FHC convoca aliados para 'mutirão da vitória'









FHC convoca aliados para 'mutirão da vitória'
Líder no Congresso explica que objetivo da reunião foi afinar ações e discurso para garantir virada de Serra, nos Estados e no horário eleitoral

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso convocou ao Palácio da Alvorada ontem cedo os principais líderes do governo no Congresso, do PSDB e dos partidos aliados, em mais uma tentativa de afinar o discurso e a ação política na caça aos votos. "Foi uma reunião claramente política, para tratar da virada para a vitória de José Serra (PSDB) na eleição presidencial", resumiu depois o líder do governo no Congresso, o deputado tucano Arthur Virgílio (AM), recém-eleito senador.

"Estamos montando o mutirão da vitória", completou o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), ao ressaltar que os prefeitos terão papel fundamental na ofensiva. Mas foi o presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), quem trouxe do publicitário Nizan Guanaes a boa notícia do marketing da campanha. "De hoje até sábado, Nizan garante que vai desfalcar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um Enéas por dia", revelou, referindo-se ao recordista da eleição para deputado federal, Enéas Carneiro (Prona), eleito por São Paulo com 1,5 milhão de votos.

Nas contas de Nizan, 4 milhões de votos de Lula migrarão para Serra até o fim da semana. Isso significa, na prática, que a vantagem do petista será reduzida em 8 milhões de votos como resultado da ofensiva do tucano na propaganda de rádio e na TV. O resto fica sob responsabilidade dos políticos.

Chamado a sacudir a campanha de Serra no Nordeste, onde Lula tem melhor performance, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), mostrou otimismo e disposição de luta.

Segundo Jarbas, a conclusão da reunião foi de que, apesar dos números adversos das pesquisas até agora, é possível reverter o quadro. "A campanha na TV só começou na segunda-feira, depois que as pesquisas foram feitas", destacou.

Também foram à reunião o vice-presidente Marco Maciel, do PFL, os senadores Heráclito Fortes (PFL-PI) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Todos aprovaram a linha dos programas de TV, explorando erros das administrações do PT e as críticas de eleitores que se negam a reeleger prefeitos e governadores petistas.

"É importante que o PT seja cobrado. Se ele deseja administrar o País precisa prestar contas à população sobre seu desempenho administrativo onde já é governo", disse Jarbas. Ele lembrou que no Rio Grande do Sul e em Mato Grosso do Sul o PT não só não conseguiu vencer a eleição no primeiro turno como corre o risco de derrota agora. "No Rio, a governadora Benedita da Silva nem foi para o segundo turno. É preciso que a população saiba que quem conhece o PT não vota no PT."

Jarbas, que quarta-feira terá nova reunião com o presidente e a direção da campanha, disse que Serra vai ao Recife terça-feira, para cumprir agenda que está sendo montada pelo comitê estadual de sua candidatura. Mas antes irá ao Rio, na sexta-feira visitará Porto Alegre (RS) e Maringá (PR) e na segunda-feira voltará a Minas.

Discurso - Os líderes aliados saíram do encontro amenizando o discurso de Fernando Henrique na véspera na Confederação Nacional da Indústria, no qual avaliou que, independentemente de quem vencer a eleição, não haverá risco para as instituições. "As declarações do presidente mostram a seriedade de seu governo e a seriedade de seu candidato", disse Temer.

"A fala do presidente é uma fala que todos compartilhamos. Ninguém está falando em golpe. Mas é claro que (o País) mudará muito, porque um governo que está superfaturando expectativas como eles (PT) é fadado ao fracasso.

Isso não significa que se possa alimentar qualquer perspectiva de golpe", afirmou Geddel.

Fernando Henrique disse, via seu porta-voz, Alexandre Parola, que o discurso teve o objetivo de ressaltar o vigor da democracia brasileira.


Campanha vai intensificar ataque a Lula
Tucanos querem mostrar que petista "tem assumido todos os compromissos sem assumir nenhum"

BRASÍLIA - O comando político da campanha do candidato tucano à Presidência, José Serra, reuniu-se ontem com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio da Alvorada, e decidiu manter a estratégia de atacar o presidenciável petista, Luiz Inácio Lula da Silva. A dez dias das eleições presidenciais, os coordenadores da campanha de Serra apostam suas fichas na "desconstrução" de Lula e não poupam críticas ao petista para tentar a virada.

