Gilberto Goellner critica postura brasileira em Doha



Em pronunciamento nesta quarta-feira (13), o senador Gilberto Goellner (DEM-MT) criticou a conduta brasileira na última edição da Rodada de Doha, promovida pela Organização Mundial de Comércio (OMC) na Suíça, em julho último. Na ocasião, os países-membros da organização tentaram, sem sucesso, chegar a um acordo sobre subsídios agrícolas.

O senador pelo Mato Grosso disse ser "legítimo cobrar do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a conta de haver usado nessas negociações uma estratégia canhestra, firmada demagogicamente em ideologias ultrapassadas e vencidas que, finalmente, redundou fracassada".

- Voltou-se à estaca zero. O Brasil precisa, é claro, de parceria com o Terceiro Mundo. Porém, não pode abrir mão do status que, ao longo do tempo, alcançou no seu relacionamento comercial com os países desenvolvidos. Negociar um acordo de âmbito mundial requer vasto conhecimento acerca do que negociar, sagacidade para sentir até onde pode transigir, ou se deve fazê-lo, e ter uma idéia clara dos objetivos que deseja alcançar - defendeu.

O senador avaliou que o Brasil também ansiava pelo êxito das negociações porque, ao contrário das nações vizinhas sul-americanas, abriu mão de dar prioridade a acordos bilaterais e, ao contrário das nações da América Central e Caribe, de enfrentar o desafio da Alca, preferindo a "saída fácil do veto ideológico". Com essa estratégia, segundo Goellner, o país desfez todas as oportunidades de obter êxito nos debates do protocolo discutido em Genebra com relação ao continente-sul americano.

- O Itamaraty, ou por soberba ou por ter uma visão muito míope sobre o negócio que estava sendo debatido, não foi capaz de absorver a sua essência e, como estratégia para debatê-lo, escolheu um único alvo: Doha. Apostou alto e perdeu - disse.

Goellner afirmou que a estratégia brasileira baseava-se, "antes de mais nada", em unir as nações ditas em desenvolvimento contra os grandes países desenvolvidos do Norte - "Davi contra Golias", comparou.

- Acontece, porém, que nossos pretensos aliados, os países mais pobres, têm também muitos interesses conflitantes com os nossos. Nós queremos exportar alimentos para um mundo que tem fome. Mas a China e a Índia, por exemplo, ainda em desenvolvimento como nós, querem proteger financeiramente seus pequenos produtores rurais, e lhes impõem limites às importações de comida - afirmou.

Goellner disse que a China, além de querer resguardar seu mercado agrícola, também quer "nos inundar" cada vez mais com os seus produtos manufaturados de baixo custo e, por isso mesmo, de baixo preço, o que torna seu comércio externo em forte, "senão invencível", competidor no mundo atual.

- O Brasil, por sua vez, precisa e deseja também proteger a sua indústria contra a carga de eletrodomésticos, produtos têxteis e brinquedos que nos chegam do Oriente em profusão. Seriam estes, a China e a Índia, nossos aliados mais convenientes e mais indicados? Porque foram eles que, no final das contas, decretaram a falência dessas últimas negociações. Com sua posição intransigente, bateram de frente com a posição sustentada pelos Estados Unidos, com quem, ao que parece, o Brasil já havia fechado acordo - afirmou.

A rodada de negociações sobre os subsídios agrícolas teve início em 2001, em Doha, capital do Qatar, razão pela qual ficou conhecida mundialmente como Rodada Doha.



13/08/2008

Agência Senado


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