FHC quer dividir ônus da crise com presidenciáveis









FHC quer dividir ônus da crise com presidenciáveis
Presidente quer apoio mais incisivo dos candidatos ao acordo com FMI

O presidente Fernando Henrique Cardoso marcou encontros na segunda-feira com os quatro principais candidatos à sua sucessão para dividir com eles a responsabilidade da gestão da crise econômica e criar um fato político que acalme o mercado financeiro. As reuniões, separadas, terão uma hora de duração cada uma.
Segundo a Folha apurou, a tentativa de dividir a responsabilidade da crise com os presidenciáveis, especialmente com os três de oposição, deve-se à avaliação do governo de que o acordo de US$ 30 bilhões com o FMI não foi suficiente para assegurar uma transição de governo tranquila.

FHC teme que a crise estoure ainda em seu governo e manche sua biografia, como já ocorreu com seus colegas latino-americanos. O efeito Menem assusta o presidente, que quer deixar o governo com seu prestígio internacional inabalado.

O roteiro do encontro não prevê nenhuma assinatura que endosse formalmente o acordo com o FMI, mas FHC espera que os candidatos reiterem seu apoio ao acordo de forma mais incisiva. As conversas preliminares não garantem, porém, que o resultado será totalmente positivo para o governo. Segundo assessores, o presidente decidiu correr o risco.

A decisão de se encontrar com os presidenciáveis, hipótese que FHC chegou a descartar quando a notícia do acordo com o FMI pareceu ter acalmado o mercado, foi tomada na última sexta-feira.

Nesse dia, o dólar subiu de novo e não voltou mais a cair significativamente. Ainda na sexta, FHC teve conversas com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e com os ministros Pedro Malan (Fazenda) e Pedro Parente (Casa Civil), nas quais se decidiu articular um apoio mais forte dos oposicionistas ao acordo com o FMI.

No entanto, não há garantia de que os oposicionistas avancem além do que já disseram. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que não queria o encontro para não dividir o ônus da crise com FHC, só aceitou para não passar a imagem de intransigente.

A coordenação de sua campanha se reuniu duas vezes nesta semana para discutir o convite. Os políticos mais influentes do PT, como José Dirceu, Antônio Palocci e Aloizio Mercadante, foram favoráveis ao encontro. Mas houve algumas vozes contrárias, que argumentaram que Lula "caiu numa armadilha" de FHC e será "usado" para dar aval às medidas impopulares que o presidente tomará até o fim do mandato.

Por isso, Lula queria ser o último a encontrar FHC e, se possível, ser recebido em dia diferente. O petista desejava ver a repercussão dos encontros e mapear melhor as intenções do presidente. Disse que não podia comparecer amanhã, primeira data cogitada pelo Planalto. Mas FHC mudou a agenda para segunda, o dia em que Lula disse estar livre.

Ciro Gomes (PPS), que deu um apoio mais crítico que o do PT, também já disse que vai ao encontro, mas que não deixará de apontar suas discordâncias. Anthony Garotinho (PSB) também deverá adotar tom crítico. Apenas José Serra (PSDB), que não desejava que FHC tirasse fotos com Lula e Ciro, reiterará o já conhecido apoio enfático ao acordo com o FMI, apesar de ter discordado da política econômica por anos.

Os horários das reuniões foram marcados para evitar um encontro de Ciro e Serra no Planalto. Os dois têm travado um tiroteio verbal. A ordem dos encontros será: Ciro (12h), Lula (13h), Garotinho (14h) e Serra (15h). FHC estará acompanhado de Malan, Parente e Fraga. Cada candidato deverá levar dois assessores econômicos.

Pacto
Com o encontro, FHC deseja uma espécie de pacto de transição, sob o argumento de que interessa a todos evitar uma crise de proporções argentinas. No país vizinho, a economia derreteu e gerou crise institucional e social.

De quebra, o encontro é conveniente para FHC porque pode transmitir à opinião pública a idéia de que a crise não tem apenas motivação econômica, mas principalmente política, já que estaria sendo agravada pela liderança, nas pesquisas, de dois candidatos de oposição: Lula e Ciro.