"Vamos intensificar a campanha e fazer uma ação muito forte para mostrar que o nosso adversário tem assumido todos os compromissos sem assumir nenhum compromisso", resumiu o presidente do PSDB, deputado José Aníbal (SP), após o encontro com Fernando Henrique, o vice Marco Maciel e mais oito políticos que integram a aliança que apóia Serra.

Segundo o presidente do PSDB, a ofensiva da base aliada será focada em prefeitos, na Igreja Católica, nos evangélicos e nos movimentos sociais.

Tudo para estimular a militância a ir às ruas e pedir votos para o tucano.

Na reta final da campanha, Serra ainda pretende dedicar-se ao corpo-a-corpo com eleitores dos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste. O presidenciável tucano estará hoje no Rio de Janeiro.

Amanhã fará campanha no Rio Grande do Sul e no Paraná.

No sábado, o candidato fica em São Paulo. Na segunda-feira, Serra estará em Minas Gerais onde, segundo Aníbal, fará campanha ao lado do governador eleito Aécio Neves (PSDB). Na terça-feira, o tucano vai a Pernambuco participar de atos de apoio promovidos pelo governador Jarbas Vasconcelos (PMDB).

Dentro da estratégia tucana de ataques ao candidato do PT à Presidência, Aníbal chamou voltou a chamar Lula de "fujão" por não participar dos debates. Acusou ainda a campanha do petista de ter um alto grau de indefinição e de dissimulação e o PT de estar fazendo "estelionato eleitoral".

Apostou também que a legenda vai perder as eleições estaduais em Mato Grosso do Sul e no Rio Grande do Sul, Estados administrados por integrantes do partido. "O PT vai perder nos locais onde o povo conhece as suas administrações", sentenciou Aníbal. "O PT está vendendo algo que não pode entregar", completou.

Patrulha - Sob o argumento de que Fernando Henrique tem "responsabilidades que transcendem o governo dele", Aníbal evitou comentar as declarações do presidente que anteontem disse que o País está mais maduro e, independentemente de quem for eleito, nada acontecerá.

"Não patrulhamos o presidente", observou. E voltou suas baterias de ataque contra Lula e seu programa de governo. "É um promessismo que gera, inclusive, a insegurança na avaliação que agentes econômicos fazem hoje no Brasil", disse.

Escalado para dar o tom do encontro no Palácio da Alvorada e sustentar a atual estratégia, José Aníbal criticou ainda o "patrulhamento" que está sendo feito à participação da atriz Regina Duarte na campanha de José Serra.

Em sua avaliação, a atriz tem o direito de expressar seu temor caso Lula venha a ser eleito. E observou: "O medo não é só dela; é de milhões de brasileiros." O presidente do PSDB atenuou ainda os resultados da última pesquisa Ibope, divulgada na terça-feira, em que Serra aparece com 31% da preferência do eleitorado, cerca de 29 pontos atrás de Lula, que tem 60%.

"Essa pesquisa foi feita antes do início da propaganda gratuita", disse José Aníbal.


Lula teme explicar ‘pontos obscuros’, diz Serra
Para tucano, ou o petista ‘não tem idéias a respeito do Brasil ou não quer expor as idéias que tem’ < BR>
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, decidiu apostar tudo no confronto de idéias com o seu adversário do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou ontem que Lula não quer ir aos debates porque tem receio de apresentar suas idéias e explicar “pontos obscuros” e propostas pouco claras para o Brasil.

“De duas uma: ou o Lula não tem idéias a respeito do Brasil ou não quer expor as idéias que tem”, provocou Serra, durante entrevista na produtora que faz os seus programas para o horário eleitoral gratuito, em São Paulo. O candidato do PSDB fez questão de dizer que ele não marcou os debates e Lula, ao não aceitar discutir propostas nas emissoras Bandeirantes e Record, desrespeita as empresas de comunicação e a própria população.

