FH: “Confio em José Serra”









FH: “Confio em José Serra”
Numa pré-convenção marcada pela reconciliação e pela demonstração de unidade, o senador José Serra (SP) foi aclamado ontem o candidato do PSDB à Presidência da República, e recebeu elogios de seus principais adversários na disputa interna pela candidatura — o governador do Ceará, Tasso Jereissati, e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. O presidente Fernando Henrique Cardoso, que está na Polônia, fez, por carta, sua manifestação mais enfática de apoio a Serra até agora: “Confio em José Serra porque o conheço como um amigo, um companheiro de muitas lutas, e vejo nele as qualidades indispensáveis para dirigir o país”, escreveu o presidente.

Na carta, Fernando Henrique diz que Serra é o candidato da “continuidade sem mesmice” e apela novamente pela manutenção da aliança com o PFL e o PMDB.

O governador Tasso Jereissati foi o último líder tucano a chegar no Salão Azul do Hotel Nacional. A demora provocou certa inquietação na direção do PSDB. Após o presidente do partido, deputado José Anibal (SP), ler a carta de Fernando Henrique, foi preciso escalar de improviso mais dois oradores. Logo que chegou à mesa, Tasso recebeu o microfone para falar, e logo prometeu que vai arregaçar as mangas para eleger Serra.

— Nenhum projeto pessoal pode estar acima do objetivo de fazer um Brasil grande e moderno. Estamos aqui para dar nosso apoio à construção deste projeto e apoiar a candidatura José Serra. Vamos dar as mãos nessa luta — disse Tasso.

Em seguida, foi a vez de Paulo Renato dar seu apoio:

— O presidente Fernando Henrique tem em José Serra seu legítimo sucessor. O caminho é longo, a batalha é dura, mas nós chegaremos lá.

Agradecimentos a Paulo Renato e Tasso
Serra retribuiu os afagos:

— Quero agradecer muito especialmente a dois companheiros que acabaram de falar: o ministro Paulo Renato, que pela sua obra mudou a educação no Brasil. E agradecer ao governador Tasso Jereissati. Há um ditado que diz: quando um não quer, dois não brigam. Mas no nosso caso podemos dizer: quando dois não querem, não só não brigam como vão andar juntos na luta política e social — afirmou.

No discurso, Serra comprometeu-se a criar o Ministério da Segurança Pública e a fazer a economia crescer como nos anos 50. O ex-ministro da Saúde não fez referência à epidemia de dengue, mas deu ênfase à segurança pública, declarando que é preciso uma ação mais decidida do governo federal. Ele sugeriu que a Polícia Federal receba a missão de polícia ostensiva de repressão, além das tarefas de investigação. Seria criada uma unidade fardada na PF.

Segurança públicaé compromisso
Falando de improviso, Serra anunciou seus sete compromissos de campanha: verdade, trabalho, desenvolvimento, justiça social, redução das desigualdades regionais, segurança pública e democracia. Ao falar do primeiro, o tucano aproveitou para cutucar seus adversários.

— Chega no Brasil de político que faz questão de prometer o que não pode cumprir, que esconde suas posições, que exagera na desgraça. Já tivemos experiências semelhantes no passado. E foram à direita: Jânio Quadros e Collor de Mello. Um com a vassoura, o outro com o marajá.

Ao deixar o local da pré-convenção, o tucano não quis citar nomes quando lhe perguntaram a quem ele se referiu nas críticas.

— Não vou pessoalizar. Nunca esperem de mim nesta campanha ataques pessoais — respondeu.

Quando se referiu ao terceiro compromisso — com o desenvolvimento — Serra disse que agora é preciso dar ênfase ao crescimento da economia e do emprego. Sem citar nomes, Serra também criticou o governo do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP):

— No passado chegamos a enfrentar inflação mensal de 80%. Era um país (o Brasil) que num certo momento não era respeitado pelo mundo. E o que é pior, nem pelos brasileiros e brasileiras — disse, numa referência à expressão que era usada em discursos por Sarney, pai da pefelista Roseana Sarney.