A maior preocupação do presidente é a dificuldade de acesso a crédito externo para financiar empresas e exportações. As linhas dos bancos estrangeiros continuam fechadas, apesar do acordo com o FMI. O Banco Central e o BNDES buscam alternativas, mas a situação é crítica.


Contrário ao convite, Serra aceita após falar com FHC
Para presidenciável, reunião prejudicaria sua recuperação

O presidente Fernando Henrique Cardoso conversou no último domingo com o tucano José Serra sobre o convite que pretendia fazer aos quatro principais candidatos à Presidência para discutir o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

O tucano era contrário aos encontros, por entender que passaria a idéia de que nem FHC acredita mais na sua recuperação. Além disso, ele foi o primeiro e o único a defender o acordo incondicionalmente. Rendendo-se à decisão do presidente, resolveu usar a iniciativa para posar de estadista cujo interesse do país estaria acima da própria candidatura.

"Não beneficia [a reunião com os presidenciáveis] nem o candidato A nem o candidato B", dizia ontem Serra. "Beneficia o Brasil."

A equipe de Serra argumenta também que o próprio FHC tomou decisões duras no ano de sua reeleição, em 1998, dizendo que elas eram necessárias ao país. Serra vai tentar faturar o acordo e o encontro de FHC com antigos desafetos nos seus programas no horário eleitoral gratuito.

O problema, para Serra, é que o acordo não acalmou o mercado, como se esperava. Nesse contexto, o Planalto e os estrategistas da campanha passaram a avaliar que a conversa de FHC com os presidenciáveis pode ser útil ao tucano, desde que contribua efetivamente para acabar com a instabilidade do mercado financeiro.
Para os estrategistas de Serra, será bom para o candidato governista que a eleição ocorra num clima de estabilidade econômica. Isso permitiria ao eleitor optar por um voto mais racional e menos emocional.

Crise
Um quadro de crise aguda, na avaliação da campanha tucana, só beneficiaria Ciro Gomes, o candidato do PPS: o tom de seu discurso estaria passando à população a imagem do candidato bem preparado, que fala bem e vai fazer o que tem de ser feito.

"A decisão de FHC está correta. A prioridade é o país. Se é útil ou não para a campanha, isso é secundário", disse à tarde o líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA).

Tanto a equipe de Serra quanto Jutahy Magalhães procuraram ontem caracterizar a iniciativa de FHC como "um gesto para fora", uma sinalização para os investidores internacionais de que a transição de poder no país ocorrerá sem traumas ou rupturas.

Esta não é a primeira vez que Serra e FHC assumem posições divergentes ao longo da campanha do tucano. Isso já havia ocorrido em relação à taxa de juros e ao aumento do preço do gás de cozinha, para citar os exemplos mais recentes.


Economista de Ciro propõe uma coalizão com PT
O economista Maurício Dias David, um dos integrantes da equipe econômica que elabora o programa do candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Ciro Gomes, disse ontem, em debate no Rio, que vem sendo discutida com a direção política da candidatura a formalização de uma proposta de coalizão com o PT.
O objetivo da proposta é garantir a governabilidade de um futuro governo de oposição, segundo David.
"Essa é uma visão minha, mas que já foi adiantada em conversas que temos tido internamente. Entre as equipes técnicas, temos uma ótima relação com o PT. Partimos da idéia que o problema brasileiro é tão grave que é impossível uma solução sem uma certa unidade das forças que têm motivação histórica para tirar o Brasil desse atoleiro", disse, em debate com assessores econômicos de José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Conselho Regional de Economia do Rio.

Apesar de ter feito a proposta publicamente ao representante do PT no debate, Antônio Prado, Dias disse reconhecer que a proposta enfrenta resistências no comando das candidaturas.

"Temos conversado nessa direção, mas sabemos que há dificuldades. Há radicais dos dois lados. É uma construção utópica. Se começarmos a trabalhar as utopias agora, será mais fácil concretizar isso", afirmou.
Ele disse também que a equipe técnica de Ciro "gostaria muito de ter Lula ou José Dirceu como ministro", caso Ciro saia vitorioso.

Antônio Prado não respondeu à proposta de Dias, alegando que o tema precisa ser debatido no partido.


