FHC recebe presidenciáveis e dá início à transição








FHC recebe presidenciáveis e dá início à transição
Presidente abre parte das contas do Governo aos candidatos para justificar o acordo com o FMI e tentar garantir a manutenção das ações na área econômica

SÃO PAULO – Numa rodada de encontros inédita na História do País, o presidente Fernando Henrique Cardoso abrirá hoje parte das contas do Governo aos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto para mostrar as dificuldades da economia e as razões que levaram o Governo a assinar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O primeiro ‘visitante’ será Ciro Gomes (PPS). Em seguida, o presidente receberá Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB).

O presidente pretende ainda obter dos candidatos uma posição clara sobre o que considera os fundamentos da economia: a estabilidade da moeda, o respeito aos contratos e a manutenção de superávits no orçamento para garantir o pagamento da dívida pública.

“É compreensível e aceitável que se queira mudar a política econômica, mas não se pode atacar os pilares da estabilidade”, disse o ministro chefe da Casa Civil, Pedro Parente. Segundo Parente, Fernando Henrique também estará aberto a discutir com os candidatos uma agenda de medidas para ser submetida ao Congresso ainda neste ano, incluindo uma minirreforma tributária e projetos para recuperar a receita de impostos no ano que vem, quando se prevê queda de arrecadação de mais de R$ 10 bilhões.

O ponto de partida das conversas será uma avaliação da situação econômica mundial, de seus reflexos no Brasil e da necessidade de referendar o acordo com o FMI para acalmar a instabilidade do mercado financeiro. Detalhes do acordo serão submetidos aos candidatos, para evitar que eles continuem alegando desconhecer seus termos. Na visão do presidente, independentemente de suas propostas políticas, os candidatos precisam assumir as responsabilidades que têm com o futuro do País.

A conversa com José Serra deverá ser a mais descontraída. Além de amigo do presidente, ele estará acompanhado de dois aliados do Governo, representantes da coligação que o apóia: os presidentes do PSDB, José Aníbal, e do PMDB, Michel Temer.

Na semana passada, a coordenação da campanha de Serra tentou evitar o encontro, alegando que isso o enfraqueceria, dando a impressão de que FHC já não mais confia em sua vitória. A incerteza do mercado financeiro nos últimos dias, porém, acabou fazendo com que o Governo fechasse os encontros. Depois, Serra recuou e disse que se tratava de uma demonstração de “responsabilidade” da parte do presidente. “Isso está acima de interesses eleitorais e políticos”, disse o tucano.


Lula promete ouvir o presidente, mas não apresentará propostas
SÃO PAULO – O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que, se for possível, dirá ao presidente Fernando Henrique Cardoso, no encontro de hoje, que o Brasil não pode continuar na situação em que se encontra, pendurado no Fundo Monetário Internacional (FMI), “esquecendo-se que o que leva um país para frente é a sua capacidade de produção, de exportar e de gerar riquezas”.

Para Lula, que foi o único presidenciável a participar do IV Congresso Nacional de Cooperativismo de Crédito, encerrado no sábado, em Santos, o Brasil está estagnado e o atual modelo econômico precisa ser mudado. “Vamos incentivar a criação de cooperativas de crédito e de produção e também estimular os trabalhadores a criar fundos de pensões para ver se a gente torna o dinheiro acessível ao povo brasileiro”, afirmou, ressaltando que não pretende apresentar propostas ao presidente Fernando Henrique.

“Vou ouvir o que ele tem a nos dizer e, de concreto, lembrar que a situação do País não é boa, mas que pode mudar se o presidente começar a tomar medidas agora para desonerar a produção e as exportações.” O petista disse que não dá para começar a discutir essas questões a partir de 2003 porque qualquer mudança em política tributária só pode entrar em vigor no ano seguinte.


Ciro Gomes condena o “terror econômico”
RIO – Na véspera do encontro com o presidente Fernando Henrique Cardoso, para falar sobre o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o candidato à Presidência da República pela Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), fez ontem duras críticas à política econômica do Governo. “Posso lhes dizer com muita tristeza que o nosso País, rico e cobiçado no mundo inteiro, está posto de joelhos diante da agiotagem internacional”, disse Ciro, durante um rápido discurso para cerca de mil pessoas que participaram da carreata que o candidato fez pela orla de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.

