FH corteja PTB e pede união da base
FH corteja PTB e pede união da base
BRASÍLIA. O presidente Fernando Henrique assediou ontem o PTB, aliado do presidenciável Ciro Gomes (PPS). Preocupado com as divergências em sua base, Fernando Henrique fez um apelo, durante a reunião com líderes no Palácio da Alvorada, pela unificação dos aliados. Admitindo que 2002, por ser ano eleitoral, será ainda mais difícil do que 2001, o presidente pediu que todos marchem juntos no Congresso e também na campanha eleitoral. Foi aí que cortejou o PTB, incluindo o partido na coligação de seus sonhos.
— Na próxima eleição, quero todo mundo junto. Inclusive o PTB — disse.
— Fiquei caladinho. Temos um compromisso com Ciro — afirmou o líder do PTB no Senado, Carlos Patrocínio (TO), que estava representando o partido na reunião.
— A cantada do presidente foi muito gentil e elegante — disse o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ).
FH: estabilidade é sinal importante para o exterior
A primeiro menção do presidente ao PTB até provocou um mal-entendido na reunião. Sentado na ponta da mesa, Patrocínio ouviu mal quando Fernando Henrique disse que todos os partidos presentes compuseram a aliança que garantiu sua reeleição, “à exceção do PTB”.
— O PTB está aqui, sim. Estamos aqui — respondeu Patrocínio.
Num encontro repleto de amabilidades, Fernando Henrique disse que a estabilidade política é um sinal fundamental para o mercado externo, além de garantir a governabilidade no ano que vem. O medo de um racha na base é tamanho que, na reunião, ficou descartada a convocação extraordinária do Congresso em janeiro.
— Vivemos num presidencialismo congressual. Ninguém pode governar sem o Congresso. Quero continuar tendo o apoio de vocês — disse o presidente.
Inspirado, Fernando Henrique elogiou até o rebelde PMDB, que anteontem se aliou à oposição contra o projeto que altera a CLT. Ao lembrar que a briga pelo apoio do PMDB provocou até uma troca de farpas entre os líderes do PFL, Inocêncio Oliveira (PE), e do PSDB, Jutahy Magalhães Júnior (BA), ele brincou:
— O PMDB passou a ser a noiva mais paquerada
Jader é indiciado pela PF
PALMAS. O ex-senador Jader Barbalho (PMDB-PA) foi indiciado ontem pela Polícia Federal no inquérito que investiga o desvio de verbas da extinta Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). No inquérito, enviado ao Ministério Público Federal de Tocantins, foram indiciadas outras 11 pessoas, entre elas o irmão de Jader, Leonel Barbalho, e o ex-superintende da Sudam José Artur Guedes Tourinho.
Eles foram indiciados por formação de quadrilha, crime de concussão (pagamento de propina) e crime contra o sistema financeiro nacional. Segundo investigações da PF, o rombo nos cofres da Sudam ultrapassou R$ 1,7 bilhão.
Além dos 41 volumes do processo, foram enviados à Justiça dez computadores apreendidos com os acusados. Segundo o delegado Hélbio Dias Leite, que chefiou as investigações, há fortes indícios do envolvimento de Jader no desvio de dinheiro.
No inquérito, segundo o delegado, estão registrados depoimentos que revelam que parte do dinheiro desviado da Sudam foi usado em campanhas eleitorais do PMDB em Altamira, no Pará. Dois caciques da política local e aliados de Jader, José Soares Sobrinho e seu irmão Romildo Onofre Soares, também foram indiciados. O Ministério Público Federal deve oferecer denúncia contra todos.
Câmara aprova em segundo turno o fim da imunidade parlamentar
BRASÍLIA. A Câmara concluiu ontem, em segundo turno, a votação da emenda que acaba com a imunidade parlamentar para crimes comuns. Do primeiro para o segundo turno, aumentou o número de deputados favoráveis à proposta: ontem, foram 442 votos pela aprovação. Houve também um voto contra e duas abstenções. Pelo projeto, a imunidade só valerá para a expressão de voto, palavra e opinião.
Agora, só depende dos senadores para a imunidade acabar de vez. Mas dificilmente o Senado terá tempo para votar a emenda ainda este ano.