Espremido no palanque por governadores, ministros e parlamentares, Serra usou seu discurso para tentar desmistificar a imagem de que é muito paulista. O tucano disse que vê o Brasil como um todo e que quando foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), na década de 70, viajou por todo o país.

— Na minha vida, toda vez que fiz política, fiz como político nacional. Sou filho de migrante de primeira geração e acostumei desde cedo a pensar fora do meu território — disse.

Tasso vetou os nomes do senador Renan Calheiros (AL) e do deputado Geddel Vieira Lima (BA), que estavam sendo oferecidos ao PSDB como opção do PMDB a vice de Serra. Assim como o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que foi sondado mas deve recusar o convite, os dois são do Nordeste, região onde Serra busca seu vice.


Ministro da Saúde critica exploração eleitoral do dengue
BRASÍLIA. O ministro da Saúde, Barjas Negri, condenou ontem a transformação do combate ao dengue numa guerra político-eleitoral. Barjas criticou especialmente a descompostura que a prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), passou em seu secretário de Saúde, Eduardo Jorge, que tinha manifestado opinião mais condescendente com o governo federal.

— Vamos combater o dengue com trabalho. Com divergências, brigas políticas e tititi, não vamos a lugar algum. Isso só nos enfraquece diante da população — disse Barjas, acrescentando que o brasileiro quer resultados.

Ontem, na pré-convenção do PSDB, em Brasília, os delegados tucanos se esforçaram para eximir José Serra de responsabilidade pela endemia. O ministro do Planejamento, Martus Tavares, chegou a chamar de oportunistas os que usam a doença como instrumento eleitoral.

— Serra não pode ser avaliado por uma coisa dessas. Avaliar seus quatro anos de ministério por isso não é sério — criticou Martus.

Governador de Goiás — o segundo estado do país em incidência de dengue — Marconi Perillo chegou a dizer que a doença é um factóide criado para prejudicar Serra:

— Dengue não é responsabilidade do ministro. O dengue é um factóide para atrapalhar a candidatura de Serra.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que também sofre com a doença, disse que o combate ao dengue é atribuição de governo, estados e municípios.

— O combate ao dengue é responsabilidade dos três níveis de governo. Não se pode dizer que é responsabilidade do Serra.

Genoino suspende campanhapor suspeita de dengue
Devido a uma suspeita de dengue, o candidato do PT a governador de São Paulo, José Genoino, suspendeu a sua campanha. Genoino está de repouso e vai fazer exame de sangue hoje. O presidente do PT, José Dirceu, responsabilizou diretamente Serra pela epidemia de dengue. Dirceu disse que, enquanto ministro da Saúde, Serra priorizou uma agenda tipicamente eleitoral, deixando de lado o combate ao dengue.


PSDB se anima com subida de Serra
BRASÍLIA e RIO. A cúpula do PSDB comemorou o resultado da pesquisa do instituto Datafolha, em que o ex-ministro José Serra aparece com 10% das intenções de voto, três pontos percentuais a mais que na pesquisa anterior. Os tucanos enxergaram na tendência de crescimento a possibilidade de acelerar as conversas com os partidos que podem fechar alianças com o PSDB.

A pesquisa do Datafolha aponta Serra com 10% de preferência, num cenário com Itamar Franco (PMDB) na disputa, e 12% se Itamar não concorrer. Na rodada anterior da pesquisa Serra tinha 7%.

Feita nos dias 20 e 21, a pesquisa também mostra o pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, com 26%, a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), com 23%, o governador do Rio, Anthony Garoti nho (PSB), com 13%, Ciro Gomes (PPS), com 8% e o governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), com 6% das.

— A pesquisa favorece Serra porque, se ninguém nos partidos com os quais podemos fazer aliança duvidava de sua competência, agora ele está mostrando que também tem capacidade eleitoral — disse o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA).

Serra foi orientado a não comentar os resultados de pesquisas, mas ontem, mesmo cercado por seguranças e empurrado por dezenas de militantes tucanos ao deixar o hotel Nacional, na porta do carro, falou duas palavras:

— Achei positiva.