Ciro não concedeu entrevistas justamente por conta do encontro que terá hoje com Fernando Henrique. Mas aproveitou a oportunidade para também criticar a especulação que o mercado financeiro vem sofrendo, com base nos resultados das pesquisas eleitorais que apontam a fragilidade da campanha do candidato governista, José Serra (PSDB). “Não temos o direito de votar livremente. Quem o povo acha que deve eleger, eles não querem permitir. É o terror econômico. É a tentativa de domesticar o pensamento rebelde do povo brasileiro”.

Segundo a última pesquisa Datafolha, publicada ontem pela Folha de S.Paulo, Ciro está em segundo lugar na disputa presidencial, com 27% das intenções de voto, contra 37% do petista Luiz Inácio Lula da Silva e 13% de Serra, tecnicamente empatado com Anthony Garotinho (12%).

O discurso do candidato pós-comunista indica que ele resiste a se comprometer publicamente com o acordo feito pelo Governo Federal com o FMI, que, para liberar US$ 24 bilhões dos US$ 30 bilhões previstos, vai exigir que o Governo eleito em janeiro mantenha um superávit orçamentário de, no mínimo, 3,75% do Produto Interno Bruto até 2005.

Após o encontro de hoje com o presidente da República, no Palácio da Alvorada, Ciro se encontrará com o secretário de Estado do Ministério da Fazenda da Alemanha, Caio Koch-Weser, e com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Marco Aurélio Melo. A pauta do encontro não foi divulgada.


Garotinho manterá discurso de oposição ao acordo com o FMI
RIO – O candidato do PSB à presidência da República, Anthony Garotinho, irá manter o discurso de oposição ao acordo do Brasil com o Fundo Monetário Internacional (FMI) durante o encontro de hoje com o presidente Fernando Henrique Cardoso. Para a reunião, Garotinho preparou um documento no qual critica o aumento da dívida pública e o piso de reservas cambiais fixado com o Fundo. “Apenas US$ 5 bilhões de reserva é muito preocupante e deixa o próximo Governo em situação muito delicada”, disse. Além disso, o candidato lembrou que o documento defende algumas mudanças no acordo, como a liberdade para as estatais investirem.

Segundo ele, o último contrato firmado com o FMI impediu que as estatais fizessem investimentos, porque isso também seria contabilizado como gasto público. Para Garotinho, essa estratégia acabou resultando em problemas, como a crise de energia no Brasil em 2001. “Furnas tinha R$ 4 bilhões em caixa e não podia investir”, disse.

É nesse tom que Garotinho pretende debater o acordo. “Não há nada a comemorar no acordo entre o Brasil e o FMI. O Fundo Monetário Internacional é um banco. E quando se vai a um banco é porque a situação está difícil.”


Candidatos a vice fazem debate “morno” na TV
Sem repetir o clima acirrado que marcou o primeiro confronto dos presidenciáveis, vices evitam questões polêmicas e até trocam gentilezas em debate promovido pela Rede Bandeirantes

O debate inédito entre os candi datos a vice-presidente, promovido ontem à noite pela Rede Bandeirantes, foi marcado pela troca de amabilidades e pela “boa etiqueta”. O programa, de duas horas, foi dividido em seis blocos. Os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) acompanharam no local, enquanto Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS) preferiram gravar depoimentos de incentivo aos seus aliados.

A candidata a vice de José Serra, deputada Rita Camata (PMDB-ES), e o vice de Lula, senador José Alencar (PL-MG), foram os que mais trocaram elogios. Alencar a chamou de “brilhante parlamentar” e ouviu palavras de admiração ao seu trabalho no Senado.

O vice de Garotinho, deputado José Antônio Almeida (PSB-MA), foi o único a tentar alavancar o debate com questões polêmicas.

O alvo escolhido foi o vice de Ciro Gomes (PPS), Paulo Pereira da Silva, ex-presidente da Força Sindical. Almeida questionou as denúncias de irregularidades no Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Paulinho manteve a tranqüilidade e enfatizou que o erro na digitação de um mesmo CPF por 32 vezes teria sido provocado pelo programa de computação. “Um total de 720 mil trabalhadores foram treinados com recursos do FAT.