Proposta sofre duas modificações
O texto, no entanto, acabou sofrendo duas modificações. A primeira por causa de um destaque supressivo do deputado Gerson Peres (PPB-PA), que amplia o conceito de imunidade. Com o apoio de 396 deputados, sete contra e uma abstenção, o destaque assegura que, independentemente de o deputado ou senador estar exercendo alguma atividade decorrente de seu mandato, ele não poderá ser processado se, por exemplo, entrar numa briga de condomínio e ofender o síndico. O relator da proposta, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG), não gostou da mudança, mas teve de se conformar.
— Absolutamente não somos invioláveis nas relações sociais — afirmou.
O destaque, porém, contou com o apoio até de parlamentares da oposição como o petista José Genoino (SP). Ele argumentou que um parlamentar deveria ter seu direito de opinião assegurado em determinadas situações que não são vinculadas ao mandato e apresentou exemplos, como campanhas eleitorais ou convenções partidárias.
No primeiro turno, foram 412 votos favoráveis. Um dos que mudaram de lado foi justamente um dos parlamentares que correm o risco de perder o mandato: o deputado Eurico Miranda (PPB-RJ). O único voto contra foi o do deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG).
Uma emenda de redação, apresentada pelo deputado José Roberto Batochio (PDT-SP), acrescentou apenas a palavra “quaisquer” ao texto original, sem alterar o sentido do artigo primeiro que diz: “Os senadores e os deputados são invioláveis nas suas opiniões, palavras e votos”. A mudança também foi aprovada.
— A Câmara está dando um passo histórico no resgate da dignidade — disse o presidente da Casa, Aécio Neves (PSDB-MG).
Já o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), afirmou que se receber o texto ainda hoje o enviará imediatamente às comissões temáticas para análise. Ele considerou difícil, porém, que haja tempo para que a proposta seja votada em dois turnos até o fim do mês, como desejava o presidente da Câmara.
Juiz federal em São Paulo é afastado pelo STJ
BRASÍLIA. O juiz Paulo Theotônio Costa, do Tribunal Regional Federal 3 Região (São Paulo), foi afastado ontem do exercício de suas funções por determinação dos ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Costa é acusado de alterar documento público, crime previsto no Código Penal.
Foi a primeira vez que um integrante da magistratura federal foi afastado por determinação do Superior Tribunal de Justiça. A decisão foi tomada pela Corte Especial, com base em denúncia feita pelo Ministério Público Federal.
De acordo com a acusação, Paulo Theotônio Costa interferiu na distribuição de processos no Tribunal Regional Federal. Em vez de as ações serem distribuídas entre as varas pelo sistema eletrônico, como de praxe, alguns processos nos quais o magistrado teria algum tipo de interesse foram enviados diretamente para suas mãos.
Juiz libertou traficante durante recesso forense
Dentre eles, o habeas-corpus que resultou no relaxamento da prisão do então major da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul Sérgio Roberto Carvalho. O policial teve detenção preventiva determinada, em meados de 1997, depois de ser flagrado com 300 quilos de cocaína. O juiz deu liminar para libertar o major durante o recesso forense de janeiro de 1998.
Em novembro de 1997, a defesa do traficante entrou com um pedido de habeas-corpus no Tribunal Regional Federal, que foi negado em caráter liminar. O mérito da ação não foi examinado por desistência da defesa. Quatro dias depois do início do recesso forense de 1998, um novo habeas-corpus foi proposto, pelos mesmos advogados, em favor d o mesmo réu. O responsável pelas decisões do Tribunal Regional Federal, na ocasião, era Costa.
O juiz ordenou a remessa de todos os processos urgentes para seu gabinete e, segundo a denúncia, a causa caiu em suas mãos logo em seguida. Um minuto depois, o relaxamento da prisão havia sido concedido.
Mais dois traficantes teriam sido beneficiados
A acusação sustenta que mais dois habeas-corpus envolvendo traficantes ligados a Sérgio Roberto de Carvalho foram indevidamente distribuídos ao juiz e as respectivas liminares foram concedidas.
A prática do delito, de acordo com o Código Penal, implica na reclusão de dois a seis anos, mais o pagamento de multa. A legislação estipula, ainda, o aumento de um sexto da pena quando um crime contra a fé pública é cometido por funcionário público.
De acordo com a defesa do juiz Paulo Theotônio Costa, não foi demonstrada a existência de qualquer documento falsificado pelo acusado, mas apenas uma falha na distribuição dos processos. A defesa também afirma que todos os fatos foram objeto de uma rigorosa sindicância interna promovida pelo TRF de São Paulo, que determinou o arquivamento da questão.