Em seguida, lembrou que a maioria dos eleitores, conforme mostram as pesquisas de intenção de voto, considera os debates importantes e acham que o candidato do PT deveria participar. “É uma questão de respeito às pessoas, porque a Presidência da República não é uma escolha baseada no marketing e na trucagem publicitária”, disse Serra.

Em seu entender, Lula não quer ir aos debates porque teria de falar de propostas sem dispor do “teleprompter” – equipamento usado nos estúdios de TV para que os apresentadores leiam os textos previamente escritos – e “sem a trilha emocional do lado”. “Como não pode falar que tem receio de ir ao debate, responde com arrogância”, completou.

Questionado sobre a fotografia que Lula tirou ontem ao encontrar o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), no aeroporto de Brasília, Serra respondeu: “Ele (Lula) acha que tirar essa foto com o Aécio é uma grande coisa, mas eu eu acho que seria uma coisa muito maior ele tirar uma foto comigo nos debates da Bandeirantes e da Record”.

Apoio – Antes da entrevista, Serra recebeu o apoio da igreja evangélica Assembléia de Deus. A decisão foi confirmada pessoalmente pelo presidente da Convenção Geral das Assembléias de Deus, pastor José Wellington da Costa, e pelo coordenador da comissão política da Assembléia de Deus, Ronaldo Fonseca. Os dirigentes da igreja disseram reunir 18 milhões de fiéis em todo o Brasil.

De acordo com Fonseca, a decisão da congregação, que elegeu 21 deputados federais e 28 deputados estaduais, foi unânime. “Havia uma tendência de apoio a Serra por causa da clareza de suas propostas, enquanto o Lula, que também tem propostas, não as deixou tão claras para nós”, afirmou.

Fonseca admitiu que alguns pastores, que no primeiro turno apoiaram o candidato do PSB, Anthony Garotinho, já se haviam comprometido a apoiar Lula, mas que não represetam a maioria. Serra disse que, além da questão eleitoral, o apoio da Assembléia de Deus é importante porque representa a possibilidade de parcerias com o governo na área social.

Irritação – O candidato do PSDB mostrou-se irritado em vários momentos da entrevista. Ao ser perguntado se havia uma disparidade entre a sua campanha e o fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso ter declarado que não há risco para o Brasil, independentemente de quem vença a eleição, Serra disse disse que não, mas classificou a pergunta como “ti-ti-ti”. Antes disso, porém, Serra reagiu a outra pergunta sobre a declaração do subsecretário do Tesouro dos Estados Unidos, Kenneth Dam, de que o próximo presidente deverá manter uma política econômica semelhante à atual.

“Você está dizendo uma coisa que você acha que ele disse e quer que eu faça um comentário.

Mas isso não é sério”, afirmou Serra. “Vocês têm o direito de fazer a pergunta que quiserem e eu tenho o direito de manifestar sobre elas.”

O publicitário Nelson Biondi, que divide com Nizan Guanaes a coordenação de marketing da campanha de Serra, comentava com um jornalista que as perguntas haviam sido provocativas e sugeriu que talvez fosse melhor providenciar um porta-voz – prática adotada pelo PT desde o primeiro turno.

Além de negar a existência de um clima de nervosismo na campanha, Biondi disse que os trackings – pesquisa diária realizada para acompanhamento e avaliações internas – feitos após o início do horário eleitoral, mostram movimentos favoráveis a Serra. “O resultado desses trackings mostram movimentos que nos deixam animados”, completou.

Biondi disse, também, que foi procurado por cerca de 30 jornalistas gaúchos, processados pela administração do PT no Rio Grande do Sul. Segundo ele, isso reflete a relação desse partido com a “liberdade de imprensa”. Esses depoimentos também poderão ser veiculados no horário eleitoral gratuito.


Serra faz seu mais duro ataque a Lula na TV
Tucano acusa petista por contradições de campanha e cobra sua presença nos debates

Pressionado por uma diferença de 31 pontos para tirar em dez dias, o candidato tucano José Serra usou ontem à noite os seus 10 minutos no horário eleitoral para fazer o mais contundente ataque ao rival petista, Luiz Inácio Lula da Silva, desde que os programas começaram, a 20 de agosto.