Tucanos acham que bom desempenho de FH ajuda
Os tucanos acreditam que o fato de a avaliação do governo Fernando Henrique estar melhorando, de acordo com as pesquisas de opinião pública, vai ajudar ainda mais a candidatura Serra.

— O fato de os candidatos dos partidos da aliança — Serra e Roseana — terem subido nas pesquisas está ligado a uma melhor avaliação do governo — disse o governador do Ceará, Tasso Jereissati.

O ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, preferiu ser comedido:

— Devemos receber o resultado com moderado otimismo — ressalvou Pimenta.

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), um dos coordenadores da campanha de Roseana, minimizou o crescimento de Serra. Segundo ele, o ex-ministro teria tirado vantagem da queda de Ciro Gomes, mas esta troca teria um teto.

— A pesquisa ainda não capturou o desgaste da saída do Serra do governo no dia dengue — disse.


Executiva do PT discute consulta aos filiados sobre aliança com os liberais
SÃO PAULO. Líderes petistas contrários à aliança com o PL vão pedir, hoje, na reunião da executiva nacional do partido, a realização de uma consulta aos filiados para decidir sobre a coligação com os liberais. Segundo a proposta do deputado Milton Temer (RJ), a consulta seria feita simultaneamente à prévia que vai escolher o candidato do PT à Presidência. Mas embora conte com o apoio de líderes da ala moderada do PT, como o senador Eduardo Suplicy (SP), a proposta de Temer esbarra em dois obstáculos: falta de tempo, já que a prévia está marcada para o dia 17 de março, e o fato de o diretório nacional ter o poder de decidir sobre a política de alianças.

— Já temos uma deliberação nacional que delega ao diretório a responsabilidade pelas alianças — disse o presidente nacional do PT, José Dirceu, que não descarta a abertura de diálogo.

Diretório nacional do PT deve ratificar aliança
Formado basicamente por integrantes da ala moderada, favoráveis à coligação e a escolha do senador José Alencar (PL-MG) para candidato a vice-presidente na chapa petista, o diretório deve ratificar a aliança. Mas isso ainda depende de uma decisão do PL, que também é assediado pelo PSB.

— Defendo a consulta porque essa questão provocou uma reflexão muito grande no partido. Antes de escolher nomes para candidato a vice-presidente, o PL precisa esclarecer se concorda com o programa petista. Uma coisa é elogiar o Lula e o PT. Outra é discutir questões programáticas. Queremos ampliar o leque de alianças, mas para fazermos aquilo que acreditamos — disse Suplicy.

Na opinião do senador, a maneira como a cúpula petista tem discutido a aliança com o PL atrapalha a candidatura de Lula. Segundo o Datafolha, o pré-candidato do PT caiu de 30% para 26% das intenções de voto e agora está tecnicamente empatado com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), que subiu de 21% para 23%.

— Isso nos colocou em sinal de alerta — disse Suplicy.

Já para José Dirceu, o motivo para a queda de Lula e o crescimento de Roseana é outro.

— Essas pesquisas mostram que a propaganda na TV tem efeito direto nas candidaturas. A polêmica sobre o PL ainda não teve reflexo na opinião pública — afirmou.

Segundo ele, Lula voltará a crescer a partir de abril, quando serão veiculados os primeiros programas de TV do partido.

Já os deputados Aloizio Mercadante (SP) e José Genoino (SP) atribuem a queda de Lula aos ataques dos adversários.

Segundo Genoino, a possível aliança com o PL não significa a descaracterização do programa petista.


LBV terá que pagar R$ 2 milhões de multa à Receita por não recolher IR
BRASÍLIA. A Legião da Boa Vontade (LBV) terá que pagar pelo menos R$ 2 milhões de multa à Receita Federal porque não recolheu, nos últimos cinco anos, Imposto de Renda na fonte de empregados e fornecedores. Esse é o resultado parcial da operação pente-fino que os fiscais da Receita estão fazendo na LBV.