Ciro vai a FHC, mas diz que candidato não faz acordo
Presidenciável volta a falar em compromisso com estabilidade

Embora rejeite ser responsabilizado pela atual crise cambial, o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, aceitou ontem convite feito pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para uma conversa sobre o assunto na próxima segunda-feira, em Brasília.

Ciro recebeu ontem, no início da noite, um telefonema do ministro Pedro Parente (Casa Civil), oficializando o convite.

Aproveitando o momento para uma crítica direta a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entretanto, o presidenciável afirmou, durante palestra na ADVB (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil), em São Paulo, que não aceitará ser "domesticado" pelo mercado com o objetivo de solucionar a atual instabilidade cambial do país.

"O que posso oferecer à sociedade brasileira e ao segmento que trabalha no mercado é minha experiência pessoal. Minha retórica é que tenho compromisso de vida com a responsabilidade fiscal, com a estabilidade da moeda nenhum nível de inflação é tolerável, e com o Estado democrático de Direito. O resto é tentativa de domesticação e comigo não funciona. Vão domesticar o Lula, que já está bem entreguezinho. A mim não vão domesticar", disse ele, sob aplausos.

O presidenciável do PPS tem deixado claro que não cogita dividir o ônus da atual crise com o governo. "Candidato não faz acordo", tem sido sua frase para explicar sua posição sobre o assunto.

Dizendo desconhecer os termos do acordo com o FMI, Ciro tem evitado assumir compromissos, já que isso, em sua avaliação, trairia a confiança dos eleitores que nele têm declarado voto na expectativa de mudanças na economia.

O ex-governador voltou a afirmar na palestra que, dada a situação de "deploração" em que foram deixadas as contas brasileiras, não havia outra "alternativa possível" a não ser o FMI.

Em seu discurso, prometeu manter o superávit de 3,75%, mas preferiu não se pronunciar sobre a possibilidade de utilização dos US$ 24 bilhões do total de US$ 30 bilhões do empréstimo que estarão à disposição do próximo governo. "Isso não é possível dizer hoje pelo simples fato de que você não sabe a situação que vai estar hoje ainda, pela volatilidade."

Na avaliação do pepessista, a variação na cotação do dólar está sendo motivada pela especulação feita com o vencimento, na próxima quinta-feira, de US$ 2,5 bilhões em títulos cambias. "Estão especulando para que o real se desvalorize. Querem inflar o câmbio para ganhar dinheiro", disse, sem explicar a quem se referia.
Apesar de ter reafirmado seus compromissos com as leis e os direitos adquiridos, o candidato, questionado sobre o tema, ainda declarou que as aplicações financeiras e a poupança serão "intocáveis" caso seja eleito.
Ciro também se recusou a comentar os boatos de que manteria no cargo o atual presidente do Banco Central, Armínio Fraga. "Isso é fofoca de fofoqueiros da imprensa. Não comento."

A atitude difere daquela demonstrada pelo presidenciável em abril, quando o ex-governador chegou a elogiar as qualidades técnicas de Armínio, mas declarou que, em seu governo, ele teria de buscar novo emprego.

Sondagem
Segundo a Folha apurou, um primeiro contato de interlocutores de FHC com a equipe de Ciro já havia ocorrido na última sexta, quando Parente procurou o deputado Walfrido Mares Guia (PTB), um dos coordenadores da campanha do presidenciável.

No telefonema, o ministro quis saber se Ciro concordaria com uma reunião com o presidente caso fosse convidado. Depois de conversar com o candidato, Mares Guia transmitiu ao ministro uma resposta afirmativa.
Além de Ciro, também Lula, Anthony Garotinho (PSB) e José Serra (PSDB) serão recebidos por FHC. Deverão discutir o acordo com o FMI e a alta do dólar.

De acordo com a ADVB, 1.358 pessoas participaram do evento, um recorde, segundo a entidade, entre as últimas reuniões promovidas com políticos. Apesar de Garotinho e de Serra já terem participado de encontros do gênero, a melhor marca de público pertencia ao governador Geraldo Alckmin, que disputa a reeleição.

