ACM acusa José Serra de "arapongagem"
ACM acusa José Serra de "arapongagem"
Ex-senador diz que presidenciável do PSDB pagou caro para espionar adversários políticos
Minutos após um encontro de uma hora com o candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT) à Presidência da República, Ciro Gomes, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) acusou, ontem, o presidenciável do PSDB, José Serra, de ter se especializado em "arapongagem".
Segundo ACM, Serra "pagou caro" a agências que fazem serviços de espionagem ilegal, quando era ministro da Saúde, e conhece bem o assunto. ACM negou, porém, que, na reunião, tenha discutido com Ciro um suposto dossiê, que teria sido produzido por determinação do tucano, contra a governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
"Não tratamos de assunto nenhum sobre a governadora Roseana Sarney, embora saibamos que o doutor Serra é realmente uma figura que conhece bastante a arapongagem", atacou, após a conversa com Ciro. "Porque ele (Serra) se especializou nisso no ministério e pagou muito caro às agências para isso."
Antonio Carlos também negou a possibilidade de o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), se afastar de Ciro e se aproximar do candidato tucano, especulação que classificou de "infâmia". "Trocamos idéias sobre o problema sucessório, é claro, discutindo as teses que estão aí em jogo", declarou.
"E tratamos também de estratégias a serem utilizadas para mostrar a capacidade de Ciro, que é bem maior que a de todos os outros candidatos. Então, quem é mais capaz tem, evidentemente, que ter mais popularidade."
O ex-senador também criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem sido acusado pela Frente de parcialidade, mas isentou o presidente do órgão, Nelson Jobim, de responsabilidade. "As decisões do TSE coincidentemente têm sido todas contra Ciro, algumas absurdas", disse.
"Entretanto estou convencido de que o ministro Nelson Jobim, apesar de sua grande amizade com Serra, é um homem decente. Não vai deixar que isso corra da maneira que está correndo. Também sou contra qualquer ataque ao tribunal, que não seja propriamente em relação à eleição e envolva familiares, porque isso não é uma coisa correta na política." Em nota na semana passada, a coligação afirmou que Serra fora padrinho do segundo casamento de Jobim.
Tucano ainda tenta aliciar PFL
Enquanto ACM o acusava de arapongagem no Rio, José Serra estava na Bahia tentando aliciar políticos do PFL que ainda apóiam Ciro Gomes (PPS).
Ao desembarcar em Bom Jesus da Lapa, conhecida como a capital baiana da fé, Serra frisou que "não sabe o que vai acontecer nesta área", mas disse que os políticos e eleitores que quiserem apoiar seu plano de governo serão bem-vindos.
"Eu estou realmente concentrado na minha campanha para ter o maior apoio possível para fazer o seguinte no Brasil: criar 8 milhões de empregos nos próximos quatro anos. Todos que apoiarem este projeto estarão me apoiando", declarou ao falar sobre a possibilidade de adesão do PFL à sua campanha.
Serra sabe, no entanto, que há entraves para viabilizar um acordo. Dois deles estão no próprio Partido da Frente Liberal: ACM, seu inimigo declarado, e o presidente nacional da legenda, senador Jorge Bornhausen (SC). Há também outros complicadores. Dois políticos baianos aliados de Serra, os líderes na Câmara Geddel Vieira Lima (PMDB) e Jutahy Júnior (PSDB), por exemplo, são adversários de Antonio Carlos.
Por isso, Serra esclareceu que, neste momento, "não está participando de nenhuma articulação política" envolvendo o PFL. E deixou claro que uma eventual negociação com os pefelistas terá de ser avalizada por seus aliados e, evidentemente, por seus adversários. "Eu respeito o que cada partido decidir, o que cada partido decidiu. Jamais vou interferir na vida de cada partido."
O tucano também adotou a estratégia de manter distância de polêmicas envolvendo Ciro e seus aliados. "Em matéria de Frente Trabalhista (coligação que sustenta a candidatura Ciro), não tenho nada para falar", disse. "Eu quero debater programa de governo e não programa de insultos."
Esses foram os únicos comentários de Serra sobre as críticas feitas por integrantes de Frente Trabalhista que acusam o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Nelson Jobim.
Lula pede voto a pecuaristas
O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, deu no fim de semana mais um passo na sua tentativa de acabar com o "medo" que ainda desperta em setores da sociedade dos quais um dia já foi "inimigo".