Primeiro, a vice de sua chapa, deputada Rita Camata (PMDB), deu uma dura resposta aos que criticaram o depoimento feito na segunda-feira (e repetido ontem) pela atriz Regina Duarte. “Foi só ela dar sua opinião para ser acusada pelo PT e pela CUT de estar fazendo terrorismo”, afirmou Rita. A vice manifestou ainda o seu medo de que “voltem coisas antigas como a censura, o patrulhamento, a inflação desenfreada”.

Regina havia dito, em sua fala, estar “com medo” da possível vitória de Lula e advertiu que “a estabilidade tão duramente conquistada não pode ir para o lixo”. Houve protestos de artistas e a Central Única de Trabalhadores (CUT) divulgou uma nota em que chamou de “terrorismo eleitoral” o discurso de Regina.

O esforço de Serra para tirar o petista de seu clima de vitória e fazê-lo explicar suas propostas foi dirigido contra suas explicações no horário na TV sobre problemas de educação, no qual ele “não falou que foi contra a criação do Fundef (Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental)”, organismo criado para melhorar salários e condições de professores primários. Outro golpe foi dirigido à prefeita Marta Suplicy (PT): “Este ano 26 mil crianças ficaram fora da escola por falta de vagas”, afirmou o locutor tucano, para concluir: “Problemas como esse é que Lula e o PT precisam explicar.”

Prosseguindo a estratégia de tirar o rival de seu “trono da vitória” e chamá-lo para a briga, Serra armou novos ataques. Um foi a queixa de jornalistas no programa Roda Viva, da TV Cultura, contra a decisão de Lula de não comparecer (sua entrevista deveria ter sido terça-feira) – episódio que os próprios entrevistadores qualificaram de “lamentável, espantoso”.

Depois, a ironia: “Lula agora só mostra empresários de seu lado. Mas onde estão a CUT e o MST?

Deixaram de ser aliados?” Aparecem, então, imagens de Lula, ponderado, falando sobre reforma agrária a empresários na Confederação Nacional da Indústria. e, em seguida, dando explicações a militantes da CUT e do Movimento dos Sem-Terra. “Os compromissos continuam intocáveis”, diz o candidato do PT. “Agora, para fazer é preciso vencer.”

Paloma – Por coincidência, antes da fala de Rita havia aparecido, fechando o horário do PT, a atriz Paloma Duarte (que é neta do ator Lima Duarte e não tem parentesco com Regina). “Há muito tempo não me sentia tão insultada”, disse ela, sobre o depoimento de Regina. Dizendo-se “chocada pelo uso do medo” na campanha, concluiu que “um candidato que precisa aterrorizar a população (...) não merece ser presidente da República.” Paloma revelou ter procurado a produção do PT, ao ver o programa tucano, e pedido para responder a Regina.

A contundência dos tucanos t em uma explicação, para os alguns especialistas: eles precisam criar fatos novos, e rapidamente. “O fato é que Serra entrou no segundo tempo perdendo e precisa ir para o ataque”, resume o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj). ‘Resta saber se Lula vai resistir ao tom de confronto que está sendo criado.”

Serra “precisaria descobrir o caminho para uma linha mais agressiva, que fosse positiva para ele e negativa para Lula”, diz a professora de Política Vera Chaia, da PUC de São Paulo. Ela ressalta que ataques anteriores a Lula não fizeram o estrago que os tucanos esperavam.


Serra retoma ofensiva em Minas na 2.ª-feira
Encontro com tucanos marcado para amanhã foi adiado para próxima semana

BELO HORIZONTE - A coordenação de campanha em Minas Gerais do candidato José Serra (PSDB) decidiu adiar de amanhã para a próxima segunda-feira a visita do tucano à capital mineira.

O encontro com lideranças políticas do Estado será o segundo evento público de Serra em Belo Horizonte no segundo turno e o primeiro com o governador eleito Aécio Neves (PSDB). Na visita anterior de Serra, sexta-feira passada, Aécio estava em férias. Ontem, ele estava em Brasília, mas deve retornar hoje a Belo Horizonte.