Uma das beneficiadas, que não sabia o número do seu CPF, preencheu o campo com vários noves e contaminou o sistema”, argumentou.

Para Rita Camata, José Almeida canalizou a responsabilidade da “ausência de programas sociais no Governo FHC”, que tem Serra como candidato. Ele também acusou Serra pelas 5.900 demissões dos guardas mata-mosquitos, no Rio de Janeiro, que elevou o número de vítimas da dengue. “FHC deixou mais de 12 milhões de desempregados e Serra, que promete criar 8 milhões de empregos, demitiu, quando deveria ter preservado aquelas pessoas no mercado de trabalho”. Rita rebateu, dizendo que “a política de desenvolvimento social defendida por Serra alavancará a economia e diminuirá o desemprego.”

José Alencar, a exemplo de Lula, permaneceu em situação cômoda, até mesmo quando Paulinho pediu sua opinião quanto à redução da jornada de trabalho. Apesar de ser empresário, Alencar defendeu o programa de Lula e assegurou que as indústrias não quebrarão com a medida, pois muitos dos custos, como os impostos indiretos e os salários, pesam sobre os consumidores. “A redução da jornada de trabalho aumentará o número de empregos, conseqüentemente, os consumidores terão melhor poder aquisitivo. É o maior equilíbrio da economia”, concluiu.


Candidato petista compara Jarbas a ACM
ARCOVERDE - Empolgado com a militância, o candidato do PT ao Governo, Humberto Costa (PT), bateu forte no governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), comparando o adversário ao ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), conhecido pelo estilo truculento de fazer política. “Jarbas quer ser o ACM de Pernambuco. Aqui em Arcoverde ele juntou gente que não pode olhar um para outro. Quer ser o imperador”, discursou, referindo-se aos grupos da prefeita Rosa Barros (PFL) e do deputado Israel Guerra (PSDB) que, apesar de adversários, apóiam o governador.

Irônico, Humberto disse que Jarbas não “herdou” a garra de ACM em defender seu Estado. “ACM luta pela Bahia e Jarbas fica de cabeça baixa diante de FHC. Investe R$ 65 milhões para recuperar hospitais e despeja R$ 88 milhões em propaganda”, frisou, citando a reportagem publicada ontem pelo JC, que retrata o drama da população que procura os hospitais públicos do Estado.

Os candidatos participaram de uma carreata e um corpo-a-corpo na feira. Depois, seguiram para Venturosa e Buíque. Na maratona, ficaram claros os problemas de Humberto por ser desconhecido no interior. A saída tem sido a vinculação com Lula (PT).

Outro problema é a falta de sintonia com a rotina do interior. Em Afogados da Ingazeira, os candidatos chegaram tarde à feira e muita gente tinha ido embora. Em Tabira, a chapa encontrou pouca gente. As pessoas haviam ido para casa descansar da feira, realizada pela manhã, e se preparar para a festa da padroeira, à noite. Em São José do Egito, a carreata encontrou casas fechadas e ruas desertas. Era a hora do Jornal Nacional e da novela das oito. Mesmo assim, os petistas armaram um show com poetas, que atraíram uma platéia reduzida mas animada. O mesmo ocorreu em Itapetim, que fechou o circuito do sábado à noite.


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

Enfim, a oposição
Confirmando-se a vitória de Jarbas Vasconcelos para um segundo mandato no Palácio do Campo das Princesas, conforme as pesquisas estão indicando, já se sabe o que irá acontecer em Pernambuco a partir de 2003: o fortalecimento da oposição. Como se sabe, desde que o governo estadual embolsou R$ 1,8 bilhão do dinheiro da venda da Celpe, a oposição encolheu. Até os dois candidatos a liderá-la na Assembléia Legislativa, Ranílson Ramos e Pedro Eurico, não resistiram aos encantos do poder e aderiram ao bloco governista.