Em junho do ano passado, o Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) indeferiu o pedido de renovação do registro da LBV como entidade filantrópica, por irregularidades na contabilidade da instituição. A mais grave foi o não recolhimento ao INSS de R$ 138 milhões em contribuições entre 1994 e 2000.

Receita Federal vai investigar dirigentes
Os próximos passos das investigações da Receita Federal recairão sobre os dirigentes da LBV, que terão seus bens e declarações de renda nos últimos cinco anos devassados. A Receita vai investigar sinais de riqueza dos dirigentes e ver se a instituição continua pagando salários indiretos aos dirigentes.

Para efeito fiscal, a LBV ainda é considerada filantrópica. Por isso, o certificado do CNAS é nulo do ponto de vista tributário. Caso as suspeitas se confirmem, a LBV será multada por crime de sonegação fiscal e poderá ser obrigada a desembolsar mais dinheiro para o Leão.

— Se encontrarmos razões que indiquem a cobrança dos tributos, a LBV será taxada como uma empresa comum — disse um funcionário do governo.

Direção da LBV é suspeita de transferir bens
As investigações da Receita Federal seguem a mesma linha da que foi adotada pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) em 2000. Os fiscais querem saber até que ponto existe uma relação de caráter incestuoso entre a LBV, a Fundação José de Paiva Netto e outras entidades ligadas ao grupo. A direção da LBV é suspeita ainda de transferir patrimônio da instituição filantrópica para empresas privadas.

— Vamos verificar se essa prática já está superada depois das investigações do INSS. Independentemente disso, a LBV será multada no período em que as irregularidades aconteceram — afirmou uma fonte.

As aplicações financeiras da LBV serão examinadas porque existe a suspeita de que, sob a proteção da filantropia, a entidade pode ter feito operações financeiras consideradas inadequadas a uma instituição assistencial. A entidade ainda comprou bens para usufruto da diretoria, o que também é considerado ilegal.

Segundo os dados do relatório do INSS, só em 1999 foram gastos R$ 501 mil na compra de nove carros importados da marca Honda. Foi constatada também a compra de imóveis pela Legião da Boa Vontade destinados ao presidente mundial da entidade, José Simões de Paiva Netto.

Governo abre mão de R$ 2 bi em impostos por ano
A operação pente-fino da Receita também vai atingir as demais instituições filantrópicas. O governo federal abre mão anualmente de R$ 2 bilhões em impostos que deixam de ser pagos por cerca de 4.800 instituições credenciadas para fazer caridade. Desses, o governo estima que pelo menos R$ 800 milhões poderiam ir para os cofres públicos não fosse o forte lobby que algumas dessas instituições exercem dentro do próprio governo.


Artigos

Caro e escasso
Luiz Gonzaga Bertelli

Em 1973, percebemos pela primeira vez que o Brasil havia construído a sua civilização e o seu sistema de transporte na dependência do petróleo. À época, gastávamos em torno de 800 mil barris diários. Os nossos estoques eram suficientes para apena s três meses de consumo, e a nação brasileira estava escravizada a um só energético.

Hoje, a produção interna alcança em torno de 60% das nossas necessidades, e continuamos importando 40% para o refino e derivados, com um dispêndio de US$ 7 bilhões no ano transcorrido. As nossas reservas seriam suficientes para os próximos 17 anos.

O petróleo, entretanto, continua sendo uma fonte finita, começando a se esgotar a partir de 2010, segundo importantes analistas.

Por outro lado, a expectativa é de que a colheita da safra de cana de 2002/03 atinja 330 milhões de toneladas em todo o país, o suficiente para a fabricação de mais de 12 bilhões de litros de álcool e 20 milhões de toneladas de açúcar.

Isto significa que o Brasil é uma das únicas nações do planeta com efetivas condições de substituir pelo álcool da cana-de-açúcar e óleos vegetais 100% da gasolina e do diesel que consumimos. Para tanto, não necessitamos de tecnologia externa, máquinas importadas, capitais ou recursos humanos de outros países.

