FHC tenta abafar crise
FHC tenta abafar crise
BRASÍLIA – Preocupado com as conseqüências políticas da denúncia de que houve pedido de propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), o presidente Fernando Henrique Cardoso assumiu o comando de uma operação para tentar impedir que a crise se amplie. A ofensiva foi iniciada na noite de ontem, durante um jantar no Palácio da Alvorada.
Na edição desta semana, a revista Veja traz denúncias contra o ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira – indicado pelo presidenciável tucano José Serra –, que teria pedido propina de R$ 15 milhões para organizar o consórcio vencedor do leilão da Vale. Ricardo Sérgio arrecadou recursos para campanhas de Serra.
Entre os convidados da reunião havia dois dirigentes do PFL: os senadores Jorge Bornhausen (SC), presidente nacional do partido, e José Jorge (PE), vice-presidente. Completariam a mesa os deputados tucanos José Aníbal (SP), presidente nacional do PSDB e pré-candidato a senador, e Pimenta da Veiga (MG), um dos coordenadores da campanha de José Serra, além do próprio candidato.
Segundo interlocutores, Fernando Henrique pretendia, com o encontro, fazer um apelo por uma trégua na guerra entre as principais legendas da coligação que o elegeu em 94 e o reelegeu em 98. Com isso, além de fazer nova tentativa de aliança eleitoral, espera abrir o caminho para a aprovação de projetos importantes no Congresso, como a emenda constitucional que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
PESSIMISMO – Nas conversas que manteve ontem com representantes de várias siglas, Fernando Henrique não escondeu o pessimismo com os rumos da pré-campanha eleitoral. Para vencer a disputa, afirmou a um desses interlocutores, “seria necessário que as agremiações aliadas estivessem rachando de felicidade, costurando um programa de Governo comum, demonstrando confiança na vitória”. No momento, ocorre exatamente o contrário, segundo o presidente: os partidos exibem acentuada desunião.
FHC lamentou, em especial, a divisão interna do PSDB, com a troca de acusações entre Aníbal e o ministro da Educação, Paulo Renato Souza – que confirma ter ouvido em 1998 do empresário Benjamin Steinbruch, líder do grupo vencedor do leilão da Vale, queixas sobre um pedido de propina feito por Ricardo Sérgio, então diretor do BB por indicação de Serra.
Nas páginas dos jornais, Aníbal chamou Paulo Renato de leviano e o ministro perguntou se o presidente do PSDB preferia que ele mentisse. FHC determinou que os atritos tucanos deixassem de ser tratados em público.
Pefelistas insistem na troca do candidato
BRASÍLIA – Com a posição reforçada pelas denúncias de suposto pedido de propina feito pelo ex-tesoureiro de campanha do senador José Serra (PSDB-SP), a cúpula do PFL reafirmou ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso e a dirigentes do PSDB a disposição de apoiar outro tucano na disputa presidencial.
Antes do encontro com FHC, no Palácio da Alvorada, o presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), defendeu convergência em torno de uma candidatura viável, mas repetiu a avaliação de que Serra não tem viabilidade eleitoral.
Num tom conciliador em relação ao Governo e até ao PSDB, Bornhausen descartou um eventual apoio à criação de uma CPI no Congresso. “Ao PFL, como partido independente, não cumpre agravar a crise política. Cabe mostrar ao presidente que o quadro atual não levará o candidato do Governo ao sucesso”, afirmou.
Ele disse que a divisão dos partidos aliados poderá levar à vitória do pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no primeiro turno. “Nosso sentimento não é de revanche. Nosso sentimento é de procurar alguém que possa ganhar a eleição.”
Antes de seguir para o encontro com FHC, o senador José Jorge (PFL-PE) afirmou que as possibilidades de aliança com o PSDB na sucessão presidencial já estavam enterradas desde a pesquisa feita entre seus principais líderes e que, portanto, as recentes denúncias de cobrança de propina na privatização da Companhia Vale do Rio Doce não terão influência nas questões eleitorais do partido.