Porém, como não cabe todo mundo de um lado só, a partir do resultado dessas eleições, em que pelo menos 15 deputados estaduais da base governista não irão renovar os seus mandatos, é que oposição aparecerá. A maioria dos derrotados irá pôr a culpa no “chapão”, imposto goela abaixo pelo governo, devendo migrar para a oposição, à espera do pleito municipal, que só irá ocorrer daqui a dois anos.

Caso Marco Maciel seja eleito senador, terá cessado o compromisso do atual governo com o PFL, já que a aliança que os mantém unidos desde 1994 não irá eternizar-se.

Em 2003, ou o PFL começa a trabalhar para ter os seus próprios candidatos a prefeito do Recife, em 2004, e ao governo de Pernambuco, em 2006, ou será engolido pelo PMDB.

Força ao amigo
Vice na chapa de Ciro Gomes, Paulinho da “Força Sindical” está sendo esperado, amanhã, no Recife, às 12h30, procedente de São Paulo, para participar da inauguração, às 19h, do comitê de campanha do seu amigo e compadre Marco Aurélio Medeiros, candidato a deputado estadual pelo PFL. Coordenador regional da Força Sindical, licenciado, Marco Aurélio convidou para a inauguração Marco Maciel (seu 1º senador), Carlos Wilson e Sérgio Guerra.

Homem forte 1
No curso de um jantar com empresários paulistas, Ciro Gomes deu uma dica de quem poderá ser seu ministro da fazenda, caso seja o próximo presidente: “um empresário com atuação política”. Para o bom entendedor, basta: Tasso Jereissati. Caso isso se confirme, o país estará diante de um fato inusitado: a “criatura” comandando o “criador”.

Homem forte 2
“Guru” do candidato do PPS, Mangabeira Unger disse praticamente a mesma coisa numa entrevista à “Carta Capital”: “Vejo Tasso como uma figura central de um eventual governo Ciro. É confiável às elites brasileiras nacionalistas produtivas, mas está sinceramente comprometido com uma virada desenvolvimentista e social no Brasil”.

Vice-presidente ajuda amigo do peito em “Sampa”
Marco Maciel tem dado atenção absoluta, claro, à sua candidatura ao Senado. Mas vez por outra vai a São Paulo levar seu apoio a Cláudio Lembo, pefelista histórico, que é candidato a vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB).

Vereador de Caruaru abre comitê eleitoral
O médico e vereador em Caruaru, Demóstenes Veras Filho, candidato a deputado estadual pelo PSDC (coligação com o PPS), inaugurou ontem o seu comitê. Ele faz dobradinha no município com Inocêncio Oliveira (PFL).

Crítica de leve
O prefeito de Garanhuns, Silvino Duarte (PMDB), cortou suas relações políticas com o presidente da Assembléia Legislativa, Romário Dias (PFL). Recentemente, numa reunião do seu grupo político, ele se queixou do fato de o deputado ser o “dono” dos “cargos regionais” de Garanhuns, apesar de só ter tido lá 200 votos.

A voz do sertã o
Peraplégico e evangélico, o vereador Francisco Aires, o “Airinho” (PSB), é uma das grandes novidades na política de Salgueiro. Candidato a deputado estadual, ele tem atraído milhares de pessoas para os seus comícios, que são abrilhantados com músicas “gospel”. Ele faz dobradinha com Gonzaga Patriota (PSB).

Está faltando apoio no PT à candidatura de Paulo Rubem Santiago a uma vaga na Câmara Federal, o que é uma pena, porque ele é reconhecido por gregos e troianos como o “melhor deputado” da Casa de Joaquim Nabuco. Até no diretório petista de Macaparana, que ele fundou, Pedro Eugênio (PT) passou a perna.

Respaldado pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), de onde saíram o governador Albano Franco (SE) e o senador, ex-ministro e candidato ao governo do Rio Grande do Norte, Fernando Bezerra (PTB), o deputado federal Armando Monteiro Neto (PMDB) será candidato ao governo de Pernambuco em 2006, custe o que custar.

De Jarbas na última 5ª feira: “Tenho 0% de dúvida de que os nossos dois senadores (Marco Maciel e Sérgio Guerra) serão eleitos, mantidos os nossos percentuais”. Em 2000, o governador disse à Rádio Jornal que poderia perder em qualquer município de PE, menos no Recife. Hoje, o petista João Paulo é o prefeito.