Acompanhado de seu candidato a vice, o senador José Alencar (PL-MG), ele fez uma visita inédita, no sábado, à Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), entidade considerada símbolo do capitalismo no campo.
O encontro, realizado em Uberaba (MG), foi estratégico. O comando da campanha petista não está mais preocupado em subir nas pesquisa. Quer na verdade, diminuir a rejeição do presidenciável, que supera os 30%, numa preparação para o 2.º turno. Seguindo essa linha, Lula já visitou várias entidades empresariais, como a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e a Febraban.
Reformas trabalhistas vêm logo
Presidenciáveis pregam modernização da CLT e anunciam suas propostas de mudanças
Os direitos trabalhistas vão mudar, seja qual for o presidente eleito. Entre os quatro principais candidatos, todos falam em modernização da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e em ampliar a formalização do trabalho. A diferença está na forma como isso deverá ser feito e no tamanho da mudança.
O tema deverá ser objeto de debate nos primeiros meses de governo do novo presidente. Pelo menos, é o que prometem alguns deles, como Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que pretende começar a discutir o assunto nos primeiros seis meses de governo. A pressa é justificada, no caso de Lula, pela necessidade de melhorar a qualidade do emprego e, principalmente, ampliar a formalização do trabalho. "Isso, sem dúvida, trará reflexos importantes nas contas previdenciárias", diz ele, o que certamente é o objetivo também dos demais candidatos.
José Serra (PSDB) acredita que as mudanças que sugere podem favorecer o crescimento sustentado do produto e do emprego e facilitar a implementação de um novo modelo trabalhista e sindical.
A geração de empregos, destacada em todos os programas de governo, é também preocupação de Anthony Garotinho (PSB). Segundo Roberto Amaral, vice-presidente do partido e coordenador do programa de governo do candidato do PSB, esta seria uma forma de compensar as vagas eliminadas pelos avanços tecnológicos na produção.
Amaral admite uma revisão das leis trabalhistas apenas com esse objetivo: adaptar medidas positivas a novidades e avanços tecnológicos. "Não concordamos com nenhuma restrição ao direito dos trabalhadores", afirma o vice-presidente do PSB.
Segundo a assessoria do candidato Ciro Gomes (PPS), o tema reforma trabalhista deve ser melhor detalhado dentro do programa de governo. O assunto, inclusive, deverá ser melhor discutido com o candidato a vice-presidente, Paulo Pereira da Silva, que é da Força Sindical. Mesmo assim, no site de Ciro algumas diretrizes são adiantadas, como a necessidade de atrair para o mercado formal os trabalhadores sem carteira assinada e de acabar com encargos sobre a folha salarial.
Serra defende modelo sindical
Para o candidato José Serra (PSDB), as disputas entre o capital e o trabalho envolvem dois tipos básicos de conflito. De direito, resultante de discordâncias sobre a interpretação e aplicação das normas legais. E de interesse, referente a pleitos econômicos, como a reivindicação de aumentos salariais.
A forma como esses conflitos podem ser resolvidos variam em cada país, mas no Brasil, segundo ele, sempre foi marcada por traços autoritários. Assim, o candidato destaca sua preocupação com o tema em sua passagem pelo Congresso Nacional.
Para Serra, portanto, há quatro modificações básicas a fazer. A primeira, é definir os contratos coletivos de trabalho, nos diversos níveis, como o instrumento preferencial para a composição de interesses entre o capital e o trabalho e como expressão da negociação livre e direta entre as partes envolvidas.
Para isso, surge como segunda modificação básica, a necessidade de assegurar a liberdade e a autonomia sindical, eliminando-se a unicidade imposta por lei e extinguindo-se as contribuições sindicais obrigatórias para não-associados.
Em terceiro lugar, Serra destaca o fortalecimento da organização sindical e, por último, a necessidade de alterar as atribuições e a composição da Justiça do Trabalho para que haja livre negociação e plena autonomia sindical. "O poder normativo e a interferência da Justiça do Trabalho nos conflitos de interesse precisarão ser extintos", diz ele.
Segundo Serra, no entanto, esse liberalismo não significa abrir mão da proteção básica dos trabalhadores contra possíveis abusos das empresas. "A CLT não deve simplesmente ser extinta", afirma o candidato, que defende sua substituição por uma legislação do trabalho mais simples e menos detalhista.