Na pesquisa, os parlamentares e líderes deixaram bem claro que o partido optou por não apoiar ninguém (para a Presidência da República) e trabalhar para fazer a maior bancada possível no Congresso. “Os parlamentares também excluíram a aliança mesmo se o PSDB mudasse o candidato”, disse José Jorge.
José Serra chamado às pressas a Brasília
BRASÍLIA – O pré-candidato tucano à sucessão presidencial, José Serra, cancelou uma entrevista que havia agendado em Maceió e embarcou às pressas para Brasília, ontem à tarde, a fim de participar do encontro promovido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Com a elevação da temperatura política, o presidente teme que a evidente rachadura no PSDB, provocada pelas denúncias de propina, além de prejudicar a candidatura de Serra retarde ainda mais o andamento das votações no Congresso.
A seu ver, a demora na aprovação da CPMF, por exemplo, prejudica a arrecadação federal e cria um clima de incerteza capaz de comprometer a governabilidade. “Essa situação aumenta no exterior, em particular entre os grandes investidores, a percepção de que o Governo enfrenta dificuldades para manter a economia sob controle.”
Na conversa com um líder partidário, o presidente disse que as questões internas exibidas pelas siglas que formam – ou, no caso do PFL, formaram – a base governista criam dificuldades para a aprovação de propostas de interesse do Governo no Congresso. O problema só não é maior, segundo o presidente, porque restam pouco mais de dois meses de funcionamento pleno do Congresso, uma vez que, por causa das eleições, não haverá grande atividade parlamentar durante o segundo semestre.
Na opinião do presidente, o momento é grave porque estão em crise todos os partidos da base governista – incluindo o PFL, que foi Governo até recentemente.
Enquanto o PMDB não consegue chegar ao nome daquele que deverá ser o vice na chapa encabeçada por Serra, o PSDB deixa chegar ao público seus desentendimentos internos. E o PFL, depois do naufrágio da candidatura de Roseana Sarney, não sabe que caminho tomar.
Tucano considera denúncia “trololó eleitoral”
ARAPIRACA (AL) – O pré-candidato tucano a presidente da República, senador José Serra (SP), considerou a cobrança de propina durante o processo de privatização da Vale do Rio Doce como grave. Porém, disse achar que a denúncia publicada na revista Veja é mais uma “casca de banana” armada por partidos de oposição. Ele negou qualquer ligação com o economista Ricardo Sérgio, mas admitiu ter recebido ajuda do ex-diretor do BB para sua campanha ao Senado.
“Ele não está ligado a mim coisa nenhuma”, disse Serra, furioso, ao ser questionado sobre sua ligação com Ricardo Sérgio. “Ele foi uma das pessoas que ajudou na campanha de 94, muitos anos antes de tudo isso”, admitiu Serra, referindo-se ao ex-diretor do Banco do Brasil.
O pré-candidato se mostrou favorável a uma investigação, caso haja provas de irregularidade durante a venda da Vale do Rio Doce: “Se houver uma denúncia com elementos concretos sobre a cobrança de propina o caso deve ser investigado, sim. Mas, se for uma casca de banana, uma denúncia vazia, não há o que investigar. Não devemos ficar perdendo tempo com essas coisas da oposição”, disse Serra, quando participava da solenidade de entrega de bolsa alimentação em Arapiraca, a 150 quilômetros de Maceió.
A denúncia de irregularidades e de pagamento de propinas durante a privatização da companhia foi considerada por Serra como uma estr atégia da oposição para desestabilizar a sua candidatura: “Isto tudo é um trololó de campanha eleitoral”, desabafou.
Serra disse que estava enfrentando dificuldades financeiras para tocar a sua campanha: “O partido tem dificuldades financeiras, tanto que está fazendo campanhas de adesões, promovendo jantares para levantar fundos de campanha. Vejo isso tudo como ataques dos adversários. Quem não tem o que dizer, inventa”, alfinetou o candidato, que voltou a fazer campanha eleitoral no interior alagoano ao lado do líder do PMDB no Senado, senador Renan Calheiros (AL), do presidente do PSDB alagoano, senador Teotônio Vilela Filho (AL), de prefeitos e parlamentares tucanos e do PMDB.