Lula e DNA
Ao ser questionado sobre a declaração de Ciro, Lula, em campanha ontem em Curitiba, disse que o adversário "é jabuticaba do mesmo pé [do governo]". "Tem o mesmo DNA. Pode ter uma cor diferente, mas o DNA é igual."


PT utiliza carros oficiais para participar de ato pró-Genoino
Promotoria deve entrar hoje com representação contra o partido

Pelo menos 16 carros do poder público foram utilizados ontem para levar assessores e correligionários políticos ao lançamento do programa de governo de José Genoino, candidato pelo PT ao governo de São Paulo.

A partir das 15h, quando estava previsto o início do evento, até as 17h, um promotor, que pediu para não ser identificado, montou guarda à paisana em frente ao Club Homs e anotou as placas de todos os veículos públicos que chegaram para o evento petista.

Segundo ele, a Promotoria foi acionada por meio de um telefonema anônimo. Pesou o fato, disse ele, de o Club Homs estar localizado em frente a um dos prédios do Tribunal de Justiça de São Paulo, na avenida Paulista, o que transformou o uso irregular dos carros em uma "afronta" ao Poder Judiciário.

A reportagem registrou a entrada de dois carros de administrações regionais, um da Vila Prudente e outro do Ipiranga.

Veículos de representação, com chapa preta, também foram utilizados mas, segundo a Promotoria, isso não constitui ilegalidade pois os mesmos estão a serviço da autoridade responsável.

É o caso, por exemplo, de um carro com o logotipo da Câmara Municipal de Santo André, sob responsabilidade do vereador Raulino Lima (PT), usado para levar duas assessoras. "Estamos a trabalho", disse uma das mulheres, sem se identificar.

O promotor afirmou que irá representar hoje ao Tribunal Eleitoral contra os responsáveis pelos carros. A prática burla o artigo 73, da lei 9.504, de 30 de setembro de 1997, que diz ser proibido fazer ou permitir o uso promocional de bens móveis ou imóveis pertencentes à administração pública em favor de candidato, partido político ou coligação.

Mas antes, segundo a Justiça Eleitoral, é preciso constatar se os carros realmente foram utilizados com finalidade eleitoral, de maneira irregular, ou se foram usados para transportar alguma autoridade. Se confirmado o uso irregular, as punições previstas pela legislação eleitoral vão desde uma multa de cerca de R$ 110 mil à cassação da candidatura.

Campanha
O evento de Genoino foi preparado pela equipe de Duda Mendonça, marqueteiro do PT, e as imagens deverão ser utilizadas para o programa do PT.

"São Paulo não pode acabar na irresponsabilidade do malufismo", afirmou Genoino, durante seu discurso para cerca de 600 pessoas, que se espremiam entre os ambulantes de água e de amendoim e os vendedores de camisetas e de broches de Che Guevara.

Animado com a presença de M arta Suplicy, prefeita de São Paulo, de José Dirceu, presidente do PT, e do deputado federal Aloizio Mercadante, Genoino afirmou que as pesquisas de intenção de voto não representam sua popularidade nas ruas.

"Sinto nas ruas que as pessoas apóiam minha candidatura e isso me deixa contente. Estou muito bem avaliado", afirmou o candidato petista, ao lado de seu vice, Luiz Marinho.


Maluf admite ter sido condenado e ameaça deixar preso sem colchão
Paulo Maluf (PPB), candidato ao governo paulista, admitiu ontem pela primeira vez o que ele e sua assessoria negavam: sim, o pepebista foi condenado judicialmente e não tem direito a recurso.

A sentença foi dada em um processo que trata do uso de verbas da Prefeitura de São Paulo para pagar anúncio de interesse pessoal na gestão Maluf (93-96).

A condenação se deu por improbidade. Na época, Maluf e sua assessoria negaram que ele tinha sido condenado. Ontem, em entrevista ao "SPTV", da TV Globo, ele ainda repetiu uma frase que vinha usando em sua campanha: "Em 35 anos de vida pública, não tenho nenhuma condenação".

