reunião desta quarta-feira estava previsto também o depoimento do jornalista Juca Kfouri, que justificou sua ausência e deve falar à CAS em breve. Também informou que os depoimentos dos procuradores que investigam o caso, assim como os documentos por eles fornecidos, serão encaminhados à CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados.

01/12/1999

Agência Senado


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