Renan Calheiros preferiu evitar comentar as denúncias que envolvem ex- assessores de Serra com supostas cobranças de propinas durante a venda da Vale do Rio Doce. O senador considerou a aliança nacional com o PSDB como indefinida.
Patrimônio de Ricardo Sérgio será investigado
O Ministério Público Federal vai atuar em várias frentes para investigar possíveis irregularidades na venda da Vale do Rio Doce. A proposta da criação de uma CPI no Congresso não deve prosperar
BRASÍLIA – Uma CPI para investigar as denúncias de corrupção no processo de privatização do Governo não deve prosperar, já que até mesmo a oposição teme um desfecho perigoso às vésperas da eleição. As investigações do caso deverão ser aprofundadas pelo Ministério Público Federal, em várias frentes. O procurador da República, Luiz Francisco de Souza, vai requisitar hoje à Receita Federal a ampliação da devassa que está sendo realizada no patrimônio do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira. O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, requisitou informações e documentação utilizados pela revista Veja, para apurar a participação de ministros no caso.
Luis Francisco quer que a auditoria inclua também as empresas de Ricardo Sérgio e o patrimônio do seu sócio, o engenheiro Ronaldo de Souza.
Foi o crescimento do patrimônio de Ricardo Sérgio, incompatível com seus rendimentos de funcionário público, que levou a Receita a abrir investigações. Já existe um pedido de quebra de sigilo bancário nas contas de Ricardo Sérgio. Agora, Luiz Francisco vai pedir também as quebras dos sigilos bancários das empresas e dos sócios, além da quebra de sigilo fiscal de Ricardo Sérgio.
Ricardo Sérgio é alvo de investigação por parte do Ministério Público desde 97, em função da sua atuação nas privatizações das telecomunicações e da Companhia Vale do Rio Doce.
Nos últimos dias, o Ministério Público recebeu – e está analisando – de fontes ligadas ao Banco Opportunitty, um dossiê com o título Os Porões da Privatização. No documento, de 47 páginas, os autores do texto acusam dirigentes do Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, de difundir informações sigilosas para prejudicar o Opportunitty e beneficiar a Telefônica da Espanha no leilão de privatização na Companhia Rio Grandense de Telecomunicações.
Corregedoria da União vai investigar a venda da Vale
BRASÍLIA – A corregedora-geral da União, Anadyr de Mendonça Rodrigues, abriu ontem um processo administrativo para investigar se houve lesão ou ameaça ao patrimônio público durante o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), em 1997. A decisão de Anadyr decorreu das denúncias de que o ex-diretor do Banco do Brasil (BB) Ricardo Sérgio de Oliveira teria cobrado propina de R$ 15 milhões do empresário Benjamin Steinbruch durante o processo de venda da ex-estatal.
“Vamos investigar todos os fatos, sem exceção, e, se for necessário, vamos às últimas conseqüências”, avisou ela, esquivando-se, no entanto, de dizer se poderia ou não ouvir o presidente Fernando Henrique, o ministro da Educação, Paulo Renato, e o ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, durante a ação.
“Ainda é cedo para dizer que autoridades serão investigadas. No momento, é mera especulação”, declarou Anadyr, que ressaltou que averigua “fatos e não pessoas”. Indagada sobre a possibilidade de a Corregedoria investigar Fernando Henrique, ela respondeu: “Não tenho bola de cristal e, à Corregedoria, cabe falar sobre os fatos de hoje e não do futuro, que são meras especulações”. Todo o processo administrativo, de acordo com Anadyr, “será conduzido em perfeita harmonia com o Ministério Público (MP)”. Ontem, a chefe da Corregedoria enviou um aviso ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, pedindo que ele lhe remeta evidências probatórias sobre os fatos denunciados, que possam se revelar úteis à responsabilização administrativa ou civil, no âmbito do Poder Executivo.
Mendonça de Barros defende presidente e critica Steinbruch
BRASÍLIA – O ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros confirmou ontem que levou ao presidente Fernando Henrique a história de que havia ocorrido uma tentativa de suborno no processo de privatização da Vale do Rio do Doce. Ao mesmo tempo, porém, defendeu a atitude de FHC, que não deu atenção ao episódio.