De acordo com Serra, devem ser preservados, contudo, os direitos básicos e universais dos trabalhadores, como o salário mínimo, o seguro-desemprego, a jornada semanal de trabalho de 44 horas, o repouso semanal, as férias anuais remuneradas, a licença-maternidade e a cobertura básica da seguridade social.
Outra mudança considerada importante por Serra, relaciona-se com a reforma tributária. Em sua opinião, as contribuições precisam incidir, não sobre a folha de salários, mas sobre outros fatos geradores de receita. "A carga deve ser simplificada e reduzida, para que essas contribuições não estimulem o desemprego e a informalização do mercado de trabalho", afirma.
Lula quer atrair autônomos
O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, defende mudanças na CLT, mas de maneira bastante diferenciada da proposta apresentada pelo atual governo e em discussão no Congresso Nacional – semelhante à defendida por José Serra.
Para Lula, é preciso ter um código mínimo de trabalho, que garanta os direitos fundamentais, a partir do qual cada categoria possa conquistar maiores benefícios. Para isso, ele pretende constituir um Fórum Nacional do Trabalho com a participação de todas as entidades sindicais, representantes dos trabalhadores e empregadores. Esse fórum deverá apresentar suas propostas para modernizar a atual CLT.
Lula lembra que, atualmente, a economia informal está maior do que a formal. "Ou seja, muita gente está sem direitos e sem contribuir para a previdência social. É preciso, então, recuperar a capacidade de crescimento da economia brasileira", diz ele. Segundo Lula, a formalização do trabalhador é importante para que o crescimento das atividades econômicas gere mais emprego e estimule as empresas a contratar mais, com carteira assinada.
Ele considera importante, ainda, estimular as contribuições dos autônomos, que mais tarde vão precisar de uma aposentadoria. De acordo com o candidato, hoje no Brasil apenas 28 milhões de trabalhadores têm carteira assinada e contribuem para a previdência social. "Esse é o problema: um desequilíbrio entre o número de contribuintes e aposentados, que somam 20 milhões de pessoas", afirma.
Em sua opinião, seria preciso, pelo menos, 40 milhões de contribuintes para 20 milhões de aposentados. Lula acredita que com a retomada do crescimento, diminuição do desemprego e estímulos para a formalização da mão-de-obra, o déficit na previdência social poderia ser preenchido. "Além disso, precisamos criar a seguridade pública, que atenda desde a aposentadoria à questão da saúde", defende o candidato petista.
Segundo Lula, seu programa de governo defende uma reforma profunda, que torne possível a criação de um sistema de previdência universal, público e compulsório para todos os trabalhadores brasileiros, do setor público ou privado. "Vamos criar uma estrutura adequada de fiscalização trabalhista e previdenciária e as fontes de financiamento deverão ser negociadas também quando fizermos a reforma tributária", afirma.
Proposta polêmica
A proposta de José Serra, semelhante à apresentada pelo atual governo para discussão no Congresso Nacional, é a mais polêmica. Para o advogado trabalhista Roberto Caldas, as sugestões do candidato do PSDB não alteram o conteúdo da CLT e são prejudiciais para trabalhadores e empresas nacionais.
"Ela representa o sucateamento dos direitos básicos sociais", diz ele. Caldas é vice-presidente da Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas e representou a Ordem dos Advogados do Brasil na comissão que debateu a reforma trabalhista no Congresso.
Segundo ele, não há correlação de forças razoável entre sindicatos e patrões que permita uma livre negociação entre as partes. "São mais de 19 mil sindicatos registrados, quando o País não comportaria mais de 500", afirma ele, destacando a falta de força e união dos trabalhadores.
Segundo Caldas, a CLT deve ser reformada, mas garantindo o núcleo de direitos assegurados pelos trabalhadores. "Deveria ser feita uma grande análise para eliminar normas excessivas. A CLT ainda serve da forma como está, com pequenas mudanças", defende o advogado.
Opinião semelhante tem José Zunga, diretor licenciado da CUT Nacional e da CUT-DF. "Não é possível extinguir a CLT e criar mecanismos mais simples. Seria um perigo a ausência de uma lei que deixasse os trabalhadores dependentes de acordos coletivos que não sejam feitos por sindicatos sérios", diz o sindicalista.
No entender de Zunga, é preciso reformular profundamente a CLT sem abrir mão dos direitos consagrados dos trabalhadores.