Ministro: “Indícios de prática delituosa”
Mas a maioria dos ministros da Corte Especial condenou o magistrado. “Os fatos descritos na denúncia representam indícios que permitem uma visualização de uma prática delituosa pelo acusado”, afirmou o ministro-relator Milton Luiz Pereira.
Salários de militares vão ser pagos amanhã
BRASÍLIA. Cerca de 628 mil militares da ativa e da reserva já podem respirar aliviados: seus salários de novembro e a segunda parcela do 13 serão pagos amanhã. Em pouco mais de três horas, o Congresso conseguiu aprovar ontem os 19 pedidos de crédito suplementar que aguardavam apreciação há quase três semanas. Serão liberados R$ 6,8 bilhões e pelo menos R$ 2,7 bilhões serão destinados ao Ministério da Defesa para o pagamento de salários.
— Todas as providências estão sendo tomadas para que o pagamento dos militares saia na sexta-feira (amanhã) — disse o ministro da Defesa, Geraldo Quintão.
Funcionários do STJ tambémforam beneficiados
A aprovação dos créditos suplementares assegurou ainda o pagamento da segunda parcela do décimo terceiro dos 2.100 funcionários do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e a liberação do salário de novembro de grupos de servidores civis.
Antes da declaração do ministro, o presidente Fernando Henrique havia feito um apelo para que o salário dos militares fosse pago rapidamente. Por intermédio do porta-voz Georges Lamazière, o presidente culpou o Congresso pelo atraso no pagamento.
— O presidente espera que o salário seja pago o mais rapidamente possível, porque o Congresso deveria ter votado há mais tempo — disse.
A equipe econômica do governo já se comprometeu a acelerar a tramitação burocrática para a liberação dos recursos. Técnicos do Ministério da Defesa acreditam que o pagamento só não será feito amanhã se houver problemas com o processamento dos dados na rede bancária.
Congresso aprova verba para combate à Aids
O Congresso também aprovou ontem um crédito suplementar no valor de R$ 315 milhões para o Programa Nacional de Combate à Aids e para projetos de combate a outras doenças, como a malária.
Anteontem, o Ministério da Saúde informara que os programas de prevenção à Aids, de assistência a doentes e de distribuição de preservativos poderiam parar se a liberação não fosse aprovada. Segundo o ministério, 55 estados e municípios já deixaram de receber recursos de convênios para manter seus programas.
Luiz Estevão e Nicolau terão que devolver dinheiro desviado do TRT
BRASÍLIA. O Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitou ontem, por unanimidade, o pedido de revisão da sentença que condenou o senador cassado Luiz Estevão (PMDB-DF), o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e os donos da Incal a ressarcirem os cofres públicos em R$ 169,5 milhões, valor desviado da obra do fórum trabalhista de São Paulo. A sentença estabelece correção monetária e multa de R$ 10 milhões para cada um dos réus. Estevão disse que vai recorrer.
Apreensivo com a possibilidade de ser obrigado a pagar a conta sozinho, Estevão dispensou advogados e fez sua defesa diante dos ministros. O senador cassado corre o risco de ter que pagar mais do que ganhou com o suposto desfalque, caso não sejam encontrados bens em posse dos outros envolvidos para cobrir o rombo.
Além de Nicolau, os acusados são Fábio Monteiro de Barros e Eduardo Ferraz, proprietários da Incal, empreiteira responsável pela construção do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal em São Paulo, US$ 42 milhões repassados pela Incal ao Grupo OK, de Estevão, não têm origem comprovada. Os procuradores listaram mais de mil imóveis em nome do ex-senador e de suas empresas em três bairros de Brasília. Estevão disse que já teve declarados indisponíveis bens no valor de R$ 1,2 bilhão para garantir o pagamento do prejuízo à União.
Comissão aprova revogação da Lei de Segurança Nacional
BRASÍLIA. Um acordo entre deputados governistas e de oposição permitiu ontem a aprovação, na Comissão de Defesa Nacional e Relações Exteriores, do projeto que revoga a Lei de Segurança Nacional (LSN), o maior alicerce da repressão durante a ditadura militar. Serão incorporados ao texto as sugestões do governo para uma nova legislação sobre a defesa do Estado. A idéia em estudo no governo é incluir no Código Penal o conceito de defesa do Estado democrático de direito, que substituirá a expressão segurança nacional.