Durante esta semana, a campanha de Serra procurou demonstrar força e iniciou contatos com deputados e prefeitos para o encontro, mas muitas lideranças estão viajando, alguns descansando após as campanhas, o que motivou o adiamento. "A presença tende a ser maior na segunda e a nova data se encaixou também na agenda do Serra", ponderou o senador Eduardo Azeredo.

O coordenador da campanha em Minas, Silvio Mitre, tenta articular apoios de outras legendas no Estado, que apoiaram Aécio no primeiro turno, mas que agora inclinam-se para a candidatura de Lula. É o caso do PTB, que tem representantes participando da campanha tucana, mas cujo diretório estadual quer que seja seguida a orientação da executiva nacional, que optou pelo apoio a Lula.

Moderado - Representantes do PT mineiro, contudo, apostam que o discurso de Aécio será moderado, como vem se caracterizando sua postura em relação às eleições presidenciais. O governador eleito, dizem os petistas, não estaria interessado em dividir a base de apoio construída na eleição estadual.

Ontem, deputados estaduais do PT da atual legislatura e os eleitos para a próxima se reuniram na Assembléia de Minas e decidiram dar a Aécio o mesmo tratamento que o governador eleito daria a Lula, se ele for eleito. O PT mineiro terá a maior bancada do Legislativo, a partir de 2003, com 15 deputados.

Não se espera mais visitas de Lula a Minas antes do dia 27, já que ele deve se concentrar nas unidades da Federação onde teve uma votação menos expressiva. "Não vamos descartar (a presença de Lula) em definitivo, mas achamos que em Minas as coisas estão indo muito bem", disse Nilmário Miranda, candidato petista derrotado ao governo de Minas.


Tarso, se eleito, admite receber Farc no gabinete
PORTO ALEGRE - O candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, admitiu que, se eleito, poderia receber representantes da Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em seu gabinete, desde que fosse reconhecida como grupo beligerante pela ONU. "Seria um encontro apenas protocolar", ressalvou, lembrando que faria o mesmo em relação a grupos que se oponham às Farc e estejam na mesma condição perante a ONU. Tarso e seu adversário do PMDB, Germano Rigotto, foram sabatinados ontem, em horários diferentes, pelos participantes do Clube de Editores e Jornalistas de Opinião.

O candidato do PT foi colocado na defensiva por jornalistas preocupados com a proximidade do partido com movimentos socialistas. Além das Farc, que tiveram emissários recebidos pelo governador Olívio Dutra, a exibição da bandeira de Cuba numa das sacadas do Palácio Piratini, no dia que o PT assumiu o poder, em 1999, voltou ao debate. "Foi um rapaz entusiasmado e não um ato de governo, que, inclusive, foi prejudicado por isso", justificou o candidato.

Fiel ao estilo moderado que o levou do quarto ao primeiro lugar no primeiro turno, Rigotto reclamou da distribuição de panfletos não assinados acusando-o de programar a privatização de estatais.

Contou à platéia de cerca de 40 pessoas que as denúncias do PMDB já geraram cinco mandados de busca e apreensão do material, mas não atribuiu a autoria ao partido adversário.


Artigos

Das profissões às ocupações
Roberto Macedo

O Ministério do Trabalho e Emprego lançou, na quinta-feira passada, nova edição da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), depois de 20 anos sem atualização. A notícia merecia maior divulgação pela imprensa. Dos quatro jornais que recebo diariamente, só este lhe deu o devido destaque, com matéria que no dia seguinte ocupou quase uma página (A13).

A CBO revela como o mercado de trabalho se estrutura no sentido ocupacional, descrevendo as ocupações existentes e a formação educacional necessária para exercê-las, entre outros aspectos.

Vale lembrar que ocupação é aquilo que a pessoa de fato faz, a atividade econômica exercida pelo cidadão, como empregado ou de outra forma. Nas palavras da CBO, uma ocupação é definida como "a agregação de empregos ou situações de trabalho similares quanto às atividades realizadas".

Freqüentemente se confunde ocupação com profissão, mas não é a mesma coisa.