Polícia Federal investigará distribuidoras de gás
Governo apura denúncias da existência de cartel em vários estados e promete punir culpados
Além da instauração de um processo administrativo, o Ministério da Justiça colocou a Polícia Federal para investigar denúncias de formação de cartel pelas distribuidoras de gás. Segundo o ministro Paulo Tarso Ribeiro, o governo tem informações da existência de grupos em vários estados. Mas o ministro não adiantou onde as investigações estão sendo realizadas. "Para combater esses grupos é necessário trabalhar em silêncio", afirmou Paulo Tarso.
Na sexta-feira, o Ministério da Justiça determinou que a Secretaria de Direito Econômico (SDE) abra processo contra os distribuidores de gás em Minas Gerais, depois da descoberta de indícios de que as empresas estavam centralizando preços. "É inadimissível que isso aconteça justamente com um produto que é essencial para a população. Não vamos dar trégua aos cartéis", disse o ministro.
Esta semana, a PF começará a fazer investigações em vários estados – principalmente em regiões de maior contingente populacional – para detectar combinação de preços. "Além disso, vamos estudar uma forma de utilizar a Polícia Federal no trabalho, além das investigações", ressaltou Paulo Tarso. Na semana passada, o ministro recebeu a garantia do presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Gás (Sindigás), José Carlos Guimarães, de que não há formação de cartel na venda de gás de cozinha.
Mas na sexta-feira, depois de analisar informações obtidas por uma interceptação telefônica feita pelo Ministério Público de Minas Gerais, a secretária de Direito Econômico, Elisa Ribeiro, anunciou que havia indícios de que oito distribuidoras estavam fazendo o alinhamento de preços. A combinação era feita por telefone e mediante troca de correspondência. "Vamos intensificar a fiscalização não só nas distribuidoras, mas também nos revendedores", anunciou Paulo Tarso. Caso seja comprovada a existência do alinhamento de preços, distribuidoras e revendedores podem ser multados em 30% de seu faturamento bruto do ano anterior.
Malan tenta acalmar investidores espanhóis
O ministro da Fazenda, Pedro Malan, desembarcou ontem em Madri, primeira parada de seu giro na Europa que tem o objetivo de acalmar os temores dos investidores em relação às perspectivas da economia brasileira e garantir a manutenção das atuais linhas de crédito para as empresas do País. Ainda na noite de ontem, o ministro participaria de um jantar com um pequeno grupo de investidores na sede da embaixada brasileira na capital espanhola.
A agenda oficial do ministro será iniciada hoje, com um encontro com o vice-governador do Banco da Espanha, Gonzalo Gil. Em seguida, ainda na sede do banco central espanhol ele se reunirá com representantes de bancos, entre eles do Santander, BBVA e Atlantico. Após um encontro com o ministro das Finanças da Espanha, Rodrigo Rato, Malan almoçará na embaixada brasileira com um grupo de investidores e concederá uma entrevista coletiva à imprensa.
Com essa série de reuniões com autoridades monetárias, banqueiros e empresários europeus, Malan pretende mostrar que "não há nada de errado com a economia brasileira". Ele acredita que o efeito prático dos encontros será o mesmo obtido na reunião realizada no mês passado, em Nova York, na sede do Federal Reserve, na qual vários bancos estrangeiros garantiram a manuntenção das atuais linhas de crédito para as empresas brasileiras e manifestaram confiança no gerenciamento econômico do país. A reunião de Nova York serviu também, na interpretação da equipe econômica, para mostrar que o Brasil tem o apoio dos governos de vários países ricos.
Os banqueiros e empresários espanhóis estão particularmente preocupados com a economia brasileira. Durante a década de 90, a Espanha foi responsável pela metade dos cerca de US$ 140 bilhões em investimentos diretos europeus na América Latina. Pelo menos US$ 40 bilhões dos cofres espanhóis foram destinados ao Brasil. Já pressionados pelas grandes perdas na Argentina, os espanhóis vêm monitorando atentamente o desenrolar da crise brasileira. Os resultados dos bancos e empresas com exposição no mercado brasileiro já foram afetados nos últimos meses.
Além disso, as ações de grupos presentes no Brasil, como os bancos Santander, BBVA e as empresas Telefonica e Endesa também vêm sofrendo o impacto negativo com a volatilidade. Essa conjuntura adversa fez com que emergissem na Espanha uma série de críticas pelo fato de as empresas e bancos do país terem direcionado seus investimentos na América Latina, concentrando assim o risco em apenas uma região. Banqueiros, empresários e até mesmo autoridades espanholas negam essas análises, garantindo que os investimentos em países como o Brasil são de longo prazo.
