Gedimar se nega a revelar origem do dinheiro para compra de dossiê



O advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos, acusado de participar da compra de um dossiê para incriminar políticos do PSDB, reconheceu em depoimento nesta terça-feira (28) frente à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas ter entregue R$ 1 milhão ao empresário Valdebran Padilha, no hotel Ibis, em São Paulo, onde os dois foram presos no dia 15 de setembro com R$ 1,7 milhão. Gedimar negou-se a revelar mais detalhes sobre a movimentação da quantia, por considerar que isso poderia incriminá-lo.

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- Estou com a corda no pescoço, mas não vou puxá-la - disse, em resposta a indagações do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos sub-relatores da comissão.

No início de seu depoimento, Gedimar chegou a dizer que o dinheiro havia sido entregue a ele por um desconhecido, embora ele estivesse ali apenas cumprindo a missão de analisar documentos que lhe seriam entregues por emissário do empresário Luiz Antonio Vedoin, chefe da chamada "máfia das ambulâncias". Mais tarde, respondendo a perguntas do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), não quis se manifestar sobre a possibilidade de o dinheiro ter-lhe sido entregue pelo então assessor de imprensa da campanha do senador Aloizio Mercadante (PT) ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda.

Tanto Gabeira quanto Sampaio, além do vice-presidente da CPI, deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tentaram vincular a entrega do dinheiro para a compra do dossiê às duas visitas que Lacerda fez ao hotel Ibis, ambas documentadas pelas câmeras do estabelecimento: uma às 8h50 do dia 13 de setembro, quando Hamilton entrou no Ibis com uma mala. Essa mala conteria R$ 1 milhão e não era portada na saída pelo então assessor da campanha de Mercadante ao governo de São Paulo. No dia 15, à 0h09, Lacerda entrou novamente no hotel, desta vez com uma mala e duas sacolas, e saiu novamente sem levar nada. Segundo Sampaio, as malas continham R$ 789 mil, valor que foi encontrado com Gedimar no momento da prisão, ainda que este refira-se a R$ 715.800,00. Valdebran - o intermediário entre o grupo e Vedoin - foi encontrado com R$ 1 milhão. As imagens do hotel mostram contatos entre Lacerda e Gedimar, que eles não desmentem.

No segundo depoimento da tarde, Lacerda afirmou que na primeira vez levou boletos de arrecadação de campanha e material de propaganda da campanha de reeleição do presidente Lula. Na segunda vez, teria levado roupas para Gedimar e um computador do tipo laptop, que seria usado pelo parceiro para confirmar a veracidade de um DVD com imagens de uma solenidade de entrega de ambulâncias com a presença de Vedoin e do ex-ministro da Saúde e candidato ao governo de São Paulo, José Serra (PSDB).

Como Lacerda já tinha afirmado isso à Polícia Federal, a contradição foi colocada a Gedimar, que também alegou o risco de incriminação para não responder, da mesma forma quenão quis falar sobre o resultado da quebra de sigilos telefônicos feita pela PF. O advogado e ex-policial, porém, confirmou que Lacerda lhe levou roupas. Sobre os boletos, não encontrados pela PF, tanto Gedimar quanto Hamilton sugeriram as perguntas sobre o seu destino fossem feitas aos policiais federais.

Gedimar diz que recebeu o dinheiro levado pela "circunstância da situação", e que assumia a sua parte na entrega do dinheiro a Valdebran. Gedimar e Hamilton disseram agir sob a coordenação do chefe de inteligência do comitê de Lula, Jorge Lorenzetti. A missão de Lacerda seria acompanhar os aspectos relacionados a uma entrevista que foi concedida por Vedoin à revista IstoÉ, mas por conta própria ele resolveu encaminhar o material de campanha a Brasília, por intermédio de Gedimar, que estava recebendo seu apoio em São Paulo por orientação de Lorenzetti.

Essa intrincada operação, permeada por inúmeros telefonemas entre os integrantes do grupo que negociou o dossiê não foi bem explicada pelos depoentes, na opinião de Sampaio.

- Quando Hamilton diz que não quer se incriminar, confessa que participava de um crime. O relatório final da CPI deve indiciá-los - recomendou Sampaio, que chamou a atenção para o uso de um telefone celular fantasma por parte de Lacerda, mas em nome de uma titular de nome Ana Paula. A quebra do sigilo telefônico mostra que desse celular foi dado um telefonema com início exatamente às 0h10:33s, o mesmo horário registrado na fita de vídeo do hotel que mostra o então assessor de Mercadante fazendo ligação de um celular em frente à recepção do Ibis. Um minuto e 33 segundos depois, Gedimar desceria para se encontrar com Hamilton.

Torturas

Gedimar negou na CPI os termos de um depoimento prestado à Polícia Federal quando de sua prisão e de Valdebran no Ibis. Segundo ele, o delegado que o inquiriu, Emerson Bruno, registrou mais suas ilações do queas declarações de Gedimar, inclusive de que a compra do dossiê havia sido ordenada pelo funcionário da Presidência da República Freud Godoy.

O advogado e ex-policial federal também acusou a PF de tê-lo torturado em Cuiabá, para onde foi transferido depois de ter sido preso em São Paulo, no dia 15 de setembro, e de tê-lo preso sem um "flagrante perfeito".

- Eles me deixaram numa cela de presídio com água até o joelho para amolecer o meu juízo. Ainda tenho feridas e alergias que não curei - afirmou Gedimar, que denunciou também "torturas psicológicas", como a longa permanência na PF sem que lhe fossem respeitados direitos básicos de informação.

A acusação não foi levada a sério por Gabeira, Sampaio e Jungmann. Eles consideram que sendo um experiente policial, dos quadros da própria PF, onde ministrou cursos ao delegado que hoje preside o inquérito sobre o dossiê, Diógenes Curado, Gedimar não permitira que seus direitos fossem desrespeitados.



28/11/2006

Agência Senado


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