Minutos depois, questionado novamente por um dos apresentadores do programa, ele admitiu: "Não tem nenhuma condenação criminal. É uma condenação cível, e estamos discutindo se devo ou não pagar o anúncio que fiz defendendo a prefeitura".

O anúncio mencionado por Maluf envolve um gasto de R$ 68.726,07 feito pela prefeitura em 1994 para custear publicidade na primeira página do jornal "O Estado de S. Paulo" em que José Altino Machado, então secretário de Negócios Jurídicos, defendia Maluf de críticas de um empresário.

Dias antes, também em anúncio, Georges Gazale reclamara de uma demolição, ordenada pela prefeitura, de parte de sua floricultura, que avançava a calçada.

O caso foi parar no Ministério Público, que propôs uma ação civil pública, e chegou ao Superior Tribunal de Justiça, que manteve a condenação de Maluf.

Ontem, Maluf disse ter esperança de conseguir anular a condenação por meio de ação rescisória.

Ao falar de segurança, radicalizou: "Pôs fogo no colchão? O bandido vai dormir no chão."

À tarde, sua assessoria disse que o ex-prefeito pode ter se confundido, pois só considerará que foi condenado quando tiver de pagar o valor reivindicado. No lançamento de seu programa de governo para a área de esportes, à noite, Maluf disse à platéia que não tinha condenação judicial.

Também à noite, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo cassou 4 dos 40 minutos a que o PPB tem direito em 2003 por usar os programas partidários para fazer propaganda política.


Alckmin costura apoio de prefeitos de outros partidos, excluindo Serra
A coordenação da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à reeleição montou um apoio suprapartidário à candidatura do governador em todo o Estado, que não incluiu o nome de José Serra, candidato tucano à Presidência.

A campanha de Alckmin anuncia amanhã o apoio de prefeitos paulistas que vão além da coligação PSDB-PFL no Estado. De acordo com o coordenador da campanha, João Carlos Meirelles, são cerca de 400 prefeitos de todo Estado, entre eles filiados ao PPS, ao PTB, ao PDT e ao PSB.

O ato acontece no clube Tietê, na zona norte de São Paulo. No evento não está prevista nenhuma manifestação de apoio a Serra.

O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB) ao governo do Estado é Antônio Cabrera. Segundo pesquisa Ibope feita entre 7 e 10 de agosto, ele não chega a 1% das intenções de voto.
O apoio de prefeitos da Frente Trabalhista à candidatura Alckmin abre espaço para um entendimento entre o presidenciável Ciro Gomes, da Frente, e o governador em um eventual segundo turno sem a participação de Serra.

Como não há compromisso por parte dos prefeitos de outros partidos de apoiar Serra, o nome de Alckmin estará atrelado ao de outros presidenciáveis no Estado.

"O compromisso é apenas com a candidatura do governador. Para presidente, cada um vota em quem quiser", afirmou o prefeito de Jaú, João Sanzovo (PDT), que coordena um grupo de 16 prefeituras da região central do Estado.

De acordo com o prefeito, deste grupo, apenas cinco prefeituras são do PSDB. O resto se dividiria entre PPS, PDT, PMDB e PTB.

Apesar de setores do PSDB no Estado terem demonstrado temor diante do desempenho de Serra, para o presidente estadual do partido, Edson Aparecido, 80% dos prefeitos declararão também apoio ao presidenciável tucano.

Serra tem focado sua campanha em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, e ultimamente tem aparecido ao lado de Alckmin, que está isolado em segundo lugar na mesma pesquisa Ibope.

A coordenação de Alckmin avalia que a campanha pode crescer sem estar atrelada ao desempenho de Serra -em terceiro lugar na última pesquisa Datafolha.


Artigos

Déficit, Brasil e Noruega
Clóvis Rossi

SÃO PAULO - Roberto Egydio Setúbal, diretor-presidente do banco Itaú, manda tabela para provar que há, sim, países que fazem esforço fiscal superior ao do Brasil, ao contrário do afirmado sábado neste espaço.
São oito países (Noruega, Finlândia, Grécia, Canadá, Bélgica, Suécia, Coréia e Itália).

Para Setúbal, o dado demonstra que "não há nada de extraordinário" nos 3,75% do PIB, que representam o superávit fiscal do Brasil (receitas do governo menos despesas, fora pagamento de juros).