— Além de ser uma votação simbólica, que significa o início da derrubada de uma lei autoritária e ultrapassada, exige mais agilidade do governo para o envio de uma nova proposta — comemorou José Genoino (PT-SP), autor do projeto com Milton Temer (PT-SP).
Proposta do governo vem sendo elaborada desde 2000
A proposta do governo foi elaborada por um grupo de juristas, que começou o trabalho em maio de 2000, formado por Luís Roberto Barroso, José Bonifácio de Andrada (secretário-executivo do Ministério da Justiça), Luiz Vicente Cernichiaro e Luiz Alberto Araújo. O texto foi enviado ontem à Presidência pelo ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira.
— A lei atual não cabe mais. A terminologia segurança nacional foi superada pela Constituição de 1998 — afirmou o ministro.
Aloysio ressaltou que o texto dispõe apenas sobre idéias gerais, que serão analisadas pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
A proposta define o conceito de soberania nacional e o que atenta contra ela (violação do território, traição e espionagem); lista crimes contra as instituições democráticas (golpe de estado, conspiração e atentado a autoridades) e contra o funcionamento dessas instituições (uso da violência e da força motivada por facciosismo político contra o funcionamento do Estado); crimes contra autoridades estrangeiras; e crimes contra a cidadania (abuso de poder público ou privado em ações de discriminação racial, cultural ou religiosa).
Esse último capítulo é uma novidade, segundo o ministro, para garantir amplos direitos ao cidadão e coibir, por exemplo, movimentos em defesa do nazismo.
— O objetivo é criar mecanismos eficientes de defesa das instituições democráticas, eliminando da nossa legislação uma peça que serviu a um outro momento da história brasileira — disse.
O líder do PDT na Câmara, Miro Teixeira (RJ), diz que não é necessária uma nova legislação para garantir o estado de direito democrático. Mesmo assim, ressaltou:
— Mas não teremos problemas em discutir e negociar uma nova proposta do governo.
Artigos
A um passo de um futuro mais limpo
PAULO HENRIQUE CARDOSO
Em novembro, mais uma vez os representantes da maioria das nações do mundo se encontraram, desta feita no Marrocos, para negociar a implementação do Protocolo de Kioto, dando início ao combate às mudanças climáticas e aos transtornos delas advindos.
Com o êxito da conferência de Bonn em julho deste ano, os aspectos políticos da negociação já haviam sido acordados. Restava a tarefa de dar um formato jurídico adequado às decisões de implementação do Protocolo de Kioto.
A rodada de negociações de Marrakesh estabeleceu o marco institucional que permitirá a rápida regulamentação do protocolo e sua conseqüente ratificação pelos países, nos seus respectivos parlamentos. Tudo indica, portanto, que o protocolo deverá ser posto em prática já no ano de 2002, a tempo de ser anunciado na conferência de cúpula da ONU em Johannesburgo, chamada de Rio + 10.
A Cop7 de Marrakesh tomou também algumas decisões importantes e de especial interesse para os empresários brasileiros que pretendem atuar no futuro mercado de comércio de emissões, decorrentes dos mecanismos de flexibilização estabelecidos pelo Protocolo de Kioto. A primeira e mais importante diz respeito à eleição do Executive Board que deverá cuidar, no âmbito da ONU, da Gestão dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL). Neste item, o grande destaque foi a escolha, por unanimidade, do dr. Gylvan Meira Filho, do Brasil, como representante da América Latina e Caribe. No seu conjunto, o Executive Board dos MDL funcionará com 20 membros, dez titulares e dez substitutos com mandatos variando entre três e dois anos, alternadamente, e criando desta forma uma representação de blocos de países e assegurando a continuidade da linha de trabalho do órgão.
Outra decisão importante é que os países não precisarão ratificar o Protocolo de Kioto para participar do Comércio de Emissões. Com isso, abrem-se as portas para países como os EUA, que em princípio se negam a ratificar o protocolo, mas cuja comunidade de negócios vem demonstrando efetivo interesse no desenvolvimento de sistemas de comercialização de emissões. Em termos práticos, isso resulta em um significativo aumento do potencial do mercado e do comércio de emissões; embora a não-obrigatoriedade de ratificação implique também um possível rebaixamento de preços.
