Dinheiro para o dossiê deve ser o principal tema dos depoimentos de Gedimar e Hamilton nesta terça



A origem do R$ 1,7 milhão que pagaria um dossiê contra candidatos do PSDB e as trocas de telefonemas que cercaram a entrega do dinheiro devem ser os temas dominantes nos depoimentos a serem prestados nesta terça-feira (28) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPI) dos Sanguessugas pelo advogado e ex-policial federal Gedimar Pereira Passos e o ex-assessor de imprensa do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) Hamilton Lacerda. O primeiro depõe a partir das 14h. O depoimento de Lacerda está marcado para as 15h.

Embora, por estratégia, tenham preferido não antecipar suas perguntas, parlamentares como os deputados Fernando Gabeira (PV-RJ) e Carlos Sampaio (PSDB-SP) observam que tanto Gedimar quanto o ex-assessor de Mercadante estão fortemente ligados à questão do dinheiro apreendido em poder do advogado petista e do empresário Valdebran Padilha, no hotel Ibis, em São Paulo, no dia 15 de setembro. Por volta de 3h, os dois foram presos quando Lacerda já deixara o hotel, depois de ter entrado com uma mala e duas sacolas, e saído com as mãos vazias.

Gabeira lembra que a alegação de que levou boletos de arrecadação de fundos eleitorais ao hotel - apresentada por Lacerda à Polícia Federal (PF) - já foi desmentida até pelo senador Mercadante e pelo então coordenador-geral da campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Ricardo Berzoini.

- Isso é falso, a começar pelo fato de que não foram encontrados os tais boletos, mas sim dinheiro - comentou Gabeira, que é sub-relator da CPI.

O deputado espera agora obter mais elementos sobre a origem do dinheiro, mas disse aguardar o relatório parcial da PF sobre o caso antes de se unir à tese de que a ordem de comprar o dossiê partiu de Berzoini, como têm publicado alguns jornais. Gabeira acha que, por enquanto, a culpa está recaindo sobre quem assumiu o comando das negociações: o chefe de inteligência do comitê de campanha, Jorge Lorenzetti, embora este tenha afirmado perante a mesma CPI que as informações em poder do empresário Luiz Antonio Vedoin, que venderia o dossiê, estavam sendo trocadas por "assistência jurídica" a este que é considerado o chefe da chamada máfia das ambulâncias.

Já o deputado Carlos Sampaio, outro sub-relator da comissão, chama a atenção para as conexões lógicas que podem ser feitas a partir do exame do sigilo telefônico dos envolvidos no escândalo e das imagens captadas pelo sistema de segurança do hotel:

Às 8h50 do dia 13 de setembro, Hamilton entrou no hotel Ibis com uma mala. Essa mala conteria R$ 1 milhão e não era portada na saída pelo então assessor da campanha de Mercadante ao governo de São Paulo. No dia 15, à 0h10, Lacerda entrou novamente no hotel, desta vez com uma mala e duas sacolas, e saiu novamente sem levar nada. Segundo Sampaio, esses recipientes continham R$ 789 mil, valor que foi encontrado com Gedimar no momento da prisão, ao passo que Valdebran - o intermediário entre o grupo e Vedoin - foi encontrado com R$ 1 milhão. As imagens do hotel mostram contatos entre Lacerda e Gedimar.

Sampaio diz que a quebra do sigilo mostra que Lacerda telefonou para Lorenzetti nas duas ocasiões e que Valdebran recebeu no celular uma mensagem do tipo torpedo, em que outro integrante da equipe, Expedito Veloso, dizia: "estão tentando comprar o silêncio do Vedoin, vamos acionar o plano B". A tese do deputado é que o R$ 1 milhão teria sido usado para pagar Vedoin pela entrevista que concedeu à revista IstoÉ incriminando os ex-ministros da Saúde José Serra e Barjas Negri, supostamente os primeiros a liberar recursos para compras fraudulentas de ambulâncias com recursos de emendas parlamentares. Sampaio diz estar convicto de que diante do risco de ver o "plano A" ser prejudicado, os petistas tentaram arrecadar às pressas mais R$ 1 milhão para comprar informações de Vedoin, mas só conseguiram R$ 789 mil.

Quanto a Berzoini, o deputado chama a atenção para as ligações que recebeu de seu ex-assessor Oswaldo Bargas, também integrante do "grupo de inteligência", chamado posteriormente por Lula de "aloprados".

- Ele estava sendo informado de todas as negociações, mas não há provas de que foi quem mandou comprar o dossiê - pondera Sampaio, que negou a existência de um acordo tácito entre os governistas e a oposição para "esfriar" as investigações da CPI.

- Não vamos esmorecer. Quem estiver pensando assim vai se dar mal - prometeu Sampaio.

27/11/2006

Agência Senado


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