Acha até que "o esforço fiscal deveria ser maior dadas as condições da nossa economia".

Feita a correção e registrada a opinião, vale dizer que a tabela enviada pelo presidente do Itaú mostra que, no conjunto dos 15 países da União Européia, o superávit fiscal é bem inferior ao do Brasil (2,5%).

No caso da OCDE, os 29 países supostamente mais industrializados do planeta, o "lucro" do governo (1,7% do PIB) não chega à metade do que é obtido no Brasil (os dados, em todos os casos, referem-se a 2001).
Trata-se de países em que as carências são bem menores do que as do Brasil, o que torna mais indolor o "lucro" do governo.

Dá perfeitamente para entender o fato de que décadas de desperdício do dinheiro público provoquem urticária quando se fala em gastos do governo. Mas daí a se apertar demais o torniquete vai uma distância que o bom senso e até a boa governança mandariam não percorrer.

Uma coisa é a Noruega ter o monumental superávit de 13,2% de seu PIB. Trata-se do país que ocupa o primeiro lugar no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), elaborado pelas Nações Unidas para medir a qualidade de vida no planeta.

Outra coisa, completamente diferente (e alucinada), é pretender que o Brasil, 73º colocado no mesmo ranking, mantenha superávits fiscais tão elevados como o atual durante anos e anos como quer o FMI.


Colunistas

PAINEL

Pacto de Moncloa
FHC dirá aos presidenciáveis, na segunda, que a economia mundial poderá viver em 2003 uma crise de graves proporções. Para o Brasil enfrentá-la, seriam necessários uma grande coalizão política e um compromisso de todos com a estabilidade.

Trocar de calçada
Conformado com a decisão de FHC de se reunir com os presidenciáveis, Serra fez uma exigência: não aceitava cruzar com Ciro no Planalto. Foi atendido. Ciro será o primeiro a se reunir com FHC, e Serra, o último.

Um comício tucano
Serra tomou uma bronca anteontem de uma estudante em evento no clube Pinheiros, em SP, da campanha do tucano. Luisa Tess disse ao presidenciável que não achava certo a separação, por grades, no ato, entre os eleitores VIPs e os não-VIPs.

Tela quente
O debate entre os candidatos ao governo de MT no domingo, na TV Bandeirantes, originou um escândalo no governo Dante de Oliveira (PSDB). Prov ocado por Antero Paes (PSDB), Blairo Maggi (PPS) disse que seu pai, André, teve de pagar propina a gente graúda no governo.

Meio a meio
Blairo Maggi movimenta por ano cerca de US$ 500 mi e é considerado o maior sojicultor individual do mundo. Seu pai morreu em 2001. Teria pago a uma autoridade do MT comissão de 50% do valor total de um crédito que reivindicava. O Ministério Público já apura a denúncia.

Brasil real
Depois de ter a eletricidade cortada, a Universidade Federal do Rio de Janeiro negocia com a Telemar e com a Embratel para não ficar sem telefone.

Ano eleitoral
Foi ACM quem articulou resposta do Fórum das Entidades Negras da Bahia aos ataques sofridos por Ciro após o presidenciável ter discutido com um estudante negro. A entidade divulgou manifesto na qual critica o PT por explorar o caso.

Contrapropaganda
O Fórum das Entidades Negras reúne 120 grupos da Bahia, entre elas o Olodum e o Ilê Aiyê. A entidade também convidou Ciro para um debate sobre a questão racial, em setembro.

Voto futuro
José Genoino vive (PT) um dilema em sua campanha. Apesar de estar mal nas pesquisas para o governo paulista, tem de ter cautela ao bater em Geraldo Alckmin (PSDB). Lula, se disputar o segundo turno contra Ciro, vai querer o apoio do tucano.

Problema presente
Alckmin, num eventual segundo turno contra Maluf, tem tudo para dar um nó em Lula, caso Serra não passe para a fase final da eleição presidencial. Se o governador fechar com Ciro, Lula ficará sem palanque em SP. A não ser que faça uma dobradinha com Maluf, situação impensável no PT de meses atrás.