Fazendeiro ataca sem-terra
Patrão e empregados da fazenda santa fé atiram contra grupo invasor. Ninguém é ferido
O fazendeiro Carlos Moreira, seu filho Carlito e três funcionários seus foram presos na tarde de ontem pela Polícia Militar de São Paulo, em Sandovalina (região oeste do estado), depois de dispararem tiros contra um grupo de sem-terra que estavam na Fazenda Santa Fé, invadida na tarde de sábado por 450 famílias organizadas pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
O clima na região está tenso desde a quinta-feira passada, quando o líder do MST, José Rainha Júnior, foi preso em Mirante do Paranapanema (oeste de SP), acusado de formação de quadrilha em ações do MST na região. O MST diz que há "perseguição política" na acusação contra Rainha.
No sábado, a passeata do Grito dos Excluídos em Sandovalina foi marcada por protestos contra a prisão de Rainha e culminou com a invasão da fazenda Santa Fé. O prefeito de Sandovalina, Divaldo Pereira de Oliveira (PMDB), 35, disse ter sido agredido com pedras e paus pelos sem-terra depois de tentar, com uma motoniveladora, impedir que um incêndio se propagasse pela Fazenda Santa Fé durante a invasão. O MST nega.
O ataque de ontem aconteceu entre as 13h20 e 13h35, com cinco homens encapuzados disparando contra sem-terras que estavam armando barracos na fazenda.
Moreira, filho do agropecuarista Luciano Alberto Moreira, proprietário da Fazenda Santa Fé, de 1.320 hectares, confessou à PM que comandou a ação contra os sem-terra.
Apesar do tiroteio, nenhum sem-terra ficou ferido. A PM chegou ao local do conflito momentos depois dos disparos. Duas equipes comandadas pelo subtenente José Otávio da Silva foram impedidas de entrar na fazenda pelo advogado Rubens de Aguiar Filgueiras.
Silva acusou Filgueiras – advogado de Luciano Alberto Moreira – de impedir o trabalho da polícia. "Vai dar tempo para esconder as armas", reclamava o subtenente. Filgueiras afirmou que não tinha as chaves da porteira da fazenda.
Quando policiais militares arrombaram o cadeado e ingressaram na fazenda, outro carro, comandado pelo capitão Renato Ryukiti Sanomia, já havia chegado à sede da fazenda. Ele e sua equipe prenderam Carlos Moreira, seu filho e os três funcionários.
Sanomia disse, no final da tarde, que os cinco ficariam presos na sede da fazenda "em estado de flagrante" até que a Polícia Civil de Sandovalina decidisse "ou pela prisão em flagrante ou por abertura de inquérito".
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, disse hoje que a invasão da Fazenda Santa Fé não significa o fim da trégua do MST nas invasões.
No início de junho, Mauro e João Paulo Rodrigues, líderes nacionais do MST, anunciaram uma trégua nas invasões para poupar o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, na disputa presidencial.
"A Santa Fé é um caso específico. O Itesp (Instituto de Terras de São Paulo) recebeu R$ 29 milhões do orçamento federal para arrecadar terras, não fez nada até agora e esse dinheiro vai voltar ao orçamento no final do ano. É uma forma de os sem-terra pressionarem para o Itesp arrecadar terras", afirmou. Mauro chegou ao acampamento Margarida Alves momentos depois do ataque aos sem-terra.
Artigos
Guia para rifar candidato
José Luiz Oliveira
Com um mês de embromação eleitoral no ar, tão próxima do humor e às vezes tão ridícula e idiota, que em certos momentos chega a atrair, já é possível, pelo menos, definir em quem não votar de jeito nenhum. Vamos começar pelo candidato que se diz honesto. Rife-o logo. Honestidade não é virtude. É um dever do cidadão. O homem honesto é (ou deveria ser) o homem comum. Diferente dos outros é aquele que rouba, que trapaceia, que engana, que subjuga os mais fracos para tirar proveito. É o que mente, o que finge. É aquele que abre um sorriso a sua frente e na distância crava-lhe o punhal nas costas sem piedade. Observe que esse tipo, geralmente, gosta de dizer que é honesto.
Fuja, também, do candidato que promete "lutar por segurança, saúde e educação". Está na cara que o dito cujo não tem o que falar nem o que propor. Entrou na política como se entra numa festa: para se divertir. Se colar, ou decolar, melhor ainda. É lucro.