Ele não poupou, porém, o empresário Benjamin Steinbruch, do Grupo Vicunha, na época presidente da conselho de administração da Vale. Mendonça disse não entender porque ele teria demorado dois anos para falar sobre o pedido de propina, feito pelo então diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira.
O ex-ministro sinalizou que Steinbruch falou sobre o assunto em meio a uma conversa sobre uma crise entre os administradores da Vale, com o objetivo de obter favores pessoais. “Na conversa com o presidente, desqualifiquei o que ouvi de Benjamin Steinbruch, porque ele só contou a história do pedido da comissão dois anos depois e numa conjuntura em que ele precisava do Governo para enfrentar as divergências com seus sócios na Vale”, disse.
Em 98, quando procurou Mendonça e falou sobre a tentativa de suborno, Steinbruch enfrentava divergências sérias com seus sócios na Vale, entre eles o fundo de pensão do BB (Previ). “Ele queria que convencêssemos o Previ a dar apoio a ele contra os demais sócios. Isto é fria, presidente”, teria dito Mendonça de Barros a FHC. Ainda de acordo com o ex-ministro, o presidente concordou com ele, respondendo: “Se teve um ministro que preparou e acompanhou de perto a privatização da Vale foi você. Portanto, ninguém melhor do que você para emitir opinião a respeito”.
Atuação de Costa Leite no SNI causa surpresa a Garotinho
SALVADOR – O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, declarou ontem, em Salvador, que foi apanhado de surpresa com a notícia de que seu vice, o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Costa Leite, foi assessor jurídico do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI) durante o regime militar. Garotinho disse que vai procurar Costa Leite para o esclarecimento dos fatos e, então, orientar o partido sobre o que fazer.
“Eu não tinha conhecimento sobre esse período da vida do ministro Costa Leite. Para mim foi uma grande surpresa. Eu o conheço como um homem combativo na presidência do STJ. Combateu, inclusive, o excesso de medidas provisórias assinadas pelo presidente Fernando Henrique, e como defensor do funcionalismo público federal contra o arrocho salarial. É uma pessoa a quem tenho grande apreço”, defendeu.
Para Garotinho, é necessário diferenciar o trabalho no SNI, com o ser agente do SNI. “Pelo que li até agora, ele era um funcionário público, um consultor jurídico e não um agente. Em momento algum participou de qualquer ato contra a integridade física de quem quer que seja”, assinalou.
Artigos
Chegou Madame Rangel
Francisco Bandeir a de Mello
O tempo é tríbio, lembrava Gilberto Freyre (presente, passado e futuro congeminados). Portanto, trago hoje um antigo texto sobre um tema sempre presente: o trato do futuro. (Naturalmente que de forma um tanto caricatural).
1955. Atenção! Chegou a vossa oportunidade. A legião dos desiludidos deste mundo, e até do outro, é muito maior do que se pensa. O homem é um animal que sofre. Sempre são guerras, morticínios, ciúmes. São assassínios, golpes e contra-golpes, ambições, tensões, iras interiores ou ostensivas, invejas, paixões submissas ou insubmissas, nostalgias, espumas de raiva, indiferença, o diabo. O mundo até hoje era uma agitação de ódios. Mas atenção, chegou a vossa oportunidade. Ou seja, chegou a oportunidade de todos nós. E não é outra coisa que, pobres mortais, buscamos durante toda a nossa vida: uma oportunidade. E, desta vez, chegou. Pelo menos é o que diz o folhetim que recebi (apesar de vir carimbado como de “distribuição interna”) dos amigos de Madame Rangel, que “aliás não faz propaganda, pois seus trabalhos já o fazem”. Afirma o folhetim ser a supradita “a mais completa quiromante dos últimos tempos”. É, na verdade, a panacéia universal em figura de gente.