Ocupação tem um sentido mais geral, enquanto profissão é um caso particular que exige conhecimentos especiais e, em geral, preparação extensa e intensiva. Há muito mais ocupações do que profissões porque muitas daquelas não têm essa exigência. Além disso, o próprio processo de aprendizado impõe limitações ao número de profissões. E mais: com a mesma profissão, uma pessoa pode exercer diferentes ocupações. Um exemplo bem atual é que há dois candidatos de profissões diferentes disputando o cargo de presidente da República, que é uma ocupação, e não uma profissão.

A disponibilidade da nova CBO é notícia auspiciosa para quem se interessa pelo mercado de trabalho, seja buscando informações, seja analisando-as.

Estando nos dois casos e, ainda, trabalhando com o tema educação e trabalho, a CBO é uma referência indispensável a este economista nas suas ocupações, como as de professor e pesquisador.

Nessa linha, uma tese que venho defendendo é a de que no Brasil a orientação vocacional e de escolha profissional está mal assentada, pois, equivocadamente, enfatiza demais as profissões e raramente aborda as ocupações. No ensino superior, com o qual estou mais familiarizado, há umas poucas dezenas de cursos, como engenharia, medicina, direito, etc., que levam às profissões correspondentes. Com o diploma na mão, contudo, esses profissionais podem exercer um número muito maior de ocupações, típicas ou não da profissão escolhida. Assim, entre outras implicações, quem está escolhendo cursos e profissões deveria também receber informações sobre o mundo das ocupações. E que mundo! A CBO recém-divulgada registra 2.422 e 7.258 títulos ocupacionais sinônimos.

Como exemplo das distorções que podem vir de uma visão limitada apenas às profissões, tome-se o caso de um jovem interessado na profissão de engenheiro, imaginando que encontrará ocupação como tal. Ora, observado tão-somente a partir dessa perspectiva, o mercado de trabalho dessa profissão não estimula os interessados, pois a oferta que vem das escolas de engenharia supera a demanda de engenheiros que se ocupariam como tais.

Entretanto, isso não quer dizer que o curso seria uma má escolha. Ao contrário, em geral o engenheiro é um profissional mais bem formado que a m aioria dos demais, pois estuda em tempo integral, é treinado para resolver problemas, tem um raciocínio lógico-matemático bem desenvolvido e se exercita naquilo que é a essência da educação, o aprender a aprender.

Com isso, o engenheiro concorre favoravelmente com profissionais de outras áreas na disputa de um amplo leque de ocupações que não são típicas da engenharia. Conheço, por exemplo, muitos engenheiros que trabalham como administradores de empresas ou executivos financeiros. Aliás, um fato que vem chamando a atenção é que os engenheiros têm constituído a maioria dos aprovados em vários concursos públicos cujo requisito é a exigência de curso superior de qualquer natureza. Olhando esse lado ocupacional, portanto, o curso não deixaria de ser recomendado ao jovem interessado.

Exemplos como esse servem para demonstrar os equívocos a que pode levar uma orientação baseada apenas numa visão estreita das profissões e isolada das suas perspectivas ocupacionais.

O mundo do trabalho exige flexibilidade ocupacional e formação educacional que combine adequadamente a especialização com outros conhecimentos capazes de facilitar a adaptação a diferentes ocupações, inclusive as que vão surgindo, pois só depois o sistema educacional vem com suas "novidades".

O Brasil está na contramão desse caminho, pois seu anacrônico sistema de ensino superior impõe a escolha profissional precoce e a especialização exagerada dos cursos de graduação. E, mesmo fora desse nível de ensino, educadores e orientadores usualmente estão alienados do mundo das ocupações, uma das razões sendo a falta de informações adequadas.

A nova CBO poderá contribuir para tomar a direção correta, mas seu grande passo precisa ser completado com outros igualmente importantes. Assim, será fundamental utilizá-la no levantamento periódico do número de trabalhadores em cada ocupação, e levar aos jovens, educadores, orientadores e outros interessados um diagnóstico quantificado e analisado das perspectivas ocupacionais. Na corrente de informações que orienta sobre o mercado de trabalho estão faltando esses importantes elos entre as profissões e as ocupações, indispensáveis também às decisões de caráter educacional.