O carro a álcool trouxe a independência da engenharia automotiva brasileira. Ademais, duas evidências merecem destaque nas virtudes do carro a álcool: a inquestionável redução do monóxido de carbono (CO) e a não contribuição para o agravamento do efeito estufa (CO). A poluição do ar, a chuva ácida e o aludido efeito estufa decorrem, inquestionavelmente, da queima de combustíveis fósseis nos motores dos veículos.

Em decorrência, o governo deveria aprofundar as investigações para o desenvolvimento de um motor original e específico para o álcool, visando à elevação da eficiência e à redução do consumo. Até agora, 27 anos após a criação do Proálcool, os carros a álcool incorporam apenas a evolução tecnológica dos seus similares acionados a gasolina.

Não é justificável o atual desinteresse dos produtores de veículos brasileiros no tocante ao carro a álcool, que já alcançou uma frota de mais de 5 milhões de veículos produzidos entre nós. Hoje, têm uma participação de apenas 1% das vendas totais de veículos leves no Brasil, insuficiente para contrabalançar um sucateamento anual de 350 mil carros.

Um carro movido a gasolina gera, na cadeia industrial, 7 empregos, enquanto o veículo a álcool emprega 30 pessoas, principalmente no interior do estado. Em decorrência das suas vantagens colaterais e das externalidades positivas do álcool combustível, não se deve ignorar a imprescindibilidade da adoção de mecanismos de sustentação à indústria alcooleira.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Diana Fernandes

Fraturas expostas
Uma aliança entre o PSDB e o PFL para as eleições de outubro é assunto do passado. Tucanos e pefelistas não apostam mais um tostão nessa possibilidade. O resultado das últimas pesquisas, com Roseana Sarney chegando perto de Lula e José Serra mostrando que pode estar iniciando uma fase de ascensão, reforça o distanciamento. Mas é a animosidade crescente que prenuncia o divórcio.

No fim de semana gestos e palavras, de lado a lado, ganharam um tom mais agressivo. No campo do PFL foi a própria pré-candidata Roseana Sarney quem andou dizendo a interlocutores que já considera impossível uma aliança com os tucanos. Dirigentes tucanos já dizem também que o PSDB não dispensará mais esforços pela união com os pefelistas.

O clima de atrito entre os dois partidos chegou a tal ponto que nem a hipótese de recuo de um ou de outro é vista como fato que possa favorecer a reaproximação. No encontro com Roseana Sarney, sexta-feira, o ex-governador Moreira Franco (PMDB), que não esconde de ninguém que é amigo de Serra e torce pela aliança de seu partido com o tucano, quis saber: se o PSDB desistir de candidatura própria, o PMDB perderá seu lugar na aliança com o PFL para os tucanos? Roseana disse um sonoro não.

Da mesma forma, sobre se o PFL seria recebido de braços abertos, com tapete vermelho pelo PSDB no caso de desistência de Roseana, o deputado José Aníbal, presidente do partido, responde:

— Um tapete palha, bege... uma cor assim mais pálida.

É verdade que tudo, por ora, está no campo do jogo, das apostas e da tática de sedução. Roseana e José Aníbal podem estar dizendo isso apenas com o intuito de valorizar a parceria que desejam com o PMDB. E no assédio aos peemedebistas, os pefelistas partem para outra ofensiva, propagandeando que têm mais vantagens a oferecer do que os tucanos: além de Roseana estar na frente nas pesquisas, o PFL faz festa para a sugestão do comando peemedebista de ter o paulista Michel Temer como vice de Roseana.

No PSDB, de fato, não é fácil o consenso em torno de nomes do PMDB. Ontem mesmo, na convenção tucana que aclamou Serra candidato, o senador Renan Calheiros e o deputado Geddel Vieira Lima, ambos nordestinos (um dos critérios para compor com Serra), foram vetados pela cúpula do partido.José Sarney não achou ruim José Serra ter lembrado a inflação de seu governo no discurso de ontem. Acha que ele levou Roseana para a convenção tucana. Cada um entende como quer.