Deve-se correr, igualmente, daquele que cita Jesus duas ou três vezes a cada aparição na telinha, que chama o eleitor de "irmão". O candidato que tenta transformar Jesus em cabo eleitoral nada mais quer do que, digamos, tocar o coração do eleitor evangélico, fatia disputada com unhas e dentes por todos os aspirantes a um cargo político. Desconfie da sinceridade, para se manter dentro daquela margem de segurança que desvia o voto do lixo. Mas sem esquecer que há, de fato, cand idatos evangélicos credenciados para representá-lo, homens que já provaram, com "palavras e atos", competência para conduzir o rebanho e lutar por ele também no campo político.
Há os especialistas em "gerar" emprego (você já percebeu que eles nunca "criam", mas sempre "geram" emprego. Pior: geram "novos" empregos). Não explicam onde vão buscar o dinheiro nem dão pistas da política para atrair investimentos. Motivo bastante para justificar a inclusão deles na lista dos rifados. Integram o mesmo time aqueles que estufam o peito e anunciam moradia, asfalto e esgoto. Se o eleitor prestar atenção, vai perceber que o sujeito fala de cidade que já tem hospital, asfalto e agosto.
E por aí vai: "Defendo as crianças". "Defendo moradia". "Defendo os deficientes". "Defendo os idosos". "Defendo o meio ambiente". "Defendo as mulheres". "Defendo cadeia para os corruptos".
E daí? Isso, todos nós defendemos. O que se espera do político é que ele mostre, por exemplo, COMO vai resolver os problemas das minorias, O QUE fará para tornar o ensino mais eficiente ou COMO proteger a infância desassistida.
Finalmente descarte – mas descarte com firmeza – o candidato que chama a Câmara Legislativa de "Câmara Distrital". Este não sabe sequer o nome do local onde pretende (ou pretendia) defender os interesses de Brasília.
Colunistas
CLÁUDIO HUMBERTO
Ganha corpo a união anti-Serra
Tasso Jereissati e José Sarney estão sendo pressionados a liderar o movimento contra a eleição de José Serra, configurada como um “risco institucional”. Impressionados com o que ele tem sido capaz de fazer aos adversários, mesmo sem “ter a caneta”, temem o pior, se o tucano for eleito: a exacerbação de seus “cacoetes autoritários”. O movimento prega o “plano B” já revelado na coluna e confirmado na IstoÉ desta semana: a renúncia de Ciro e Garotinho em favor de Lula, ainda no primeiro turno, se as pesquisas mostrarem com segurança o risco de Serra chegar ao segundo turno.
Cotação alta
A CBF coleciona convites de países que desejam sediar a próxima exibição da Seleção, em novembro. Depois do penta, subiu a cotação do Brasil no mercado: antes, uma apresentação custava US$ 50 mil ao anfitrião; agora, o time de Cafu & Cia. não sai do País por menos de US$ 500 mil, livres.
Ilustres desconhecidos
Retrato de uma candidatura em crise. Há dias, o ex-deputado Flávio Rocha (RN) convidou Ciro Gomes para um jantar com “pesos pesados” do PIB paulista, no Restaurante Glass. Foi um fiasco: o representante do Banco Safra, por exemplo, era apenas o gerente de uma agência, assim como o suposto mandachuva da TAM era só o chefe da empresa em Marília (SP).
Retaguarda jurídica
É certo que José Serra tem amigos no Tribunal Superior Eleitoral, mas ele se preparou para a guerra judicial: cada programa tucano no horário gratuito é submetido à prévia censura de quatro advogados, com poder de alterar e até vetar os textos dos marqueteiros. Tudo para evitar direitos de resposta.
Lula e os militares
A aproximação de Lula com os militares já gerou o recuo do PT na questão da compra dos caças. Lula defendia a opção pelos Mirage, do consórcio Dassault-Embraer, com discurso nacionalista. Mas a Aeronáutica rejeita a opção, tecnologicamente ultrapassada. Lula parou de fazer lobby para a Embraer e agora diz que, eleito, decidirá em favor do interesse nacional.
FhC conselheiro
Reação de Fernando Henrique ao saber que Lula, se eleito, pretende incluí-lo num conselho de ex-presidentes da República: “Ora, se, segundo ele, eu errei em tudo e produzi um desastre nacional, por que ele haveria de querer o meu conselho?” Boa pergunta, que aguarda resposta.