“Necessitais descobrir alguma coisa que vos preocupa?” (Deve, ela, estar se referindo aos maridos ciumentos e/ou econômicos, esses dos quais as esposas vivem constantemente saindo, pelas tardes claras e amenas, muito decotadas, para cabeleireiros, manicures, butiques, ou às mulheres desconfiadas, cujos maridos vivem viajando e chegando tarde em casa à custa de serões e outros compromissos, alguns deles alcoólicos). “Quereis fazer regressar à vossa companhia alguém que se tenha separado?” (Ó esposos e esposas, noivas e noivos, namorados e namoradas no ostracismo, este é o vosso momento).Mas não é só. Não somente essas são as suas habilidades. “Quereis prosperidade, felicitar algum casamento infeliz, quereis tirar a embriaguez de alguém?” - procurai Madame Rangel. Enfim, em tudo que estiver ao alcance da Ciência Oriental, de que se intitula doutora, ela garante seus trabalhos em qualquer circunstância. Não há vacilação possível: ó poderosos da Rússia, dos Estados Unidos, ó Teixeira Lott, Kubitschek, ó exilado Carlos Lacerda, aqui está Madame Rangel (quiromante, espírita, vidente) para vos socorrer. “A resolução de vossos problemas virá facilmente” (grifo nosso) “se fores consultar essa tão extraordinária vidente”. Podeis acreditar piamente no que a vidente (espírita, quiromante) vos oferece: ela não é candidata a nada.
A famosa Madame Rangel (informa ainda o folheto) após ter se ausentado, “para maiores estudos e concentração”, durante os seus prolongados períodos meditativos (ó homens públicos nossos, segui tão primoroso exemplo - meditai, ainda que por brevíssimos momentos) “teve a oportunidade de manusear os manuscritos de Nostradamus, Papus, Borgeath, Harbub, Vahara, Mihira” (apenas faltou o nosso Mário Melo) além de “outros tantos sábios das ciências herméticas”. Depois afirma com muita dose de razão que a coisa que mais nos preocupa é o futuro e diz que a ciência oriental está apta, agora mais do que nunca, a desvendá-lo/consertá-lo por intermédio de tal famosa (e)vidente. E “garante o seu trabalho com o sigilo que lhe é peculiar”. (E aí está a maior vantagem, maridos, ao fazer as vossas maridadas - vossas esposas nada saberão. E vice-versa). Termina, a “distribuição interna”, nos dizendo para procurá-la: “os que dela desejarem algo”, sem constrangimento, porém sem excitação, pois atende prontamente a todos. É bastante entrar na fila. (Na fila da felicidade). Consulta especial: Cr$ 50,00 (casos de amor incorrespondido, de doenças graves, eleições etc). Consultas simples (coisas de viagens, pequenas intrigas, arrufos etc): Cr$ 30,00. E, finalmente, consulta pelas linhas da mão: vinte cruzeiros. Que, se diga de passagem, mas se diga, é uma verdadeira pechincha para quem vai solucionar o mais importante e o mais angustiante problema: o futuro. Que, aliás, a Deus pertence. (O meu e o de todas as pessoas). A Deus e, agora, a Madame Rangel - que arranjou um jeito de descobrir o caminho das pedras preciosas, graças à sua famosa/misteriosa Ciência Oriental e que, assim, nos oferece (arranje-se com Rangel) a felicidade por apenas 50 cruzeiros. (Embora alguns digam que “a felicidade não se compra”, para outros ela se vende nas belas vitrines e até nas prateleiras dos supermercados ou nas cartas de baralho e na palma da mão).
Colunistas
PINGA FOGO - Inaldo Sampaio
À Câmara baixa
Perguntaram ontem ao ex-prefeito Roberto Magalhães porque ele não se coloca no PSDB como pré-candidato ao Senado vez que o nome natural desse partido para concorrer a uma das vagas, que é o deputado Sérgio Guerra, não tomou ainda uma decisão. Montou uma megaestrutura para garantir seu retorno à Câmara, com algo próximo dos 150 mil votos, e teme trocar o certo pelo duvidoso.
A resposta foi curta e grossa. Ele admite que tem densidade política e partidária para postular à vaga senatorial que a aliança governista reservou para o PSDB, mas, a exemplo dos ex-governadores Agamenon Magalhães e Miguel Arraes, que nunca quiseram ser senador, tem especial inclinação pela Câmara dos Deputados, que é a verdadeira “caixa de ressonância” do povo brasileiro. Afora isso, argumentou, já tentou uma vez eleger-se para a Câmara Alta e não conseguiu.