Mais um teste de habilidade para Serra
Aclamado candidato do PSDB, sem as amarras do cargo de ministro e com a unidade partidária presente pelo menos na foto, o senador José Serra intensifica esta semana os contatos para a montagem de sua equipe de campanha. Na quarta-feira terá encontro com o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga, já convidado por Serra para ser o coordenador de sua campanha presidencial.

Amanhã, Pimenta dirá que não disputará a eleição deste ano. Mas nada ainda garante sobre se aceita ou não o convite de Serra.

— Vou conversar com ele direitinho. Preciso ver qual é a proposta, se tenho condições de atender às expectativas e de que forma vamos fazer esse trabalho — disse Pimenta ontem, depois da convenção tucana.

O que ele não diz, mas provavelmente é o que passa pela cabeça de todos os tucanos, é sobre o tamanho do comprometimento do candidato Serra com companheiros de partido. É recorrente ainda no PSDB a crítica de que Serra é centralizador e que resiste em assumir compromissos para o futuro. O próprio presidente Fernando Henrique disse-lhe, certa vez, que ele precisaria mostrar aos companheiros que o projeto de poder é de todos.

Pimenta da Veiga, por sinal, tem mais que uma opção: FH pensou em convidá-lo para o lugar de Arthur Virgílio na Secretaria Geral da Presidência a partir de abril. Desistiu quando soube da intenção de Serra. Se a conversa com o candidato for boa, Pimenta deve dizer o sim ainda esta semana. Agora a campanha precisa ter interlocutor.

NA CONVENÇÃO do PSDB de ontem, muitos grandões do partido aproveitaram para externar grande descontentamento com a permanência do deputado tucano Ronaldo Cezar Coelho como secretário de Saúde do prefeito do Rio, o pefelista Cesar Maia, que não tem poupado José Serra na polêmica sobre a epidemia de dengue. Pelo tom das críticas, Ronaldo Cezar entrou na geladeira tucana.

GAFE DA CONVENÇÃO TUCANA: logo depois da chegada de Serra, um dos telões de fora do auditório exibia um vídeo sobre Mato Grosso, governado pelo tucano Dante de Oliveira. Ao expor a expansão da agricultura de algodão no estado, foi apresentada uma entrevista do empresário-senador José Alencar, o cotado para vice de Lula, que ficou um bom tempo na tela, enquanto os militantes queriam ver o candidato. O mesmo vídeo mostrou também o rebanho bovino do estado. A esta altura um militante cansou: “Estão mostrando ao Serra o que é uma vaca!”. Dizem que ele só viu uma vaca de perto quando tinha 50 anos.

ROSEANA SARNEY passará a semana no Maranhão, mas é grande o empenho do PFL para mantê-la na mídia. Os pefelistas vão sempre criar um fato na tentativa de chamar a atenção para a candidata.


Editorial

OUTROS TEMPOS

O Brasil é um dos poucos países a contar com uma fonte de energia potencialmente abundante, pouco poluente e renovável. Quando foi lançado, na década de 70, o Proálcool parecia um daqueles planos megalomaníacos do regime militar. Não foi assim. O país importava 80% do petróleo que consumia, e o álcool, ao chegar a abastecer praticamente toda a frota de automóveis em meados da década de 80, ajudou a impedir crises cambiais mais graves.

Erros de planejamento e a falta de visão de usineiros, demonstrada ao reduzirem a produção de álcool para aproveitar uma conjuntura de altos preços no mercado externo de açúcar, provocaram grave crise de abastecimento e abalaram a imagem do programa. A queda na cotação do barril de petróleo e o fato de a Petrobras ter colocado o país na rota da auto-suficiência completaram um quadro bastante negativo para o Proálcool.

Mas trata-se de relevante segmento da agroindústria (emprega 25% de toda a mão-de-obra do setor), dono de um acervo de conhecimentos tecnológicos importantes para o país. Qualquer ampliação da produção de álcool, contudo, tem de ser bem estudada para evitar problemas já detectados no passado: o avanço da cana sobre outras culturas alimentícias e a concessão de subsídios. Não se está na década de 70, quando era preciso reduzir a importação de petróleo a qualquer custo.


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02/25/2002


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