Poucos são os “socialistas” do interior que estão pedindo votos para Dílton da Conti, candidato ao governo estadual pelo PSB. Até o médico Edivaldo Cassimiro, que é ex-prefeito de Rio Formoso, candidato a deputado estadual e ligadíssimo a Miguel Arraes, está pedindo votos para Lula, Humberto Costa e Carlos Wilson.


Editorial

UM TESOURO AMEAÇADO

Quando uma árvore frondosa é abatida em poucos minutos por uma moderna moto-serra, ninguém fica à espera de que volte a crescer. Pode-se até fazer um replantio, mas nesse caso a planta já não será a mesma. Em sentido figurado, isso acontece também com as instituições.

Ao extinguir com uma simples assinatura a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, que já contava mais de quarenta anos de serviços prestados à Região, o presidente Fernando Henrique Cardoso assegurou que ela voltaria a florescer com um novo nome, o de Agência do Desenvolvimento do Nordeste - Adene - “sem os erros do passado”. Com essa promessa, foi a Sudene sacrificada através do Art. 41 da MP nº 2145, que depois de renovações tornou-se o Art. 21 da MP nº 2156-5. Agora, ocupando um pequeno espaço do antigo edifício-sede, no bairro do Engenho do Meio, no Recife, está instalada a sua substituta legal. Mas, já não existem os escritórios regionais, os antigos departamentos, as divisões mais conhecidas do público e, sobretudo, os programas e os servidores que os prepararam ou por eles zelaram nas últimas quatro décadas do Século 20.

Recente visita da reportagem deste jornal ao mastodonte edifício que abrigava aquela instituição constatou, entre outras coisas, que o importante setor de Cartografia (com milhares de mapas nas áreas de geologia, hidrometria, climatologia e outras), está sob a guarda e, naturalmente, sob os cuidados de preservação física de um único funcionário. Por este pequeno mas não pouco significativo detalhe se pode imaginar o que terá acontecido com a maior parte do grande acervo de estudos de viabilidade econômica, de levantamentos sociais, de estudos do solo, da água, do clima, já parcialmente extraviado ou ameaçado de degradação pelos insetos e más condições ambientais.

A Adene, depois de ultrapassar inúmeros obstáculos burocráticos, viu finalmente seus dirigentes ocupando, sucessiva e discretamente, as salas para eles reservadas no velho prédio. Muito diferente do que aconteceu no mês de março de 1959, quando Juscelino Kubitschek se deslocou para o Recife e, no Teatro Santa Isabel, com a presença de todos os governadores nordestinos, anunciou a criação da proto-Sudene, o Conselho de Desenvolvimento do Nordeste (Condeno), sob a superintendência do economista Celso Furtado diretamente subordinado à Presidência da República. Agora, os novos e discretos dirigentes terão alguma dificuldade em identificar nos chamados “arquivos mortos” o que ainda poderá ser utilizado para planejar o futuro do Nordeste, ou tentar encontrar o que já desapareceu na voragem do tempo.

Os arquivos da Sudene guardavam muito material: desde os originais do relatório do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, o famoso GTDN, matriz dos sucessivos planos diretores, até a aplicação das sucessivas leis de incentivos fiscal, que culminaram com o Finor. O que é certo é o fato de haver, ainda, muita informação de valor permanente e fundamental para a elaboração de projetos de desenvolvimento tópico ou regional. Espera-se que a recém-nomeada administração da Adene leve em conta o que restou desse acervo, para que não se fique indefinidamente pequisando o já pesquisado, não se faça levantamento do que já foi levantado, economizando recursos para a aplicação direta em ações concretas para a Região.

A análise do tesouro científico e documental, pela heterogeneidade dos campos de conhecimento envolvidos, obviamente exigirá a criação de um grupo de trabalho com habilitação multidisciplinar. E certamente os membros de tal grupo não precisarão ser recrutados fora do serviço público. Apesar do êxodo de especialistas mal pagos para a iniciativa privada, muitos deles se encontram prestando serviços a outras repartições federais, e sua convocação não trará ônus adicional aos cofres públicos.


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08/19/2002


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