Além do mais, disse o ex-prefeito do Recife, a única diferença que há entre um deputado federal e um senador é o tamanho do mandato - quatro e oito anos, respectivamente. Mas o político que tem receio de enfrentar as urnas de quatro em quatro anos, acrescentou, não merece continuar na vida pública. Com essa sua tomada de posição, se Sérgio Guerra não topar a parada a bola da vez será Luiz Piauhylino.
Referência de todos
Principal referência das esquerdas pernambucanas desde meados da década de 50, o ex-prefeito do Recife, Pelópidas Silveira, saiu do silêncio. Telefonou ontem pra Fernando Lyra a fim de cumprimentá-lo pelo apoio a Lula. “Endosso os argumentos que você apresentou e mantenho a minha convicção de que Lula vencerá no 1º turno”, disse ele em seu telefonema. Lyra, que o tem como um de seus ídolos, convenceu-se definitivamente de que tomou “o caminho certo”.
Lula-lá e Ciro-cá
Entrevistado ontem pela Rádio Jornal, Lula declarou que ainda não perdeu a esperança de poder contar com o PPS ainda no 1º turno. “Continuo sonhando com essa possibilidade”, disse o pré-candidato do PT, apesar de ser permamentemente criticado pelo pré-candidato no PPS. A chapa com que os petistas sonham é: Lula-Ciro.
Único favorecido
Para o ex-prefeito Roberto Magalhães (PSDB), a crise política que afeta os partidos governistas tem apenas um beneficiário: Lula. Ele teria se beneficiado do escândalo da Lunus, que afastou Roseana (PFL) da disputa, e poderá beneficiar-se também pelas denúncias da revista “Veja” envolvendo um amigo de José Serra (Ricardo Sérgio de Oliveira).
Presidente do TRE entregará título a apenados
Amanhã, às 10 da manhã, o presidente do TRE, desembargador Antonio Camarotti, estará na cidade de Arcoverde. É para fazer a entrega de títulos de eleitor a 59 apenados do Presídio Brito Alves, situado naquele município.
Prefeito de Cortês fecha com Henrique Queiroz
O deputado Henrique Queiroz (PPB), que precisava de mais um município para consolidar sua reeleição, conseguiu ontem: Cortês. O prefeito Ernane Borba (PFL) votará nele para estadual e em José Múcio para federal.
Forte no povo
Em sua recente visita a Venezuela, Eduardo Campos (PSB) conversou duas horas e meia com o presidente Hugo Chavez. O deputado voltou com a impressão de que o presidente venezuelano tem “e fetiva sustentação popular” e “um projeto para o país”, mas carece de mais apoio nas Forças Armadas.
Chapa puro-sangue
Está cada vez mais sólida no PFL a dobradinha André de Paula-Sebastião Rufino. Eles estiveram sábado em Cumaru (agreste) para receber o apoio do prefeito Eduardinho Tabosa e ontem repetiram a dose em Bom Jardim. Neste município, o principal cabo eleitoral de ambos é o prefeito Fabinho Rufino.
O PMDB soltou para a imprensa o nome do deputado Henrique Alves (RN) como a opção escolhida pelo partido para vice de José Serra, mas só para avaliar a reação. Se surgirem denúncias contra o clã dos “Alves”, que manda numa banda do Rio Grande do Norte há 38 anos, a cúpula indicará outro candidato, preferencialmente nordestino.
Depois de brilhar ontem, no horário nobre, no programa político do PSDB, o deputado Sérgio Guerra embarca hoje para São Paulo. Vai se submeter a um “check-up” para avaliar se dispõe de saúde para enfrentar uma campanha majoritária. Até o próximo dia 30 ele tomará uma decisão: reeleição ou Senado.
Principal “arma” do Palácio do Governo para se contrapor a Carlos Lapa (PSB) na região de Carpina, o capitão PM José Pires atira dos dois lados. Depois de se atritar com José Arlindo (desenvolvimento social), a quem acusa de estar “a serviço do PT”, ele investiu ontem contra o secretário Gustavo Lima (defesa social), chamando-o de “fraco”.