Duelo precoce
A liderança nas pesquisas já cria um clima de disputa interna no PT, com o discreto duelo entre Aloizio Mercadante e Guido Mantega pelas atenções de Lula. Para iniciados em PT, já está em disputa a titularidade do Ministério da Fazenda. Mas Mercadante não quer responsabilidades na área econômica: ele confidenciou a amigos que prefere o Ministério das Relações Exteriores.
Ato falho
Acusado de ser muito paulista e de detestar nordestinos, José Serra foi à região e parece ter escolhido a dedo a cidade para visitar: Paulista.
Além do horizonte
A Varig pode estar mal das asas, mas Fernando Pinto, seu ex-presidente, voa alto no Rio. Ex-morador de um apartamento de 4 quartos no Condomínio Santa Mônica, Barra da Tijuca, construiu uma mansão babilônica alguns quilômetros adiante, no Recreio dos Bandeirantes.
Pensando bem...
...o problema de São Paulo não é o Plano-diretor. É o plano do diretor.
Antecedentes
Apontado pelo Ministério Público Federal como o chefe de uma quadrilha que lesou o Ministério da Integração Regional, Lemoel Granjeiro tem antecedentes no Rio. Foi chefe de gabinete de Eduardo Cunha, aquele que presidiu a Cehab, no governo de Anthony Garotinho.
Tudo por um voto
O deputado Marcos Cintra (PFL-RJ) aparece no horário eleitoral falando do Imposto de Renda com um leão de verdade. Diz que o bicho fica manso após devorar um saco de frangos. Osvaldo Enéas, sósia proibido de Enéas no Prona, manda o eleitor decorar 1-4-5-6, com a voz do original. Marcílio Duarte (PST) apela para cartazes “Quem é 1818?”. E nós com isso?
Reinventando o Barão de Itararé
Com a globalização, a velha máxima do pobre comendo galinha virou “quando rico e pobre se unem, um dos dois está roubando”.
Pode complicar
Se Freire Júnior desistir da disputa no Tocantins, o ex-governador Moisés Avelino (PMDB), candidato ao Senado, pode ser o grande prejudicado: ele aparece no Ibope com 30% das intenções de votos, enquanto João Ribeiro e Leomar Quintanilha, apoiados por Siqueira Campos, têm 45% e 37%. Com a eventual desistência de Freire, a chance de reação cai por terra.
Soy contra
Um leitor da coluna observou bem: Serra tirou votos de Ciro e Garotinho? Seria o voto de oposição mais governista da história da República.
Velho drama
O pai da leitora Dinah Lopes, de Manaus (AM) luta há 6 anos pela revisão da aposentadoria. O processo dorme desde 2001 no TRF 1ª Região, com as mais variadas desculpas do INSS. Aos 75 anos, doente, e sustentando sete pessoas, o ex-seringueiro ainda caiu no conto do cheque-especial “presenteado” pelo Banco do Brasil.
Poder sem pudor
Em defesa do quarto
Ildo Meneghetti governava o Rio Grande do Sul e enviou mensagem à Assembléia Legislativa prorrogando o prazo de arrendamento do prédio público onde funcionava o Hotel Preto. Um deputado governista, residente no hotel, foi à tribuna defender o artigo 3º do projeto, exatamente aquele que estendia a validade do arredamento. Cândido Norberto aparteou:
- Senhor deputado, Vossa Excelência defende o artigo terceiro ou o quarto?
Editorial
O RISCO DO RISCO BRASIL
A fragilidade do mercado financeiro internacional expõe o Brasil a uma situação absurda e perversa. Como o País passa por dificuldades e alguns analistas acham que o governo pode ser obrigado a renegociar a dívida com seus credores, as agências internacionais de risco ameaçam os bancos que emprestarem dinheiro ao Brasil com rebaixamento em suas avaliações.
Vive-se, portanto, um caso de profecia auto-realizável: quem empresta ao Brasil cai no conceito do mercado; e como ninguém financia os brasileiros, o País não consegue sair da crise; e o Brasil em crise não consegue crescer nem tem fôlego para saudar suas dívidas. Embora não tenham (ou não deveriam ter) motivos para ver o Brasil ir à bancarrota, as agências de risco acabam agindo diretamente nessa direção.
A economia brasileira está fazendo seu papel de tentar sobreviver
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