Editorial

O QUE CAUSA O MEDO

A confirmar-se a eleição de Lula, o Brasil dificilmente deixará de viver, conforme a clássica maldição chinesa, "tempos interessantes" - no caso, uma perturbadora alternância de sustos e alívios. O noticiário dos últimos dias é rico em exemplos desse padrão que, sobretudo no estrangeiro, apenas faz aumentar a insegurança em relação aos rumos do País sob um governo do PT. Até porque os motivos de susto, compreensivelmente, repercutem mais e perduram mais do que as razões para alívio. Por enquanto, os "tempos interessantes" resultam, de um lado, dos conflitos de posições entre radicais e moderados dentro do partido e, de outro, das impropriedades e dos vaivéns - ora para melhor, ora para pior - das manifestações de Lula.

O primeiro problema pode ser ilustrado pela proposta do deputado Walter Pinheiro, de contestar no Supremo Tribunal Federal (STF) a constitucionalidade da medida provisória que regulamenta a participação do capital estrangeiro nas empresas de comunicação - assunto comentado anteontem nesta página. Rapidamente, o presidente do PT, José Dirceu, e o líder da bancada na Câmara, João Paulo Cunha, fulminaram a sugestão, bem como dissociaram a sigla das emendas restritivas que Pinheiro apresentou à citada MP. O partido também obrigou o deputado a desmentir que tivesse sugerido a renúncia da "tropa toda" - os diretores das agências reguladoras de energia e telecomunicações, detentores de mandatos fixos - se Lula se eleger.

Quem acompanha de perto a política interna do PT - o que raramente é o caso dos formadores de opinião no exterior - sabe que a agremiação está sob controle dos moderados, a começar do deputado José Dirceu, que, por sinal, se apressou a assegurar, em resposta a um editoral pessimista do jornal londrino Financial Times, que um governo Lula não controlará o câmbio nem reestruturará a dívida pública. Por sua vez, os deputados petistas da ala esquerda (26 em 91), embora tenham decidido adotar um perfil discreto "para eleger Lula" admitem formar um bloco próprio dentro da bancada. Só o tempo dirá se isso chegará a ser uma dor de cabeça para a liderança partidária - e mais uma fonte de inquietação para os analistas estrangeiros.

O mais recente exemplo do segundo problema - as falas de Lula - está nos jornais de ontem. A boa notícia é que, apesar da empolgação da campanha nas ruas do Recife, o candidato não tornou a repetir que a Alca representará a "anexação" do Brasil pelos Estados Unidos e deixou claro que o País deve participar das negociações sobre o acordo. "Queremos fazer valer os interesses soberanos do País", afirmou. "Vamos ter de negociar de acordo com os nossos interesses, não com os deles." Não há diferença alguma entre esse enunciado e o do presidente Fernando Henrique, no mesmo dia: "Quem me suceder vai proceder assim (negociar a Alca) porque o Brasil sabe quais são os seus interesses e sabe defender os seus interesses sem retórica, mas com firmeza."

A má notícia é o que Lula disse do representante comercial americano (o equivalente a secretário de Comércio Exterior), Robert Zoellick, ao comentar a sua advertência de que não faltarão parceiros aos Estados Unidos se o Brasil der as costas à Alca. Primeiro, o candidato se recusou a "interpretar a fala de um cara que não conheço" (sic). Mais tarde, completou o estrago:

"Não posso responder ao sub do sub do sub do secretário americano." O que terá causado mais impacto em Washington: a evolução de suas idéias sobre o Brasil e a Alca, ou a sua desinformação e despropositada arrogância ao se referir a um membro do primeiro escalão do governo Bush? Lula parece não ter percebido que a imprensa internacional já o trata como presidente eleito do Brasil.

Por isso, precisa aprender a se policiar como nunca. Para desanuviar o cenário do início de seu eventual governo, Lula deveria estar jogando água na fervura, em vez de avivar o fogo debaixo do caldeirão com pronunciamentos desastrados que só servem para reforçar as piores expectativas dos interlocutores públicos e privados do Brasil no exterior - e o medo de ponderável parcela dos brasileiros - sobre o futuro.


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10/17/2002


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