Canal de diálogo
Na platéia do evento "Candidatos na Folha", Eduardo Suplicy foi o único político da comitiva de Lula a enviar uma pergunta ao petista, que acabou não sendo lida. O senador queria saber se o presidenciável tinha a intenção de implantar o programa de renda mínima.

Aliança na marra
A senadora petista Heloísa Helena acionou o TRE de Alagoas. Descobriu que sua foto foi usada, sem a sua autorização, em panfletos do governador Ronaldo Lessa (PSB), candidato à reeleição no Estado.

Visita à Folha
Celso Giglio, prefeito de Osasco e presidente da Associação Paulista de Municípios, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Rubens Figueiredo, diretor do Cepac Pesquisa & Comunicação.

TIROTEIO

De Frei Betto, escritor e amigo de Lula, sobre FHC querer conversar com os presidenciáveis sobre a crise financeira do país:
- O presidente quer agora dividir o ônus sem jamais ter partilhado os benefícios. Se os candidatos aceitarem o convite, estarão assinando um cheque em branco e comprometendo o futuro governo.

CONTRAPONTO

Saída lógica
Com o bom desempenho nas pesquisas do candidato da Frente Trabalhista à Presidência, Ciro Gomes, Leonel Brizola tem feito uma brincadeira com assessores e políticos do partido mais próximos. Ao tocar no assunto, o ex-governador do Rio pergunta para o interlocutor, entre sorrisos:
- Eu sei que nós vamos ganhar a Presidência. O problema vem depois. O que é que nós vamos fazer depois?
Na semana passada, Brizola fez a pergunta ao deputado federal Miro Teixeira (PDT):
- O que é que nós vamos fazer depois, Miro?
O deputado respondeu:
- É simples. Um dia depois da posse, a gente vai para a oposição.
O ex-governador coçou a cabeça, refletiu e concluiu, em tom de brincadeira:
- É, pode ser. É da nossa natureza mesmo.


Editorial

CANDIDATO EVASIVO

Este jornal inaugurou na segunda-feira a série de sabatinas que está fazendo com os principais candidatos à Presidência. O postulante do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, foi o primeiro a ser questionado por jornalistas da Folha e representantes da platéia, composta de leitores. Pelo modo evasivo como respondeu às perguntas, Lula deixou no ar uma dupla mensagem: a migração de sua candidatura rumo ao centro vai de passo com uma sensível perda de nitidez de suas intenções políticas.

Marcou a retórica do líder nas pesquisas a tentativa de despolitizar o debate. Como tática para driblar conflitos, foram bastante utilizadas analogias com sua biografia e alegorias do senso comum.

Outro elemento marcante da fala despolitizadora do petista foi o de evitar esclarecer quais setores seriam os prejudicados por um eventual governo Lula. A questão é fundamental. O Estado brasileiro vive uma de suas mais graves crises orçamentárias. Para fazer jus ao dinheiro do FMI no ano que vem, o novo presidente terá de produzir uma economia de recursos públicos (receitas menos despesas, antes dos juros) de 3,75% do PIB -um nível alto para padrões internacionais.

Lula se recusou a dizer, por exemplo, se os bancos iriam contribuir mais para o esforço fiscal. Saiu-se com frases diversionistas como "Em vez de falar em quem vai perder, vamos falar em quem tem de ganhar".
A guinada centrista do candidato foi tão rápida que não falta quem coloque em questão a sua sinceridade. Em setembro de 2000, por exemplo, num plebiscito sobre a dívida externa promovido pela CNBB, o partido defendia o rompimento com o FMI; hoje Lula se diz disposto a acatar os termos do Fundo. A palavra "socialismo", que dava a tônica do programa do PT em 1989 e ainda surgia nas propostas do partido em 1994 e em 1998, foi banida da versão 2002.

Agora, o candidato petista, vislumbrando um confronto final contra Ciro Gomes, tenta exibir-se para os setores moderados como a alternativa mais confiável. Desse modo, adota, apressadamente, a "realpolitik" que marcou a trajetória do presidente Fernando Henrique Cardoso, a qual Lula e seu partido tanto criticaram.


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08/14/2002


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