Esta possibilidade, porém, foi bastante minimizada por outra decisão, que estabelece limites para a contabilização de créditos de carbono adquiridos num primeiro período de cumprimento para o subseqüente. Esta limitação é importante, pois evita que um país obrigado a fazer reduções entesoure um volume muito grande de redução de emissões compradas a baixo valor, criando uma situação em que um país pudesse entrar no segundo período de cumprimento com custos de redução de emissões desproporcionalmente rebaixados em face dos outros países.
Foi também inovadora a decisão adotada pela conferência quanto ao regime de cumprimento do protocolo e suas conseqüências. Será constituído um comitê de cumprimento, com dois braços de atuação: um como facilitador e outro com funções coercitivas. Com isso, pela primeira vez se estabelecerá um regime jurídico internacional para o caso de não-cumprimento de um acordo da ONU.
Estamos, portanto, a um passo da oportunidade de construirmos um futuro mais limpo, no qual a inovação tecnológica e o desenvolvimento sustentável se transformem em oportunidades de negócios que geram empregos, melhoram a renda e ampliam o padrão social.
O Brasil, neste panorama, conta com um enorme diferencial positivo em termos de extensão territorial, clima, vegetação e principalmente capacidade tecnológica nas áreas de energia e florestas. Esta oportunidade, porém, depende essencialmente da nossa capacidade de, a curto prazo, criar uma estratégia de divulgação da nossa habilidade e credibilidade de projeto. Para que possamos exercer nosso direito de crescer de forma mais sustentável, é fundamental que o Brasil se diferencie no panorama das nações, apresentando propostas que se sustentem como oportunidades de negócios, mas que também claramente indiquem um projeto de nação.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO - TEREZA CRUVINEL
Sinais claros
O presidente Fernando Henrique dá sinais claros e deliberados não só de sua preferência pela candidatura do ministro José Serra, mas também de que facilitará sua caminhada fortalecendo suas posições no governo, a exemplo da escolha de um auxiliar do ministro, José Roberto Vieira da Costa, para a Secretaria de Comunicação. A desenvoltura com que vem manifestando sua satisfação com Serra parece também funcionar como mensagem mal cifrada para os aliados.
Ontem, na reunião de líderes dos partidos da base parlamentar, Fernando Henrique comentou com eles o dream team, um certo ministério ideal global publicado pela revista “Forbes”, no qual Serra foi incluído ao lado de alguns grandes do mundo.
— Ter um de seus ministros nesse grupo é uma honra para poucos governos, vocês não acham? E não foi o Jutahy que indicou — brincou, referindo-se ao líder do PSDB, serrista convicto.
Ao mesmo tempo, provocava Inocêncio Oliveira, líder do PFL, que nos últimos dias vem irritando os tucanos com seus ataques ao ministro.
Mas honra não é poder, e isso é o que FH vem garantindo a Serra, ou melhor, ampliando o que ele já tem. José Roberto Vieira da Costa, o homem de comunicação de Serra na Saúde, comandará agora, ainda que sem o status de ministro, a máquina da publicidade oficial. Um suposto favorecimento às campanhas da Saúde, na gestão de Andrea Matarazzo, deflagrou queixas do ministro da Educação, Paulo Renato, acirrando o conflito entre os dois. De acesso desigual aos meios de comunicação também se queixa Tasso Jereissati. Ambos devem perceber o sentido da decisão de FH, de entregar a chave do tesouro a um serrista. E mais entenderão se outro de seus satélites na tecnoburocracia, Andrea Calabi, for mesmo confirmado na presidência do BNDES, com a anuência do ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, não menos próximo de Serra.
Enquanto isso acontece, continuam se deteriorando as relações entre o PSDB e o PFL. Os ataques a Serra partiram apenas de Inocêncio, mas foram rebatidos coletivamente pelos tucanos. Serra respondeu com algo mais contundente, seu encontro com o deputado Michel Temer, presidente do PMDB, no qual discutiram preliminares de uma aliança. O PFL reagiu obstruindo a votação de créditos para o programa de combate à Aids, aparentemente tentando liberar as verbas para o aeroporto de Salvador, obra que teve irregularidades apontadas pelo TCU. Mas, no fundo, tudo é parte da guerrilha sucessória.