A ex-prefeita de Bonito, Lúcia Heráclio (PMDB), desistiu da candidatura à Assembléia Legislativa. Só seria candidata se tivesse o apoio do primo, Luiz Heráclio (PSDB), atual prefeito de Limoeiro, mas ele já se comprometeu com outra pessoa. Para ficar de bem com o governo, decidiu apoiar Raul Henry (PMDB).
Editorial
CRISE DO PÓLO MÉDICO
Constitui motivo de satisfação e orgulho para Pernambuco ter, no Recife, o segundo pólo médico-hospitalar do País, depois de São Paulo. São centenas de hospitais, clínicas e laboratórios, entidades de seguros e planos de saúde, um complexo que oferece mais de 8 mil leitos, tudo com uma movimentação financeira de mais de R$ 200 milhões por ano. E não se trata apenas de quantidade de serviços oferecidos. O que caracteriza o nosso pólo da área de saúde é a alta qualidade profissional dos médicos e paramédicos que o compõem, a sofisticação dos equipamentos e construções, a eficiência empresarial do setor privado de saúde, que tem como órgão de classe o Sindhospe (Sindicato dos Hospitais de Pernambuco); há anos capitaneado pelo médico Mardônio Quintas, que vem dinamizando os serviços que o sindicato presta aos associados, como assistência jurídica e seleção de recursos humanos. Os hospitais da rede pública de saúde também contam com profissionais de alta qualificação, embora não possam apresentar o desempenho do setor privado, devido à queda vertiginosa, a partir dos anos 80 do século 20, das verbas que lhes são destinadas.
O pólo médico pernambucano cresceu sem planejamento, espontaneamente. Diante da omissão dos governos quanto à saúde pública, jovens médicos formados em nossas escolas de medicina, com pós-graduação no País e no exterior, se capitalizaram para impulsionar a oferta de serviços na rede privada de saúde. Foi uma explosão no setor. Sua pujança beneficiou, inclusive, outras áreas econômicas, como construção civil, turismo. Restaurantes e flats têm surgido, sobretudo em torno da Ilha do Leite, com vista à clientela dos parentes e acompanhantes dos pacientes de fora que vêm ao Recife atraídos pela fama de seus médicos e hospitais. O pólo não recebeu nenhum incentivo dos poderes públicos, como linhas de crédito, juros subsidiados.
Provavelmente se encontrem nessa espontaneidade de crescimento as causas da crise por que passa o pólo. Hospitais e clínicas estão fechando as portas. A crise começou com problemas dos planos de saúde, causados por uma regulamentação e vigilância mais rigorosas por parte do Ministério da Saúde. O pólo havia crescido demais em relação às pessoas que puderam continuar com seguros e planos de saúde, que caíram de 1,2 milhão em 1998 para 800 mil atualmente. É possível que a crise leve os proprietários de unidades de saúde a um maior planejamento e a um intercâmbio de serviços, com os hospitais se especializando e fazendo parceria na aquisição e uso de equipamentos mais caros, como os de tomografia computadorizada, por exemplo. Atualmente, no pólo médico pernambucano, os hospitais possuem mais equipamentos para esse tipo de exame do que alguns países periféricos.
A crise se agrava com as tarifas ridículas de pagamento às unidades de saúde, feitas pelo SUS e planos de saúde privados. Elas estão praticamente congeladas, enquanto sobem os pagamentos das unidades de saúde por energia, água, telefone, aquisição e manutenção de equipamentos. Mesmo com a invenção de mais um tributo, que o Governo garante ser específico, mas não é, a CPMF, os gastos públicos com a saúde do brasileiro continuam em queda. O presidente do Sindicato dos Médicos, André Longo, acha que o declínio do sistema privado, suplementar, de saúde, está prejudicando ainda mais o sistema estatal. Por tudo isso, Mardônio Quintas defende um freio de arrumação no pólo médico: “Não há condições de manter essa estrutura. O pólo médico está se deteriorando”. Lembramos que o Governo tem de cumprir a Constituição, viabilizando o trabalho complementar do setor privado de saúde.
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05/07/2002
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