Flávio Torres defende "revolução" no ensino brasileiro
Em seu primeiro pronunciamento em Plenário, o senador Flávio Torres (PDT-CE) disse nesta quarta-feira (12) que o país precisa promover uma revolução no sistema nacional de ensino. Suplente da senadora Patrícia Saboya, do mesmo partido, que se encontra de licença até novembro próximo, Flávio Torres disse que "a vida não pode ser resolvida em uma loteria": para ele, uma criança que tenha tido a má sorte de nascer em uma família pobre hoje, se sobreviver, estará condenada a se perpetuar nessa condição, "pois o Estado não lhe garante um ensino de qualidade".
- Uma criança que não se alimenta de saber, de conhecimento e de proteínas terá sua vida comprometida pelo resto de seus dias. Na saúde a situação é mais explícita: quem pode paga plano privado, quem não tem condições padece nas longas filas com a ausência de recursos públicos e acaba não sendo atendido adequadamente - afirmou Flávio Torres, membro histórico do PDT e professor de Física aposentado da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Em seu discurso, Flávio Torres disse ser um "disciplinado membro" do partido e que saberá obedecer a esse condicionamento nas votações. O senador, no entanto, confessou uma "certa frustração" com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora o PDT componha a base aliada do governo.
- Não minimizo os efeitos do programa Bolsa-Família, mas e o passo seguinte? O que estamos fazendo para que as próximas gerações não precisem mais do Bolsa-Família? Precisamos ir além do Bolsa-Família - afirmou.
O senador pelo Ceará, porém, admitiu que "são inegáveis os avanços do governo Lula nas áreas de Ciência e Tecnologia e no trato com as universidades federais, que se encontravam sucateadas em governos anteriores".
Investigações
A crise que o Senado atravessa também foi mencionada por Flávio Torres. Ele disse que considera "lamentável o que vinha acontecendo na condução administrativa" da Casa e afirmou ser "indispensável que se tomem todas as medidas duras que sejam para carimbar com o selo da lisura as investigações que se fizeram e que se vierem a fazer".
O senador disse ainda que a divisão entre esquerda e direita perdeu a "nitidez de outrora", mas que ele pertence a um grupo de pessoas abrigadas em diversos partidos que não perderam a capacidade de se indignar com as condições de vida precárias do povo brasileiro.
- Quero andar por todos os lados [no Senado] e conviver com todas as tendências de maneira democrática, certo de que não tenho a prerrogativa da verdade - afirmou.
Leonel Brizola
Flávio Torres também mencionou a atuação de Leonel Brizola na defesa da democracia brasileira e na fundação do PDT.
- Vou carregar enorme frustração de não ter visto Brizola na presidência do Brasil. Com ele, que não temia moinhos de vento, seria outra a história brasileira. Ele foi o único líder cassado que não saiu do país na condição de exilado. Seu visto no Uruguai foi dado na condição de exilado, o que permitia oficialmente que Brizola e sua família tivessem os seus passos seguidos por agentes brasileiros, mesmo nas atividades mais rotineiras - afirmou.
Apartes
A estréia de Flávio Torres no Senado foi saudada em apartes por diversos senadores. Inácio Arruda (PCdoB-CE) lembrou que Flávio Torres foi o fundador da Sociedade Cearense em Defesa do Meio Ambiente em uma época em que poucos falavam sobre o tema. Também destacou que o senador foi membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Osmar Dias (PDT-PR) disse que já conhecia Flávio Torres pelas referências feitas por Patrícia Saboya e que ele terá liberdade para fazer do mandato "um instrumento de melhoria do povo".
João Pedro (PT-AM) desejou êxito a Flávio Torres e aceitou as críticas do senador endereçadas ao Executivo, lembrando-lhe, contudo, que o governo Lula é uma experiência inédita no país. Ressaltou ainda que o governo de Fernando Henrique Cardoso impôs "penúria e castigo" à universidade brasileira, chegando a baixar um decreto que proibia a ampliação das escolas técnicas no país, que hoje conta com diversos institutos tecnológicos implantados no atual governo.
- É um processo que não é simples superarmos as 'indiferenças' regionais, o desemprego, a miséria. A melhor obra do governo Lula foi a diminuição da pobreza para mais de 20 milhões de pessoas. Essa é a grande obra - afirmou João Pedro.
José Nery (PSOL-PA) desejou a Flávio Torres uma "atuação coerente", destacando sua trajetória acadêmica como professor da UFC, da Universidade de Brasília (UnB) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ele reparou que o senador chega à instituição em uma "hora de turbulência", mas que este deve ser um estímulo à luta em defesa da ética.
Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que as discussões no Senado serão engrandecidas com a presença de Flávio Torres, que também foi saudado por Paulo Paim (PT-RS), Roberto Cavalcanti (PRB-PB), Valter Pereira (PMDB-MS) e Cristovam Buarque (PDT-DF), seu antigo parceiro de partido e com quem já trabalhou, anteriormente.
Ao concluir o seu discurso, Flávio Torres disse que pretende apresentar no Senado propostas relativas à sua área de atuação (ciência, tecnologia, energia, meio ambiente e educação). E que será leal ao Ceará, ao PDT e aos princípios morais e éticos cultivados ao longo de sua vida.
12/08/2009
Agência Senado
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