Pode ser que não, mas são crescentes os sinais de que não haverá lugar para três partidos na coalizão governista. E hoje, por estar com uma candidata na rua, o rumo próprio é mais indicado para o PFL.Vantagem de ser mulher
— Ela tem uma vantagem extraordinária, bate como homem e apanha como mulher — diz o deputado Delfim Netto aos que duvidam de que o PFL vá às últimas conseqüências com a candidatura de Roseana Sarney.
Traduzindo o que ele diz: por ser mulher, Roseana está à vontade para atacar concorrentes e adversários. Mas será difícil para qualquer um deles atacá-la sem ser chamado de machista. Com Marta Suplicy, diz ele, foi assim na campanha municipal do ano passado. Chamava Maluf de tudo, mas, se ele a atacava, pedia respeito à sua condição de mulher.
Está bem, mesmo assim ela pode ser uma boa candidata para o PFL, mas jamais será a candidata da coalizão. Isso lhe dizem refletindo o que se ouve no PSDB. Delfim discorda:
< BR>— Os tucanos podem estar com alergia ao nome de Roseana, mas agora o mercado de votos está loteado. Lula tem 30%, ela 20%. Os outros 50% já estão divididos. Para alguém crescer, alguém vai ter que encolher. Pode ser ela, mas para isso um tucano terá que se impor.Sinais da estrada
O governador Tasso Jereissati dá sinais de estar percebendo que a balança pende para José Serra no jogo interno do PSDB. Há uma resignação implícita em sua declaração de que aceitará a escolha do partido, mas não será vice de ninguém. Ainda que não desista de disputar a pré-convenção, caso ela venha a acontecer.
Em Washington, em encontro na embaixada do Brasil com o presidente do Bird, James Wolfensohn, no qual discutiram programas sociais financiados pelo banco no Ceará, Tasso fez um prognóstico da sucessão: o governo só terá chance de ganhar se conseguir manter a aliança. O candidato da coalizão deve ser escolhido no início do ano, mas a campanha não deverá ser deflagrada antes de abril. Para o bem do candidato e do governo.
MÁRIO COVAS ressuscita com força entre os tucanos. Depois da inauguração do busto de ontem, receberá a comenda da Ordem do Mérito Legislativo, proposta por Jutahy e já aprovada pela Câmara.
BIZARRICES acontecem também na Europa. Em Portugal, 17 mulheres estão presas e podem ser condenadas por prática de aborto clandestino. Em nome da bancada feminina, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) enviou moção de protesto e solidariedade a elas.
Editorial
Balas certeiras
Um estudo intitulado “Balas perdidas” acaba de ser publicado pela organização não-governamental Agência de Notícia dos Direitos da Infância (Andi). É uma análise do tratamento dado pela imprensa brasileira a notícias sobre a violência associada a crianças e adolescentes. Para a Andi, o jornal que melhor tratou do tema foi o “Jornal do Tocantins”. Na chamada grande imprensa, a melhor colocação foi do GLOBO, com o segundo lugar, seguido da “Folha de S.Paulo”. O estudo foi lançado durante a 4 Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília, e suas conclusões serão discutidas este mês em seminário no Rio.
É infelizmente óbvio que a invasão do mundo infantil e adolescente pela violência, em suas diferentes formas, é tema que merece profunda preocupação da sociedade. No Rio, crianças e adolescentes das comunidades carentes enfrentam, literalmente, um fogo cruzado. De um lado, o poder de sedução do tráfico; de outro, a incompetência da autoridade pública na recuperação do menor envolvido em atividade ilegal e no enfrentamento das quadrilhas que dominam as favelas. Não foi por acaso que o estudo ganhou o título de “Balas perdidas”.
A imprensa não é um agente direto da transformação da sociedade. Cabe-lhe o papel, certamente vital, de oferecer aos cidadãos as informações que lhes permitirão mudar a sociedade. As possibilidades de mudanças dependem muito da isenção e do critério com que os meios de comunicação realizarem essa tarefa. É muito fácil destacar a incompetência do Estado. Fazer apenas isso produz aplauso fácil mas significa contar metade da história. A outra metade é a crônica do domínio das comunidades carentes por quadrilhas tão generosas no pagamento de serviços prestados como cruéis no castigo de quem as contraria.
Tanto num sentido simbólico como no mais realista possível, as balas perdidas que fazem suas vítimas na população jovem partem de todos os lados. Essa é a história que a imprensa de uma cidade como o Rio precisa contar incansavelmente, municiando a sociedade com as balas certeiras da informação correta.
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12/06/2001
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